9/09/05

MULHER MOÇAMBICANA!

Vertical nº 905 de 09 . 09 . 2005 - A opinião de Canhimbe:

MULHER MOÇAMBICANA! COMO SOFRE!

A mulher moçambicana é uma pilha de sofrimento apesar de Moçambique hoje em dia ter muita mulher em posições chaves e executivas, com voz activa na vida do país.
Ninguém imagina o sofrimento que anda nos bastidores dos lares!
De algumas histórias que ouvi, gostaria de levar aos leitores algumas, para ver se não se tapa mais o Sol com a peneira.
A mulher moçambicana já está emancipada no verdadeiro sentido da palavra.
Agora, falta-nos emancipar o homem.
O homem moçambicano no geral, independentemente se é analfabeto, licenciado, mestrado ou doutorado, ou do seu extracto social, ainda vive na pré-história em termos de desenvolvimento social e familiar.
Acima de tudo acha que a função dele é de reprodutor e mais nada!
Estão escandalizados?
Ainda ficarão mais depois de ouvirem as histórias que eu ouvi.
Esses problemas sentem-se acima de tudo no sul do país.
Começando pela problemática do lobolo, esta tem logo várias vertentes.
Quando a mulher é do centro/norte e o marido é do sul, a família do marido praticamente obriga a familia da mulher a arranjar as listas enormes para vestir a família toda e a família desta recusa porque não é sua tradição.
Logo aí já começam os problemas.
As próprias mulheres da família em vez de arranjarem maneira de suavizar o problema, muita das vezes ainda fazem questão de que tem que ser assim!
Já era no tempo da minha avó, porquê mudar agora?!
Quando uma mulher fica grávida em casa dos pais, o normal é porem-lhe fora de casa e manda-la para casa da família do moço ou para casa do próprio moço se este já a tiver.
Se a mulher tem o azar de falecer antes de se ter efectuado o lobolo (cerimónia de anelamento tradicional do sul), antes do funeral o “marido” tem que a lobolar ou arranja problemas graves com a familia da “mulher”.
Inclusivé podem até tentar proibir que o funeral se realize, mesmo sendo às custas da família do viúvo.
As crianças, se a mãe não tiver sido lobolada, pertencem à família da mulher até o viúvo ir pagar o que deve à familia da falecida e somente depois disso pode ter acesso as crianças.
Uma mulher orfã que seja criada por familiares, especialmente se forem da parte do pai, quando chega a vez de se querer casar, na cerimónia do lobolo a família tem que apresentar ao noivo listas enormes de bens para ele comprar para a família da noiva.
Ele tem que “pagar” por tudo o que ela consumiu e gastou daquela casa!
Quando chega a vez do casamento têm que vestir a família toda de um lado e do outro e têm que alimentar os familiares que chegam para o casamento um mês antes.
Como executiva e mãe.
Mesmo tendo formação superior e tendo um salário elevado, muitos homens exigem que a mesma no fim do mês lhes entreguem o salário todo e além disso não tem acesso livre à geleira e à dispensa.
O homem é que faz as compras e ele é que controla a geleira e a dispensa.
Ele é que lhe dá o dinheiro que acha que ela deve gastar!
Como viúva e chefe de familia.
Quando o marido morre, a primeira coisa que a família do marido faz é acusa-la de ter morto o marido.
Algumas vezes obrigam-na a casar com o cunhado, irmão do marido, que mesmo sendo casado, deve leva-la como segunda mulher.
Assim, a riqueza fica na família!
Outras vezes mesmo tendo crianças, o que eles fazem é expulsa-la da casa que pertencia ao casal, independentemente de ela trabalhar e ter contribuído para a construção da casa.
Quanto às crianças, dividem-nas entre a família do pai, como que se os pais tivessem sido uns desgraçados e não tivessem nada para os filhos.
Só as mulheres mais esclarecidas e que recorrem, muitas vezes, ao apoio das mulheres advogadas, conseguem ter de novo a casa e os filhos.
Nestes casos normalmente ela prefere vender a casa e comprar outra noutro sítio com medo dos actos de feitiçaria.
Muitas das vezes quando se decide divorciar, quando dá conta, o marido já levou todo o recheio da casa e deixa-a com as crianças, sem nada.
Ela tem que recomeçar do zero a alimentar os filhos, a educa- los e a mobilar a casa e normalmente consegue-o.
Mulher de garra, a mulher moçambicana.
Vi na imprensa que está para breve o Congresso da OMM.
Por favor, tragam à luz todos os problemas que tentam esconder nos bastidores.
Pois, além do acima relatado, ainda há a violência doméstica.
Desde agressão física a fechar a mulher em casa para não poder seguir o marido quando vai ter com a(s) amante(s), de tudo se ouve neste grande Maputo!
E para finalizar não poderia deixar de contar também as vezes que as mulheres se lamentam de os maridos as obrigarem a ter relações sem a “camisinha” mesmo sabendo de antemão que têm uma ou mais amantes com quem mantêm relações extraconjugais sem nenhuma protecção.
Muito ainda ficou por ser dito, mas dou a vez a outros para acrescentarem o que ainda está em falta.
Mulher moçambicana, como sofre!

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