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10/17/14

18 de Outubro de 2014 - DIA DA CIDADE DE PEMBA

 56º ANIVERSÁRIO DE PEMBA


6/22/14

A sabedoria dos provérbios macuas !

Educação e saúde nos provérbios macuas

O povo macua é uma tribo bantu, do norte de Moçambique, cuja população está em torno de três milhões de pessoas.
Sua cultura manifesta-se particularmente nos seguintes aspectos: língua, cultura literária, contos, advinhas, provérbios e danças.
Alexandre Valente de Matos passou mais de 30 anos entre os macuas e, após recolher mais de mil provérbios, compilou a metade, importando-se em ventilar o sentido autêntico de cada um. Estes adágios englobam a sabedoria do povo e deixam evidente a fonte de sua vasta riqueza cultural, intelectual e moral.
Matos, depois de estudar cientificamente os provérbios macuas, acredita que é importante fazer-se justiça com este povo. “Quando, agora, se atenta ponderadamente a que todo este código de máximas luminosas, cunhadas em linguagem selecta, lacónica e filosófica, pertence a um povo imenso que até há bem pouco tempo era tido na conta de atrasado e selvagem, no conceito de europeus responsáveis, quanto não devemos penitenciar-nos por não nos termos debruçado a sério, desde o princípio, sobre o estudo da formosa alma africana!
Os aforismos macuas, na sua faceta cultural, fazem parte do chamado patrimônio comum a toda a humanidade, encerrando normas de moralidade e de guia seguro para a vida prática, que nos maravilham e enchem de espanto.
Muitas vezes, em companhia dos meus experientes interlocutores ou a sós comigo, sorria de íntima felicidade ao pensar na opulência de conceitos belos e profundos deste tesouro escondido no campo do pai de família.
Em busca de uma forma mais correcta de expressar a verdade, direi que no corpo destes provérbios se reflete vivamente, como em filmado documentário paisagístico, toda a vida do povo, deixando descobrir as suas fontes inspiradoras: crenças, acontecimentos, histórias reais, fábulas, ditos lacônicos e elegantes, hábitos dos homens e dos animais e, principalmente, a observação atenta até aos últimos pormenores dos caprichosos segredos da Natureza circundante.”
Cada povo tem sua forma de expressar seus valores e, para entendê-los, nada melhor que se portar Em Roma como os romanos.
Os provérbios macuas são caracterizados por certa penumbra de mistério, a sua expressão processa-se, algumas vezes, por linguagem de recorte difícil; ditos concisos lavrados por cinzel obscuro em termos obsoletos e com omissões flagrantes, cujo sentido nem o jovem nem os leigos menos versados na língua conseguem captar.
É possível notar que a sua grande maioria tem uma formulação alegórica, fazendo-nos reportar do sentido literal para o metafórico quando procuramos interpretá-los.
Assim, cada provérbio macua “É sempre o mistério ou enigma, cobrindo ciosamente com o véu espesso, a olhos estranhos, o oráculo riquíssimo das vozes sapienciais de um povo...” “Além de tudo o mais, os provérbios macuas condensam toda a filosofia de um povo – filosofia esta que se patenteia exuberante em princípios, ditames, normas e axiomas por que se rege o seu direito consuetudinário.”
Em outro ensaio (Lacaz-Ruiz, 1998), dissemos que “Dentre os provérbios de origem africana, alguns podem confirmar a influência no estabelecimento de valores e normas, bem como da sua possível aplicação no foro jurídico:

Mwana mukuru na ithe ni hamwe (O filho mais velho e o pai são uma coisa só - kikuyo);
Mwana wa mberi (O filho primogênito é toda minha alegria - kikuyo);
Kwa mwendwa gutiri kirima (No caminho para a casa do amado não se encontram montanhas - kikuyo);
Heri kufa macho kuliko kufa moyo (É melhor perder a vista que a alma - kiswahili);
Choru ndeilenuragha ni luembe Twake (Ao elefante, os marfins não lhe pesam - taita);
Omwamwa salia namakosa tawe (Mais vale a mensagem que o mensageiro - luhya).

Ainda sobre provérbios de origem africana, dentro do conceito lohmanniano (Fujikura & Meidani, 1995) de sistema língua - pensamento, Lauand (1994) analisa a universalidade filosófico-teológica dos provérbios.”
Também assim são os macuas. Segundo Matos (1982) “Em muitos passos da sua vida, os Macuas fazem uso dos provérbios, reforçando a atitudes e posições, quer estas se firmem em preceitos de correcção e gravidade, quer derivem para o cómico ou para grosseria picaresca. Mas o forte do seu emprego, o lugar onde se obtém o seu efeito mais retumbante, ocorre nas sessões de julgamento dos milandos (litígios) no parrô (tribunal) do régulo.
Quando na ventilação de um milando este atingiu uma fase de beco sem saída, se uma das partes litigantes citar um provérbio, com propriedade e acerto, a favor da sua causa, é como se acendesse uma luz na treva ou se rasgasse uma picada através da selva densa, pois que tem a causa ganha, pela certa.
Os aforismos têm, pois, entrada livre no tribunal do régulo como normas preceptivas ou vindicativas do direito e da justiça, e é à luz da sua doutrina que as contendas e demandas são deslindadas e solucionadas.
Muitas vezes, é o próprio régulo, na sua qualidade de juiz, que encerra a audiência ou julgamento com a citação de conceituoso rifão.”[1]
O missionário Matos diz ainda que “Como reverso da medalha, toparemos outros, cujo papel é dar combate à preguiça, à ganância e ambições desmedidas, ao orgulho e soberba, à fanfarronice, à intriga, ao roubo, à fornicação, à desconfiança, à avareza, aos maus hábitos, à negligência, à ingratidão, à vergonha, à mentira, à maledicência, à vilania, à inveja – a terrível nrima, fonte de males imensos no seio das famílias africanas...”

Provérbios macuas relacionados com a educação e saúde[2] :
Da coletânea com exatos 500 provérbios macuas de Matos (1982), podem ser selecionados os seguintes, relacionados com a saúde e educação, ou com a falta delas.
Os comentários feitos em cada provérbio são adaptações das explicações feitas pelo autor do livro Provérbios Macuas.
Munamuyara khapá – Vós gerais filhos à maneira do cágado.
Comentário – Os bantas afirmam que o cágado não tem o costume de chocar os ovos que põe, deixando este cuidado à mãe natureza. Quem escuta este provérbio recebe na realidade uma dura censura, a de estar descuidando do trato saudável dos filhos, isto é, foi buscar no casamento apenas a satisfação do prazer sexual.
Mùnnuwale muhupu wa makhala – Sois corpulento como um saco de carvão.
Comentário – Usado para pessoas que fazem algo que delas não se esperava. A quem tem físico e saúde, recomenda-se também que tenha juízo. A expectativa, quando não é feita de acordo com a realidade das coisas, causa as maiores decepções. Quem vê uma parreira vistosa e corre atrás dos frutos e não os encontra diz Muita parra, pouca uva.
Okhawá, ntapha na Muluku – A morte é um laço de Deus.
Comentário – Aqui diríamos contra a morte, não há remédio. Os africanos imaginam Deus como um caçador para apanhar os homens. Este provérbio retrata a situação daqueles que levam uma vida indigna e não dão importância à realidade da morte. Assim é a vida dos que desprezam o cuidado com a saúde, e a morte chega como um laço do caçador.[3]
Mukhopo ori mumu, ohittèla; ottèla va ririmaru – O peixe mukopo está aqui na água e não é branco; só fica branco no peito.
Comentário – Entende-se que o peixe mukopo é preto, e mesmo vivendo na água, não fica branco. Logo, o preguiçoso que não se lava bem, pode escutar este provérbio, pois, para se banhar, não basta estar na água, é preciso se esfregar para ficar limpo. Esta mesma expressão aplica-se aos desleixados, que não se esforçam por vencer as dificuldades que aparecem na vida.
Ekumi owoka – A saúde engana
Comentário – Quantos estão aparentemente saudáveis, mas apresentam no seu interior tanta doença e ruína.
Wòpa nlapa, wìtipera – Tocar o tamborzinho (nlapa) é esforçar as mãos.
Comentário – Este tambor, mesmo sendo de pequeno tamanho, para ser bem tocado, é necessário que se aplique a ele com capacidade, energia e persistência. E aqui diríamos A perseverança tudo alcança ou mais faz quem quer do que quem pode. Para todos servem estes conselhos, pois para saber algo, é preciso estudar, e cada um colhe o que plantou.
Wìkhunèla wòna orirya – Agasalhar-se é sentir frio.
Comentário – Os régulos de tempos em tempos, em reuniões específicas, lembram aos seus súditos a importância do trabalho, do viver em paz, e de não provocar litígios. Não falta nestas ocasiões quem peça a palavra para reclamar da falta de educação e respeito dos outros. Ora, o pequeno rei que a todos conhece pede para ele se sentar, pois o que reclama é um deles de quem ele fala. Nós diríamos: Se falaste é porque vestiste a carapuça ou Quem fala mal dos outros fala mal de si mesmo.
Mòro wa va’salani ohisa empá – O fogo aceso na lixeira é capaz de incendiar a casa.
Elavilavi khenikhwiwa; enxèriha maitho – A patifaria não se mata; apenas torna vermelhos os olhos do patife.
Comentário – Este é o modo sutil de dizer daquele que fez ações indignas, e que não é condenado à morte, mas pela perda da confiança dos outros, chora amargamente. Os nossos correspondentes são: Ninguém faz mal que não venha a pagar, e quem faz o mal espere outro tal.
Okhomàla okhuma nitho – Ser esperto é ter lume nos olhos.
Comentário – A esperteza indica atenção nos detalhes das coisas; é estar atento à Natureza, pois nela encontramos as respostas para todas as coisas. O esperto não deixa escapar um animal que passa ao lado; mede os prós e contras prudentemente; tem a vontade forte o suficiente para resistir quando é convidado para o mal; e sabe tomar conta das coisas que lhe são confiadas, com o mesmo zelo que tem pelo que lhe é próprio. Os provérbios correspondentes são: Quem em todos crê erra; e quem em nenhum não acerta e não bebas coisa que não vejas, e nem assines carta que não leias.
Kophweleya”, wunnuwa nikuma – Aquele que diz “Ando aborrecido” é capaz de perpetrar um grave delito.
Comentário – A tristeza é um grande mal. É o caso de uma pessoa que anda chateada e aborrecida, e quando lhe perguntam como está responde laconicamente que está chateada com a vida; em breve chegará a notícia de que se enforcou... Por um cabelinho se pega o fogo ao linho. Por este motivo, é importante educar na alegria, ensinando que temos uma dignidade, e não criando uma falsa expectativa para as coisas. Das frustrações vem a tristeza, e com ela, a morte.
Opanke mùpa, onroromela olupa – Quem fabrica flechas confia na pontaria.
Comentário – Aquele que vai para o alto mar acredita que sabe pescar e conhece bem os segredos do mar. Este provérbio transmite a idéia de que as coisas, para serem levadas a bom termo, carecem não só de inteligência, mas também de vontade. Provérbios similares em português seriam: Quem não cansa, alcança e Não se pescam trutas a bragas enxutas.

Provérbios macuas e a família :
Cada criança que vem ao mundo tem direito a um pai, uma mãe, uma família.
Tornaram-se populares os conceitos de que uma criança doente se recupera antes e melhor se conta com os cuidados da mãe.
São também evidentes os problemas causados nos centros de ensino por filhos de pais separados.
Mesmo que a família seja um tema polêmico, ela ainda é o fiel da balança, a esperança da sociedade. Pedir conselho aos mais velhos é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, existem a experiência e a sabedoria, por outro, estão o ceticismo e o cansaço da vida. Os tempos atuais são outros quando comparados ao das gerações anteriores. As mudanças quanto à forma são evidentes, mas quanto à essência, não.[4]
Desta forma, o conflito de gerações sempre irá existir, mas os problemas sociais serão inversamente proporcionais ao zelo do processo educacional familiar.
O tempo gasto com a família nunca é perdido, e sempre haverá conseqüências positivas no âmbito pessoal, familiar e social.
O conhecido provérbio "Mateus, primeiro os teus" resume o que foi dito.
Na África, é mais comum se ouvir: Dine with a stranger but save your love for your family (Jante com um estranho, mas reserve seu amor para sua família).
Para finalizar, dois provérbios macuas.
O primeiro retrata o conflito de gerações; o segundo a educação para o ser humano:
Ka namwana a khapá; mapele ari mmirimani – Sou uma mulher com filhos, mas de raça pequena como o cágado, cujos seios estão recolhidos no próprio peito.
Comentário – Os africanos sabem perfeitamente que o cágado é ovíparo, mas por alegoria, dizem que os seus peitos estão escondidos no interior da carapaça. Assim sendo, caso alguém diga que uma moça ainda não tem condições para ir ao casamento por ter peitos pequenos e ser de baixa estatura ou um moço ou uma criança que dão uma resposta com sabedoria e graça quando acuados poderão escutar este provérbio. Para estas situações, os provérbios similares são: Da mulher e da sardinha a mais pequenina e Os homens não se medem aos palmos.
Okhala onokhalihaniwa – Viver é ajudarmo-nos uns aos outros a viver.
Comentário – Para o ser humano, o existir e o coexistir são a mesma coisa. A vida tem muitos dissabores e contratempos, sejam eles as doenças, os percalços ou as fatalidades, que só iremos superar com a amizade, carinho ou amparo dos nossos familiares e amigos. O homem precisa da ajuda da mulher e vice-versa. Os filhos precisam dos pais, e estes confiam no auxílio dos filhos. Quem se isola do convívio dos outros por orgulho, egoísmo, avareza ou qualquer outro motivo vil, está condenado à tristeza e à morte. Um dos membros da família nunca fica doente sozinho, nunca ninguém fica só na tarefa de educar os filhos, assim nos diz a voz da África: One knee does not bring up a child e One hand does not nurse a child.

Considerações finais :
Quantas pessoas analfabetas há que viveram longe da chamada civilização ou dos grandes centros urbanos, que nunca freqüentaram centros de ensino, e parecem nada possuir, mas tudo possuem, pois têm o licor da sabedoria.
Com modos de ser manso, com uma alegria interior que transborda no trato com os demais e o olhar que penetra na alma.
As palavras desta gente são proverbiais, como as vozes que vêm da África.
Um provérbio macua exprime bem tudo isto.
Diz o que é muitas vezes o provérbio na relação entre as pessoas:
Mwèrera ahiva etthepo ni nipoxo (ou nivali ou nluku) – O que experimentou matou o elefante a caqueirada (ou a pedrada).
Este provérbio é usado para pessoas que conseguem grandes êxitos, com recursos insignificantes.
Talvez os provérbios representem estes recursos insignificantes, mas, se bem usados, serão uma fonte de unidade e sabedoria, de paz e de alegria.

Referências Bibliográficas:
FUJIKURA, A.L.C., MEIDANI, H.Santo Tomás e os Árabes - Estruturas lingüísticas e formas de pensamento. Revista de Estudos Árabes. v.3, n.5-6, p.33-51, 1995. (Tradução do original LOHMANN, J.Saint Thomas et les Arabes - Structures linguistiques et formes de pensées. Revue Philosophique de Louvain, v.74, fév, p.30-44, 1976.)
HANANIA, A.R., LAUAND, L.J.Oriente e Ocidente: Língua e Mentalidade – II. Revista de Estudos Árabes. v.1, n.2, p.37-51, 1993.
LACAZ-RUIZ, R.O referencial comum dos provérbios e a personalidade humana. In:______ Projeto provérbios para Escolas de Primeiro e Segundo Graus. São Paulo : Editora Mandruvá. 1988, p.50.
LAUAND, L.J.Sentenças de sabedoria dos antigos. In: ______ Hanania, A, R.; Lauand, L.J. Oriente & Ocidente: Sentenças e sabedoria dos antigos. São Paulo: EDIX/Centro de Estudos Árabes DLO-FFLCH/USP, 1994a, p. 64.
LAUAND, L.J.África: língua, provérbios e filosofia bantu. In: Luiz Jean Lauand (org.) Oriente e Ocidente: o literário e o popular. - Traduções e estudos sobre diversas culturas. vol.6. São Paulo: Edix/CEA/DLO/FFCLH/USP, 1994b, p.23-36.
LINO CURRÁS NIETO, J.Provérbios e virtudes. São Paulo : Quadrante. 1999, p.86.
MATOS, A.V.Provérbios macuas. Lisboa : IICT/JICU. 1982, p.376.
RUIZ, R.O tempo dos pais e o tempo dos filhos. Interprensa v.3, n.29, p.4, 1999.
[1] Também estão presentes nos provérbios uma elevada ética, justiça, amor à verdade, espírito de generosidade, deferência para com os outros, serenidade nas dificuldades, prudência nas palavras, estima e veneração, prestação de ajuda mútua, desprendimento do coração perante as belezas efêmeras do Mundo, vanidade da formosura feminina, hábitos de trabalho, confiança em Deus nas desgraças e esperança na sua justiça incorruptível, casamento como sociedade perfeita em que o homem e a mulher se complementam mutuamente, o certo contra o incerto, economia doméstica, valor da experiência ou da prática, gratidão, intrepidez, conveniências da mansidão, lições da morte..., dando veracidade ao anexim latino Vox populi, vox Dei. (cf. Matos op. cit.)
[2] "Provérbios existem em todas as culturas e também no Ocidente; mas não tão copiosamente e, sobretudo, não com a força psicológica que exercem no Oriente, onde todos conhecem vivamente os mesmos inúmeros provérbios que, além de constituírem um tesouro de sabedoria prática, erigem-se - junto com os livros da tradição religiosa - num poderoso referencial comum. O que, talvez, não seja alheio ao fato - para o qual tanto gostava de chamar atenção o Dr. Jamil Almansur Haddad - da fraca incidência de busca de auxílio psiquiátrico por parte do árabe. A propósito, note-se que precisamente um dos mais graves problemas culturais do Ocidente, hoje, é a ausência de um referencial comum, duradouro e universal. (HANANIA &LAUAND, 1993.)
[3] Neste sentido, vale a pena lembrar a misericórdia de Deus para com os homens. Um santo dizia que Deus não pode ser comparado a um caçador, que fica à espreita do primeiro erro para nos castigar, mas sim a um jardineiro, que cuida de suas flores, e quando elas estão belas, leva-as para Si.
[4] “O tempo dos pais e o tempo dos filhos são tempos que correm a uma velocidade muito diferente. E a sensação que a sociedade provoca, principalmente nos pais, é a de que isto é irreversível, tão irreversível quanto o progresso tecnológico que todos acompanhamos e vivemos. O que nos escapa é que há um tempo compartilhado não apenas pelas gerações dos pais e dos filhos, mas por todas as gerações. Um tempo que ainda podemos compartilhar em comum: trata-se do tempo de “ser pessoa”. É verdade que fica difícil aconselhar ou passar experiênciassobre “ser isto” ou “ser aquilo”, quando sabemos que não temos experiências vitais nem “disto” nem “daquilo”, porque, de fato, o mundo correu muito depressa e o presente tem muito pouca permanência. Porém o tempo de “ser pessoa” tem uma outra velocidade. Uma velocidade constante, e não continuamente acelerada. Tanto é pessoa o jovem de hoje quanto o jovem dos tempos clássicos da Grécia. (Ruiz, 1999)
- Rogério Lacaz Ruiz Adilson José Mangetti, aluno especial da Pós-Graduação Fac. de Zootecnia e Eng. de Alimentos USP/Pirassununga, Av. Duque de Caxias Norte, 225 13630-970 - Pirassununga - SP-Brasil.

Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Actualização em Outubro de 2013 e Junho 2014. 

4/03/14

Histórias sem tempo...


Posted by Hello...Ou Histórias de África !
Por Maria de Lourdes Sant’Anna
A.A. Nº 278/36
Uma vez que vou contar algumas das histórias que vivi nos anos 57/58 em Cabo Delgado, parece-me que devo começar por caracterizar a região em causa.

A província de Cabo Delgado situa-se no extremo nordeste da República de Moçambique, com uma densidade populacional de vários milhares de habitantes cujas etnias representativas são as macondes, macuas e mwani.

Com uma superfície de 82.625 km², que inclui 4.758 km² de águas interiores, é limitada a norte pelo rio Rovuma, a sul pelo rio Lúrio e a oeste pelo rio Lugenda. O Oceano Índico banha o litoral leste, uma extensão de aprox. 425 km.

A vegetação característica é de florestas de mangais, junto dos rios e do mar, de planícies e savanas com árvores de pequeno e médio porte mas com predominância de embondeiros, além das matas e das florestas.

Existe ainda a norte do Cabo Delgado um arquipélago de 31 ilhas e ilhéus, o arquipélago das Quirimbas, que inclui, entre outras, a ilha do Ibo. (Por curiosidade direi que as mulheres do Ibo são conhecidas pelas sua beleza, com um tom de pele castanho dourado e grandes e alongados olhos verdes).

Aos que entram por mar em Porto Amélia, depara-se um espectáculo inesquecível: a baía de Pemba.

Considerada como a terceira do mundo em grandeza, com cerca de 15 quilómetros de amplitude, dizia-se que “podia dar abrigo a uma esquadra naval inteira”. E que, sendo também uma das mais profundas, num dos seus recessos, o “poço”, viviam tubarões de mais de 6 metros, jamantos com uma envergadura de cerca de 4 metros e garoupas de centenas de quilos.

Foi em 1897 que a companhia colonial determinou ao Capitão José Augusto Soares da Costa Coleral que procedesse à implantação de um povoada na baía de Pemba, que era assim que as povoações nomeavam a região.

O comércio que se fazia nas margens da baía desenvolveu-se imenso, tanto com as populações locais como com as caravanas que vinham do interior. E os pedidos de arrendamento e de aforamento de talhões começaram logo a seguir ao traçado da região, enquanto que a região de “Pampira”, junto do posto militar construído em 1897, passou a denominar-se Porto Amélia, em homenagem à última rainha de Portugal.

Com a nossa chegada em janeiro de 57, os habitantes não crioulos, africanos ou mestiços atingiram o número de 502. E foi nessa região que vivemos cerca de dois anos.

Além do lado fortemente positivo em relação a paisagens deslumbrantes, ao grande relacionamento humano, devo dizer também que havias aspectos fortemente negativos. Infelizmente o polo negativo levou-nos a deixar Porto Amélia e a ir para o Dondo (Beira).

Como já disse a baía de Pemba surpreendia pela sua enorme beleza. Em linhas gerais, na margem esquerda erguia-se a cidade baixa, com a ponte-cais, a capitania do Porto, o posto meteorológico, o comércio, as empresas, o consulado (alemão), o único banco e também a única pensão, além de três creches e de um cinema.

Na parte alta da cidade, erguia-se o bairro residencial, o hospital, a igreja paroquial e mais adiante o quartel e depois dele o campo de aviação.

Havia apenas uma única estrada alcatroada, a ligar a baixa com a alta, e cá em cima as ruas eram todas de terra batida, dum vermelho que o vento levantava e manchava tudo de um pó grosseiro.

Mas a par da terra, vermelha que o vento levantava, havia o outro vermelho/róseo, que surgia por vezes quando o sol ia a caminho do poente, tingindo a atmosfera de tons rosados a envolver suavemente árvores, a nós próprios, numa imagem de irrealidade, como se de um sortilégio se tratasse.

Disseram-se ser um fenómeno pouco frequente mas normal em paisagens equatoriais.

E era um livro surpreendente, aquele cujas páginas eu ía lendo num dia a dia cheio de expectativas.

Também a ponte-cais era local de reunião, não só para os pescadores à linha, mas também para nós, os outros que ali apareciam não só para confraternizar mas também para apreciar a beleza das trovoadas que, do outro lado da baía iam riscando os céus com as faíscas que aos zigue-zages, entrecruzando-se, se lançavam vertiginosamente no mar entre os tons exaltados de todas as cores do arco-iris, numa beleza sem limites.

O fundo do grande círculo da baía de Pemba descia da escarpa alta, que a dominava, até ao mar, numa cerrada floresta de verdes. E no dizer dos nativos que não se aventuravam lá, aquela era a região das jibóias e dos leões.

Pois havia uma história que se prendia com aquela teimosa região. Uma criança de três anos, residente numa machamba, situada na “zona possível” antes da floresta das jibóias e dos leões, iludindo o “pequenito” cuja missão era brincar com ele, desapareceu uma tarde.

Da cidade vieram todos os transportes disponíveis e, ao entardecer, as lanternas foram-se acendendo à medida que todos se internavam mais na floresta. E foi já tarde de noite que se encontrou a criança, a uns três quilómetros dentro da floresta, a dormir serenamente encostada a uma árvore.

Quase impossível de acreditar, mas assim aconteceu.

A primeira vez que por convite dum residente entrámos numa “zona de caça grossa”, num minúsculo Volkswagen que era o carro utilitário usado, tivemos a sorte de encontrar um majestoso leão.

O nosso carro havia parado, pois o dono, que era caçador experimentado, pelo abanar do capim alto percebeu que seria um dos tais animais que ele gostaria que nós, recém-chegados, apreciássemos em pleno mato, além das dezenas de macacos que, pendurados nas árvores, nos espreitavam guinchando.

O desejo do nosso amável anfitrião cumpriu-se, pois, pouco depois, a monstruosa cabeça dum leão surgiu ali, a cerca de dois metros de nós. É de facto uma sensação de tanto medo, que não se pode descrever, apenas sentir.

O animal olhou para um lado e para o outro (onde nós estávamos, eu completamente muda e paralisada) e internou-se de novo no capim alto para surgir mais adiante, atravessar a estrada num passo lento, embrenhando-se de novo no capim.

À medida que prosseguíamos, começaram a aparecer africanos que caminhavam sempre no meio da estrada. Todos eles levavam levantado, ao ombro, um alto e grosso pau em cuja ponta balançava um pequeno saco branco, enquanto que, com a outra mão, seguravam na cabeça uma lanterna de querosene, acesa, que, na tarde que caía, espalhava uma luz leitosa.

(Foi-nos dito que, em regra, o leão só ataca quando tem fome e as suas zonas de caça não são nas proximidades das estradas. No entanto, o leão, já velho, pode esperar as mulheres que vão buscar água, longe da aldeia, ou viajantes que, por necessidade, se afoitem noite dentro longe das suas cubatas).

Pois a lanterna que aqueles que íamos encontrando levavam à cabeça seria então para afugentar as hienas que, traiçoeiras, não atacam as pessoas de frente e que, seguindo-as, não se atrevem a investir contra aqueles que lhes parecem mais altos. Portanto, a lanterna, além da luz que projectava, era também uma defesa contra esses animais.

Lembro-me que, quando fomos visitar as quedas de água do rio Lúrio, descemos por uma vereda até lá abaixo, onde o rio era mais estreito e havia uma pequena língua de areia. Sentados num dos rochedos existentes já no rio, reparámos num africano que o atravessava a nado, levando numa da mãos erguida acima da cabeça um tronco a arder.

Quando chegou perto de nós, perguntámos-lhe se ali havia crocodilos. Que sim, que de manhã tinham visto um muito grande a apanhar sol. Já na areia, a nossa pergunta se não tinha tido medo quando atravessara o rio, a resposta simples surpreendeu-nos a todos: “Patrão, quando Deus quer...”

Numa das caçadas onde participei fomos até uma lângoa (área pantanosa, com bancos de nevoeiro) de cerca de 40 quilómetros de diâmetro. Levávamos dois pisteiros africanos, bem conhecedores da zona, que, porém, daquela vez se perderam devido ao denso nevoeiro que nos envolvia. Andámos por ali às voltas mais de duas horas e caça, nem uma peça se via. No entanto, pelos excrementos que, por vezes, o nevoeiro deixava ver, compreendi que, pelo menos, búfalos e outros animais de grande porte poderiam ser encontrados.

Dentre as várias caçadas em que participámos apenas como “mais dois”, uma ficou na minha lembrança.

Saíramos da cidade já de noite a caminho duma pequena lagoa onde, de madrugada, os animais iam beber. E durante a viagem, os caçadores lá atrás “repartiam” entre si a caça que poderiam adivinhar por entre a vegetação: olhos verdes pertenceriam a gazelas, a antílopes, a palaves, a leopardos, etc. Mas olhos vermelhos, esses seriam sempre de leão.

Quando surgiu um par de olhos fosforescentes, bem vermelhos, desceu da carrinha o caçador ao qual cabia aquela peça. O silêncio era impressionante, mesmo aterrador. Guiado apenas pelo próprio foco preso à cabeça, o caçador breve se afastou para reaparecer pouco tempo depois em corrida desordenada, gritando “talaco”, “talaco” (nome dado pelos nativos às formigas carnívoras que se deslocam em grossas e espessas colunas de milhões destes insectos e que destrói tudo por onde passa). Mas embora tenha dito que havia pisado a coluna, não se lhe encontrou uma única formiga. Ainda hoje mantenho as minhas dúvidas sobre a realidade deste encontro...

Mais para a madrugada surgiu então o local procurado. E não tenho adjectivos suficientemente convincentes que possam demonstrar o que vi.

Os animais erguiam-se numa frente única, num magnífico conjunto a sobressair do branco leitoso que o sol ia tingindo de tons rosados. Eram cerca de 14 palaves, que bebiam tranquilamente, enquanto o mais alto e mais forte que atento vigiava em breve deu pela nossa presença. E logo aquele nobre animal levou a manada em carreiras desordenadas e voltou atrás para enfrentar os caçadores de armas apontadas.

E fecho mais uma série de “Histórias de África” com a partida de que, para não fugir à regra, fomos alvos pouco depois de chegarmos.

Em terras pequenas, alguns caçadores gostavam de pregar partidas aos crédulos recém-chegados. E foi assim que, durante várias horas, entre cafés e whiskies pudemos ouvir histórias de caçadas cada vez mais empolgantes, cada vez a deixar-nos – porque não dizer? – mais encantados.

Claro, o herói era sempre um, ele , o nosso contador. Mas como se tratava dum caçador profissional bem conhecido pela sua grande coragem e valentia, depressa se esqueciam as partidas que adorava pregar aos novatos que chegavam de longe, prontos a acreditar em tudo sobre a vida do mato, que aliás ouviam com agrado.

Voltarei a contar mais “Histórias de África”. Em 13 anos de vivências por terras africanas, muitas foram as histórias acontecidas e que ficaram registadas no grande livro das nossas memórias, umas boas, outras más...
In: http://www.aaaio.pt/public/ioand096.htm

10/18/13

18 de Outubro - DIA DA CIDADE DE PEMBA

''Extr. da publicação PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA-1850 a 1960, de Luis Alvarinho, que também se baseou em documentação do Arquivo Hist. de Moçambique, B.O. e Boletim da C. do Niassa, entre outros:

- O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da Colónia 8 de Dezembro, fundada por Jerónimo Romero e dissolvida 5 anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos
  • - Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934.
  • - É elevada à categoria de cidade em 1958 pelo decreto-lei de 18 de Outubro-G.G. da Província.''
PEMBA DE ONTEM E DE HOJE
Por Carlos Lopes Bento para o ForEver PEMBA
 
Ao comemorar-se mais um aniversário da elevação de Pemba a cidade, aproveito a ocasião para saudar todos os seus habitantes e respectivas autoridades e visualizar algumas imagens do meu Album, que lembram um pouco da História recente desta bela urbe, do norte de Moçambique.
 



Para a cidade de Pemba e suas Gentes votos de um futuro próspero e pacífico.
- Portugal, Lisboa, 18 de Outubro de 2009, Carlos Lopes Bento.
Dia da Cidade de PEMBA
LEMBRANDO A CIDADE DE PORTO AMÉLIA/PEMBA E A POETISA GLÓRIA DE SANT’ANA
Pemba - Wikipédia
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E O HOJE DE PEMBA, em 18 de Outubro de 2013:
Aniversário de uma cidade surpreendida! - Noticias OnLine - (Na ótica de Pedro Nacuo)

"""A situação com que a cidade de Pemba é obrigada a coabitar não estava nas previsões de quase todos urbanistas, gestores públicos, incluindo os actores das diferentes áreas político-sociais, cultural e económico, razão porque hoje não é exagero dizer que esta cidade, aos 55 anos de idade, sente-se positivamente surpreendida com cada vez maior demanda, visando satisfazer os apetites que o desenvolvimento económico, por via das descobertas dos recursos naturais, mais a Norte, impõe.

Mesmo localizando-se há cerca de 500 quilómetros de Palma, o epicentro das descobertas de hidrocarbonetos, principalmente o gás, a cidade de Pemba, vive no seu dia-a-dia, o frenesim que uma indústria desse quilate exige, por conta do facto de, até aqui, ser a principal base logística de todas as operações das multinacionais em actividade, tanto em terra como no alto-mar.

Tagir Ássimo Carimo, presidente do Conselho Municipal de Pemba, eleito intervalarmente e que pretende concorrer para as eleições autárquicas do próximo mês, diz que a comemoração dos 55 anos, sobretudo por esta razão, deve servir de momento de reflexão do que será a capital de Cabo Delgado nos próximos 10 a 15 anos.

“As soluções não devem ser encontradas hoje, é o que costumo dizer aos meus colegas, mas deviam tê-lo sido Ontem. Estamos perante evidências às quais devemos simplesmente corresponder, para não defraudarmos as expectativas” diz.

Ainda que se fale da criação de condições logísticas em Palma, incluindo um porto, nada indica que a cidade de Pemba possa vir a ser dispensada a favor do eventual recurso àquele ou outros locais desta província.

Pemba tem um porto marítimo com capacidade de manuseamento de carga de 200.000 toneladas/ano, um aeródromo com ligações directas para Nairobi, Dar-es-Salaam e Joanesburgo e aqui operam cinco bancos e duas agências de crédito.

A baía de Pemba, poderá continuar por muito tempo ainda, a atrair turistas, pois para além de acolher um dos melhores portos da África Austral, oferecendo um amplo ancoradouro que pode ser demandado a qualquer hora, as suas águas são cristalinas sem par, tornando-se num chamariz para os diferentes apetites turísticos de quem vem das outras latitudes.

Ela mede cerca de 10 quilómetros no sentido Norte-Sul e cerca de 11.5 quilómetros Este-Oeste e tem na parte terrestre espaço que hoje é ocupado por 10 bairros e duas unidades residenciais, habitados por 141.316 habitantes, se tivermos fé nos dados do último censo populacional.

Tranquila, como lhe é tradicional, a cidade de Pemba tem encontrado dificuldades de os seus habitantes abraçarem as oportunidades que se oferecem, decorrentes das anteriormente propaladas descobertas dos recursos naturais, mais a Norte da província, justamente porque os seus habitantes ficaram literalmente surpreendidos, mesmo na formação dos seus residentes.

As contas que se fazem actualmente, falam numa força de trabalho de 77.668 pessoas, das quais 42.9% são mulheres, e 57,1% de homens e desse total, 72.5% são empregados e 25% sem emprego, uma carga a não menosprezar, tendo em conta que depois vão engrossar o sector informal, que representa 31,9%, para depois a agricultura e pesca ficar com 19.8 porcento.

É dentro deste quadro que passam os 55 anos de elevação de categoria de cidade, da antiga Porto Amélia, o que ocorreu a 18 de Outubro de 1958 e a edilidade em jeito de balanco, acha que tudo o que foi planificado, à luz do manifesto eleitoral, está a ser realizado, sendo que maior parte foi concluído.

UMA PEQUENA PONTE QUE MARCOU…
O bairro Josina Machel, mas que os populares chamam-no Noviane, nasceu da teimosia dos pembenses face aos rigores de ordenação territorial que eram impostos, que obrigavam que algumas zonas consideradas inóspitas ou reserva de Estado não fossem ocupadas.

A teimosia levou a que, à forca, os citadinos residentes noutros bairros invadissem tais zonas, onde avulta o Chibuabuari e Noviane (Josina Machel), permanentemente alagadiços, íngremes e apertadíssimos. A edilidade, depois que Assubugy Meagy, que foi o primeiro presidente eleito para o município de Pemba, deu lugar a Agostinho Ntauale, cedeu completamente, tendo, inclusive, a autorização da sua ocupação sido um cavalo-de-batalha para as eleições que conduziram este último ao cargo.

Os ocupantes, porém, vinham das suas casas, noutros bairros, onde deixavam novos inquilinos, no advento da “febre” de aluguer de casas para diferentes fins, incluindo, aqueles resultantes do nascimento de muitos serviços na cidade e universidades que chamaram a Pemba, estudantes e docentes que antes não viviam nesta autarquia.

Consumada a ocupação, nada mais restava ao município, do que assistir a um rápido e crescente avolumar de necessidades a satisfazer para os munícipes ali residentes, desde o abastecimento de água, energia eléctrica e outras facilidades, já em pé de igualdade com aqueles que, tendo entendido a medida proibitiva, não quiseram desafiar a autoridade municipal.

Na verdade, tanto Noviane (Josina Machel) quanto Chibuabuari, pertencem ao bairro de Cariacó, razão porque passou a ostentar o estatuto de mais populoso, mais de 47.000 habitantes, suplantando Natite, que até fins da década 90, era o que mais pessoas acomodava.

Nessa sua nova qualidade, Noviane enfrentava, entretanto, um dilema, de travessia de um riacho no seu interior que se havia transformado no maior entrave para que os seus residentes não fizessem a sua vida normalmente. Passou a ser a lamentação de primeiro plano, sempre que alguém das estruturas provinciais ou municipais reunisse com a população daquela área residencial, até que Tagir Ássimo Carimo, toma as rédeas da municipalidade.

No conjunto de infraestruturas e estradas urbanas concluídas, consta, pois a ponte que liga os bairros de Cariacó e a Unidade Josina Machel, inaugurada com pompa que a ansiedade justificava, no dia 20 de Setembro deste ano.

Foram igualmente construídos, no resto da cidade, os mercados dos bairros de Muxara, Mahate e Ingonane, já entregues às estruturas locais para a sua operacionalização, o mesmo que aconteceu em relação às sedes administrativas de Mahate e Maringanha.

Mas ainda há infra-estruturas em construção, nomeadamente, a sede administrativa do bairro de Paquitequete, do posto de saúde do bairro de Alto-Gingone e da Escola Secundária de Amizade Sino-moçambicana, nesta mesma zona habitacional.

Está, por outro lado, em construção uma estrada de terra batida, considerada via rápida, de 5 quilómetros, partindo dos escritórios da ANE (Administração Nacional de Estradas) ao bairro de Chiuba, bem assim foi iniciada a pavimentação em pedra argamassada a rua CI 034.

A LINGUAGEM DAS RECEITAS E A SUA APLICAÇÃO
O nosso jornal teve acesso aos balancetes que se referem às receitas do município, onde deparou com o facto de que houve uma auto responsabilização de colectar 55.525.720,00 MT, pelo menos até Junho do corrente ano, do que resultou um sobre cumprimento em 14%, pois a colecta foi de 62.898,341,95 Meticais.

O fundo de Investimento de Iniciativa Autárquica foi executado em 73 porcento, o de compensação em 71, de estradas em 46 porcento, de combate à pobreza em 99 porcento e do Programa de Desenvolvimento Autárquico,em 64 porcento.

Está-se, com as baixas no fundo de estradas e PDA, perante um grau de cumprimento fixado nos 83 porcento. Especificamente, no que toca ao fundo de redução da pobreza urbana, o município de Pemba, nestes últimos dois anos, recebeu um financiamento no valor de 18.799.948, 21 Meticais, designadamente, para 269 projectos, em 2012 e 201, no presente ano, abrangendo ao todo 469 munícipes, dos quais, 326 homens e 144 mulheres. Os reembolsos dos valores inscritos no fundo de redução da pobreza urbana, situa-se em 52 porcento.

Desde 2011, os 253 projectos financiados, na agricultura, comércio, pecuária, pequena indústria, prestação de serviços, turismo, pesca, entre outras actividades económicas, beneficiando a  182 homens, 71 mulheres(adultos), 61 jovens e 4 associações,  criaram 396 postos de trabalho.

A CAPULANA VEIO COLORIR MAIS A FESTA DA CIDADE
Havia  pouca crença numa festa visível, por ocasião da passagem dos 55 anos da cidade de Pemba, provavelmente, devido ao facto de tudo estar a ser feito em preparação do pleito que a 20 de Novembro próximo, vai chamar os cidadãos para se pronunciarem à boca das urnas sobre o seu destino, escolhendo quem lhes pode dirigir nos próximos cinco anos.

Por outro lado, a preparação da festa esteve fechada no edifício do município e nas sedes administrativas dos bairros, criando um vão a meio, que deixou cidadãos não informados sobre o que iria acontecer desta vez, no dia de Pemba.

Afinal, havia um programa, o que vai ser cumprido por esta ocasião, que não foge muito ao habitual, no que toca à parte oficial da comemoração, mas cheio de muito entretenimento e desporto, como seja, torneios de vólei de praia, canoagem, feira de artesanato, de Gastronomia, espectáculos musicais com artistas locais, entre outras actividades.

Cada um dos 10 bairros de Pemba, terá uma oportunidade de subir ao palco e apresentar o que terá preparado em termos culturais e recreativos por ocasião dos 55- aniversário da cidade.

Porém, o facto de se ter escolhido a cidade de Pemba, como o palco do festival internacional da Capulana, veio dar outro alento à festa de Pemba, que se preparou para participar e ganhar, conforme afiança Tagir Carimo.

“ Nós vamos participar com um desfile fabuloso. Tivemos nos bairros 12 equipas de inscrição de participantes. É verdade que somos apenas hospedeiros do festival, pois não somos os organizadores, mas não queremos deixar os nossos créditos em mãos alheias” assegura o presidente do município de Pemba.

Para a fonte, não há nada a inventar, se bem que a capulana é a forma comumente usada pelas mulheres da baia de Pemba, razão porque não vê a dificuldade de se atingir o número de 15.000 mulheres trajadas de capulana, que se prevê no desfile que fará o festival.

“ Se só o bairro de Cariacó sair com as suas mulheres de capulana, sem falar dos outros, atingiremos o recorde”."""

Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Atualização em Outubro de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

12/03/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS - Parte 2

Ajude a acabar com o massacre dos elefantes em MAREJA-QUIRIMBAS - Assine a petição (http://is.gd/2bl0B1)

In GlobalVoices - Português - Postado em 19 Novembro, 2012 16:06 GMT  (transcrição)
Caça Furtiva de Elefantes em Moçambique

Uma reportagem publicada no Jornal @Verdade no final de Outubro de 2012, põe a descoberto a caça ilegal de elefantes na Reserva de Mareja, situada em Cabo Delgado, na região Norte de Moçambique.

Segundo o artigo, o “massacre” é perpetrado por grupos de caçadores furtivos “sofisticadamente armados” e “tem vindo a ganhar proporções gigantescas”:

""Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.""

São frequentemente ouvidos ruídos de tiros e depois avistados helicópteros ou aeronaves a sobrevoar a reserva. Estes servirão para carregar as pontas de marfim roubadas aos animais em vias de extinção, e assim dar continuidade ao tráfico de um produto que “atinge preços exorbitantes no mercado negro”, e é exportado para países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.
(Imagem daqui)

Um comentário deixado ao artigo por Conor Christie através do Facebook acrescenta:

""Trabalhei um pouco na coutada 4 na provincia de Manica e quando lá, fomos avisados que os caçadores vêm das zonas da Beira e vêm BEM EQUIPADOS. Nós tinhamos o equivalente a dois guardas das Quirimbas, e fomos avisados para não confrontar os elementos. As pessoas que têm acesso a esse tipo de armamentos não são os camponeses. Quando lá, sabíamos que caçadores furtivos alugavam AK47 (AKM) do comando ai do Save. Comprávamos balas por mil Meticais [$33 USD] cada, indicando que o acesso às armas é fácil. Na minha opinião, as pessoas atrás dessas mortes nas Quirimbas são pessoas com patencia [sic].""

Outra leitora do jornal, Kita Chilaule, expressou a sua indignação:

""Não acredito que não hajam formas de travar estes caçadores furtivos. Penso que eles não são um numero superior aos guardas mas sim têm a protecção do governo local ate porque esta claro que existe aqui uma cumplicidade e corrupção. O lamentável é a destruição do património do ecoturismo desta zona.""

E continua:

""Esses caçadores a maioria são estrangeiros não podem ter poder de acção mais que os nacionais. Peço a quem é de direito para travar esta pratica degradante de fauna bravia.""

Inserida no Parque Nacional das Quirimbas, que ocupa uma área de aproximadamente 7.506 quilómetros quadrados, a Reserva da Mareja é vigiada por um grupo de 10 guardas florestais precariamente equipados para fazerem frente à caça furtiva. No website da Associação de Camponeses de Mareja está em curso uma campanha de consciencialização e angariação de fundos para fortalecerem o trabalho de protecção dos elefantes.
(O vídeo acima é de Dominik Beissel; mais filmagens dos elefantes no seu habitat natural aqui.)

No seguimento da notícia publicada pelo Jornal @Verdade, foi criada uma petição no site Avaaz:

""Solicita-se a atenção do mundo que preza a sustentabilidade ecológica e a vida nas florestas, assim como do GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, para que providências sejam tomadas de forma a acabar com o extermínio dos elefantes em Moçambique.""

“Conflito Homem-Elefante”

Já desde 2006 que o autor do blog Forever Pemba tem reportado sobre conflitos relacionados com a fauna bravia, e em especial os elefantes, naquela região:

""Nos últimos tempos, os animais, principalmente elefantes, matam pessoas, criando insegurança nas comunidades, assim como se lhes acusa de fomentarem, com macacos e porcos selvagens, a fome, ao destruírem parcial ou completamente as culturas.""

Criticando a implementação de algumas das “medidas de estancamento” da “destruição” causada pelos animais promovidas pelas autoridades locais, tais como a formação de caçadores comunitários, o blog analisa uma notícia publicada no jornal Notícias em 2007:
(Imagem daqui)

""Em resumo e lendo o texto, entende-se que, as autoridades responsáveis em Cabo Delgado, depois de apresentarem os elefantes e outros animais como inimigos perigosos para o ser humano, agirão, como afirmam com um tom beatificante, quase piedoso, para não dizer cínico.""

O website da WWF-Moçambique indica que em 1999 a Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DNFFB) do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural publicou a Estratégia Nacional de Gestão de Elefantes em Moçambique, com a definição de metas para a conservação da população de cerca de 18.000 elefantes africanos que existem no país.

No entanto, a aplicação da convenção, segundo um relatório de Setembro de 2012, tem-se mostrado deficitária.

- Escrito por Sara Moreira - GlobalVoices em 19NOV2012


Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do GlobalVOICES - Português, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Novembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

11/09/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS

Transcrição de @Verdade - A FACE AMARGA DA RESERVA DE MAREJA

Escrito por Hélder Xavier   
Quinta, 25 Outubro 2012 15:28
Com apenas duas armas de fogo manuais e seis munições, um grupo de 10 guardas florestais vive uma cruzada solitária para proteger os elefantes de um massacre sem precedentes, protagonizado por caçadores furtivos forte e sofisticadamente armados na Reserva de Mareja, no Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado. Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.

A sensivelmente duas horas e meia da capital provincial de Cabo Delgado, cidade de Pemba, localiza-se Mareja, um projecto ecoturístico de conservação e gestão de recursos naturais dentro do Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) desenvolvido pelo alemão Dominik Beissel e abraçado pela comunidade local.

A região é isolada, sobretudo na época chuvosa, e a população leva uma vida recatada. O quotidiano é monótono, até porque a energia eléctrica e a água canalizada ainda não chegaram àquela localidade. Apesar disso, os habitantes, que sobrevivem exclusivamente da agricultura, continuam a viver normalmente, além de se mostrarem hospitaleiros em relação aos visitantes.

Quando se caminha pela mata adentro, por momentos, temos a sensação de estarmos a entrar numa outra dimensão, por assim dizer. Porém, esporadicamente, o silêncio é interrompido pelos macacos que pulam de galho em galho. A zona é uma reserva e nela é possível encontrar quatro dos “big five”, nomeadamente leões, leopardos, búfalos e elefantes.

O lugar é (aparentemente) tranquilo e bonito. Mas a tranquilidade e a exuberância do local não escondem uma actividade que tem vindo a ganhar proporções gigantescas nos últimos dias no interior daquela reserva, em particular, e do parque, em geral: o massacre de elefantes. Os ossos espalhados ao longo do caminho que leva até a Mareja denunciam a prática da caça ilegal.

Quase todas as semanas, pelo menos dois animais são abatidos pelos caçadores furtivos fortemente armados. No passado mês de Agosto, dois elefantes foram mortos e, em Setembro, quatro. “Nestes dois meses, foram abatidos oito elefantes nesta reserva e o número tem vindo a crescer. Em 2011, no mesmo período, registámos mais de 10 casos”, informou um dos guardas florestais do parque.

O pior massacre de elefantes aconteceu no mês de Outubro do ano passado (2011), em que apenas numa semana foram mortos pouco mais de 10 animais. Os furtivos atiram indiscriminadamente, até porque o que interessa são as pontas de marfim, não importando a idade do animal. Eles usam armas de fogo automáticas do tipo AKM, calibre 365, rádios de comunicação e materiais de caça sofisticados, além disso, possuem helicópteros.

Os guardas florestais, tanto os que são apoiados pelo projecto de Mareja assim como os do PNQ, não dispõem de meios à altura para parar a acção do grupo naquela região, onde, no melhor estilo dos cowboys norte-americanos, fala mais alto quem tem o argumento de uma arma de fogo.

Ao contrário dos caçadores furtivos, o grupo de 10 guardas florestais apoiado pelo projecto de protecção de elefantes do alemão Dominik tem apenas duas armas de fogo manuais, meia dúzia de munições e algumas facas e catanas. Mensalmente, ganham menos de dois mil meticais pelo trabalho de fiscalização. Durante os três dias (e noites) de patrulha, cada pessoa tem direito a menos de 200 gramas de arroz e uma lata de sardinha.

“Não conheço os caçadores furtivos, mas sei que eles andam armados”, afirmou Amade Cause, guarda florestal há três anos na Reserva de Mareja, e acrescentou: “nós só andamos com uma faca e não podemos fazer nada”. O Parque Nacional das Quirimbas conta com uma brigada de fiscalização constituída por apenas quatro guardas florestais armados e dois comunitários, apesar de o local ocupar uma área de 7.500 quilómetros quadrados, abrangendo ecossistemas marinhos e terrestres.

As autoridades fazem vista grossa
Semanalmente, o número de elefantes mortos cresce de forma alarmante. Ou seja, a cada semana que passa a acção dos caçadores furtivos tende a intensificar- se, colocando a nu a incapacidade de reacção das equipas de guardas florestais. As zonas mais críticas são Mareja e Meloco.

Nos dias 6 e 9 de Setembro último, na Reserva de Mareja, por volta das 6h30 da manhã, ouviu-se o ruído de um tiro e, de seguida, uma rajada de metralhadora. Os guardas florestais foram atrás para controlar a situação e, quando chegaram às proximidades do local do massacre, limitaram-se a assistir aos caçadores furtivos a retirarem as pontas de marfim.

“Não tivemos como agir porque eles estavam muito bem armados e qualquer reacção nossa seria fatal para todos nós”, disse Amade Cause, um dos fiscais que presenciou o acontecimento, tendo de imediato sido informadas as estruturas policiais e do PNQ. Tem sido assim todas as semanas.

As autoridades, tanto policiais como do parque, encarregadas de combater essa prática que coloca as espécies de elefantes em perigo de extinção, acham que a melhor coisa a fazer é fingir que o problema não lhes diz respeito. Na verdade, a Polícia recusa-se a intervir nesse assunto.

“Sinto-me em pânico vendo isso acontecer e, o pior de tudo, é que a reacção da Polícia não é imediata. Ou seja, ela age como se não tivesse nada a ver com o assunto”, disse uma fonte ligada ao Parque Nacional das Quirimbas que não quis ser identificada, tendo acrescentado que se poderia parar esta situação caso houvesse força de vontade por parte do Governo.

Sensivelmente uma hora depois, um helicóptero sobrevoava a zona tendo pousado nas proximidades de um riacho, e levado as pontas de marfim. Duas semanas mais tarde, os guardas florestais do projecto Mareja decidiram voltar para o local. Pelo caminho uma enorme árvore derrubada (supostamente por um elefante em fuga) impedia o trânsito da viatura “pick up” na qual nos fazíamos transportar.

Foram necessários pouco mais de 30 minutos para remover o obstáculo e deixar a estrada livre. No local, os fiscais encontraram quatro elefantes mortos (três fêmeas e um macho). Os furtivos não retiraram as pontas de marfim de um dos animais porque as dimensões não ultrapassavam 50cm, uma vez que ainda era um elefante bebé.

Há vários relatos de aeronaves sobrevoando o espaço logo após o abate de elefantes. A título de exemplo, no ano passado, concretamente no dia 23 de Novembro, pelas 15h45, foi identificada uma aeronave de cor azul escura com a referência EC-120. O facto foi comunicado às autoridades locais que se limitaram a sacudir a água do capote fazendo um comentário tranquilizador para si próprios:

“Este é um problema que nos ultrapassa, pois não temos meios para colocar freio a esta situação”. A Polícia da República de Moçambique (PRM) a nível da província de Cabo Delgado recebeu dos fiscais do Parque Nacional das Quirimbas uma fotografia do helicóptero que sobrevoou aquela região para averiguação, porém, nenhuma investigação foi levada a acabo.

Os guardas florestais acreditam que haja gente graúda interessada no massacre de elefantes no Parque Nacional das Quirimbas, protegendo os caçadores ilegais, uma vez que quando capturam os furtivos e os levam às autoridades policiais, eles são soltos no dia seguinte. E o pior de tudo é o facto de a lei não defender os fiscais quando estes os alvejam.

Amade Cause contou que, nos anos transactos, um dos seus colegas foi condenado à prisão, além de pagar uma indemnização por ter alvejado a tiro um caçador furtivo. “As autoridades governamentais e a Polícia não agem em grande parte por conforto e, arrisco- me a dizer, também por cumplicidade”, disse.

Em meados do ano passado, os guardas florestais encontraram no interior do acampamento construído na machamba do líder comunitário local mais de 100 munições e 100 mil meticais em dinheiro. Já havia suspeitas de que ele encobria os caçadores furtivos. Porém, apesar de ter sido encontrado em flagrante, não foi preso.

O que está em curso, na realidade, no PNQ, é o processo sem paralelo de consolidação do tráfico de pontas de marfim no território moçambicano. Crescendo aos saltos, diga-se de passagem, a questão que se coloca é como pôr cobro a isso.

As autoridades do PNQ reconhecem a sua incapacidade para travar a acção dos caçadores furtivos, razão pela qual têm vindo a solicitar o apoio da PRM quando ouvem o ruído dos disparos. Mas a resposta por parte da Polícia aparece, no mínimo, 10 dias depois. Falta de viaturas e homens são as desculpas mais evocadas. A situação é mais crítica quando o facto acontece nos fins-de-semana.

“Geralmente, os casos de massacre acontecem simultaneamente em lugares diferentes, facto que também dificulta a nossa reacção, uma vez que o parque não dispõe de meios materiais e humanos”, disse a fonte do PNQ que temos vindo a citar.

A comunidade “protege” os caçadores furtivos
Na Reserva de Mareja, assim como em todo Parque Nacional das Quirimbas, o que há de peculiar não é somente a acção rápida, ousada e o facto de os caçadores furtivos possuírem meios materiais para a actividade, mas também o silêncio cúmplice de algumas pessoas integrantes das comunidades locais.

Nas vizinhanças, existem moradores que encobrem esse grupo de pessoas que se dedica à caça clandestina de elefantes para retirar as pontas de marfim. Regularmente, tem havido campanhas de sensibilização da população no sentido de denunciar os envolvidos nessa actividade que em dois anos já dizimou mais de 50 animais. Como resultado disso, foram formados guardas florestais comunitários. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas.

Este ano, alguns dos fiscais comunitários tiveram de ser expulsos da equipa de guardas florestais por facilitarem a vida dos caçadores furtivos, informando-os dos locais de maior concentração de elefantes, além dos passos da equipa de fiscalização.

O destino das pontas de marfim
Este produto, que tem um valor comercial bastante alto (atinge preços exorbitantes no mercado negro), é traficado para os países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.

Casos de apreensão de pontas de marfim
No mês em curso (Outubro), um cidadão norte-coreano foi surpreendido pela Autoridade Tributária (AT) na posse 130 unidades de pontas de marfim – equivalente a três quilogramas – no Aeroporto Internacional de Mavalane, em Maputo.

Em Setembro, um grupo de seis caçadores furtivos foi neutralizado no Posto Administrativo de Chinthopo, no distrito de Mágoè, em Tete, na posse de quantidades consideráveis de marfim retirado de elefantes abatidos clandestinamente. A quadrilha era constituída por três moçambicanos e igual número de zimbabweanos.

Em Maputo, seis toneladas de marfim apreendido a caçadores furtivos e proveniente de elefantes abatidos foram roubadas de um armazém do Ministério da Agricultura. Em Agosto do mesmo ano, dois funcionários públicos afectos ao Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE), no Guro, na província de Manica, foram detidos sob a acusação de roubo de marfim das instalações do serviço para ser comercializado no mercado negro. As presas teriam como destino o continente asiático.

Em Fevereiro, a Polícia da República de Moçambique (PRM) no Niassa, em coordenação com os guardas florestais da Reserva do Niassa, deteve um indivíduo indiciado de ser caçador furtivo.

Em 2011, as autoridades encontraram 126 pontas de marfim num contentor apreendido no porto de Pemba, que equivaliam a 63 elefantes abatidos de forma ilegal, num contentor de uma empresa que opera na área da exploração de madeira.
= > Assine a petição aqui < =
Elefantes mortos para extração de marfim (imagens recolhidas na net)




















Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do Jornal de distribuição gratuita moçambicano @Verdade, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Outubro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.