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12/18/11

Quase um conto de Natal...

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Recorte do Jornal "A Voz de Trás os Montes" de 1/1/1987
Escrito com simplicidade e amor:


Clique no 'recorte' para ampliar e ler - Resultados para Jaime Ferraz Rodrigues Gabão nos "ForEver PEMBA", "Escritos do Douro" e "Google". Edição de Jaime Luis Gabão para os blogues "ForEver PEMBA" e "Escritos do Douro" em Dezembro de 2011.

11/12/11

Carta para o Dr. Camilo de Araújo Correia

Meu saudoso Amigo:

Faço votos para que esta o vá encontrar de modo igual ao que costumava ser enquanto por cá andou: sereno mas acutilante, especulativo mas pragmático, de bem com a vida mas adversário do fingimento.


Agora, em Canelas, não sei como será, mas idealizo o mesmo. A morte não esquece o que foi a vida quando a lembrança se perpetua, não acha? Fui lá uma vez, pousei uma rosafalei consigo, mas não me ligou nada; até pensei que estivesse a mostrar-se amuado por demorar tanto tempo a visitá-lo. Ou, então, estaria muito atento ao que lhe diziam os que estão ao seu lado… Bem - pensei para mim – deve estar por aí a conversar com algum conhecido,  e como não tem relógio esqueceu-se da sua morada. Vim embora porque, mais tarde ou mais cedo, lá chegará a hora de pormos a conversa em dia.


Mas, sabe, imagino-o a escrever crónicas nos jornais do céu, a causticar os anjos armados em santinhos ou santinhas (ainda ninguém descobriu o sexo deles, não é meu amigo?), todos muito puritanos a dar lições de moral e, nas sombras, a concretizar o adágio dos simulados: «Olha  para o que eu digo e não para o que eu faço.» Talvez tenha descoberto por aí daquelas espécimes que olham de alto como quem palita os dentes ou arrota postas de vitela, e a tentação de os apontar seja tanta que não o deixe ficar calado. Para o céu deve ir – sou eu a pensar, claro – muito tipo de gente, pois a misericórdia divina não tem limites. Por cotejo com o que me ensinaram na catequese (belos tempos!), acho que ele deve ser habitado esmagadoramente pelos honestos, os construtores da palavra, os que fogem da falsidade e do descaramento, os que conhecem a grandeza humana e a sua antítese,  os que respeitam o medo mas repelem a cobardia, os que não fantasiam  amar os pobres nem pedem publicidade para a  oferta, os que sabem que a verdadeira fortuna é ter o  essencial que dê dignidade à vida, à vida de todos. Por isso, deve-lhe meter impressão ver aí de tudo como na farmácia. Para desenfastiar já deve ter escrito outro Livro de Andanças, viajante que é dessas terras e caminhos etéreos. Deve ser uma pena não haver aí um Palácio da Loucura para uma reedição de Coimbra Minha… Olhe, vá ouvindo umas anedotas do mano João…
Escrevo-lhe dentro do carro, com o bloco assente no volante, diante do mar, na praia nortenha de que seu Pai mais gostava. Tenho memória recente de corpos na areia, tostando a celulite ou a silicone (uma pessoa já nem sabe). Ao longe, na linha do infinito, um barco, largado de Leixões, afunda-se na vertigem da lonjura. Recordo-me de África; sei-a do outro lado do mundo, resplandecente e imensa, vermelha e abrasadora. Aquele Moçambique para onde fomos em datas diferentes, a Porto Amélia do Paquitequete e dos corais, da casa do Jaime Gabão e da mesa da D. Nair, daquela fraternidade e daquela mágoa de ver o Lança Pires esticado num Unimog,  ele que fora só à Serra  Mapé,  em Macomia,  visitar colegas de escola.


A sua lembrança, meu saudoso amigo, quando lá cheguei, ainda pairava nos exíguos corredores do hospital, nas esplanadas da Jerónimo Romero, nos serões das lendas do algodão da pensão Miramar e nas gentes que lhe conheceram o jeito e a dádiva.


Neste jornal, onde na sua última página escreveu centenas e centenas – sei lá milhares - de crónicas (foi uma pena não ter coligido as principais num volume, como alguns lhe disseram), retratou o esmagamento da savana e a aventura duma caçada, a cumplicidade da temba, o espasmo sanguíneo do pôr-de-sol,  o êxtase dos cheiros e dos sons do mato, a sensualidade da mulher africana, o orgasmo do nascer dos dias e a angústia dos anoiteceres suados.


Consigo aprendi muito do que é a verticalidade e a honradez intelectual, o horror aos sevandijas e aos excessos dos humanos. Aprendi que tanto se pode subir até tocar a platina como descer até nos ferirmos no alumínio…


Mas, perguntará, «este só agora é que me escreve?» Eu digo-lhe: aqui na Régua, terra a que sempre chamou sua apesar de ter nascido na Invicta, andou tudo numa fona por causa de um Congresso de Bombeiros. O José Alfredo Almeida, aquele jovem com um sorriso do tamanho da generosidade, que está, agora, à frente da Associação, tomou a peito a organização, publicou até um livro sobre a História desses homens que dão o corpo ao manifesto – quantos a alma – pela nossa segurança, e tão pouco recebem desta sociedade egoísta, tantas vezes denunciada com a precisão da sua pena. Sabe que foi considerado o melhor acontecimento do género realizado na Pátria? São os que vieram de fora a confirmá-lo sem ciumeiras. Que, diabo, também somos capazes não é?...
Lembrei-me muito de si nesta altura, que, entre 1964 e 1965, foi presidente da sua Direcção, seu médico, director do Vida por Vida e titular da Medalha de Ouro. E tenho – caramba! – saudades de si. Há dias fui à pasta onde guardo as suas cartas - as lembranças que elas me trouxeram! Piadas de gargalhadas cerebrais, ironias tão subtis que sintetizavam a mordacidade total, tolerância de escrita, protestos cúmplices pelo desaforo social, ideias e conselhos de quem conhecia a literatura, as suas gentes e os seus modos…


Cai uma chuva triste, de luto pelo Verão que se foi, parece um choro celestial, um gemido dos deuses desgostosos com este mundo comando pela falta de idoneidade, uma saudade enorme daqueles de quem gostámos e nos deixaram do mundo dos sorrisos. O dr. Camilo nota por aí alguma revolta Divina, algum sentimento de pena por estes terráqueos que já se cansaram de lhes irem ao bolso, assaltados à lei (des)armada, como quem limpa fraldas a meninos?  Diga-LHE para vir cá abaixo pôr ordem nestes Montes Pintados e  nestes Caminhos Velhos e Novos, nestes Assentos e Jurisdições, nestas Sedes e Filiais, nestas Desesperanças e Ódios. E se ELE não vier, que mande um novo Cristo com um cajado na mão para expulsar toda a canalha da Terra. Peça-lhe isso, não se esqueça…


Vou-me despedir, imitando-o nos momentos de emoção: «RAIO!»
 - Novembro de 2011 - M. Nogueira Borges
Memória dos Nossos Bombeiros - Carta  para o Dr. Camilo de Araújo Correia 
Jornal "O Arrais", quinta-Feira, 10 de Novembro de 2011
(Click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)


Texto de M. Nogueira Borges publicado com autorização do autor neste blogue e no semanário regional 'O Arrais" (10/11/2011). Clique  nas imagens acima para ampliar.  2 imagens cedidas pelo Dr. José Alfredo Almeida e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para os blogues "Escritos do Douro" e "ForEver PEMBA" em Novembro de 2011. 

10/27/08

Navio PEMBA - Lembram-se dele ?...

Segundo o ShipStamps.co.uk o navio Tenos, construída como navio de carga pelo estaleiro naval Zosen Mitsui Engineering Co. Ltd., Tamano, Japão para Rederi A / B Sirius, Helsingborg, Suécia foi em 21 Setembro 1960 lançado à água sob o nome TENOS, com velocidade máxima de 16 nós e podendo alojar em simultâneo 12 passageiros.

Em Julho de 1970 foi vendido à Comp. Nacional de Navegação em Lisboa, Portugal e renomeado PORTO AMÉLIA tendo sido transferido em 1972 para a Comp. Moçambicana de Navegação na então Lourenço Marques.

Com a independência de Moçambique em 1975 seu nome foi alterado para Pemba, assim como o nome da empresa parece-nos ter mudado para EE Navique Empresa Moçambicana de Navegação, que o vendeu para o Paquistão em 1986 para desmonte.

Saiu em 23 de julho de 1986 do porto de Maputo, rebocado, com destino a Karachi onde parece ter chegado em 07 de Setembro de 1986... (Fontes: Hillerström's 1891-1976 por Tomas Johannesson. Navicula e Marinhas Notícias-ShipStamps.co.uk.).

Encontrei também no blogue SHIPS & THE SEA - BLOGUE dos NAVIOS e do MAR em post de 24 de Fevereiro deste ano:

""O navio de carga português PEMBA, que operava na cabotagem em Moçambique desde 1996, foi vendido pela Transinsular (East Wind - Transportes Marítimos, Lda., Madeira) à companhia World Shipping Management Corporation, de Miami e entregue em Lisboa a 29-11-2007, data em que se passou a chamar SILVY e foi registado no Panamá (World Neptune SA, Panamá).

O PEMBA entrou em Lisboa pela última vez a 29-08-2007 procedente de Durban e foi substituído na costa de Moçambique por um navio afretado de maior capacidade. Esteve imobilizado no Seixal até Novembro quando veio para Lisboa permanecendo atracado a Santa Apolónia até ser entregue aos compradores. Trata-se de uma empresa propriedade de um emigrado cubano sediado e Miami, que opera navios nas Caraíbas. Construído na Alemanha pelo estaleiro Buesumer Werft (construção nº 2034), foi acabado em Junho de 1986 e chamou-se KAROLA S até 1992, e depois JETTY (1992-1996) e PEMBA (1996-2007).

Com 2.726 TAB e 2.958 TDW, o PEMBA tem capacidade para 204 contentores de 20 pés. O PEMBA é gémeo do SONGO, construído no mesmo estaleiro em 1985 e comprado pela Soponata em 1996 para operar em Moçambique. O navio foi posteriormente adquirido pela Transinslar e ainda se encontra na costa oriental de África ao serviço da Navique, empresa gerida pela Transinsular"".(Imagens e post em Ships & The Sea).

Deduz-se pelos textos acima das duas fontes, que existiram ou existem dois navios Pemba percorrendo os portos da costa moçambicana. Ficariamos gratos se algum leitor com conhecimentos sobre o navio Pemba e factos da história da navegação comercial desde os tempos de Moçambique colónia, colocasse por aqui, como comentário, informações adicionais a respeito.

  • Duas imagens sobre o navio Porto Amélia (ex-Tenos) aqui!

4/05/05

Saudades do JAIME FERRAZ RODRIGUES GABÃO...!


Transferindo "post" do ForEver Pemba 3:

O Jaime

Com a chegada do Outono, das primeiras chuvas e de uma friagem a despertar as alergias, inicio o meu luto do Verão. Atenuo a saudade nos arquivos da minha memória e atraco ou aterro nos lugares do sol. Deixem-me aterrar, por hoje, no Moçambique inesquecível.

Era um fim de tarde de um Março de sessenta e oito. O velho DAKOTA da DETA, com óleo a espirrar nos parafusos das asas, vindo de Nampula, fazia a aproximação a Porto Amélia, cidadezinha plantada numa escarpa sobranceira ao Índico. Desenhou um arco para apreciar a baía e, desacelerando sobre o Paquitequete, apontou ao Aeroporto, designação pomposa para um casarão ao lado (e mais ou menos a meio) de uma fita vermelha de terra batida, qual picada de capim aparado. Descemos por um escadote que me lembrou aqueles que, antigamente, se encostavam aos carros de bois para levar os almudes até às pipas. A noite caía com um pôr do sol arrebatador sobre as águas de Wimbe. Em África os dias acordam cedo e esplendorosos como um grito de felicidade e adormecem envoltos numa plangência que angustia as almas mais empedernidas. Cem anos que eu durasse nunca - mas mesmo nunca - esqueceria aqueles anoiteceres com os chiricos e os barucos silenciados pelo concerto das cigarras e uma ferida de sangue inocente a despedir-se do mundo.

Eu viera à frente, feito explorador de logística, na companhia do Pires, furriel alentejano, esfuziante e solidário, sem futurar (mos) a sua morte numa curva da Serra do Mapé, nas terras de Macomia, deixando-me, estupidificado, com o seu fio de ouro no bolso que, numa trágica premonição, me confiara. O resto da tralha e do pessoal chegaria no Pátria(*), aproveitando a sua passagem por Nacala, em rota, desde Lisboa, carregado com mais um contingente.

Foi em Porto Amélia - esqueçamos más recordações - que conheci um dos grandes Amigos da minha vida: o JAIME. Para os leitores deste semanário, a quem devotou o melhor da sua colaboração, e dos reguenses em geral, a quem prestou variados préstimos: o JAIME FERRAZ GABÃO. Labutava nos escritórios de uma empresa algodoeira - a Sagal - e como correspondente, para toda a província de Cabo Delgado, do DIÁRIO (de Lourenço Marques). Com ele reencontrei as minhas (as nossas) raízes e mutuamente nos amparamos nas saudades delas. Saído da Capital Vinhateira em busca de uma vida mais desafogada... Pertencia aos cabouqueiros de África que se misturavam com as raças e as etnias numa confraternização de que só duvidavam os que nunca tiveram a oportunidade de serem felizes naquelas paragens. Não me admirava, assim, que, mesmo com a lembrança dos socalcos, ele desejasse morrer na terra onde readquiria a dignidade, acariciado pelas manhãs claras e as noites cacimbadas.

Passamos horas, nas cadeiras da pensão Miramar, ouvindo "estórias" das savanas, bebemos cerveja no Marítimo e café no Pólo Sul derramando o olhar para o pequeno cais à espera de um dia de "S. Vapor", vimos "E o Vento Tudo Levou" no cinema-barracão, subimos e descemos as escadinhas que ligavam a parte alta à Jerônimo Romero do comércio, abriu-me a porta e sentou-me à mesa de sua casa sem horas nem lugares marcados, relacionou-me na sociedade civil e facilitou-me as páginas do seu jornal sem uma censura ou "sugestão".

Mal sabia ele que haveria de acabar os seus dias na terra que o viu nascer, obrigado ao regresso por uma descolonização exemplar, com os olhos húmidos pelas lembranças dos corais da praia dos coqueiros e dos campos de algodão.

Quando vou ao Peso(**) visitá-lo, trago comigo o seu sorriso moçambicano.

Por M. Nogueira Borges - In Arrais de Novembro de 2003


(*) = Pátria - Navio de passageiros português da antiga Companhia Colonial de Navegação e que fazia o transporte de cargas e passageiros entre o continente europeu (Lisboa) e a costa Africana (antigas colônias de Portugal).

(**) = Peso - Parte alta da cidade de Peso da Régua.
Ali se localiza o cemitério onde Jaime Ferraz Rodrigues Gabão está sepultado.
Posted by Hello