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7/30/07

Ronda pelos blogues - O "Ma-Schamba" do JPT e o "Xicuembo" do Carlos Gil.

O Moçambique de Carlos Gil transcrito no Ma-Schamba:
Já passaram anos desde que o Carlos Gil editou o seu Xicuembo, memórias daqui e não só, uma imensidão de saudades daqui, uma coisa que em blog e no livro sempre parece a entreolhar um qualquer outro talvez:
"Para mim, o Aeroporto de Mavalane foi só uma porta de saída, atrás dela ficou uma vida que podia ter sido talvez assim, e hoje é, naturalmente, assado". (116)
Ler o Gil, e para além do encanto de ver como as vezes aparece mesmo nu lá no meio das páginas, é ler essas saudades de um outro tempo mocambicano, saudades pesadas até. Mas nunca saudosistas, um olhar para tràs mas sem lá querer estar:
"Nunca ouvi falar num negro milionário no período colonial. Agora, parece que os há aos pontapés e, por infeliz norma, aceito que a regra é obtida com percursos escuros nesse enriquecimento pessoal, em detrimento dum país que já foi o mais pobre do mundo. Só que, antes, não se conhecia ou ouvia falar de algum. Zero. Classe média? Só se for média lá para o muito baixo, a roçar o nível do desenrascanso diário. E isto na cidade e sua periferia, pois não recordo antes do final de 1974 qualquer negro a viver nas “Polanas” das cidades de Moçambique. (...) Tanta coisa que estava errada e só em 25 de Abril de 1974 se tornou visível para uma certa população que olhava, no seu global, só de soslaio para as injustiças que, sob esses olhos, corriam a céu aberto, Eu, inclusive. "(76-78)
Depois, as saudades dão-lhe também para moralizar. E ai discordamos no tom - e ainda bem, que isto de concordar em tudo daria em nada:
"Todos nós, hemisfério norte europeu, branco e rico, devemos algo muito importante a África, negra e pobre. Durante séculos foi o nosso quintal de férias e banco estrangeiro, a Europa possui obrigações que secular incúria gerou, e não pode olvidá-las"(121)
(Carlos Gil, Xicuembo, Pé de Página, 2005)