Mostrar mensagens com a etiqueta Glória de Sant'Anna. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Glória de Sant'Anna. Mostrar todas as mensagens

6/02/15

POESIA E SAUDADE - GLÓRIA DE SANT'ANNA PARTIU HÁ SEIS ANOS

No aniversário de falecimento de GLÓRIA DE SANT'ANNA - Escrito há 6 anos no Bar da Tininha - ""Partiu esta madrugada (02/06/2009) nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. 

A notícia veio até mim por simples texto: 

"... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. 
Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..." 

Não é fácil falar ou comentar quando o coração fica amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida amparados pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos, sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância. 

Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria... 

Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe... 

Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba... 

E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade sem fim, que, aqui longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir na beleza de seus versos e na generosidade emanada de seu coração de poetisa, professora e Mãe. 
- J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.
Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
Jornal JOÃO SEMANA (1/6/2010)
TEXTO: Pinto Soares
""""... ... ... 
Jaime Ferraz Gabão, em homenagem justíssima, escreveu, para a sua rubrica “Postal da Régua”, um artigo sobre a figura e a obra da consagrada poetisa Glória de Sant’Anna – trabalho que veio a lume, nestas páginas, na edição de 23/2/1990.

Nele afirma o estimado colega (trabalhámos, durante anos, no mesmo Jornal) e prezado Amigo (de longa data), que o signatário conheceu, muito bem, em terras de África, mais concretamente em Moçambique, essa extraordinária mulher que era, no Índico, uma das figuras representativas do florescente meio literário: com nome feito e prestígio invejável, conquistado mercê de uma obra que continua a ressumar a qualidade de outrora.

Nunca ninguém pôs em dúvida as qualidades excepcionais, nem a cultura de tão destacada princesa, que se distinguia, sobretudo na poesia – uma poesia fresca, luminosa, com substância e mensagem, recriadora –, também, frequentemente, repertório das suas vivências e daquilo que, atenta, circunvagando o olhar, presenciava e retinha, emprestando-lhe a elegância do seu verbo, não descurando o pormenor nem, tão-pouco, o cromatismo.

Segui, de perto, a trajectória de Glória de Sant’Anna, não pude trazer os seus livros – com pesar – ,li as críticas, sempre favoráveis, que lhe eram tecidas, a colaboração que oferecia a publicações diversas, e, mantive, em Nampula, um afável relacionamento com o seu marido, Andrade Paes, arquitecto, piloto de aviões, sabedor e corajoso, amigo de Carvalho Durão, do Catoja & Saldanha, firma sita na rua fronteira à Delegação do “Diário de Moçambique”, que eu chefiava, em instalações alugadas por Manuel Justino Sargento, “O Napoleão de Macuana”, segundo o juiz Paiva.

Glória de Sant’Anna deslocava-se com frequência de Porto Amélia a Nampula, sendo natural que, volvidos anos de tanto sofrimento para quem amava África e em particular aos habitantes de Pemba tanto se dedicou sem restrições de alma e coração, haja esquecido o cabouqueiro que um dia, afrontando o poder, se apresentou a sufrágio sem outros apoios do que aqueles que nunca lhe faltaram da parte do povo simples, mais tarde envenenado na sua candura e vítima de credulidade congénita, a macerá-lo numa guerra desumana e cruel, cujo termo ainda não se vislumbra.

Agradece, Glória de Sant’Anna, a divulgação, nestas páginas, da sua personalidade e da sua obra, graças ao dedicado empenho de Jaime Ferraz Gabão. Sentindo-nos honrados, auguramos que ela persista, enriquecendo as letras nacionais com o seu talento e forma especialíssima de versejar.

– “Não me recordo do seu nome. Muitos anos passaram…”

De Matosinhos para Válega, com ternura, “aquele abraço, a disponibilidade do JM e do seu Director – para Glória de Sant’Anna, um nome grande, respeitado, com lugar na literatura de Moçambique, nas antologias, no coração das suas gentes, na memória dos seus intelectuais.” """"

  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA neste blogue
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no Google
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA na Wikipédia
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no FaceBook

10/06/14

A HORA DAS CIGARRAS - GLÓRIA DE SANT'ANNA


VEIO COM A MARÉ DA SAUDADE... POESIA DO MAR AZUL DE PEMBA

A música, as palavras, os ambientes de África.

 Poesia de Glória de Sant'Anna. Música: Pierre Aderne e Cuca Roseta, Maria Bethânia, Los Super Seven, Vadu, Lila Downs, Jussara Silveira, Touré Kunda, Paulo Flores, Gloria de la Niña Rivera. 
Primeira Emissão: 08 Set 2014
Duração: 43m - Um programa do escritor angolano José Eduardo Agualusa dito por Ana Paula Gomes, baseado em textos e músicas do continente africano.


12/01/13

PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2014

REGULAMENTO 

O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

Prémio - 
Prémio no valor de 3.000.00 euros a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editado desde Janeiro de 2013 até 7 de Março de 2014.

Elegibilidade - 
a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
b) Não serão aceites antologias ou colectâneas.
c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo a qualquer membro do júri.
j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

Condições - 
Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
a) Contribuir com €300 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
b) Garantir que um mínimo de 200 exemplares do livro estejam disponíveis em stock em Portugal, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
c) Fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
d) Fazer todos os possíveis para que o Autor do livro premiado esteja disponível para a cerimónia da entrega do Prémio.
e) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

Inscrições – 
a) A data limite das inscrições é 7 de Março de 2014.
b) Os trabalhos devem ser enviados pelos editores no formato pdf juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer para premio.literario.poesia@gmail.com ou em forma de livro acabado. No entanto seis exemplares do livro impresso/acabado deverão estar na morada indicada, o mais tardar uma semana a partir do limite das inscrições.

Enviar a Obra, para: 
PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 
GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA 
Rua Professor Domingos Matos, 187
3880-515 VÁLEGA 
PORTUGAL

c) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.
d) Todas as inscrições serão confidenciais.

Lista final - 
a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 7 de Abril de 2014.
b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
c) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

Reprodução de Poemas - 
Poemas dos livros seleccionados poderão ser publicados no JORNAL DE VÁLEGA, no site Glória de Sant’Anna, outros órgãos da Imprensa e press-releases com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura e o Prémio.

Júri - 
a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
f) A decisão final do Júri é irrevogável.
g) A atribuição e entrega do prémio será a 25 de Maio 2014 em local a anunciar.
Mais informações por favor contacte através do e-mail: premio.literario.poesia@gmail.com

5/15/13

Vencedor do Prémio Literário Glória de Sant’Anna - 2013

“Nada,
Nem sequer um limpo pranto,
Um olhar branco, uma agonia.

Nada.
A tudo é imune, o faquir,
Até ao sal, disso, indiferente.

Ele, o rosto e o corpo,
Nitidamente permanecem
indeformáveis e intactos.”

- Eduardo White In O Poeta Diarista e os Ascetas Desiluminados - ALCANCE EDITORES – Moçambique
 
Júri
Fernanda Angius – Estudiosa de Literatura Moçambicana
Teresa Roza D’Oliveira – Artista Plástica
Eugénio Lisboa – Ensaísta e Crítico Literário
Victor Oliveira Mateus – Escritor
Américo Matos – Director do Jornal de Válega

Fontes e colaboração de Inêz Andrade Paes. CONTOS DE FADAS NÃO DE REIS. Prémio Literário Glória de Sant'Anna 2013 - Regulamento. Prémio Literário Glória de Sant'Anna 2013 no Escritos do Douro, no ForEver PEMBA e no São Paulo - O Colégio. Blogue Glória de Sant'Anna. Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no blogue ForEver PEMBA e no Google. Clique nas imagens para ampliar. Transcrição, edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" e "ForEver Pemba" em Maio de 2013. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

6/07/12

PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2013

REGULAMENTO

O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

Prémio -
Prémio no valor de  3.000.00 a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editada no ano corrente.

Elegibilidade -
a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
b) Não serão aceites antologias, colectâneas ou trabalhos seleccionados noutras publicações.
c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo ou editor a qualquer membro do júri.
j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

Condições -
Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
a) Contribuir com € 300.00 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
b) Garantir que um mínimo de 200 cópias desse livro estejam disponíveis em stock, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
c) Sem qualquer obrigatoriedade, fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
d) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

Inscrições -
a) Os trabalhos podem ser enviados pelos editores no formato pdf, fotocópias ou provas, dactilografadas, ou em forma de livro acabado, já publicado no ano corrente. Seis exemplares, juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer.

Enviar a Obra para:
GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA
Rua Professor Domingos Matos, 187
3880-515 VÁLEGA

b) Todas as inscrições serão confidenciais.
c) A data limite das inscrições é 15 de Março de 2013.
d) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.

Lista final -
a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 15 de Abril de 2013.
b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
c) Poemas dos livros seleccionados serão publicados no JORNAL DE VÁLEGA e outros órgãos da Imprensa Nacional.
d) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

Reprodução de Poemas -
Um máximo de 5 poemas de cada autor constante da lista final poderá ser reproduzido nas press-releases; no site de Glória de Sant'Anna e mensagens distribuídas por email com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura ou o Prémio.

Júri -
a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
f) A decisão final do Júri é irrevogável.
g) A atribuição e entrega do prémio será a 26 de Maio de 2013 em local a anunciar.

(Clique nas imagens para ampliar)
(Dúvidas ou questões adicionais poderão ser esclarecidas por Inez Andrade Paes - inezapaes@gmail.com)

6/02/12

GLÓRIA DE SANT'ANNA - A eterna poetisa do mar azul de Pemba

No aniversário de falecimento de GLÓRIA DE SANT'ANNA - Escrito há 3 anos no Bar da Tininha""Partiu esta madrugada (02/06/2009) nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. 

A notícia veio até mim por simples texto: 

"... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. 
Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..." 

Não é fácil falar ou comentar quando o coração fica amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida amparados pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos, sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância. 

Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria... 

Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe... 

Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba... 

E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade sem fim, que, aqui longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir na beleza de seus versos e na generosidade emanada de seu coração de poetisa, professora e Mãe. 
- J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.
Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
Jornal JOÃO SEMANA (1/6/2010)
TEXTO: Pinto Soares
""""... ... ... 
Jaime Ferraz Gabão, em homenagem justíssima, escreveu, para a sua rubrica “Postal da Régua”, um artigo sobre a figura e a obra da consagrada poetisa Glória de Sant’Anna – trabalho que veio a lume, nestas páginas, na edição de 23/2/1990.

Nele afirma o estimado colega (trabalhámos, durante anos, no mesmo Jornal) e prezado Amigo (de longa data), que o signatário conheceu, muito bem, em terras de África, mais concretamente em Moçambique, essa extraordinária mulher que era, no Índico, uma das figuras representativas do florescente meio literário: com nome feito e prestígio invejável, conquistado mercê de uma obra que continua a ressumar a qualidade de outrora.

Nunca ninguém pôs em dúvida as qualidades excepcionais, nem a cultura de tão destacada princesa, que se distinguia, sobretudo na poesia – uma poesia fresca, luminosa, com substância e mensagem, recriadora –, também, frequentemente, repertório das suas vivências e daquilo que, atenta, circunvagando o olhar, presenciava e retinha, emprestando-lhe a elegância do seu verbo, não descurando o pormenor nem, tão-pouco, o cromatismo.

Segui, de perto, a trajectória de Glória de Sant’Anna, não pude trazer os seus livros – com pesar – ,li as críticas, sempre favoráveis, que lhe eram tecidas, a colaboração que oferecia a publicações diversas, e, mantive, em Nampula, um afável relacionamento com o seu marido, Andrade Paes, arquitecto, piloto de aviões, sabedor e corajoso, amigo de Carvalho Durão, do Catoja & Saldanha, firma sita na rua fronteira à Delegação do “Diário de Moçambique”, que eu chefiava, em instalações alugadas por Manuel Justino Sargento, “O Napoleão de Macuana”, segundo o juiz Paiva.

Glória de Sant’Anna deslocava-se com frequência de Porto Amélia a Nampula, sendo natural que, volvidos anos de tanto sofrimento para quem amava África e em particular aos habitantes de Pemba tanto se dedicou sem restrições de alma e coração, haja esquecido o cabouqueiro que um dia, afrontando o poder, se apresentou a sufrágio sem outros apoios do que aqueles que nunca lhe faltaram da parte do povo simples, mais tarde envenenado na sua candura e vítima de credulidade congénita, a macerá-lo numa guerra desumana e cruel, cujo termo ainda não se vislumbra.

Agradece, Glória de Sant’Anna, a divulgação, nestas páginas, da sua personalidade e da sua obra, graças ao dedicado empenho de Jaime Ferraz Gabão. Sentindo-nos honrados, auguramos que ela persista, enriquecendo as letras nacionais com o seu talento e forma especialíssima de versejar.

– “Não me recordo do seu nome. Muitos anos passaram…”

De Matosinhos para Válega, com ternura, “aquele abraço, a disponibilidade do JM e do seu Director – para Glória de Sant’Anna, um nome grande, respeitado, com lugar na literatura de Moçambique, nas antologias, no coração das suas gentes, na memória dos seus intelectuais.” """"

  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA neste blogue
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no Google
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA na Wikipédia
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no FaceBook
Clique na imagem acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA em Junho de 2012. Todos os direitos reservados. Só é permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

5/26/12

Glória de Sant'Anna - POEMA DE BARRO



  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA neste blogue.
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no Google.
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA na Wikipédia.
  • Sobre GLÓRIA DE SANT'ANNA no FaceBook.
Clique nas imagens acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA em Maio de 2012. Todos os direitos reservados. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

7/20/11

CONCERTO DE HOMENAGEM A GLÓRIA DE SANT'ANNA - 2

Transcrição:
Homenagem a Glória de Sant' Anna - Reflexos

Já o deveria ter feito, mas ontem foi-me de todo impossível. Ainda tentei escrever, mas estava demasiado cansado e extasiado pelo domingo excepcional que tive e tivemos.

Sempre participei com a minha CAMERAʇtA IBÉRICA, desculpem-me este "puxar a brasa à minha sardinha", na mais que merecida e justa homenagem à poetisa Glória de Sant'Anna. E foi bom, muito bom, mesmo. Deu para perceber que a música orquestral tocada por 5 instrumentistas de grande valor técnico e musical, é bem aceite, assim como as minhas canções(zecas). A nossa soprano convidada, Jacinta Almeida, é sem sombra de dúvida uma cantora de eleição. Que magnífica interpretação de todas as minhas 5 canções! Obrigado, Jacinta! Aos músicos acompanhantes e integrantes deste novel agrupamento musical, Alfonso Pineda, Amadeu d' Oliveira, Antonio Mateu, Cecília García e Ruben Venegas, só lhes posso agradecer do fundo do meu coração. Parabéns a todos!

E já que estou em maré de agradecimentos, quero deixar os meus parabéns à Câmara Municipal de Ovar pela excelente organização de um evento simples, mas cheio de emoção.

Também tenho de agradecer à família Andrade Paes, irmãs Inez e Andrea e demais amigos e amigas, pela sua participação e colaboração, que sem a sua preciosa ajuda esta homenagem não teria tido nem sido tão calorosa, emocionante e comovente.

Tanto eu como os músicos adorámos estrear-nos em Ovar!

Penso que todos gostaram da nossa actuação, apesar de não ter sido brilhante, ainda que com grandes momentos de virtuosismo e musicalidade raras, não esmoreceu nem escureceu tão importante acontecimento.

Vou e vamos, de certeza que sim, ficar ligados a Ovar de coração, pela gentileza e amabilidade e pelo bem-fazer. Eu já o estava antes, pois a beleza e grandeza da poesia de Glória de Sant'Anna leva o meu imaginário para terras longínquas (Moçambique) onde nunca estive e outras onde estive.

Como não é todos os dias, nem meses, que um compositor tem a oportunidade e o privilégio de apresentar em estreia mundial, unicamente um concerto só com trabalhos seus, só tenho que agradecer a todos que trabalharam para que acontecesse. E que obras, meu Deus! Difíceis, difíceis, difíceis! Grandes músicos!

Grato, sinceramente, pelos livros, Inez e Andrea!

Em meu nome, da minha família e da CAMERAʇtA IBÉRICA, um obrigado muito grande, ENORME, à família Andrade Paes!

Até breve.

Fontes de Imagem e texto: Vasco M. N. Pereira-blogue, Jacinta Almeida - Soprano. A homenagem aconteceu na noite de 3 de Julho de 2011 no Centro de Arte de Ovar-Portugal. Clique na imagem acima para ampliar.
:: -- ::

Homenagem à poetisa Glória Sant’ Anna: Uma noite de poesia e música

No passado domingo, à noite, o Centro de Arte de Ovar foi palco do espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant’Anna. A qualidade marcou a iniciativa, que pretendia reconhecer esta grande poetisa, que nasceu em Lisboa, viveu em Moçambique e passou os últimos anos da sua vida, na terra de seu marido, em Válega.

A ideia desta homenagem partiu do compositor e maestro Vasco Pereira, que após a leitura de um dos livros da homenageada, "Amaranto", criou duas canções, "É o vento" e "Pescador", bem como a obra para um coro a quatro vozes. Vasco Pereira, bem tentou obter por escrito a autorização da poetisa Glória Sant`Anna, mas todas as entidades contactadas acabaram por ignorar os seus pedidos. Posteriormente e depois do seu falecimento, este maestro apresentou o projeto à Câmara Municipal de Ovar e esta deu "luz verde" para que o mesmo avançasse.

O espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant‘Anna foi dividido em duas partes. Na primeira atuou o quinteto "Cameratta Ibérica", que executou quatro arranjos de obras orquestrais de compositores famosos, como, Sabastian Bach e Bela Bartók. - Fernando Souteiro
:: -- ::
GLÓRIA DE SANT'ANNA no Google
GLÓRIA DE SANT'ANNA no FaceBook
'João Semana' - Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
Glória de Sant’Anna em Ovar – Uma escrita de água e fogo
'João Semana' - Espelho de imagem primeira página
(Clique nas imagens acima para ampliar)

7/03/11

CONCERTO DE HOMENAGEM A GLÓRIA DE SANT'ANNA

CONCERTO DE HOMENAGEM A GLÓRIA DE SANT'ANNA
Centro de Arte de Ovar - Portugal, 3 de Julho às 21:30
:: -- :: 
TRIBUTE CONCERT FOR GLORIA DE SANT'ANNA
Ovar Art Centre - Portugal, July 3 at 21:30
:: -- ::
GLÓRIA DE SANT'ANNA no blogue ForEver PEMBA
GLÓRIA DE SANT'ANNA na Wikipédia
GLÓRIA DE SANT'ANNA no Google

6/02/11

Homenagem à Poetisa Glória de Sant'Anna

Partiu na madrugada de 02/06/2009 (hà dois anos) a Poetisa Glória de Sant'Anna !

Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão. - Glória de Sant'Anna
----- -----
Homenagem à Poetisa Glória de Sant'Anna
Convite - 03 Julho 2011| 21:00 - Auditório do Centro de Arte de Ovar - Portugal

- Entrada livre
Este espectáculo constitui uma estreia ibérica e mundial.

A Cameratta Ibérica é uma formação camerística instrumental e vocal, que tem com o base a divulgação da música sinfónica e/ou orquestral, mas tocada por cinco instrumentos: clarinete, dois saxofones, trompa e piano.

Como o seu próprio nome indica, é um grupo de música de câmara, constituído por músicos portugueses e espanhóis.

Nasceu de uma ideia do seu fundador e director artístico e, também compositor e arranjador/orquestrador da camerata, o compositor e director de orquestra Vasco M. N. Pereira, que agregou à volta desta “louca” ideia o pianista Amadeu Oliveira Pinho. Posteriormente, juntaram-se os músicos espanhóis Alfonso Pineda, Antonio Mateu, Cecília Garcia e Ruben Venegas. A soprano Jacinta Almeida abraçou desde o início este projecto, por ser um projecto inovador dentro do panorama camerístico ibérico.

A primeira parte do espectáculo será dedicada à Música Instrumental e será da responsabilidade exclusiva da Cameratta. Serão interpretadas quatro arranjos de obras orquestrais para o quinteto.

A segunda parte, será dedicada exclusivamente à poesia de Glória de Sant’Anna e aos seus poemas musicados por Vasco M. N. Pereira. Também serão lidos alguns poemas da poetisa e serão interpretadas as canções pela soprano Jacinta Almeida, sendo duas acompanhada só pelo piano e as restantes, acompanhada pelo quinteto.

Ficha técnica e Artística:
Alfonso Pineda - clarinete
Amadeu Oliveira Pinho - piano
Antonio Mateu - saxofones
Cecília García - saxofones
Rubén Venegas - trompa
Jacinta Almeida - voz (soprano)
Vasco M. N. Pereira - compositor / director musical e artístico

Fonte - Inês Andrade Pais
:: :: ::
Mãe

Teu perfil quieto
de voz azul.

Tuas mãos antigas
de expressão concreta
e leve
dão corpo às palavras
exactas
do teu olhar,
agora no longe
e denso azul silêncio
da depuração da alma
acolhida 
pelo sossego do mar...

- Andrea Paes

3/13/11

Glória de Sant'Anna será lida no Brasil.


""Gloria de Sant'Anna é, segundo Ana Mafalda Leite, a voz feminina da literatura moçambicana. Ela começou a escrever nos anos 60 e morreu recentemente. “Ela tem uma obra diversificada, sofreu influência de autores brasileiros como Cecília Meireles, e transita entre o bucolismo e a poesia local”. Já Luís Carlos Patraquim é uma voz representativa e é o único vivo entre os quatro. Querem trazê-lo ao Brasil em abril de 2011.""

 

Transcrição:

Poesia moçambicana começa a chegar ao Brasil:

UFMG lança coleção com poemas e poetas inéditos.
Levou tempo, mas a prosa moçambicana conseguiu sair dos círculos acadêmicos e já conquistou alguns fãs no Brasil. Mia Couto é o melhor exemplo disso. Ele tem 9 livros publicados pela Companhia das Letras e outro infantil pela Língua Geral, e é presença constante nos eventos literários realizados país afora. Agora, a Editora UFMG quer fazer o mesmo com a poesia, esta sim inédita para a maior parte dos brasileiros. Pensando nisso, acaba de lançar, com organização da portuguesa Ana Mafalda Leite e do brasileiro Wander Melo Miranda, a Coleção Poetas de Moçambique. Os dois primeiros títulos trazem poemas de Rui Knopfli (1932-1997) e de José Craveirinha (1922-2004), e outros dois, com textos de Glória de Sant’anna e Luís Carlos Patraquim, chegam ao mercado no ano que vem. A coleção foi apresentada no Fórum das Letras de Ouro Preto por Roberto Said, vice-diretor da Editora UFMG.
 
O caminho vai ser árduo, mas isso não desanima a editora. “O leitor de poesia é sempre um clã clandestino e essa coleção é dedicada aos bons leitores de poesia. É uma tentativa de trazer ao país um pouco da poesia feita na terra de romancistas já consagrados, mas de poetas inéditos”, disse Roberto Said, que pretende, com o tempo, ampliar a coleção. “Nossa ideia é trabalhar com a literatura africana em língua portuguesa e há potencial aberto para fazer o mesmo com os poetas de Angola”.
 
Para Ana Mafalda Leite, professora e pesquisadora de literatura africana de língua portuguesa, a literatura é feita de romance e de poesia e a poesia moçambicana é de uma enorme qualidade. “É um pouco dramático ver que só o romance moçambicano tem um leitor, e o que essa editora está fazendo é um enorme trabalho em prol da literatura africana”, disse.
 
A ideia dessa coleção nasceu de um encontro com o também professor Wander Melo Miranda, da UFMG, em 2006, e porque era escassa a bibliografia para adoção em sala de aula. “O estudo da literatura africana está crescendo nas universidades brasileiras e ter matéria-prima é primordial”, comentou Ana.
 
Roberto Said disse que pretende promover lançamentos em Portugal e em Moçambique, que provavelmente serão realizados durante algum seminário preparado especialmente para apresentar as novas obras.
 
 
Autores
Rui Knopfli e José Craveirinha (1922-2004) são os fundadores da poesia moderna africana e nada mais justo que a escolha dos dois nomes para o lançamento da coleção. “Craveirinha é mais nativista e Knopfli, mais universal. Eles são os dois maiores marcos da poesia moçambicana”, comentou a Ana Mafalfa Leite.
 
Gloria de Sant'Anna é, segundo Ana Mafalda Leite, a voz feminina da literatura moçambicana. Ela começou a escrever nos anos 60 e morreu recentemente. “Ela tem uma obra diversificada, sofreu influência de autores brasileiros como Cecília Meireles, e transita entre o bucolismo e a poesia local”. Já Luís Carlos Patraquim é uma voz representativa e é o único vivo entre os quatro. Querem trazê-lo ao Brasil em abril de 2011.""
:: :: ::
Glória de Sant'Anna - a poetisa do mar azul de PEMBA no Forever PEMBA

5/26/10

Glória de Sant'Anna - POEMA DA SOLIDÃO DO VENTO

É o vento.

O vento vivo e claro
que percorre e não prende
o corpo nu das árvores.

É o vento.

O vento que se inclina
junto às portas fechadas
e tateia as vidraças
com longos dedos de ágata.

É o vento.

O vento que se humilha
- e partirá tão só
como à chegada.

- Glória de Sant'Anna, “Um Denso Azul Silêncio”.

5/15/10

De Porto Amélia a Pemba: Família Andrade Paes - parte 2

Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão.
Glória de Sant'Anna - poetisa do mar azul de Pemba, Amaranto.

Moçambique - Cabo Delgado - Anos cinquenta - "VAMOS A PALMA?"
Vamos. Vamos rodando mais para o norte no que se considera o melhor carro para solavancos - o pequeno e útil 'carocha'.
É tempo seco. O perigo do matope não existe. Há sim a paisagem intensa de verdes e de água plana apenas mormurante do rio com nenúfares lilazes. E os pássaros gritadores colorindo de riscos de fulgor o largo espaço aberto. A baixa do M'salo preocupa-me porque é uma enorme extensão percorrida por caça grossa que ali vem beber ao pôr do sol, desafiando os olhos sornas dos grandes crocodilos. Mas o pôr do sol vem muito longe ainda. (É hora dos animais beberem. Ninguém sai de casa. - digo eu algumas vezes às crianças.) Pára-se para o batelão puxado por cordas. Sai-se. Há uma grandiosidade de princípio do mundo no silêncio de mil olhos escondidos. Algo me identifica com o sangue vegetal vibrante e vivo.
Já alguém reparou que nos troncos rugosos há uma aura suave de calor?

"Disseste alguma coisa?"
"Não. Não disse."

Está passado o M'salo e os rastos dos animais nas margens.
São ravinas, agora. Terreno onde a luz chispa vagamente, e que os antílopes e outros, vêm lamber porque é área de sal e gema. Uma vez por outra juntam-se em manadas e saciam-se.
Terra de macondes. Os artistas guerreiros cujas mulheres faladoras e descontraídas de repente me sorriem. E algumas aconchegando-se, apalpam o pano do meu vestido para ver como é. E conversam. E riem.
Nas mais novas o disco de pau preto ainda pequeno inserido no lábio superior, dá-lhes uma expressão de amuo.

(Foi em Pemba que vi o primeiro maconde. Novo, alto, de rosto tatuado e sorriso largo aberto sobre os dentes em serrilha.
Olhou os quadros dos pintores brancos postos nas paredes, com uma seriedade curiosa.
Aliás ele tinha sido convidado a ver outra forma de arte. E frente a um óleo estendeu a mão e percorreu a textura. Um dedo cauteloso e atento.
Ele, como eu, ouviu a explicação breve do dono da casa sobre técnicas e formas e materiais usados pelos artistas em concepções de estética.
Dias depois voltou sempre com aquela maneira de sorrir, trazendo a mulher tão nova como ele, bonita e de rosto liso.
E como marco de um ínicio de amizade, ofereceu um pequeno jacaré de marfim que esculpira na missão cristã onde estudou.)

Em casa do chefe de posto somos convidados a comer e a ficar. (Este hábito africano de portas abertas para a hospitalidade).
A dona da casa tem olhos verdes e cabelo preto encaracolado. Nasceu-lhe há pouco o primeiro filho.

"Palma é a solidão, é o extremo de tudo. Estou cansada. Tão cansada que nem pode supôr" - diz ela que na manhã seguinte na praia de areia muito fina, me adverte num sobressalto nervoso:
"Nunca se sente debaixo de um coqueiro! Um côco maduro cai sozinho!"

Há risadas espontâneas.
Quantos anos passaram já desde que os palmares são meus conhecidos? A sombra das longas folhas, a casca fibrosa do fruto melhor do que uma escova para dar brilho ao chão, a magnífica e fresca 'água do lenho' - bebida do côco verde.
A conversa incide sobre assuntos diversos: o decorrer dos dias; contentamentos; e descontetamentos, que não levarão muito tempo a surgir à tona da estrutura social.
Um cipaio aproxima-se dizendo que andam elefantes por perto.

"Vamos afugentá-los para não destruirem as culturas", diz o chefe de posto. "Alguém quer vir?"

Eu deixo-me ficar com Elsa sempre queixosa, mas que tem um bom senso de humor.
Continuo na tranquilidade da praia fresca de sabor salgado em terra de macondes, de entre os quais poucos anos depois e em tempo de guerra haverá um novo amigo escultor.
- Glória de Sant'Anna, Ao Ritmo da Memória - recolha de algumas crónocas publicadas no jornal Letras & Letras do Porto.
É madrugada e o n'pure voltou e canta
para o vermelho-laranja do horizonte
e o silêncio em volta dos telhados
é longo e doce
Uma linha de fumo branco sobe
da fogueira do guarda envolto na capulana escura
e a folhagem parada freme de súbito
ao grito do n'pure

Em redor dos troncos tombaram
as primeiras-tímidas flores da acácia rubra
durante a noite (penso)
ou soltas pelas asas leves do n'pure
In "Amaranto"
com tuas flores rubras farei brincos pulseiras e colares
para dar às sereias 
que na alta maré cheia
em noites brancas de lua
saem da água 
para cantar

""Para o Jaime: ...É o que chamo "o fio da amizade". Um fio que não quebra e une em espontaneidade, em memórias, pelos tempos dos tempos..."" - 28/04/2001, Glória de Sant'Anna.

SALABAI
(aí tens Salabai negra o poema que te prometi)
Salabai - podia ser o vento
deslizando nas folhas
Salabai - podia ser a chuva
tombada em leves gotas
Salabai - a palavra
que se ouve e se sonda
mas Salabai tem os olhos egípcios
na face quase negra
e perpassa sorrindo
na luz que surpreende
dia a dia hora a hora
(afinal Salabai é muito mais que tudo
o refrão matinal de uma canção de roda)
- In "Amaranto".
POEMA DÉCIMO TERCEIRO
A negra tombou entre os agrestes ramos
e um súbito espanto.

(está morta
e as aves cantam)

Do seu ventre aberto ao sol que se inclina
esvai-se o longo fio que a tecia.

(está morta
e o vento desliza)

Da face suspensa na folhagem magoada
descai o lenço que se desata.

(está morta
sob a claridade)

...toda já outra sobre o trilho que seguia
ausente das marcas de ódio que pisava
guarda entre os dedos longos da mão abandonada
sinais do áspero matope que a recolherá.

(está morta e as aves cantam
e a tarde se consome toda igual)
In "Amaranto"



BATUQUE
A negra salta e não cansa.

Entre o denso mar pálido
e a clara poeira,
a corda balança.

A negra se ergue e sorri.

Entre o leve céu pálido
e as dolentes árvores
e o tambor que vibra.

A negra se ergue e é esguia.

Dentro do batuque
e da ritmada corda
e do morto dia.

Não há segredo na boca tranquila da negra,
nem antigas e vãs perguntas que se percam,
nem místicas dúvidas ou esquecidos gestos.

Ela se ergue como uma lança,
e entre o céu e a poeira
simplesmente
dança.
- GLÓRIA DE SANT'ANNA-LIVRO DE ÁGUA (1961)- Sugerido por Andrea A. Paes.

VIAGEM
Na última vaga que a contém e arrasta
a casquinha é de ouro, de vento ou de água.

Nem âncora a amarra,
nem vela a segura,
mas o pescador
cheira a sal e a espuma.

Na última vaga que a contém e solta
a casquinha é de água, de vento ou de ouro.

Nem mastro a segura,
nem leme a norteia,
mas o pescador
cheira a sal e a areia.

(E o pescador cheira a sal e a areia
e deixa tombar sobre os búzios claros
os peixes de vidro que traz do mar largo.

E o pescador cheira a sal e a espuma
e deixa tombar sobre a areia húmida
seu longo cansaço).

A casquinha solta da última vaga,
espera sob as nuvens translúcidas,
pousada na areia como uma concha de nácar.
- GLÓRIA DE SANT'ANNA-LIVRO DE ÁGUA (1961) - Sugerido por Andrea A. Paes.
A CANÇÃO DO NEGRO
O negro canta
num timbre agudo
(agudo e rápido)
que surpreende.

Não fala: canta
num tom selvático
(denso e selvático)
alto e estrindente.

E o ritmo é tanto
tão bem marcado,
tão ansioso e
dilacerante,
que me parece
que está (sózinho)
cantando as mágoas
de toda a gente.
- GLÓRIA DE SANT'ANNA-UM DENSO AZUL SILÊNCIO - 1965 - Sugerido por Andrea A. Paes.
(Transferência de arquivos do sitio "Pemba/Régua" que foi desativado.)