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10/15/08

Em Angola, poucos reagem à reabertura do escândalo Angolagate... 2

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Em Angola pouco se fala, por medo uns ou conveniência outros, do julgamento dos envolvidos no caso/escândalo "Angolagate" que corre no momento em tribunais franceses e que envolve o fornecimento em 1992 de armas e equipamentos de guerra ao MPLA, milhares de mortes inúteis, setecentos e noventa milhões de dólares depositados em paraísos fiscais, diversos traficantes de armas e senhores ligados ao poder passado mas recente da França e Angola... ...

Na íntegra abaixo, do jornal português "Expresso", 14/10/08, um pouco do pouco que em Angola e na net se comenta a respeito, com alguns detalhes dos contornos políticos que envolvem este caso escabroso:

""Julgamento do 'Angolagate' - Falcone e Gaydamak ganharam 397 milhões de dólares.

A acusação revelou, em Paris, que os dois sócios ganharam mais de metade do valor global (790 milhões) pago por Angola para comprar armas russas. Quando ouviram falar nos lucros astronómicos de Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak com o negócio da venda de armas russas a Angola, nos anos 90, algumas pessoas na assistência nem queriam acreditar.
No banco dos réus, um dos acusados de ter recebido "comissões" da parte dos dois homens para "facilitar" a compra das armas, o ex-ministro francês do Interior, Charles Pasqua, bocejava ostensivamente. Com um sorriso trocista, o 'gaullista', actualmente com 81 anos, alegou "uma constipação" e saiu da sala quando foi evocado o seu envolvimento no negócio.
O representante do Ministério Público informava nessa altura o tribunal de que Pasqua tivera uma reunião com o Presidente José Eduardo dos Santos, em Paris, em Fevereiro de 1994, precisamente no dia em que foi assinada, na capital francesa, uma parte do contrato de armamento, no valor de 463 milhões de dólares.
A acusação diz ter provas de tudo o que tem estado a avançar nas audiências, iniciadas no passado dia 6. Designadamente sobre os "lucros fabulosos" dos dois sócios da empresa que montou a operação - 397 milhões de dólares. E também sobre as dezenas e dezenas de milhões que eles "generosamente" distribuiram por personalidades francesas e angolanas - entre elas, José Eduardo dos Santos, membros da sua família, militares e políticos do seu círculo mais próximo, bem como 40 franceses de primeiro plano, como Jean-Cristophe Mitterrand e Jacques Atali, respectivamente filho e ex-conselheiro do falecido ex-Presidente francês.
Nas audiências, Pierre Falcone, cérebro do negócio, tem seguido uma linha de defesa idêntica à dos outros arguidos. Todos garantem ter agido por "razões humanitárias". Por exemplo, a acreditar no que disse Jean-Cristophe, o 'Angolagate' teria tido como origem apenas a intenção de socorrer um país onde "faltava tudo, alimentos, medicamentos...".
Pierre Falcone, que tem as nacionalidades francesa, angolana e brasileira, confirmou: 'Senhor Presidente, exclamou para o juiz, a primeira coisa que lançámos de páraquedas na periferia de Luanda foi água!". Depois, foi um pouco mais explícito sobre as armas: "É bonito exibir grandes emoções em Paris e depois deixar morrer à vista de todo o mundo um Governo legítimo!".
Falcone, que é acusado de tráfico de armas, corrupção e fuga ao fisco, fazia alusão à "necessidade urgente" de armamento da parte do regime angolano que, na altura, estaria "a perder a guerra" contra a guerrilha da UNITA.
Porém, quando foi instado pelo juiz-presidente a explicar-se sobre uma sua viagem a Moscovo e à natureza do armamento comprado por Luanda, Falcone invocou a sua qualidade de "mandatário oficial" de Angola para efectuar o negócio e, em nome do princípio do "segredo-defesa", recusou responder.
O Estado angolano continua a contestar o julgamento, que prossegue hoje, e cujas audiências deverão durar até Março do próximo ano. De acordo com o seu advogado, o francês Francis Teitgen, Angola poderá apresentar um processo contra a França num tribunal internacional por "violação da sua soberania".
A acusação garante ter em sua posse extractos de contas bancárias, transferências e correspondência sigilosa que implicam o Presidente Eduardo dos Santos no escândalo.
- 13:47, terça-feira, 14 de Out de 2008, Daniel Ribeiro, correspondente do 'Expresso' em Paris.

  • Em Angola, poucos reagem à reabertura do escândalo Angolagate... 1 - Aqui!

10/14/08

Em Angola, poucos reagem à reabertura do escândalo Angolagate...

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Em Angola pouco se fala, por medo uns ou conveniência outros, do julgamento dos envolvidos no caso/escândalo "Angolagate" que corre no momento em tribunais franceses e que envolve o fornecimento em 1992 de armas e equipamentos de guerra ao MPLA, milhares de mortes inúteis, setecentos e noventa milhões de dólares depositados em paraísos fiscais, diversos traficantes de armas e senhores ligados ao poder passado mas recente da França e Angola.

Lamenta-se entretanto, que os braços da Justiça internacional não alcancem territorio angolano onde, "heróis de barro" ligados e na origem desse e outros escândalos proporcionados pela "guerra de libertação", continuam, arrogantes e soberanos, impunes.

Na íntegra abaixo, do "Global Voices", um pouco do pouco que em Angola e na net se comenta a respeito, com alguns detalhes dos contornos políticos que envolvem este caso escabroso:

""O famoso caso “Angolagate” chega este mês às barras dos tribunais de França, envolvendo figuras de topo daquele país e supostamente angolanos influentes, a começar por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola. Os fantasmas estão à solta e Angola tenta a todo o custo impedir o debate público, alegando “respeito do segredo de defesa” de uma nação estrangeira.
Convém relembrar que este “Angolagate”, também conhecido como o caso Mitterrand-Pasqua, remonta a 1992, quando José Eduardo dos Santos apercebeu-se da desvantagem militar diante da UNITA de Jonas Savimbi, que na altura ocupava mais de 80% do território angolano.

Diante deste quadro, o presidente angolano optou por quebrar o embargo imposto pelas Organizações das Nações Unidas a que estava sujeito e adquiriu mais de quatrocentos carros de combate, aproximadamente cento e cinquenta mil obuses, mais de cem mil minas anti-pessoais, cerca de uma dezena de helicópteros, meia dúzia de navios de guerra entre outros armamentos originários do antigo bloco soviético.

O valor destas aquisições ficou-se pelos setecentos e noventa milhões de dólares, feitos através da empresa francesa Brenco. Seu presidente, o empresário Pierre Falcone e o político israelita Arkadi Gaydamak foram as peças chave em toda esta missão e encontram-se neste momento no banco dos réus. Ao todo, 40 outros acusados, alguns dos quais membros do alto escalão da política Francesa, serão julgados e poderão pegar 10 anos de prisão, se considerados culpados.

O julgamento começou na segunda-feira passada, 6 de outubro, e a apuração deve continuar até 4 de março do ano que vem. Nessa primeira semana da reabertura do caso, houve bem pouca reacções na blogosfera angolana, e a imprensa também continua calada.
Um dos poucos bloguistas a comentar sobre o assunto, Roberto Ivens, do blog Nos Cus de Judas, revela um facto insólito em relação à ausência de arguidos angolanos neste processo:

  • “Não haver neste processo um único arguido angolano não deixa de ser curioso. Que todo o material de guerra, tanques, navios, helicópteros, obuzes, minas, tivesse entrado em Angola sem que ninguém o houvesse solicitado faz pensar que, afinal, poderá ter havido uma... invasão estrangeira?!”

A justiça francesa acusa ainda Jean-Christophe Miterrand, filho do antigo e já falecido presidente Miterrand, Jean-Bernard Curial, o cabeça do Partido Socialista francês para a África Austral, e Charles Pasqua, antigo Ministro do Interior, entre outros. O blog Moçambique para Todos [pt], também participa da temática “Angolate” com um texto do Angolano Eugénio Costa Almeida:

  • “Pois então não é que a justiça francesa, sem tomar em linha de conta os superiores interesses da República Francesa, decidiu iniciar o julgamento deste processo, com acusações que vão desde tráfico de armas, abuso de confiança, fraude fiscal e tráfico de influências. Tudo por causa de uns míseros 420 carros de combate, 150 mil obuses, 170 minas anti-pessoais, 12 helicópetros e 6 navios de guerra, eventualmente comprados por Angola e para os quais uns quantos auferiram umas míseras dezenas de milhares de dólares em “luvas”, Gingubas (amendoins) ou peanuts, como diriam os nossos amigos norte-americanos, eventualmente depositadas em contas obscuras em empresas, cidades francesas, suíças ou israelitas, antes de seguir para as de companhias e empresas financeiras sedeads em paraísos fiscais onde o dinheiro “adormece” por uns tempos antes de voltar a circular… é que parar é morrer, e há tantas quintas e palácios na Europa para serem comprados”.

Como seria de esperar, Angola rejeita as acusações de tráfico ilegal de armas e fraude fiscal, afirmando que o material era legal, não era de origem francesa e não transitou pela França. As entidades angolanas ameaçam retaliar a França contra os interesses petrolíferos no país.
Este julgamento surge em má hora, já que a França procura desde o início do ano, estreitar relações com o governo angolano. Prova disso foi a visita feita por Nicolas Sarkozy há cinco meses a Angola. (Publicado originalmente por Clara Onofre - In "Global Voices", 2008-10-13 @ 18:59 UTC, Traduzido por Paula Góes. Veja o post original).