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12/09/09

Praias de Pemba - Erosão e maus tratos... Que futuro ?

A questão ambiental debatida nos mais diversos fóruns internacionais e também, no momento, na conferência em Copenhague faz-nos refletir sobre atitudes e comportamentos quotidianos que não contribuem para um planeta sustentável e que implicam em mudanças de hábitos, em abdicarmos de interesses individuais para, com isso, contribuirmos para o bem e melhoria da sociedade que nos rodeia e para um futuro onde o assustador fantasma do aquecimento global possa ser amenizado e sobressaltar menos. Porto Amélia no passado colonial (hoje Pemba) era exemplo de cidade planejada, ecologicamente equilibrada dentro do que se conhecia a respeito naquele tempo até 1975, de ruas amplas, limpas, arborizadas, edifícios airosos, modernos, perspectivando um futuro prometedor voltado para o turismo. Para isso contribuíram diversas figuras que, direta ou indiretamente a foram desenhando e lapidando como jóia rara encravada nas areias do imenso mar azul que a cerca. Citarei, entre outros, somente os Dr. Cristina e Tito Livio Xavier, como presidentes do município e o saudoso arquiteto Andrade Paes, idealizador e responsável pela construção de inúmeras residências belas e edifícios que ainda hoje fazem e dão ar de graça à atual Pemba. Uma Pemba que em 2009, sentimos estar crescendo desorganizada, super povoada, com esgotos a céu aberto, lixo nas ruas, informalidade desregrada e crescente praticada por um povo que busca sobreviver mas em rumo direto, inevitavel á crescente insalubridade da urbe e à destruição de suas praias... hoje, muitas delas (como as praias do Wimbe, Maringanha ou até Mecufi) transformadas em latrinas públicas, vitimas da erosão, quase redutos murados, fechados por construções aleatórias ou não mas inconvenientes, redutos esses exclusivos e destinados a classes sociais mais “abonadas”.

Ainda bem que a próxima cúpula sobre mudança climática de 2011 será na África do Sul como hoje anunciou a presidente da conferência em Copenhague, a dinamarquesa Connie Hedegaard.

Quem sabe e por proximidade, cheguem mais fortes a Moçambique e a Pemba as necessárias demandas para mudanças radicais de conduta e usos que são imperativas quando se trata da questão ambiental.

E, para “desenhar” um pouco mais nitidamente minha apreensão, transcrevo, de autoria de Edmundo Galiza Matos – 2008, um texto encontrado na net, que faz parte de suas “Impressões após nove anos de ausência” da nossa querida Pemba e arredores:

""Mecufi: Impressões após nove anos de ausência - A erosão, é verdade, é um cancro maligno que dilacera impiedosamente o distrito costeiro de Mecufi. Há anos. Antes mesmo da independência nacional.

O fenómeno abate-se com maior inclemência sobre a praia e as várias tentativas para aplacá-lo de nada serviram. Os estudos científicos para a correcção da acção do oceano e do homem não passam disso mesmo. Muitos mas engavetados.

Desapareceram da praia a prancha para o mergulho. Os parrôs implantados nas frondosas causuarinas nem sequer deixaram marcas. Do balneário só restam o entulho em forma de pedra. As raízes desventradas dos coqueiros são como que a prova de que ali se bebericava whisky com agua de lanho.

O barquito “pilotado” pelo velho Jenguesse já lá não está... para meu desgosto, uma vez que, para além da travessia (paga) para Kambala, com ele “navegavamos” entre os inúmeros canais e mangais até “aportar” em Muária, aldeia construída já depois da independência nacional.

O bar do Herculano Faria está numa lástima à espera que um diferendo qualquer, inexplicável, seja sanado. Ali perto funciona uma cabana feita com macuti.

Reduzido devido à invasão das aguas do mar o terreno que utilizavamos para acampanar com tendas feitas de macuti e bambu, simplesmente já não existe.
- Em 31 de Outubro de 2008 - Edmundo Galiza Matos.

3/03/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...III

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui)
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Sobre a ocupação desordenada e irresponsável do litoral de Pemba, os "alertas" vêm sendo feitos já hà alguma tempo. Será que os escutam ?...
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Do livro “O MAR QUE TOCA EM TI” escrito e publicado por Inez Andrade Paes em 2006:

Dia de Natal.
Um dia como os outros, talvez mais sereno que o anterior. As ondas também calmas convidam a chegar à água.
A manhã passou como habitualmente com a companhia das crianças e de alguns jovens. Antes da hora de maior calor surgem com mais ventos e ondas no Mar, no passeio que vem dar à casa dois homens.
Um que trabalha na recepção e um jornalista da rádio local.
- Podemos fazer-lhe uma entrevista?
- Sim!?
- Estamos a entrevistar todos os estrangeiros que vieram para passar esta época connosco e saber o que estão a achar de Pemba.
- Eu não sou estrangeira. Nasci em Pemba e tenho muito gosto em falar da minha terra e de vos dizer o que acho depois de anos de ausência.
O jornalista ainda hesitou em fazer-me a entrevista, porque era só para estrangeiros, mas ligou na mesma o microfone. Esta poderia ser sempre incluída noutro programa.

- Falei da beleza do Mar da forma como cada um de nós olha para ele e transmite a sua voz. Do recorte da praia que foi alterado, para um recorte protuberante e enriquecido só para uma minoria, devastado para aqueles que só dali vivem. A barreira de coral que meticulosamente vai perdendo o seu bordado, impedindo-a de fazer o seu trabalho. O Mar entra agora com mais fúria, uma fúria preventiva a mostrar um alerta urgente.
Venho de longe mas aqui pertenço. Venho de longe o Mar me chamou para dar som a vozes adormecidas a olhares perdidos e desencantados. Moralmente me obrigo e pela voz do Mar o faço.-

A entrevista foi dada.
O jornalista curiosamente tinha o mesmo nome que o de minha Mãe, fora ela que tinha inaugurado aquele emissor. O Emissor Regional de Cabo Delgado.
Não consegui ouvir a entrevista que foi transmitida duas vezes em dias separados. Soube-o mais tarde já na capital, mas consegui ouvir o som do martelo com ponta de borracha que batia nas placas de metal cada vez que se fazia uma pausa de programa ou principiava ou acabava a emissão. Como fez rir e sorrir e voltar a rir o seu som a tocar na memória tão presente.

Vejo-os ir. O jornalista com o gravador à tiracolo com os fios do microfone a tombar de lado e o recepcionista com seu olhar cativante e simpático. Tinha feito parte da promessa ao Mar...
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Inez Andrade Paes, natural de Pemba - Moçambique e residente em Portugal é também, além de poetisa, artista plástica e escritora.
Alguns de seus trabalhos podem ser apreciados na net aqui:

2/28/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...II

(Imagem original daqui. Clique sobre a mesma para ampliar)
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Em Janeiro deste ano, dia 4, disse aqui que algo vai mal quando se pensa e age em relação a turismo e progresso na cidade de Pemba, seu litoral e à própria cidade em si.
Leio agora no melhor e consequente blog luso-moçambicano - Ma-Schamba, a justificada insurreição verbal do JPT perante o contra-senso arquitetural que por lá vai acontecendo... e, conhecedor além de amante da sempre bela Pemba, aqui coloco, contaminado pela revolta, o texto integral do referido JPT:
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O FIM DA PRAIA DO WIMBE
Qual The Artist Formerly Known as Prince, mas não como se crisálida, que não será de borboletas o futuro feito. Sim, dentro de pouco poderemos falar sobre The Beach Formerly Known as Wimbe.
Praia ícone em Moçambique, um pouco pela beleza natural, amena enseada olhando a baía de Pemba, mesmo ladeando-lhe a barra. Englobando aquela meia-dúzia de praias mais célebres desde o tempo colonial, talvez não tanto pela sua excelência - que partilham com tantos outros recantos da costa - mas pela antiguidade das suas infraestruturas turísticas: Tofo, Ponta do Ouro, Bilene, Zalala, Fernão Veloso. E o Wimbe, claro.
Ainda assim o Wimbe tem uma excelência única, exactamente o aconchego, a baía como horizonte, a (ainda) pacatez sob o arvoredo.
Memórias a manter, a guardar, agora que tudo isso mudará. Tive o “privilégio” de ver o novo projecto turístico para a praia, que gente ufana me mostrou, dessas crentes no progresso e isso, desenvolvimento turístico chamam-lhe e até acreditam. Na praia! exactamente na praia, no seio do arvoredo protector (a sul do Nautilus, para quem conhece) vão espetar um hotel, a deslizar para a água.
Este será uma construção da Vovó Donalda e do Tio Patinhas, puro Walt Disney. Tem a forma de um barco, como se paquete. Honestamente julguei que estivessem a brincar quando me mostraram as coloridas fotocópias. “Mas quem é que faz uma merda destas?” - perguntei, malcriadíssimo, ainda surpreeendido pois acreditava já ter visto tudo o que é possível nisto do campeonato do mau-gosto dos arquitectos em Moçambique (a colecção de cromos Sommerschield B - Bairro do Triunfo seria um must como programa cómico num sítio onde se saiba soletrar b-o-m-g-o-s-t-o). “Investidores moçambicanos“, dizem-me com orgulho, até nacionalista, ainda que ali um pouco desapontado dada a minha truculência, “arquitecto indiano … da Índia“.
Um arquitecto indiano aqui arribado para brincar ao Huguinho, Zezinho e Luisinho. Uns investidores moçambicanos a derrubarem o arvoredo protector, a alteraram a enseada, a assumirem a linha de água. Em suma, uma aliança internacional para foder o Wimbe. Será só cupidez e ignorância? Ou é mesmo má-vontade demencial?
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E acrescento - É JPT! Bem reportado… Está na hora de dar um basta nessa falsa onda de progresso que levará inevitávelmente à destruição dos últimos redutos ecológicos que ainda sobrevivem neste decadente planeta. Aqui “de longe” já venho observando essa verdadeira e demente estupidez que também ocorre em Cabo Delgado faz algum tempo…e até me atrevi a “denunciar” no ForEver PEMBA, alertado pelas imagens fotográficas que recebo da “apesar de tudo” sempre bela e estimada Pemba. Mas parece-me que o alheamento generalizado da população simples, como a “ganância” pura, egoísta, vaidosa de determinados empresários e também de cidadãos mais “abonados” dessa região, desvinculada de qualquer preceito ecológico, torna-os convenientemente cegos, preocupados mais com o saldo crescente de suas poupanças bancárias e seus privilégios do que com o próprio País Moçambique e os cuidados que a cidade precisa e merece. Estes - Moçambique e Pemba - que se danem! E “cada um por si”…como se usa dizer por aqui.
Mas, cá entre nós e se a inteligência se sobrepuzer à "esperteza", acho melhor abraçar o parecer do Amigo e Professor Carlos Lopes Bento, profundo conhecedor desse Cabo Delgado e seu mar azul: "...basta só cuidar do ambiente e não matar a galinha de ovos de ouro ainda com grandes potencialidades." ...ou a bela praia do Wimbe como pressagia o sempre lido JPT!
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