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10/29/08

A CRISE: Queda do real ameaça teoria de Brasil 'descolado' da crise, escreve o Financial Times.

Desde junho, investidores estrangeiros já retiraram cerca de US$ 23,5 bilhões da Bolsa de São Paulo.”

Londres - A noção de que o mercado de capitais do Brasil está “descolado” do resto do mundo foi destruída nos últimos meses, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (29) pelo jornal britânico Financial Times, citado pela BBC.

O real se desvalorizou frente ao dólar e o índice da Bovespa caiu para menos de 30 mil pontos na segunda-feira pela primeira vez em três anos, o que o tornou um dos cinco mercados mundiais com pior desempenho nos últimos seis meses, diz o jornal.

Analistas citados pelo FT associam a situação à influência de fatores externos e locais, como a queda no preço das commodities, fatores que parecem disfarçar, segundo o jornal, a crença de que o Brasil "está muito melhor posicionado para resistir a turbulências globais do que há uma década, quando chegou à beira do calote depois que as crises russa e asiática provocaram ataques contra sua moeda.”

O jornal explica uma série de mudanças positivas ocorridas "desde então", dizendo que "o governo agora é credor líquido do resto do mundo" e que "a recente desvalorização do Real, na verdade, reduz o peso da dívida soberana, em vez de elevá-la, como no passado". Além disso, afirma o diário, “o Brasil tem mais de US$ 200 bilhões em reservas de moeda estrangeira para se defender de ataques especulativos”. “Mas as reformas que produziram essa resistência maior incluíram uma reforma nos mercados de capital do Brasil que os deixou muito mais integrados com o resto do mundo do que antes.”

O FT lembra que entre os anos de 2004 e 2006, cerca de 70% do dinheiro investido veio de fora do país, e com o desenrolar da crise, esses investidores "correram para retirar seu dinheiro". “Desde junho, investidores estrangeiros já retiraram cerca de US$ 23,5 bilhões da Bolsa de São Paulo.” Mas para o FT, o governo agiu rápido para aliviar o medo causado pela queda no preço das commodities, a desaceleração do crescimento no Brasil e em todo o mundo no ano que vem, e o temor de que centenas de empresas brasileiras sofram prejuízos por ter apostado erroneamente no câmbio.

O jornal cita a liberação de crédito para empresas, o leilão de dólares e a compra de ações de bancos particulares por bancos estatais por parte do governo, como medidas para aliviar os efeitos da crise. “Mas o sentimento dos investidores está, em última instância, a mercê de fatores que vão além do controle do governo”, conclui a reportagem.
- In Portugal Digital.com, 29/10/08.

7/08/08

Luz e esperança no horizonte dos desfavorecidos - Os milagres do microcrédito no norte de Moçambique. - III

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui.)
...continuação:
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Água a 30 quilómetros.
Criança com malária deve molhar-se com a capulana, levar ao curandeiro ou ir ao hospital? A doença tem uma incidência de 40 por cento da população, mas só um por cento é letal. As possibilidades de a combater são testadas num teatro que um grupo de jovens de agentes comunitários de saúde apresenta para quem quer ver, junto ao centro de saúde da aldeia. Levar ao curandeiro?
"É melhor dar nome de cemitério, não é bom hábito."
A mensagem tem que passar através do teatro e da música. Ou ensinando, numa demonstração ao vivo, como se faz uma papa nutritiva para crianças com ingredientes que estão à mão: farinha de milho, amendoim, folhas verdes de feijão, açúcar, sal, ovo.
Mas estes grupos também têm uma intervenção mais personalizada: Celso Varinde, médico e director regional da fundação, explica que são estes jovens que vão a casa das pessoas conferir o boletim de vacinas, identificar sinais de malária ou de doenças sexualmente transmissíveis, ver como estão as mulheres grávidas, aconselhar os partos nas unidades de saúde. Só não administram medicação.
O centro de saúde de Bilibiza - pequenas salas de enfermaria e de consulta, maternidade e cinco pessoas chefiadas pela enfermeira Cristina - serve uma população de 14 mil pessoas, 3500 das quais são mulheres em idade fértil.
Em Moçambique, a cobertura dos cuidados de saúde é inferior a 50 por cento, por isso estes grupos de agentes comunitários são importantes.
Nos arredores desta aldeia, há quem tenha que andar 30 quilómetros para ir buscar água. Muitas vezes, tem que se ir num dia e voltar no outro com dois ou três baldes de água na mão. A captação de água é, por isso, o projecto a que neste momento as pessoas mais se entregam.
Na aldeia 25 de Setembro, a população juntou-se. "Fizemos um pedido para o posto administrativo de Bilibiza. Querem que a população também ajude. Vamos buscar água a dois quilómetros. Mas há quem vai buscar a 30 quilómetros, as mulheres e crianças é que vão buscar mais", explica o representante do comité local.
Este pequeno grupo trata da manutenção do furo ou do poço, da cobrança do dinheiro, da promoção de regras de higiene. A aldeia contribui com dois por cento, cerca de dois mil meticais (menos de 60 euros) por furo de água.
No distrito de Quissanga, há neste momento 13 novos furos a serem feitos, além de seis reabilitações e onze poços. Mas o projecto abrange um total de 40 furos, num investimento de cerca de 190 mil euros. No final, 144 mil pessoas terão uma fonte de água mais perto de si. "Estamos a ajudar no cumprimento dos Objectivos do Milénio", diz Celso Varinde.
Neste canto do mundo, lutar contra a adversidade e melhorar as condições de vida tem metas concretas.
Ibrahim, o motorista da fundação, nasceu a 30 quilómetros de Bilibiza, numa aldeia ainda mais interior. "Há 30 anos, nada disto estava no mapa."
- Extraído de PÚBLICO.pt - 06.07.2008 via Moçambique Para Todos.
  • Reportagem original com imagens (em formato pdf) - Aqui!

Luz e esperança no horizonte dos desfavorecidos - Os milagres do microcrédito no norte de Moçambique. - II

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...continuação:
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Quando chegou, Rahim Bangy começou por ir aos mercados, conhecer a cidade, falar com as pessoas. Uma prática que mantém: de 15 em 15 dias, das sete da manhã até ao anoitecer, procura passear pelos mercados, conversar com pessoas, visitar mutuários.
O programa não se auto-financia na totalidade. O que falta vem de uma organização norueguesa e do Imamato Ismaili, a instituição assente na autoridade do Aga Khan. A agência para o microcrédito é apenas uma das que fazem parte da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, que agrupa organismos de âmbito económico, desenvolvimento social e cultura, para áreas tão diferentes como turismo, indústria, finanças, ensino, microcrédito, cidades históricas.
Rahim Bangy entusiasma-se com os resultados do programa nas vidas das pessoas.
"Já estive no meio do mato, em sítios em que as pessoas ainda se cobrem com folhas. Nunca viram o mar, mas já ouviram falar do microcrédito. Queremos agora introduzir o financiamento a associações e grupos, porque o impacto será maior."
Está já em marcha o próximo projecto: transformar o programa num Microbanco Rural.
"As pessoas enterram o dinheiro, às vezes encontram-se sacos com dinheiro ou jóias. Há necessidade de a população poder guardar as poupanças."
Até ao final deste ano, o processo legal deverá estar terminado, para que em 2009 o banco possa começar a operar.
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20 filhos.
As placas do programa de microcrédito estão já presentes em muitos locais de Pemba. Faqui Saide Ali está entre pneus, jantes, velas, câmaras de ar. Pediu apoio em Fevereiro de 2007 para montar uma barraca de venda de peças de veículos. "Correu bem mesmo, estou a gostar, comprei uma casa." Falta um mês para acabar de pagar os 10 mil meticais.
"No bairro de Ingonane, Jamal Mbamela, 58 anos, tem uma mercearia com café. Teve 20 filhos de duas mulheres, morreram dois. Não consegue sustentar toda a gente: "Esta vida dá pouco." Mas os 50 mil meticais que pediu em 2004 permitiram melhorar as contas. O filho Abdul, 18 anos, a estudar contabilidade, é um dos que o ajuda.
O café de Lurdes Loureiro, 48 anos, à beira da praia do Wimbe, inovou com os combos - hambúrgueres com batata frita e refresco. E melhorou a vida dela e dos dois filhos que ainda vivem com ela.
Um juro de dois por cento ao mês, uma taxa de incumprimento residual.
Rahim Bangy pretende que tudo seja transparente com os beneficiários. Mas não quer ficar pela relação económica. O microcrédito prevê acções paralelas sobre a sida ou a malária. As mulheres são um alvo importante para o financiamento. São 20 por cento dos beneficiários, mas a meta é pelo menos 30 por cento.
"As noções de saúde e higiene passam melhor através das mulheres."
Esta será uma mensagem repetida pelos responsáveis dos projectos na ilha do Ibo ou na aldeia de Bilibiza, mas já lá chegaremos. "São mais cuidadosas com o próprio dinheiro, porque sabem que têm que alimentar os filhos.
"Até ao final deste ano, Rahim Bangy quer ter pronta um espaço, por detrás do escritório do programa, dedicado a passar a mensagem:
"Nos dias de reembolso, enquanto os mutuários esperam, queremos ter pessoas a falar de sida, malária, amamentação. Assim, ouvirão a mensagem e irão levando essas ideias para suas casas."
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O caderno de João Baptista.
Pode um homem conter toda a história de uma ilha?
João Baptista "tem tudo aí", num caderno escrito com caligrafia aprendida na escola primária. "Ibo é Ilha Bem Organizada", começa o "era uma vez" desta terra no meio do Índico.
Árabes à procura de escravos, depois os portugueses e as especiarias, aportaram ao Ibo.
Hoje, a ilha tem 8700 habitantes, vivendo sobretudo da pesca. Porventura atraídos pela magia do Índico, que neste arquipélago das Quirimbas se pinta de vários tons de azul e verde. Na rua principal da vila, ainda se adivinha a traça colonial das casas, mesmo com décadas de degradação e esquecimento."
Ibo foi governo da província, quando Porto Amélia, hoje Pemba, era simples aldeia.
Era ali o palácio onde está a pensão; tivemos aqui o Banco Nacional Ultramarino, cadeia civil, a fábrica de sabão de Filipe e António Veríssimo, uma fábrica de fósforo, jornais. Foi sítio importante", regista o caderno.
Por João Baptista, cachecol da selecção portuguesa de futebol ao pescoço, passaram duas mulheres (a primeira morreu), doze filhos e 42 administradores coloniais.
"Eu estava no gabinete deles, aproveitava para apontar isto. Eu é que sabia tudo, eu era daqui." Hoje, João Baptista diz que o Aga Khan é que está "a ajudar muito a ilha". O ano passado conheceu-o, quando o líder dos muçulmanos ismailis visitou a ilha.
Elsa Rodolfo, administradora da ilha, confirma a "diferença palpável", desde que as instituições do Aga Khan estão no Ibo: "Anos atrás havia focos de fome, agora já não." Os miúdos já vão à escola - mesmo as raparigas, o que não acontecia antes por uma questão cultural. "Agora, vêem que a mulher pode estudar e ter emprego: já há uma administradora, uma directora de educação..."
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Moedas com 100 anos.
O desejo de Rahim Bangy, de alargar o apoio a grupos e associações, tem também já experiências na ilha do Ibo. A Associação dos Viveiristas do Ibo, presidida por Vita Tuaibo, máquina fotográfica a tiracolo, é uma das beneficiárias.
Criada em 2006, com 19 membros (nove são mulheres), a associação teve um empréstimo de 80 mil meticais (quase 2300 euros).
Alface, couve, batata doce, tomate, laranjeiras, cajueiros crescem numa machamba de 800 metros quadrados. Construir o escritório, usando uma técnica tradicional para a argamassa, é a tarefa imediata. Jason Morenikeji, de ascendência anglo-nigeriana, explica que a forma de construção do telhado permite aproveitar a água da chuva para sistemas de irrigação e canalização.
Ourivesaria Moderna é o nome de uma associação de artesãos. As mãos encurtam-se para pegar nas finas pontas de prata, trabalhando a filigrana com pequenas espátulas, alicates, fios e arames. É uma arte tradicional que vem do tempo dos árabes, explica Susan Esteves, responsável pela ligação com as associações locais. Brincos, colares, pulseiras, anéis que nascem da criatividade de Sufo Sufo, 52 anos, e dos restantes 13 membros da associação (quatro são mulheres). Rendilhados, entrelaçados, floreados vendidos a turistas de passagem, com preços variados, consoante a origem do metal: moedas antigas fundidas ou prata pura.
Na Associação Fortaleza, onde se faz um trabalho semelhante, os 25 artesãos mostram algumas das moedas. Ali estão as efígies do rei D. Carlos ou da República, datadas de 1891, 1899, 1915...
O trabalho das duas associações já permitiu sucessos pessoais. Manlide Amade, da Associação Fortaleza, diz que o artesanato em prata possibilitou construir casas, comprar motorizadas, bicicletas, celulares... E teve sucesso internacional: um comprador da África do Sul fica com uma parte da mercadoria e exporta para a Europa; em 2007, os artesãos levaram peças para uma feira internacional no Maputo. Um êxito e quatro mil dólares, a terceira maior receita bruta da feira.
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Afastar os elefantes.
O piripiri pode ser uma arma contra os elefantes. Há um problema para os agricultores de Bilibiza, no interior da província de Cabo Delgado, 200 quilómetros a norte de Pemba, e das aldeias vizinhas: os elefantes e os macacos destroem grande parte das culturas, porque homem e animais ocupam o mesmo espaço. Com a criação do Parque Nacional das Quirimbas, em 2001, cerca de 250 mil pessoas (60 mil famílias) ficaram sujeitas a regras mais estritas de relação com o ambiente. Truque para evitar o flagelo provocado pelos animais: cultivar piripiri junto das plantações agrícolas. "Sabemos que o piripiri provoca irritação nos elefantes", diz Lebreton Saah Nyambe, camaronês, técnico de desenvolvimento rural, há cinco a trabalhar com a Fundação Aga Khan em Pemba.Contudo, o piripiri não é solução definitiva. "O único sucesso é a produção em bloco", machambas colectivas vigiadas rotativamente pelos agricultores da aldeia. Para afugentar os elefantes basta fazer barulho. Assim, a vigilância por turnos permite atenuar o problema. Com os macacos, é mais fácil: depois da escola, as crianças entretêm-se a lançar-lhes pedras.
A introdução de culturas mais precoces é outro caminho. O milho de ciclo curto pode colher-se em 90 dias, antecipando a chegada dos animais à procura de água e comida. Hoje, as machambas colectivas envolvem já 21 mil famílias, o objectivo, até 2010, é chegar às 25 mil. Em 2001, começou-se com dez aldeias, hoje há 147 a participar neste projecto.
Bilibiza mantém o céu em estado puro. As estrelas afagam-nos o olhar. Mas a vida é dura, secas extremas e inundações destrutivas são problemas frequentes.
Para produzir riqueza, também a criação de gado caprino é apoiada. Desde Outubro de 2002, em 40 aldeias, a fundação entregou três cabritos, duas fêmeas e um macho, a dez famílias por aldeia. Cada uma das famílias beneficiadas deu depois outros três cabritos a novas famílias. Os 600 cabritos entregues transformaram-se em mais de 1700 cabeças. Do mesmo modo, é incentivada também a conservação das culturas em celeiros.
Na Escola Agrária de Bilibiza há alunos a concluir a debulha do milho. Esta segunda campanha deverá dar dez a quinze toneladas de milho, talvez para o ano a escola já possa vender excedentes. A escola é uma das instituições que começou a trabalhar com o programa Pontes para o Futuro, criado pela fundação em 2006. São duas as componentes: apoiar a liderança emergente através de bolsas de estudo (154 já atribuídas, em áreas como a agricultura, saúde materno-infantil, ensino, turismo, informática, contabilidade, gestão) e o fortalecimento institucional.
Sifer Rodrigues, bolseira de 18 anos, no 3º ano da escola, está a acabar um relatório sentada na cama - a maior parte dos 550 alunos estão em regime de internato, só vão a casa nas férias. Recebe 200 meticais (cerca de seis euros) de bolsa por mês. "É muito, permite ajudar a família, posso comprar sabão..."Marcelo Soverano, 39 anos, responsável do programa Pontes para o Futuro, diz que o desafio é transformar agora a escola básica numa escola média (equivalente aos 8º, 9º e 10º ano de escolaridade), melhorando ao mesmo tempo as estruturas para os estudantes.
- Continua acima... - (extraído de PÚBLICO.pt - 06.07.2008 via Moçambique Para Todos.)

Luz e esperança no horizonte dos desfavorecidos - Os milagres do microcrédito no norte de Moçambique.

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06.07.2008, António Marujo, em Pemba - Os projectos de microcrédito promovidos pela rede Aga Khan no norte de Moçambique permitem reparar sapatos para vender em segunda mão, trazer água a crianças que andavam quilómetros para a obter. Algumas destas coisas fazem-se com uma centena de euros apenas.
Primeira de uma série de reportagens que publicaremos ao longo desta semana.
Na Ilha do Ibo, perto de Pemba, norte de Moçambique, Ancha, 30 anos e uma filha de 14, é uma das 15 mulheres da Associação de Floristas, criada com apoio de microcrédito.
Está a lavar e secar folhas de mangueira para os arranjos que se tornarão colares, bolsas, coroas. É a vida mais florida?
"Não tinha rádio, na minha casa, já tenho; não tinha brincos e já comprei. Há muitas coisas que estou a comprar. Primeiro comprei brinco, estou a comprar pratos."
O financiamento pedido por Saraiva Morossene Saguate, 40 anos, foi "um aleluia" na vida dele. Saguate trabalha em Pemba, nos serviços de emigração, mas o salário não chegava para a família - que inclui sobrinhos.
"Os meus filhos estudam na base disto aqui" e aponta para uma moagem que montou num barracão ao lado de casa.
Momade Buana tem um problema numa das pernas que não lhe permitia andar muito. Com 45 anos, já quase não podia trabalhar: a bicicleta, comprada com um pequeno financiamento, permite-lhe agora ir todos os dias para a fortaleza construída pelos portugueses na ilha do Ibo, em 1791. Com outros 24 colegas da Associação Fortaleza, faz peças em prata. E já teve bónus: "Comprei um rádio, um relógio."
Alifa Bakar, 42 anos, ri mais do que fala. É vendedora de bebidas e capulanas, de novo em Pemba. Ao lado dos panos coloridos, admite que, sem o empréstimo, não poderia ter os três filhos a estudar.
Irage Amisse, 38 anos, tem quatro filhos cujos estudos são garantidos pelo negócio da sua mercearia que, à noite, vira bar e discoteca. E há ainda os sapatos lavados e vendidos em segunda mão de Assime Chale, os desejos de Rahim Bangy ou o olhar perspicaz de Carlos Matiquite.
Há pequenos nadas que podem trazer toda a esperança do mundo a algumas vidas. Na província de Cabo Delgado, que faz fronteira com a Tanzânia, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento tem operado essa transformação através de duas das suas agências. Em Pemba, isso é feito pela Agência Aga Khan para o Microcrédito, na ilha do Ibo a responsabilidade é da Fundação Aga Khan. No caso da agência, são 400 mil dólares (mais de 250 mil euros) distribuídos em pequenos financiamentos, que têm permitido a criação de pequenos negócios.
Empréstimo de 170 euros - A mudança, para Amisse Chale, 34 anos, já é grande. É vendedor de sapatos em segunda mão no mercado do bairro Natite, no centro de Pemba, definido por algumas ruas de edifícios em tijolo e cimento. Fora dali, predominam os bairros de palhotas, vários deles com vista para a larga baía de Pemba. Na cidade, vivem cerca de 160 mil habitantes. Casado, com três filhos, Amisse Chale vendia calçado na rua. Agora, o cliente pode circular entre as prateleiras e escolher diferentes modelos de sandálias, sapatilhas, chinelos ou sapatos. Como novos: "Vêm sujos, de nem saber que marca é. Começamos por lavar. Depois de lavar é que distinguimos o preço: esse é de 500, 600..."
Pediu emprestados seis mil meticais (à volta de 170 euros) e com isso comprou um espaço para uma barraca no mercado.
"Pedi, paguei, já pedi um segundo empréstimo de dez mil e um terceiro de mais nove mil; agora estou a pensar num novo empréstimo de 20 mil para criação de galinhas, pintos. Assim estou avançando com a minha vida."
Amisse já deu emprego a seis pessoas, a quem paga perto de 90 euros. O dinheiro ainda chega para que a mulher, com 27 anos, possa completar o 12º ano.
No bairro Cariocó, a moagem de Saraiva Saguate permite-lhe sustentar um pouco melhor os nove filhos e sobrinhos - ficou a tomar conta deles quando um irmão morreu. Um vizinho acaba de chegar com um saco de 30 quilos de milho para moer. Pagará 30 meticais. Se fosse comprado e moído por Saguate, o milho custaria entre oito a dez meticais o quilo. "O milho tem procura, porque é o nosso pão." Hoje, por ser domingo, é o filho que coloca os grãos na máquina para a "farinhação". Durante a semana, três empregados a dois mil meticais cada garantem o serviço.
A casa de Saguate são duas, com um pátio no meio, onde há mangueiras, bananeiras e cocos - para consumo próprio, às vezes para vender. Algum lixo, um sofá velho num dos terraços térreos. A moagem está colocada num pequeno anexo.
Saguate quer comprar agora uma máquina de descasque de arroz e outra de pilar o milho. Irá bater de novo à porta do microcrédito. A primeira vez que ouviu falar do programa "foi um aleluia". Ganha oito mil meticais (230 euros) no emprego, pouco mais que um salário mínimo. Pediu dez mil. "Consigo pagar e tenho ficado com alguns trocos."
Carlos Matiquite, 29 anos, é o supervisor do programa, a trabalhar com o microcrédito há quatro anos. E, nesta curta visita, já percebeu que tem que ter cautelas especiais na concessão de um novo empréstimo a Saraiva Saguate. Para garantir que o dinheiro é aplicado para desenvolver a actividade e não apenas em comida para a família extensa.
"É por essas razões que se fazem muitas conversas com os mutuários, antes de conceder os empréstimos, para avaliar quando custa a máquina, que água e luz se pode gastar, quanto se pode ganhar", diz Rahim Bangy, responsável pelo programa de microcrédito de Pemba.
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Banco rural.
Rahim Bangy tem um desejo: "Quero ver Pemba cheia de placas." Depois de ter deixado o cargo de director-geral numa empresa em Luanda, em Janeiro de 2006, Rahim está muito contente com a experiência. Apesar da realidade que o cerca: o analfabetismo de 70 a 80 por cento da população, dez por cento de gente infectada pelo HIV/sida na província (a nível nacional, chega aos 16 por cento), um salário mínimo inferior a 50 euros.
Mesmo assim, a decisão de trocar a baía de Luanda pela de Pemba "foi provavelmente a melhor opção" que Rahim tomou nos últimos anos, diz.
"Como muçulmano ismaili, é um orgulho trabalhar para a rede. É estar mais perto dos ideais traçados por sua alteza [o Aga Khan, líder espiritual dos ismailis] das suas linhas orientadoras, da ética e de poder fazer a diferença no dia-a-dia. Também cresci e fico feliz por assistir à evolução de centenas de pessoas que hoje vivem melhor e sonham com mais.
"Rahim é um dos 35 muçulmanos ismailis de Pemba - na comunidade religiosa é o kamadia saheb, segundo ministro de culto. Cabo Delgado, província que tem Pemba como capital, é dominado pelo islão sunita, como todo o norte do país. Mas o microcrédito não olha à cor religiosa.
- Continua acima... - (extraído de PÚBLICO.pt - 06.07.2008 via Moçambique Para Todos.)

7/01/08

Moçambique: Província de Cabo Delgado com menor valor de exportações em 2007

As exportações da província de Cabo Delgado ascenderam a 20,33 milhões de dólares em 2007, informou o jornal Notícias, de Maputo, citando a Direcção Provincial da Indústria e Comércio.
No entanto, o valor das exportações de 2007 representa uma queda de quase quatro milhões de dólares relativamente aos 24 milhões registados em 2006 e substancialmente inferior aos 70 milhões de dólares de 2005.
A redução verificada resultou da proibição de exportação de algumas espécies de madeira em toros imposta pelo Governo para se privilegiar a exportação de produtos com maior valor acrescentado.
O algodão em fibra, produto exportado pela empresa Plexus, foi o que mais receitas teve, ao registar mais de 10 milhões de dólares em 2007, a que se seguiu a madeira serrada, que conseguiu arrecadar 3,344 milhões de dólares.
Por seu turno, a castanha de caju processada, que durante o período em análise foi exportada para a África do Sul, Alemanha, Japão e EUA, registou cerca de 1,5 milhões de dólares, enquanto a castanha em bruto registou apenas 197 mil dólares.
Ainda durante o período em análise, a exportação da madeira em toros permitiu arrecadar perto de dois milhões de dólares, seguindo-se a semente de algodão que registou uma receita de cerca de 923 mil dólares.

5/02/08

Brasil colocado na condição de Investment Grade num processo que começou no 2º mandato de Fernando Henrique Cardoso.

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Em Nova York, a diretora e analista da Standard and Poor’s Lisa Schineller, responsável por ter colocado o Brasil na condição de Investment Grade, disse que o grau alcançado nesta quarta é resultado da estabilidade dos últimos cinco anos, num processo iniciado nos anos 90, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso: "É um processo que começou no fim dos anos noventa, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, com a mudança do câmbio flutuante e controle da inflação e política fiscal. A partir de 2003, com a administração do presidente Lula, houve continuidade, e, há quase dez anos, o Brasil vem cumprindo as metas fiscais".
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Brasil ganha grau de investimento, mas segue longe do topo - A agência de classificação de risco Standard & Poor's concedeu ao Brasil, na quarta-feira (30), o patamar de grau de investimento. A decisão representa uma melhora na recomendação do Brasil, que passa a ser considerado investimento seguro para investidores estrangeiros.
A classificação foi comemorada pelo governo, que afirmou que o Brasil "foi declarado um país sério", nas palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A notícia também animou investidores, que levaram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a encerrar o mês de abril com recorde histórico, em alta de 6,33%. Com a elevação da nota do Brasil pela S&P – que passou de BB+ para BBB-, o país atinge o primeiro degrau da classificação chamada de 'grau de investimento'. Permanece, no entanto, a nove passos do topo – onde estão países como Estados Unidos e Alemanha, considerados sem risco de inadimplência. Nos degraus acima do Brasil, estão ainda países como Croácia, México, Tailândia, Chile e Itália.
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Outras agências.
A expectativa agora, segundo o economista-chefe da López León Markets, Flávio Serrano, é de que as outras duas grandes agências de classificação de risco, a Moody's e a Fitch, sigam a indicação da S&P e elevem a nota brasileira. A Moody's dá ao país a nota Ba1, enquanto a Fitch coloca o Brasil no patamar BB+. Nos dois casos, a um passo do grau de investimento. Para Hugo Penteado, economista-chefe do Asset Management do Banco Real, o grau de investimento concedido pela Santandard & Poor's indica que o país está na direção certa em sua política econômica, mas ainda falta uma segunda indicação para não ter restrições de aplicação. "Para o Brasil ser considerado local grau de investimentos, evitando a restrição de aplicação de várias entidades no mundo todo, precisa de uma segunda agência também com nota grau de investimentos nas duas dívidas. A Moodys está perto de fechar esse ciclo, pois já colocou a dívida em moeda estrangeira de longo prazo no grau de investimento", disse.
01/05/2008 - 16h31 - Atualizado em 01/05/2008 - 16h37 - pesquisado na net e no G1 Economia & Negócios.

4/22/08

Porto de Pemba vai ser ampliado.

Gaborone, Botswana, 22 Abr - Moçambique vai proceder à expansão do porto de Pemba, no norte do país, para facilitar a exploração de petróleo na região, de acordo com a edição de Abril da "newsletter" da Southern African Global Competitiveness Hub.
A organização, com sede em Gaborone, Botswana, é uma iniciativa do governo dos Estados Unidos da América para promover o comércio internacional da África Austral não apenas com os Estados Unidos mas também intra-regionalmente.
"O volume de carga processada entre Outubro de 2006 e 2007 aumentou de 66939 para 75990 toneladas", afirmou Orio Benzane, director do porto, à "newsletter".
A publicação adianta que um projecto de expansão no valor de de vários milhões de dólares permitirá que o porto processasse rapidamente maiores volumes de cargas.
O porto de Pemba situa-se na província de Cabo Delgado, na terceira maior baía do mundo, mas, não obstante as suas águas profundas e a sua localização estratégica não passa de um porto regional.
MacauHub- 22/04/08