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7/29/09

Ecos da imprensa moçambicana: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do sul revolucionários?

Um texto que retrata e expôe claramente um dos "cancros" que levam, pós independência de 1975, ao Moçambique dependente de hoje, socialmente dividido em elites minoritárias e maiorias pobres sob a administração de um partido de raizes antidemocráticas, violentas, segregacionista até, onde prevalecem o apadrinhamento, perseguição política disfarçada, o medo e a censura camuflada, etç. Poucos, dentro de Moçambique, têm a coragem de "falar" como o lúcido Adelino Timóteo:

Beira (Canalmoz) - Em miúdo, na rádio, em casa dos meus pais, em Macurungo, eu ouvia uma canção que dizia: “Joana é reaccionária, Guambe é reaccionário, Simango é reaccionário, Murrupa é reaccionário, Unhai é reaccionário, Gwengere é reaccionário…” Era uma canção entoada por pessoas cujas vozes me pareciam estridentes, sombrias, ao mesmo tempo uníssonas.

No rol das palavras que compunham o vocabulário, então, reaccionário era uma palavra recorrente. Outros termos recorrentes eram Nação, Povo e Tribalismo e Luta. Como miúdo que era a princípio custou-me entender o que seria aquilo de reaccionário. Mas pelo timbre da voz dos cantantes daquela canção da autoria do partido Frelimo dava para entender que aquele epíteto estampado àquelas figuras não era coisa boa.

Os mais velhos me contaram que a canção amiúde entoada nos feriados como 3 de Fevereiro, 1.º de Maio, 7 de Abril, 25 de Junho, 25 de Setembro, visava censurar aquelas pessoas. E ninguém mais falava do assunto.

Um dos temas mais difíceis de abordar, por me parecer delicado, é aquestão do tribalismo. Em Moçambique, já desde há muito, tenho ouvido uns políticos tratarem por tribalistas uns aos outros. Igualmente, tenho percebido que o termo tribalismo alinha com o símbolo reaccionário, escamoteando-se a verdade. Logo, pela história recente, percebi que todos aqueles nomes que nomeei acima eram indivíduos do centro e norte.

Nunca falei nenhuma língua nacional, por razões que não interessa aqui evocar, mas que é conhecida de toda agente que comigo lida. Por isso, nunca tomei posição neste assunto delicado, mas que é amiúde evocado.

Um dia, quando lia um dos livros do Doutor Hélder Martins notei que numa das passagens ele se referia a um assunto que extravasava nesta melindrosa questão, porque por suposta ligação com Simango a Frelimo matou o meu pai. E Barnabé Lucas N’como, no seu livro Uria Simango Um Homem Uma Causa dissecara-a voltando ao assunto, entornando o caldo, pois defendendo que a Frelimo matou o meu pai por ele ser da etnia de Simango e mataram Simango, esposa e outros seus companheiros do cativeiro por uma questão de efeito e causa: serem de uma etnia diferente.

Seja como for, os reaccionários foram mortos por linchamento e enterrados numa vala comum de M’telela. A Frelimo mantêm-nos presos, prolongando a pena de morte a que os votaram.

Ninguém os quer restituir à sorte de merecerem de um funeral condigno, apesar da injustiça da história que os tratou mal por serem do norte e centro.

Só os revolucionários, que por colação são heróis do meu país, logo do Sul, têm direito a uma parcela do Estado, um lugar na cripta.

É isto que me ocorre dizer da história corrente deste país. E pelo que tenho percebido, dizer a verdade aqui é correr o risco de receber etiquetas, os apelidos reaccionário e tribalista.

Também eles, por tabela, em miúdo, me chamaram de reaccionário.

Sou filho de um assassinado a quém chamavam reaccionário.

Barnabé Lucas N’como teorizou que aquelas personalidades que então denominavam reaccionários e continuam sendo vaiadas apesar de mortos, foram vítimas de uma situação social que ninguém pode escolher: o ser do norte, sul ou centro.

Nenhum teórico do sistema conseguiu até hoje responder a uma pergunta que talvez vai-nos acompanhar até à morte: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Nem o tristemente célebre Sérgio Vieira, nas suas rotineiras aparições, nunca sustentou a sua famosa teoria das traições que resvalaram no genocídio que se cometeu contra muitos filhos deste País (leia-se que disse País e não região/partido porque o País, a Nação, é um elemento Superior).

Quando há pouco menos de um mês me encontrava na Áustria acompanhei pela comunicação social que o partido Frelimo recorreu ao Tribunal Administrativo pretendendo chumbar o nome Praça André Matsaingaíssa atribuído à rotunda da Chipangara. E da modorra do meu silêncio voltou a acordar a pergunta: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Há poucos dias, assistindo a TVM, chamou-me atenção o deputado frelimista Manuel Tomé a chamar tribalista a Viana Magalhões, da Renamo, em virtude deste ter questionado a exclusão a que são votados os cidadãos de outras etnias neste processo de consolidação da Unidade Nacional.

Há um grande nome do protonacionalismo, da Beira, Kamba Simango, que serviu de inspiração a Eduardo Mondlane, que a história de Moçambique tem renegado. E de novo apetece-me perguntar: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

É pena que os nossos políticos continuem a perder tempo chamando-se tribalistas uns aos outros, no lugar de reflectirem sobre o aprofundamento da unidade nacional.

Enquanto o termo tribalismo for usado para a exclusão e discriminação do outro continuaremos a falar de uma nação que não será una, e jazerá sem alicerces, pois as zangas do passado ainda são latentes.

Os detractores de Uria Simango continuam zangados com o “tribalismo”(falso) de Simango e outras vítimas que o acompanharam ao infortúnio por serem do centro e norte. Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Não vamos continuar a tapar o Sol com a peneira. É urgente uma efectiva Unidade Nacional e Reconciliação.
- Adelino Timóteo, CanalMoz, Ano 1, N.º 5, Maputo, Quarta-feira, 29 de Julho de 2009.

1/09/09

Diz a imprensa moçambicana: Moçambicanos proibidos de ser turistas...

A prática da actividade turística é negada, à maioria dos moçambicanos, devido aos preços praticados, pelos operadores do ramo, na oferta dos diferentes serviços, que são proibitivos, de tanto serem altos.

A constatação é do ministro de Turismo, Fernando Sumbana, para quem as unidades hoteleiras, além de praticar preços proibitivos, para os nacionais, promovem a polarização da economia nacional, cobrando em dólar americano, aos utentes hoteleiros e turísticos, quando a moeda em vigor, no País, é o metical.

Este cenário ocorre numa altura em que o valor do metical está a ganhar, cada vez mais, uma maior cotação, face às outras moedas transaccionais, no mercado cambial.

A falta de prática de preços baixos para leva a que muitos citadinos, mesmo em períodos de férias ou do fim do ano, passem confinados em suas residências, quando poderia estar num dos quais-quer lugares turísticos, que Moçambique oferece.

Sumbana acrescentou que “não é por acaso que muitos moçambicanos demonstram total desconhecimento, do seu próprio País, em detrimento de veraneantes que, quando visitam Moçambique, têm a possibilidade de conhecer muita coisa sobre o País, dadas as facilidades que têm, de se deslocarem de um ponto para o outro.

Para permitir que mais moçambicanos tenham acesso às instâncias de hotelaria e turismo, aquele governante considera estar em marcha um trabalho destinado à introdução de taxas que possam ser acessíveis, para os nacionais.

“Esta medida já está a ser praticada, de forma experimental, nalgumas unidades hoteleiras do País”, disse o ministro moçambicano de Turismo, no cargo, há 2 décadas.

Outros dados em poder do Jornal ilustram que os projectos turísticos crescem, em média anual, a uma velocidade estimada em 24 porcento e a frota de alojamento em 13 porcento, além de este sector contribuir com cerca de 15 porcento, em termos do Produto Interno Bruto, PIB.
- Maputo, TribunaFax de 08/01/2009.

12/15/08

Ecos da imprensa do Brasil - Crises na África afetam Moçambique.

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui.)

A "Globo.com" através de seu portal "G1" publica hoje (14) reportagem de Isis Nóbile Diniz-São Paulo, sobre Moçambique e o reflexo negativo das várias crises que acontecem em países africanos vizinhos, sobre a economia e saúde da sociedade moçambicana.
Começa assim:

""País africano encara problemas comerciais, sociais e de saúde. Conflitos em Zimbábue e República Democrática do Congo interferem.

Parecia um filme de guerra onde a cidade foi recentemente bombardeada. Quando o brasileiro Gabriel Borges caminhou pela primeira vez por Maputo, capital de Moçambique, reparou que os edifícios ainda traziam as marcas dos recentes conflitos vividos pelo país.

Se voltasse os olhos para outra direção, encontrava as praias paradisíacas que encantam turistas do mundo inteiro. Nas ruas, ele divide espaço com a população que tenta superar o medo da guerra e das doenças ainda iminentes. Moçambique - país de colonização, língua e clima semelhantes ao brasileiro - tenta se fortalecer como uma democracia ocidental. A nação irmã do Brasil, com cerca de 20 milhões de habitantes, é muito mais complexa do que aparenta. Cada solavanco dos países vizinhos pode prejudicar a nação. Atualmente, os problemas no Zimbábue e na República Democrática do Congo assustaram o lusófono. Os três países participam da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). “Os conflitos nos afetam direta ou indiretamente, principalmente nas nossas ações de combate aos problemas fundamentais como à fome e à pobreza”, disse ao G1 Murade Isaac Miguigy Murargy, embaixador da República de Moçambique no Brasil.

Vizinho em guerra.
Gabriel Borges, 29 anos, diretor de arte, e Thais Chrystina, 24 anos, estagiária do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mudaram-se em 2008 para Maputo. A aventura começou com uma oferta de emprego que Borges recebeu. Devido ao desafio, à familiaridade com a língua e à suposta semelhança cultural, os jovens apostaram no país africano. Além das diferenças culturais, atualmente convivem com os problemas decorrentes dos conflitos na região. ... ..."
- Devido à extensão da reportagem, leia a mesma na íntegra aqui!

  • Portal G1 - Aqui!
  • Galeria de fotos de Julien Lagarde: "Around the world" - Aqui!

12/11/08

Ronda pela net: Retrato - Eleições e turismo em Moçambique.

Li hà momentos no "mielamundi" em post "Chroniques du Mozambique" que tento reproduzir em língua portuguesa:

AS ELEIÇÕES:
Moçambique centrou a atenção nas eleições municipais acontecidas no final do mês. Propaganda, T-shirts, loincloths, bandeiras e cartazes distribuídos nas ruas. A disputa foi jogada entre a Frelimo e a Renamo. O jogo aconteceu entre o partido que levou o país à falência após a independência, ao querer implementar uma política social radical (Frelimo) e o partido revolucionário que tem destruído estradas, escolas, pontes, hospitais, etc. e mergulhou o país em 17 anos de guerra civil (Renamo)...

Cada uma das partes tem a sua quota de apoiantes. Deve ser dito que a Frelimo oferece tanque cheio de gasolina para todos os automobilistas e motociclistas que desejem pendurar uma bandeira em seu carro ou motorizada e patrocinou comícios por todo o lado com música africana oferecida por artistas da moda e com as mulheres a cantar e dançar em uma campanha politizada. Como você diria? É compra de voto ????.... Na campanha de sons e de cores a Frelimo, pareceu levar a melhor... Talvez porque é o partido dominante...

POLICIA:
O policial no meio da estrada, na sua bela camisa branca também é estressante para motoristas e turistas como nós...

A regra de ouro é sorrir e sempre ter à mão um pedaço de goma de mascar, um cigarro, uma caneta para oferecer como cortesia... Muito cansativo... Mas às vezes pode calhar-lhe um policial que toma vitaminas... Desta vez ele nos fez estacionar ao lado. E decidiu ser rigoroso na inspecção do veículo. Testa tudo... o pisca da direita, o da esquerda, faróis, pára-brisas... tudo funciona, nada a argumentar. Mas o mais divertido foi o seu zelo enquanto a dois metros tínhamos um parque de autocarros apinhados de público, sem pára-brisas da frente ou da retaguarda e luzes, sem parafusos, faróis e pisca-pica pendurados por um fio ao longo da "carrosserie"...

POVO:
Em Moçambique contato humano é algo especial. Antes de você dizer "Olá", já lhe é pedido dinheiro. Pequeno, grande, jovem ou velho é sempre direto ao dizer "dar-me 100 balles". Se você precisa de ajuda você tem de comprá-la... O que faz com que você entenda que, para além do preço acordado, uma gratificação suplementar será bem-vinda.... Só as mulheres nunca pedem nada... Elas não têm o tempo...!

Felizmente a atmosfera é cordial e quando tentamos explicar em nosso Português com sotaque que o dinheiro não cai do céu e da necessidade de se trabalhar com sacrifício para o conseguir, riem na nossa cara... Fecham a mão do "patrao"(significando avareza) e desejam "boa viagem."....

O roubo parece ser um esporte nacional... desde a base até ao alto da pirâmide vêm a corrupção, roubo, fraude, que são praticadas com impunidade. O administrador da cidade expropria dos seus cidadãos para apoderar-se gratuitamente das melhores terras,... o empresário retém os salários dos funcionários mais de 6 meses para ter capital e fazer negócios com carros do Dubai, os enfermeiros roubam drogas nos hospitais... Porquê ficará mal então roubar algumas telhas do telhado do vizinho para consertar o seu?...

AS FANTASIAS DE UM VIAJANTE PERANTE A REALIDADE:
A viagem começa no sofá da casa, com uma bela fotografia ou um livro/guia de viagens em suas mãos.
Os editores e programas de TV sabem como"vender" o sonho...
Imaginamos, projetamos, construímos um "mundo"...
E é assim que forjamos uma imagem de Moçambique: um diamante bruto a ser descoberto... praias paradisiacas, gente verdadeira.
E partimos... Mais de 15 dias por estradas de Moçambique. Desde as margens do Lago Niassa até ao arquipélago Quirimbas, litoral norte. Esperamos 15 dias antes de encontrar água corrente (e, portanto, um chuveiro) e 18 dias antes de conseguir água quente. Em 2/3 do norte do país, não há quase nenhuma infra-estrutura para turistas.... Mas o país é imenso, difícil de percorrer autónomamente, de áreas "de interesse" ainda muito pouco desenvolvidas. Uma ilha "Património Mundial" em ruínas, praias onde o lixo permanece e o viajante, após tanto esforço e cansaço em horas de carro ou em transportes públicos, depara-se com praias onde todos defecam de manhã até à noite. E é assediado em cada paragem por aqueles que procuram dinheiro, doces, etç...

Moçambique está longe de ter o brilho que vendem como "paraíso". Não!... Moçambique aparece em revistas turisticas direcionadas para aqueles que têm dinheiro onde lhes é apresentado em pacotes luxuosos a comodidade de avião privado, arquipélagos reservados e fechados de praias de águas turquesa, com turistas que se deslocam acima da miséria, do roubo e de praias-lixeira, de Camping's onde o turista mais simples recebe uma lata de água salobra para o chuveiro.

Moçambique vende felicidade para quem tem dinheiro, mas não para viajante comum, ecológico, amante da natureza e do contato sem muros com o povo, além de menos abonado financeiramente.

11/13/08

Crimes da Frelimo em discussão na Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos.

Execuções sumárias da Frelimo chegam a fórum africano.
Queixa contra o Estado moçambicano implica Armando Guebuza.

A participação foi remetida ao Secretariado da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, pela advogada da família Zitha, a Professora Dra. Liesbeth Zegveld, em nome de José Eugêncio Zitha, e do filho deste, o professor universitário, Paceli Zitha, soube-se em Abuja onde decorre a 44.ª Sessão da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Maputo (Canal de Moçambique), 12 de Novembro de 2008 - Foi oficialmente aberta segunda-feira última na capital nigeriana, Abuja, a 44ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos. Este organismo da União Africana vai discutir, entre outros pontos, uma queixa apresentada contra o Estado moçambicano em nome de José Eugêncio Zitha, e do filho deste, o professor universitário, Paceli Zitha. A queixa foi remetida ao Secretariado da referida Comissão pela advogada da família Zitha, a Professora Dra. Liesbeth Zegveld.

De acordo com a queixa a ser analisada pelos juristas da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, no dia 26 de Outubro de 1974, o então ministro da Administração Interna do Governo de Transição de Moçambique, que funcionou até à proclamação da Independência, e actual presidente da República, Armando Emílio Guebuza, intimou o cidadão José Eugêncio Zitha a participar numa reunião de Grupos Dinamizadores. Ao entrar no recinto onde decorria a reunião, para onde havia sido encaminhado numa viatura militar na companhia de soldados fortemente armados, o cidadão José Eugêncio Zitha foi humilhado e acusado de traição.

Lê-se ainda na queixa que foi “o Sr. Guebuza quem ordenou a detenção” de José Eugêncio Zitha, sem contudo lhe terem sido dadas as razões, nem tão pouco os familiares sido informados ou notificados do caso. Acrescenta a queixa que o cidadão José Eugêncio Zitha deixou repentinamente a Cadeia Judiciária em Maputo sem conhecimento dos familiares. Estes viriam apenas a tomar conhecimento de que o cidadão José Eugêncio Zitha se encontrava sob prisão no Centro de Preparação Político-Militar de Nachingwea, na Tanzânia, através da leitura de um artigo inserido no jornal Tanzania Daily News publicado em Dar es Salam.

O artigo, publicado na edição de 23 de Abril de 1975, dizia que o cidadão José Eugêncio Zitha havia sido apresentado publicamente no decurso dos julgamentos sumários presididos por Samora Machel e em que desempenhou papel de relevo o coronel na reserva, Sérgio Vieira.

Desde essa data, adianta a queixa apresentada à Comissão da União Africana, os familiares de José Eugêncio Zitha não mais tiveram notícias suas.

Na queixa, a advogada Liesbeth Zegveld afirma que os queixosos, nomeadamente José Eugêncio Zitha, e o filho deste, Professor Paceli Zitha, viram violados os seus direitos consagradas nos Artigos 2, 4 5, 6 e 7 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

O Artigo 2 refere que “todos os indivíduos deverão ter direito ao usufruto dos direitos e liberdades reconhecidos e garantidos” nessa mesma Carta. O Artigo 4 trata da “inviolabilidade dos seres humanos” e do “direitos dos mesmos à vida e à integridade da sua pessoa”, e no artigo seguinte vem explícito que “todos os indivíduos terão direito ao respeito pela dignidade inerente aos seres humanos e ao reconhecimento do seu estatuto legal”.

O Artigo 7 citado pela advogada dos cidadãos José Eugêncio Zitha e do Professor Paceli Zitha refere em particular “o direito a julgamento dentro de um prazo razoável por um tribunal imparcial.”

Nos julgamentos sumários de Nachingwea compareceram várias centenas de cidadãos moçambicanos presos arbitrariamente ou até mesmo raptados em países estrangeiros, como foram os casos do Reverendo Uria Simango, da Dra. Joana Simeão, de Paulo Gumane, Adelino Gwambe, entre outros. Nenhum deles teve direito a defesa legalmente constituída.

O travesti de justiça encenado pelo coronel na reserva, Sergio Vieira na base militar de Nachingwea, culminaria na execução sumária de muitas das vítimas do processo extrajudicial que em Moçambique assinalaria a inauguração da era da chamada “justiça popular”. (Redacção)

Alguns post's que referem crimes ainda impunes praticados pela Frelimo. A "ficha" é extensa e nada nobre:

  • Moçambique 1980: Operação Produção - Aqui!
  • Campos de reeducação: O silêncio cúmplice da Cavaco e Silva - Aqui!
  • As chicotadas que dividiram e aterrorizaram Moçambique - Aqui!
  • Banco de dados - A. Guebuza: de marxista a empresário - Aqui!

9/04/08

PEMBA - Inspecção do Trabalho reitera violações no Pemba Beach Hotel.

A Inspecção-Geral do Trabalho reiterou ontem que houve, de facto, uma série de violações às normas que regem a prestação de serviços no Pemba Beach Hotel e que a sua intervenção visa simplesmente garantir a justiça laboral e, aliás, abrange todas as entidades legais moçambicanas.
Num comunicado distribuído à Imprensa o inspector-geral, Joaquim Siúta, esclarece que ao proceder daquela maneira, tão-pouco tem a intenção de prejudicar aquela unidade no entanto que as infracções detectadas são como quaisquer outras e susceptíveis de se verificar noutros centros de trabalho, sendo que a sua autuação não significa ignorar o volume de investimento que o estabelecimento representa.
Joaquim Siúta emitiu o referido comunicado em reacção a um outro produzido pelo grupo Rani Internacional, Lda, na qual refuta as informações divulgadas pela Imprensa local depois da visita da Ministra do Trabalho, Helena Taipo e dos inspectores de Trabalho ao Pemba Beach Hotel, alegadamente por serem falsas lesando o bom nome e a imagem daquele estabelecimento, no entanto que em nenhum momento os respectivos dirigentes foram dados oportunidade de se pronunciarem.
Dentre outros factos, lê-se na nota do grupo Rani Internacional que "em momento algum do relatório ou autos de notícias elaborados pelo Ministério do Trabalho é feita qualquer afirmação ou insinuação quanto a casos de racismo praticados no hotel por qualquer trabalhador, nacional ou estrangeiro; não é verdade que tenha sido suspenso, expulso ou proibido de trabalhar no país qualquer trabalhador estrangeiro por razões de racismo ou quaisquer outras".
Em face destes e outros factos levantados pelo grupo Rani Internacional num anúncio divulgado no dia 29 do mês passado, Joaquim Siúta escreve que o "Pemba Beach Hotel" é gerido pela Sociedade Cabo Delgado Hotéis e Resorts que possui 390 trabalhadores dos quais 30 estrangeiros, estando 18 afectos naquele estabelecimento. Neste quadro, a empresa pode contratar 19 trabalhadores estrangeiros sendo que para os demais 11 é obrigatório a apresentação do pedido de autorização. Mais: em relação a estes 11, a empresa possui requerimentos com sinais exteriores de despachos sobre eles exarados, por um funcionário da Direcção Provincial que tornou a levar os mesmos documentos em originais à empresa. Com este procedimento, a empresa considera ter alcançado a perfeição jurídica da comunicação no âmbito da quota, o que seria ilegal mesmo havendo lugar na quota. "Neste caso reitera-se que nem cabia a comunicação no âmbito da quota mas sim autorização do trabalho com todos os requisitos legais incluindo a inexistência de recursos humanos habilitados no país para as funções requeridas", indica a nota que conclui que os 11 trabalhadores excedem a quota estabelecida por lei, razão porque foram suspensos. "A empresa, querendo, poderá solicitar a autorização para regularizar esta situação junto do Ministério do Trabalho, com a excepção da senhora Claudine Marie Moodley, que pelo seu comportamento negativo na relação de trabalho com factos denunciados pelos membros do Comité Sindical e por todos os trabalhadores em todos os encontros mantidos", sublinha. Relativamente à violação de prazos probatórios comunicado reitera que houve infracções, embora no caso em análise os contratos tenham sido reduzidos a escrito na vigência da nova lei, reportando a relações jurídico-laborais iniciadas na vigência da lei revogada, sendo os prazos probatórios desta lei os aplicáveis àqueles contratos e não os estabelecidos pela nova Lei do Trabalho. A empresa fixou períodos de férias com base na nova Lei do Trabalho para trabalhadores admitidos antes da sua entrada em vigor, o que viola o estabelecido no número dois do artigo 270 da actual lei sobre a matéria.
Por outro lado, o Pemba Beach Hotel excede os limites máximos para a prestação de trabalho diário sobretudo nos sectores de cozinha, áreas públicas, lavandaria e limpeza. "Este estabelecimento hoteleiro transferiu certos trabalhadores para outras empresas sem o seu consentimento e nem comunicação ao órgão local da administração, o que viola o estabelecido nos números um e três do artigo 75 da Lei do Trabalho", lê-se na nota do Ministério do Trabalho que indica ainda que o hotel foi recomendando para fazer uma distribuição das residências dos trabalhadores nacionais e estrangeiros com base na posição profissional e não na estrutura da empresa como acontecia. "No que diz repeito à alegada reclamação junto à Direcção Provincial do Trabalho, importa referir que este meio gracioso de impugnação de decisões administrativas é dirigido ao órgão que as proferiu. Ademais, os actos praticados pelo Inspector-Geral são insusceptíveis de recurso perante o director provincial do Trabalho", recorda.
- fonte: Imensis/Noticias - 04/09/2008.
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Acrescento: Importante o cuidado e zelo que as autoridades moçambicanas demonstram para com seus trabalhadores, evitando a exploração, os abusos, a ilegalidade, aplicando a Lei e responsabilizando inescrupulosas entidades laborais. Exemplo que deveria ser seguido por países do "primeiro mundo" ou da Europa, como Portugal até, onde as fronteiras são permissivas, desorganizadas, na entrada de trabalhadores oriundos das mais diversas partes do mundo, fornecendo "combustivel" para ilegalidades absurdas por parte de empresários sem escrúpulos e "mão-de-obra" barata que contribui para desajustes numa sociedade já "inchada" pelo desemprego e informalidade, onde os conflitos e violência (assaltos, drogas, prostituição, etç.) vão crescendo com notória rapidez, "na cara" de autoridades ineficientes, incapazes, conforme se noticia diáriamente.

8/26/08

Problemas laborais em Cabo Delgado - A sul-africana Claudine Mery, do “Pemba Beach Hotel”, suspensa e impedida de voltar a trabalhar em Moçambique.

(Clique na imagem para ampliar)
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Segundo o Notícias - Maputo de hoje:
Depois de visitar 40 empresas em Cabo Delgado : Inspecção do Trabalho confirma haver muitos problemas laborais.
Doze dias depois da equipa dos sete inspectores do Trabalho ter começado a fiscalização da aplicação da lei laboral na província de Cabo Delgado, em obediência à decisão ministerial respectiva, em face da detecção de diversas irregularidades na visita que a titular do pelouro, Helena Taípo, efetuou no mês passado, o inspector-geral, Joaquim Siúta, falando em exclusivo ao “Notícias” e num balanço preliminar repetiu que “nesta província há muitos problemas”.
Joaquim Siúta confirmou a suspensão sem recurso da sul-africana, Claudine Mery, do “Pemba Beach Hotel”, que os trabalhadores, em reunião com a ministra, Helena Taípo, haviam dito tratar-se do principal empecilho para o desenvolvimento de relações harmoniosas de trabalho, dada a sua alegada cultura racista, o que minou o ambiente no maior hotel da província de Cabo Delgado.
“Os problemas no “Pemba Beach Hotel” começam com a ultrapassagem da quota fixada de admissão de estrangeiros, pois tendo em conta que tem 300 trabalhadores, a empresa só podia admitir até 19, não nacionais. Acontece que o hotel ultrapassou esta quota, tendo aceite para o trabalho até 30 estrangeiros”, explica a fonte.
A sul-africana em referência constava do grupo a que se poderia considerar de excedentários em relação à quota fixada e pesou sobre si, como agravante, as acusações de ser a principal fomentadora da divisão com base na nacionalidade, raça, entre outros tipos de segregação.
Os trabalhadores, com efeito, haviam dito que aquela colega era responsável principal de tal tratamento discriminatório e na oportunidade haviam avisado à ministra do Trabalho que caso lhe chegasse uma informação sobre “algo estranho” na relação entre os moçambicanos e os estrangeiros, seria porque os nacionais já se encontravam com os caminhos esgotados visando o fim da prepotência daquela sul-africana.
“Na verdade, é no “Beach Hotel” onde encontramos directores com as mesmas qualificações a desempenharem funções similares, a serem tratados conforme a raça ou cor. Encontrámos casas para directores moçambicanos e outras para directores estrangeiros. Refeitório separados para trabalhadores com as mesmas qualificações e funções, simplesmente porque uns são de uma cor outros da outra. Uma parte para nacionais a outra para estrangeiros. Isso é violação flagrante da nossa Constituição”.
Em função da gravidade do problema da Claudine, a Inspecção do Trabalho decidiu suspendê-la definitivamente, não lhe assistindo nenhuma outra possibilidade de voltar a trabalhar na República de Moçambique. Em relação a seis outros estrangeiros do “Pemba Beach Hotel” suspensos, o inspector-geral disse tratar-se de um caso a ponderar, pois o mal foi terem sido encontrados a trabalhar sem autorização do respectivo ministério, mas tudo poderá passar pelo cumprimento da quota estabelecida.
O gerente da Wood Export, o israelita Daniec Cinat, no distrito setentrional de Mueda, empresa onde a ministra se havia confrontado com um trabalhador mutilado sem a respectiva indemnização e a informação de que outro havia perdido a vida no mês anterior, está suspenso. Joaquim Siúta, explica as razões:
“Está suspenso porque estava a trabalhar com uma autorização caducada desde Abril deste ano e não se quis dar à maçada de renová-la. Mas por outro lado, segundo viemos a saber, não conseguia renovar porque tinha problemas com a segurança social, não tinha como reunir documentos de prova. Está nesta situação até que regularize”.
Em relação ao horário de trabalho que ia das 6.00 às 16.00 horas, segundo a fonte, tudo voltou ao legalmente estabelecido, assim como foram regularizados os contratos de trabalho para todos os trabalhadores.
Enquanto isso, a empresa madeireira Miti, Lda, cuja laboração foi suspensa a 30 de Julho passado, pela Ministra do Trabalho, Helena Taípo, por ter constatado atropelos à lei laboral, que considerou intoleráveis, incluindo a inexistência de condições de higiene e segurança no trabalho, para além de salário muito abaixo do mínimo nacional, continua parada, mas um grupo técnico da equipa de inspecção encontra-se no terreno para averiguar mais elementos visando a regularização da sua existência.
Num outro gigante, desta feita, na cidade de Pemba, a Carpintaria Nito, foi encontrada uma situação igualmente fora das normas laborais que regulam o emprego em Moçambique. “Encontrámos na Carpintaria Nito trabalhadores que há 10 anos são classificados como aprendizes, sem nenhum documento que os vincula à empresa”.
Os inspectores, provenientes de vários pontos do país, encontram-se neste momento espalhados pelos distritos do sul da província, nomeadamente Montepuez, Balama e Namuno, na mesma altura em que se confirma que o passo seguinte é “atacar” as estâncias turísticas espalhadas pelas ilhas do arquipélago das Quirimbas.
- PEDRO NACUO - Maputo, Segunda-Feira, 25 de Agosto de 2008:: Notícias.
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8/13/08

Trabalho sem lei: Inspectores do Trabalho vasculham empresas suspeitas de explorar trabalhadores em Cabo Delgado!

(Imagens recolhidas na net. Clique na imagem para ampliar.)
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Inspectores do Trabalho já estão em Cabo Delgado.
Sete inspectores do Trabalho encontram-se desde ontem em Cabo Delgado, em cumprimento da ordem dada pela ministra do sector, Helena Taípo, na sua recente visita a esta província, onde constatou inúmeras irregularidades em muitas empresas, incluindo aquelas que são consideradas de grande nível.
A equipa de inspectores, seleccionados de diferentes províncias do país que é chefiada pelo respectivo inspector-geral, Joaquim Siúta, já começou a trabalhar no sentido de cumprir a tarefa dada a nível mais alto do ministério de tutela, nomeadamente de “vasculhar a província, empresa por empresa, com vista a repor a legalidade laboral”.
Helena Taípo que há uma semana visitou três distritos da província de Cabo Delgado, confrontou-se com atropelos à lei laboral, tendo ficado surpreendida em muitos casos, por a sua Direcção Provincial nunca ter reportado semelhantes violações e, em contrapartida, deparou-se com uma instituição que no segundo ano consecutivo não cumpre as metas constantes da estratégia do ministério a que responde.
Para algumas situações consideradas por Taípo “visíveis a olho nu e intoleráveis”, a ministra do Trabalho havia estabelecido prazos para serem resolvidas, tal como são os problemas de higiene e segurança no trabalho das empresas madeireiras Wood Export e Miti-Lda, nos distritos de Mueda e Mocímboa da Praia e a algodoeira Plexus e de processamento de pau-preto, Mbigo, em Montepuez.
Conforme disse na altura, a titular da pasta do Trabalho, a equipa de inspectores deverá regressar a Maputo com um relatório completo do actual quadro laboral em Cabo Delgado, sendo que poderá ir à profundidade de alguns aspectos relacionados com a forma como os trabalhadores são tratados nas empresas, contratos e a legalidade da presença de trabalhadores estrangeiros em algumas delas.
No “Pemba Beach Hotel” igualmente visitado pela ministra do Trabalho, os inspectores terão uma semana para perceberem os contornos pelos quais se baseiam algumas queixas dos trabalhadores dirigidas ao Ministério de Trabalho de tutela, incluindo actos flagrantes de racismo e discriminação baseada na nacionalidade ou região de origem.
- Maputo, Quarta-Feira, 13 de Agosto de 2008:: Notícias.
  • Pemba Beach Hotel - Trabalhadores de bolso quase vazio... e outras coisitas mais! - Aqui!

6/27/08

No esquecido mundo do Niassa, Feliciano dos Santos e os Massukos oferecem música, saúde e alegria ao povo.

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui.)
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No Bar da Tininha (comunidade MSN ligada à cidade de Pemba, antiga Porto Amélia no tempo colonial) encontrei uma intervenção sugerindo link para música moçambicana (aqui). E fui descobrindo em texto de Marjorie McAfee da FrontLine como, longe do mundo moderno, no norte de Moçambique, reside e atua em uma vasta extensão de terra esquecida da civilização e conhecida por Niassa, o afro-pop Feliciano dos Santos e sua banda Massukos.
Marjorie vai a uma pobre aldeia remota onde encontra uma multidão escutando Feliciano dos Santos e os Massukos com suas guitarras eléctricas. As pessoas vêm de todos os lugares à volta para ver e ouvir Feliciano Dos Santos, sua banda e suas guitarras elétricas. E por esse povo é considerado como uma das maiores estrelas afro-pop de Moçambique.
Quando sua banda, Massukos, começa a atuar os miúdos dançam e, melhor, sorriem.
Santos canta algumas letras inesperadas, na língua tribal local:
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Vamos lavar nossas mãos
Vamos lavar nossas mãos
Para as crianças permanecerem saudáveis
Para os tios permanecerem saudáveis
Para as mães permanecerem saudáveis
Nós vamos construir latrinas
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A maioria das estrelas do rock em Moçambique não cantam sobre higiene e saneamento básico. Nem há estrelas famosas da música a viver e trabalhar no Niassa, um dos lugares mais pobres do planeta, onde as pessoas sobrevivem e subsistem com enormes carências. Nascido e criado no Niassa, Santos escreve e executa músicas que literalmente salvam vidas. Seu grande sucesso, "lavar as mãos", é parte de uma campanha de saúde pública organizada por seu grupo sem fins lucrativos "ESTAMOS", com sede em Lichinga, Província do Niassa, que promove a instalação de bombas para fornecer água potável e de "EcoSan" que distribui banheiros para melhorar o saneamento básico... Feliciano dos Santos, por esse seu trabalho social foi contemplado com o prémio "Goldman Prize" considerado por muitos como o prémio Nobel dos defensores do meio-ambiente.
  • Leia a reportagem que desvenda quem é Feliciano dos Santos e seu magnífico trabalho social no interior do Niassa, na íntegra aqui!
  • E o vídeo "Mozambique Guitar Hero" aqui!
  • Ganhador do Prémio Goldman de Meio Ambiente de 2008 para a África, aqui!
  • Feliciano dos Santos - Mozambique Sustainable Development, aqui!
  • Site oficial dos "Massukos", aqui!

4/09/08

Moçambique 1980 - Operação Produção ...

(Imagem original daqui)
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Encontrei hà pouco na net sobre a injustificável, preconceituosa e aviltante "Operação Produção":
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Omar Ribeiro Thomaz-historiador e antropólogo fala sobre a Frente de Libertação de Moçambique e sobre os campos de reeducação que existiram no país por volta de 1980:
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"... ... Há uma série de lideranças africanas que vão se destacar tentando construir uma opção à Frelimo, e que serão classificados como inimigos, tais como Joana Simão e Uria Simango, entre outros. Eles foram enviados para um campo de prisioneiros no Niassa, ao Norte de Moçambique e ali morreram. ... ..."
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Em um processo difícil, de guerras entre brancos e negros, nativos e colonizadores, Moçambique conseguiu sua independência em 1975, mas o período de transição foi marcado pela instituição de medidas impopulares que deixaram cicatrizes em boa parte da população.
O historiador e antropólogo Omar Ribeiro Thomaz, da Universidade Estadual de Campinas, voltou recentemente de uma de suas viagens a Inhambane, uma província de Moçambique, onde tem acompanhado um grupo de pessoas que foram levadas pela Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique, na década de 1980 - para trabalhar em campos que abrigavam pessoas tidas como desocupadas, inúteis, indesejadas, pelo governo e que, então, deveriam ser reeducadas, a partir do trabalho braçal no campo. Esse projeto, denominado Operação Produção, foi uma das medidas adotadas. Nesta entrevista, Thomaz dá uma idéia do contexto histórico em que essas ações acontecem e fala um pouco sobre o destino das pessoas que passaram pela Operação Produção.
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ComCiência - Em seu trabalho o senhor trata dos deportados no período pós-colonial em Moçambique, pessoas que eram levadas dos centros urbanos para os campos de reeducação criados logo após a independência. O que o senhor tem descoberto pelas narrativas dessas pessoas? A atuação da Frelimo marca realmente uma ruptura entre o período colonial e o pós-colonial?
Omar Ribeiro Thomaz - A primeira coisa a dizer é que trabalho com a idéia de deportado, mas as pessoas que passaram por essa experiência se dizem raptadas. Em alguns contextos elas de fato foram seqüestradas pela Frelimo ou pela Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) durante a guerra civil. Eu uso o termo deportação, que não é o termo que o Estado da Frelimo usava, para me referir às pessoas que eram enviadas para os campos, fossem os de reeducação ou os de trabalho. E uso o termo raptados para aqueles que foram seqüestrados durante a guerra civil, por parte da Renamo, que era o movimento que se opunha ao governo da Frelimo, e que compunha a maior parte de seu exército com jovens que pegavam nas ruas, sem consultar os pais e sem nenhum processo formal. Isso era um rapto, um seqüestro. As pessoas que eu entrevistei diziam: “fomos raptadas”. Elas faziam uso do mesmo termo que se usa para falar das pessoas que foram raptadas efetivamente pelos exércitos, quer da Renamo, quer da Frelimo, que muitas vezes usava do mesmo expediente.
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ComCiência – Em que contexto surgiram os campos de reeducação?
Thomaz – O contexto é o da guerra de independência de 1964 a 1974. Em abril de 1974, a Revolução dos Cravos em Portugal acabou ditando uma certa disponibilidade dos portugueses para negociar com a Frelimo que, na prática, tinha também uma vitória militar, pois os movimentos de libertação africanos estavam ganhando as guerras em Moçambique, Guiné Bissau e Angola. A Frelimo já sinalizava a formação de um regime de natureza revolucionária, marxista-leninista, e mesmo sem clareza do que estava por vir, a maioria da população branca, criada na sociedade colonial fascista portuguesa – cerca de 200 mil pessoas, que moravam em Moçambique – não se mostrava disposta a viver uma revolução ou sob um regime de maioria negra, onde não pudessem manter privilégios. Nesse período, de muitos conflitos entre brancos e negros nas cidades, boa parte dessa população branca abandona o país rumo a Portugal. Alguns permaneceram, mas procuraram sabotar iniciativas do regime que se instalava. Outros eram apenas suspeitos de sabotagem. A esses, sendo portugueses, era aplicada uma punição: tinham 24 horas para abandonar o país e podiam levar 20 quilos de bagagem. Essa medida ficou conhecida como o 20-24 e aconteceu com uma certa freqüência nos anos posteriores aos acordos entre a Frelimo e Portugal e após a independência, em junho de 1975. Logo após o estabelecimento dos acordos entre Portugal e a Frelimo – em 7 de setembro de 1974 – ocorreu o início de uma série de expedientes de ordem administrativa que vão dar origem ao que posteriormente vão se chamar de campos.
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ComCiência - Que expedientes foram esses?
Thomaz – A primeira coisa foi eliminar o habeas corpus. Foi criado um regime de exceção, conferindo à Frelimo ou a órgãos ligados ao regime, poderes extraordinários no tratamento de pessoas acusadas de sabotadoras, ou que teriam um comportamento moral inadequado – mulheres suspeitas de prostituição, indivíduos alcoólatras, pessoas consideradas vadias ou ligadas ao tráfico. Essas pessoas foram enviadas para o que foi chamado de campos de reeducação, pois deveriam ser re-socializadas pelo trabalho. Deveriam trabalhar na roça, que se chamam machambas e, nesse processo, deveriam aprender os princípios do marxismo-leninismo e os da construção do homem novo. Para esses campos eram levadas também pessoas consideradas suspeitas ou que teriam conexão com o antigo regime colonial, colaboradores da polícia política portuguesa, ou régulos, que eram as autoridades tradicionais atreladas ao funcionamento do Estado colonial. Também eram levados indivíduos acusados de curandeirismo e feitiçaria e os Testemunhas de Jeová. Isso porque o novo regime pretendia superar não apenas o colonialismo, mas também o obscurantismo e o tribalismo. Portanto os régulos, os curandeiros e os feiticeiros seriam representantes do obscurantismo e do tribalismo que segundo uma análise das elites da Frelimo teriam promovido, em conjunto com os portugueses, o sistema colonial fascista que tinha perdurado em Moçambique por tanto tempo.
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ComCiência – A esse processo deu-se o nome de Operação Limpeza?
Thomaz - A Operação Limpeza foi implantada ainda em 1974. Já existiam os acordos entre o Estado português e a Frelimo, mas pouca clareza sobre o futuro do país, e muitos rumores. A população branca estava muito assustada, inclusive porque ocorreram dois dias de enfrentamento violento entre brancos e negros, em Lourenço Marques, atual Maputo, nos dias 7 de setembro e 21 de outubro. Foram dias muito difíceis. No 7 de setembro há um levante branco. A população branca se organiza e dá um golpe de Estado, tentando promover uma independência branca em Moçambique. Ela fracassa, mas nesse enfrentamento ocorreram muitas mortes, sobretudo de negros, porque as milícias brancas saíam matando nas ruas. E no dia 21 de outubro, em um enfrentamento no centro da cidade, militares portugueses matam um adolescente e provocam um outro levante da população branca com a morte de negros, mas dessa vez de brancos também. Esse processo fez com que aqueles que estavam dispostos a permanecer, resolvam sair do país com medo.
Nesse processo a Frente estabeleceu novas medidas, em acordo com as tropas portuguesas, a começar pela eliminação do habeas corpus. Iniciou-se então o que eles chamam de Operação Limpeza no centro da cidade de Lourenço Marques (atual Maputo). Isso ocorreu porque havia uma percepção, por parte de Samora Machel e de parte da Frelimo, de que uma cidade colonial como Lourenço Marques era forçosamente corrupta do ponto de vista de seus costumes, ou seja, uma cidade imoral, onde a mulher seria corrompida pela prostituição, e o homem africano, pelo álcool. Lutar contra o colonialismo significava também lutar contra esse tipo de comportamento. Na Beira a coisa foi assim também. Mulheres que usavam minissaia ou pintura nos olhos eram presas acusadas de prostituição, e levadas para algum desses campos. Em 12 de novembro de 1974, dia em que se desencadeia a Operação Limpeza, cerca de 142 mulheres foram enviadas para campos não se sabe onde. Elas simplesmente foram colocadas em caminhões e levadas embora. A prisão de mulheres suspeitas de prostituição foi recorrente em anos subseqüentes. E na Operação Produção também. Uma das senhoras que eu entrevistei, que foi vítima da Operação Produção, foi acusada de prostituição por ser mãe solteira.
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ComCiência - E quantos eram esses campos de reeducação?
Thomaz - Não se sabe ao certo o número desses campos, mas tenho algumas estimativas a partir da documentação encontrada em arquivos do Departamento do Estado Americano. Calculo que, no final da década de 70, havia entre 20 mil pessoas – sem contar os 10 mil Testemunhas de Jeová – que foram enviados para a reeducação. A Operação Produção afetou entre 50 e 100 mil pessoas só na cidade de Maputo. Em Inhambane e na cidade da Beira, a Operação Produção foi marcante também. Um grande número de pessoas foi levado da cidade para os campos, sem nenhuma notificação prévia, julgamento, ou apresentação de provas. A maioria dos campos se concentrava na região do Niassa , e o Estado da Frelimo usava o termo colonização para falar dessa operação. A idéia era tirar o excesso populacional da cidade e levar para regiões vazias, mas não foi só nessa região.
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ComCiência - Mas havia outro tipo de campo também, para prisioneiros políticos.
Thomaz - Sim. Outras pessoas foram enviadas a campos de prisioneiros políticos; aqueles indivíduos, claramente inimigos do regime, que no período em que já se sinalizava a independência cometeram o grande equívoco de se aliar aos portugueses. Há uma série de lideranças africanas que vão se destacar tentando construir uma opção à Frelimo, e que serão classificados como inimigos, tais como Joana Simão e Uria Simango, entre outros. Eles foram enviados para um campo de prisioneiros no Niassa, ao Norte de Moçambique e ali morreram.
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ComCiência - A Operação Produção tinha o objetivo de reeducar os delinqüentes, ociosos, mas tinha também uma função de gerar renda para o país?
Thomaz - A idéia era essa. Existia um expediente punitivo, mas havia uma idéia de fundo de produzir para as pessoas e para o país. No campo que eu trabalhei, por exemplo, eles produziam abóbora, feijão, vários gêneros alimentícios, só que não ganhavam. Era um trabalho escravo, e as pessoas viviam em condições inaceitáveis, muitos não agüentavam. Mas temos que perceber que isso tudo acontecia em meio a um caos que se instaurava no país. O primeiro ponto é a saída dos portugueses que foi bastante complicada porque eles controlavam o aparelho produtivo e burocrático do país. Eles controlavam as escolas e tudo mais. Um exemplo que eu sempre dou é que em 1974 havia 300 maquinistas em Moçambique e desses, somente um era negro. A saída dos profissionais brancos seja médico, burocrata, professor, maquinista, gerou um caos econômico no país, que precisava ser reorganizado.
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ComCiência - Sobre o seu trabalho com as famílias seqüestradas pela Operação Produção, como eles têm vivido depois do abandono dos campos?
Thomaz - No caso da região de Inhassune, eles têm as machambas, essas roças, e graças à Dona Ester, uma senhora que tinha muita experiência em comércio, anterior à Operação Produção, eles organizaram um mercado que se tornou um entreposto de produtos onde os camponeses vendem e encontram mercadorias importantes como óleo, sabão, açúcar, sal, e produtos para sua alimentação em geral. É uma vida bastante digna, não é uma vida miserável.
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ComCiência – E eles arrendam essas roças?
Thomaz - Até hoje a questão de terras é complicada, porque não existe propriedade privada em Moçambique. As machambas comunais não existem mais, foram abandonadas e essas pessoas que ficaram, fazem uso dessas terras abandonadas, reconstruíram suas vidas em torno disso, mas a terra pertence ao Estado. O que pertence às pessoas são as benfeitorias que forem feitas na terra, o que dá direito ao usufruto dessa terra. Para promover algum tipo de desapropriação de terras seria preciso contar com um mínimo de cumplicidade, de legitimidade por parte de algum setor da população. Não é qualquer um que vai tirar a população dali. No período logo após a independência, a Frelimo gozava de imensa legitimidade. Tinha ganhado uma guerra contra uma potência colonial européia, tinha apoio e simpatia da maioria da população moçambicana e do congresso nacional. Hoje em dia, a Frelimo e o governo não contam com o apoio da comunidade internacional, de quem dependem, que são os doadores, que prestam auxílio ao país, e nem têm apoio total da própria população.
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ComCiência - Quais são as reivindicações dessas pessoas que foram raptadas, levadas para os campos de produção?
Thomaz - As reivindicações não são claras. De forma geral, querem o reconhecimento do sofrimento pelo qual passaram. Existe a idéia de que “nós sofremos, foi um sofrimento injusto”, ou seja, “fui injustamente acusado de improdutivo, quando eu não era improdutivo, durante anos eu não tive vencimento” – salário – “e agora eu não tenho reconhecimento, nem um pedido de desculpas”. É muito interessante, conversando com eles, percebemos que não queriam dinheiro, uma indenização, a casa de volta. O que eles gostariam é que o atual presidente de Moçambique, Guebuza, fosse a Inhassune e pedisse perdão, pedisse desculpas pelo que aconteceu. Imagino eu que eles espram um reconhecimento público.
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ComCiência – Essas pessoas não falam em voltar para suas casas, para as cidades de onde vieram ou foram tiradas?
Thomaz - Não, eles consideram que houve uma ruptura. Afirmam claramente que há uma vida antes e uma depois da Operação Produção. Mais de uma vez falaram: “eu não recuperei a minha vida e não vou recuperar nunca”.
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ComCiência - Eles têm medo de sofrer esse tipo de agressão novamente?
Thomaz - Têm. Isso também repetem com freqüência, que não gostariam que isso ocorresse outra vez. O que indica que acreditam que existe essa possibilidade.
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ComCiência – Qual o papel dos intelectuais no processo de libertação de Moçambique e para dar visibilidade aos problemas do país? Essas histórias sobre os seqüestros, por exemplo, chegam ao grande público?
Thomaz – Sim, essas histórias são claras, mas não há uma história oficial do país. A Frelimo se nega a dar qualquer depoimento sobre a morte dos líderes políticos, mas não se tem um silêncio da parte do Estado. Algumas vezes eles fazem referência às lideranças. Mas todo mundo fala, a população comenta o tempo todo. E os intelectuais viveram esse período. No final da década de 80, o editor do principal jornal do país, Notícia, era o Mia Couto. Mas cuidado! Temos que entender que a Frelimo não é um bloco. Dentro do partido havia tendências, oposições, como hoje. Havia pessoas que olhavam a Operação Produção com verdadeiro horror. Há uma concentração de movimentos literários em Moçambique e essa intelectualidade nasce comprometida com a produção do país. Até hoje o compromisso deles – escritores, poetas, professores universitários – com o país é uma coisa extraordinária. Com maior ou menor encanto. Muitos sonharam que a revolução promoveria o fim da pobreza, e isso não aconteceu, o que gerou uma certa amargura. Mas se vê uma ligação muito forte dos intelectuais com toda a história do país.
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ComCiência - Você diria que Moçambique é um país democrático?
Thomaz – O país tem uma imprensa livre, muito mais livre que muitos outros países, comparável à África do Sul. Tem uma universidade livre também, onde é possível discutir praticamente todos os problemas com bastante liberdade, tem livre circulação, as pessoas podem sair e voltar. Tem eleições periódicas, que são mais ou menos honestas. O que não significa que não tenha conflitos, que não haja corrupção, crimes políticos. A questão é até onde chegam as instituições. A esmagadora maioria da população está no campo, não tem acesso a benfeitorias como água, luz. Para essas pessoas a palavra democracia não faz o menor sentido.
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ComCiência – Essa é uma história da África que deveria constar do ensino que se propõe para o Brasil?
Thomaz - O ensino da história da África é obrigatório hoje no Brasil, em diferentes níveis de ensino o que exige um esforço historiográfico sério, o que implica incorporar o trabalho de autores africanos e africanistas que estão trabalhando seriamente para recuperar uma história recente. Acho que temos que tomar cuidado no sentido de tratar apenas de uma África mitológica. Podemos tratar disso também, e é legítimo que os movimentos negros reivindiquem uma África mitológica. Mas, existe uma lei que tem que ser levada a sério e isso quer dizer não tentar fazer uma história de mocinho e bandido. A história da África é complicada, como de qualquer outro contexto. E não tem uma história da África, são histórias da África, são histórias nacionais e também regionais.
Por Simone Pallone In Com Ciência - SBPC/Labjor - Aqui !

4/02/08

Beira - Cidade do sexo ?...

(imagem original recolhida na net)
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Prostituição - a mais velha profissão do mundo, assim falam !
E, em Moçambique também existe atravessando em todas as suas nuances o período colonial e a violência da guerra de libertação chegando com acentuado realce e sofisticação aos dias atuais onde grupos de ralcionamento virtual na internet, como por exemplo "Orkut" e "Hi5" servem disfarçadamente de "vitrine" ou "portfólio". Moçambique não foge à regra como consequência de uma sociedade desiquilibrada, injusta, de padrões éticos confusos onde os valores materiais e consumistas se sobrepôem à moral e ao princípio/conceito de Família. Similar afinal a outros pontos desta orbe globalizada, instável, repleta de progressos científicos mas também de problemas crescentes e violentos em todo o sentido... ...
Assim, porque se trata de Moçambique, com foco na Beira (segunda cidade Moçambicana em importância económica e populacional), aqui transcrevo itens de reportagem do dia 7 de março último, do jornal diário "Notícias" - Maputo, onde poderemos "vivenciar" como se desenvolve essa atividade que depaupera, empobrece a sociedade e a mulher pelo mundo afora e, neste caso, de Moçambique:
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PROSTITUTAS DE "LUXO" GANHAM ESPAÇO NA BEIRA.
U
m novo cenário vive-se na capital provincial de Sofala, Beira, com as chamadas prostitutas de luxo a ganharem espaço naquela urbe. Trata-se de um número considerável de trabalhadoras de sexo que andam em viaturas de último grito, como são os casos dos famosos Toyota Surf, Mitsubish Sport Gear, entre outras de tracção às quatro rodas. Estas frequentam restaurantes de alta classe sofisticando a profissão mais antiga do mundo. Ainda aliado a este grupo, pode-se encontrar estudantes universitárias que fazem desta prática o garante para pagar as luxuosas mensalidades e outras necessidades em estabelecimentos de ensino superior privados existentes no "Chiveve".
A maior parte dos elementos deste grupo vivem sozinhas em "flats" luxuosas de diferentes prédios da cidade da Beira. Não frequentam pensões, muito menos os famosos cabarés daquela urbe. São raparigas que vivem sempre na moda, facto que dificulta a qualquer um descobrir que se trata de uma trabalhadora de sexo. Num belo dia, o articulista destas linhas esteve num destes luxuosos restaurantes da cidade da Beira. Era um reencontro de amigos que não se viam há longa data. Naquela confraternização, de repente, entrou uma senhora que aparentava possuir 30 anos, com sensivelmente um metro e 70 centímetros, olhos castanhos-escuros, cabelos desfrisados, sapatos altos (bico fino) e um vestido moderno bem comprido, à executiva. E acabou se sentando numa mesa próxima à nossa, o que ainda não era algum problema. "Um duplo de wiskey velho, por favor! Mas tem que ser seco. Rápido" - imperou em voz alta, despertando atenção de todos os presentes. E, de seguida, foi consumindo aquele líquido por muito tempo, como se alguém de espionagem se tratasse, numa clara tentativa de estudar o terreno e descobrir quem é que era o "manda chuva da noite". Curiosamente, a rapariga orientou ao servente para que entregasse uma "rodada" aos principais contribuintes da nossa mesa e uma outra próxima. "Esta é na conta daquela senhorita" - disse, carinhosamente, o "barman". E, em contrapartida, os supostos sortudos reagiram, primeiro com agradecimentos verbais, depois pagando, um de cada vez, duplo de wiskey para a visada. De seguida, a menina se juntou à mesa próxima da nossa. E para sossegar a minha curiosidade, tive uma conversa particular com o servente, tendo este clarificado que "esta é uma prostituta de luxo. Faz isso sempre. São muitas, outra é aquela sentada sozinha na mesa do fundo" - disse. Dito e feito, um dos elementos da mesa próxima, por sinal, o que foi presenteado com uma bebida, acabou recebendo um convite para um passeio de carro à cidade. Era um Toyota Surf, de cor vermelha, cuja matrícula não precisamos. Mas relatos do visado dão conta que, depois foi levado para uma residência luxuosa, no centro da capital provincial de Sofala. Conta-nos que a taxa varia de mil a cinco mil meticais, com direito a bebida e/ou um jantar. Quer dizer, o preço é proporcional ao tempo que levar, o que significa que pernoitar na referida moradia dá direito a um valor mais alto.
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... E ANDAM ARMADAS.
U
ma delas chegou a confessar à nossa Reportagem que, em média, consegue arrecadar seis mil meticais/dia. Quartas-feiras e finais de semana o valor conseguido sobe um pouco mais, chegando, às vezes, a obter 10 mil meticais, um dinheiro que pode superar o salário mensal base de um bacharel no Aparelho do Estado. Mas nem sempre tem sido um mar de rosas, porque, vezes há em que o cliente não aceita, à última hora, pagar tal montante. E para evitar situações do género, usa-se o sistema pré-pago. Só que nem isso tem sido solução, porque alguns clientes são oportunistas e/ou consumidores de droga que, no final, fazem ameaças e a trabalhadora acaba cedendo, devolvendo o valor. Para tal, já existem "prostitutas de luxo" que andam armadas. "Há muitos homens bandidos hoje em dia. Mas quem brincar comigo desta maneira estoiro os miolos com a minha pistola" - referiu A. Martinho. Todas as prostitutas de luxo que já abordamos têm sempre uma história triste por contar para justificar a sua entrada naquela "turma". A. Martinho, por exemplo, conta que teve uma infância dolorosa. Vivia com o seu pai e uma madrasta que procurava a todo o custo provar que a menina roubava dinheiro em sua própria casa. Este facto fez com que passasse a viver num centro internato com o estatuto de órfã, mas que tinha um pai capaz de dar um leito de luxo. Mas não foi bem sucedida na escola, tendo feito apenas a oitava classe. Decidiu, portanto, fazer negócios para a sua sobrevivência. Transportava camarão da Beira para o Zimbabwe e da "terra do tio Mugas" trazia cartolinas, só que foi "sol de pouca dura". Hoje, a A. Martinho preferiu prostituir-se para garantir o seu sustento. O mesmo pode-se dizer de B. António que diz que já esteve casada com um homem financeiramente estável, só que perdeu a vida muito cedo, vítima de acidente de viação e os familiares do finado retiraram-lhe todos os bens sob alegação de que a viúva é que teria orquestrado a morte. "Acusaram-me de feiticeira, por isso tiraram tudo o que tínhamos. Como não estudei muito, preferi optar por esta vida bastante dura, mas rentável" - ajuntou, mas visivelmente triste. Disse que antes frequentava as famosas pensões da cidade que servem de prostíbulo. Mas agora, porque já conseguiu uma viatura, aluga uma "flat" de onde desenvolve a sua "profissão", aumentando, assim, o número de prostitutas de "luxo" na cidade da Beira. "Agora não é rentável em pensões porque as zimbabweanas invadiram tudo. Esta forma de prostituir é que está a dar, também o esforço é menor e o dinheiro é elevado"- sublinhou, sorrindo.
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COM DROGA À MISTURA.
As trabalhadoras de sexo não só se limitam a este exercício, como também têm-se dedicado à venda de drogas pesadas. As mesmas servem de receptoras de drogas a partir de vários pontos e têm estado a comercializar nos estabelecimentos hoteleiros e/ou em diferentes casas de pasto de luxo, sobretudo onde frequentam cidadãos de nacionalidade estrangeira com um poder financeiro considerado estável. A nossa reportagem ficou a saber que a entrada de muitos estrangeiros da África do norte e/ou central, como são os casos de nigerianos, líbios e somalis, tem vindo de alguma maneira a fazer do "Chiveve" um forte corredor de drogas. Contam as nossas fontes que eles usam as trabalhadoras de sexo para transaccionar as drogas pesadas, como são os casos de haxixe, mandrax, heroína, entre outras. "Acha que algum polícia vai desconfiar de uma mulher bem vestida? Certamente que não. Nestas nossas bolsas transportamos muitas coisas. Para além de objectos de beleza, capulana, lenços, também as drogas podem aqui entrar" - disse, para depois sossegar o nosso repórter dizendo que "mas eu não faço. Só que tenho muitas amigas envolvidas nisto. Mas não vou te mostrar, porque em vocês jornalistas não podemos confiar. Vamos mudar já de assunto"(sorriu).
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PARQUES DE ESTACIONAMENTO DE VIATURAS VIRAM PROSTÍBULOS.
E
ntretanto, falar de zimbabweanas que vêm prostituir na cidade da Beira deixou de ser novidade, mas acontece que estas já estão em número bastante assustador sob olhar passivo de quem de direito. Ao que se sabe, de dia, as visadas vendem produtos trazidos da "terra do tio Mugas", mas nas noites muitas delas inundam as pensões transformadas em prostíbulos no "Chiveve". A famosa zona da Praia Nova é um dos locais preferidos. Ali frequentam as que cobram preços relativamente baixos que variam de 15 a 30 meticais. Enquanto que na zona de cimento, sobretudo nos prostíbulos dos bairros de Maquinino e Chaimite, as taxas vão de 50 a 250 meticais, dependendo do dia da semana e/ou horas. Às quarta e sexta- feiras, bem como nos finais de semana são os dias que a procura é maior e os preços são também altos. Uma famosa pensão localizada nas proximidades da zona da terminal de transportes semicolectivo de passageiros é onde mais casos notáveis acontecem. Nas sextas-feiras, os frequentadores chegam a fazer bichas para terem acesso a um quarto para tal prática, que custa 50 meticais/hora. Pelo facto um novo cenário se vive. Trata-se do recurso aos parques de estacionamento de viaturas e cantinas, cujos guardas procuram ganhar algum dinheiro facilitando aos interessados algumas horas. Aí a taxa de pagamento do local varia de 10 a 20 meticais/hora. Ali as trabalhadoras de sexo ficam mais à vontade porque os guardas destes locais acabam tendo a missão de protegê-las para evitar que haja algum escândalo que poderá causar desemprego aos visados. E, ao que tudo indica, o negócio está a ganhar corpo.
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OPORTUNISMO DOS POLÍCIAS.
Apesar deste negócio estar a ser rentável para os guardas que, regra geral, os seus salários não são grande coisa, nem sempre a vida tem sido fácil tanto para eles como para as trabalhadoras de sexo. Sabe-se, no entanto, que maior parte das zimbabwanas que frequentam tais locais entraram no nosso país ilegalmente, facto que tem criado espaço para alguns agentes da lei e ordem oportunistas. A nossa Reportagem testemunhou num dia um cenário triste, com os vulgo "cinzentinhos" a simularem uma vasculha num dos parques de estacionamento localizado nas proximidades da Messe da Polícia. Todas as zimbabweanas que estavam no local foram recolhidas, mas sabido que elas estavam ilegalmente tinham que pagar algum valor para se safarem. Não tem sido raras vezes ver agentes da polícia fardados a forçarem zimbabwenas a pagar um "copo" e/ou cobrar valores monetários nestes locais. Relatos há de polícias que frequentam tais sítios sem pagar a suposta taxa de uso do parque de estacionamento e mesmo valor para a trabalhadora do sexo sob pretexto de levar a visada à esquadra. "Estamos mal aqui. Às vezes estes polícias cobram-nos dinheiro e nós não podemos negar porque vão nos prender. Nós estamos contra que os polícias frequentem aqui, mas devem pagar-nos como acontece com outros homens que procuraram pelos nossos serviços" - J. Paticai, que falava em Shona.
- Eduardo Sixpence - Maputo, Sexta-Feira, 7 de Março de 2008:: Notícias

3/25/08

Ecos da imprensa moçambicana - Cerca de 60% das famílias moçambicanas sem habitação condigna.

Maputo - Ano XII-Nº 2788-Terça-feira, 25/Março/2008
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1.020 MIL FAMÍLIAS VIVEM EM BAIRROS DESORDENADOS.

O Ministério de Planificação e Desenvolvimento (MPD) estima que cerca de 60% de famílias moçambicanas não têm habitação condigna, vivendo em casas feitas com material de construção precário, nomeadamente pau a pique e caniço. No global, a gritante falta de habitação está a afectar perto de 1.3 milhão de famílias moçambicanas, o correspondente a uma população de 6.8 milhões de pessoas, de acordo com um estudo elaborado por José Forjaz, docente da Faculdade de Planea- mento Físico da Universidade Eduardo Mondlane que acrescenta que o problema fica a dever-se ao contínuo crescimento da população moçambicana estimado em cerca de 74.700 famílias/ano. A população urbana é aquela que mais se ressente da falta de habitação, água potável, energia eléctrica, saneamento do meio e segurança física, segundo ainda resultados do estudo realizado por aquele arquitecto que realça o facto de cerca de 1.020 mil famílias encontrarem-se ainda a viver nos bairros desordenados dos 12 centros urbanos moçambicanos. Para a minimização da carência de habitação, aquela fonte documental conclui serem necessários, pelo menos, cerca de 590 milhões de dólares norte-americanos, valor destinado para se providenciar melhores infra-estruturas básicas para Educação, Saúde, água potável, entre outros serviços. De referir que os dados foram apresentados pelo Ministério de Planificação e Desenvolvimento durante a sétima sessão do Observatório de Desenvolvimento, encontro que decorreu semana passada, em Maputo.
J. Ubisse - C. M.

2/09/08

Banco de Dados - Armando Guebuza: de marxista a empresário...

Para que se anote e, segundo Sabrina Hassanali do "Correio da Manhã" de hoje - 09/02/2008:
Ministro 24-20’.
É assim que muitos portugueses o recordam.
Quando assumiu a pasta da Administração Interna, no primeiro governo pós-independência liderado por Samora Machel, uma das suas primeiras medidas foi a expulsão de portugueses.
Ordenou-lhes que abandonassem a terra em que nasceram ou que adoptaram como sua em apenas 24 horas e juntassem todos os pertences acumulados durante uma vida de trabalho nuns parcos 20 quilos de bagagem.
Hoje, enquanto presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza parece ter substituído o radicalismo feroz do passado pelo pragmatismo e acolhe bem, inclusivamente, o regresso daqueles que partiram forçados porque afinal uma nação emergente precisa de todos para crescer e sair da lista dos mais pobres.
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A ordem de expulsão de portugueses não foi a única mancha no seu vasto currículo político.
Pertencente ao núcleo duro do partido, convenceu o moderado presidente Machel a adoptar políticas radicais, de má memória para muitos moçambicanos.
Foi o caso do impopular programa ‘Operação Produção’, que consistia em enviar desempregados das áreas urbanas e os que eram apanhados sem documentos em rusgas nocturnas para zonas rurais no Norte do país, onde nasceu.
A maioria dos que foram integrados neste polémico programa nunca chegaria a regressar e muitos viriam a morrer de fome.
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‘GUEBUSINESS’
Quando o regime renunciou ao marxismo-leninismo para abraçar a economia de mercado e o multipartidarismo, Guebuza enterrou o passado marxista e mergulhou no mundo dos negócios tornando-se um empresário de sucesso.
A lista de negócios em que se tem envolvido é tão longa – desde turismo à construção civil, passando por importações-exportações, gráfica e até imprensa – que ganhou a alcunha de ‘Guebusiness’.
Os seus críticos afirmam que se tornou no maior representante do capitalismo emergente e questionam o seu enriquecimento.
Numa entrevista, quando lhe perguntaram como o tinha conseguido, respondeu orgulhoso: “Ganhei dinheiro com a criação de patos.”
Os seus negócios não o afastaram da carreira política.
Em 2002 conseguiu ser eleito secretário-geral do partido, abrindo caminho para a ambicionada candidatura à presidência.
Quando assumiu a chefia de Estado, em 2005, prometeu continuar com a política económica do seu antecessor e combater a pobreza, a corrupção, a criminalidade e a burocracia.
Três anos volvidos ainda pouco conseguiu cumprir do que prometeu.
É inquestionável que tem implementado reformas e que reforçou a recuperação económica, atraindo novos investimentos.
Conseguiu também uma taxa de crescimento extraordinária que lhe tem valido louvores de instituições financeiras internacionais.
Mas especialistas alertam que este megacrescimento económico assenta demasiado em megaprojectos, que não têm grande impacto social e pouco contribuem para reduzir a pobreza.
De acordo com a ONU, 40% dos moçambicanos vivem com menos do equivalente a um dólar por dia.
E esta situação tem gerado tensões sociais, como os recentes protestos contra o aumento dos transportes.
O combate à corrupção também não está a correr muito bem.
Ela persiste nas instituições e nem um caso foi levado à Justiça, cuja saúde inspira igualmente cuidados.
Guebuza tem um árduo trabalho pela frente, mas há que lhe dar o crédito de ter sabido ser o garante da democracia e também da estabilidade, crucial para os investidores.
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LÍDER SINDICAL
Filho de um enfermeiro, Armando Emílio Guebuza nasceu em Murrupula, na província de Nampula, a 20 de Janeiro de 1943 (65 anos).
Cedo se envolveu na política.
Aos 20 anos era presidente do sindicato estudantil criado por Eduardo Mondlane, líder da independência, e juntou-se à Frelimo.
No ano seguinte foi estudar para a Ucrânia.
Ocupou altos cargos governamentais antes de assumir a chefia de Estado, em 2005.
É casado e tem quatro filhos.
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MAIS SORRIDENTE
Armando Guebuza tem sido muitas vezes criticado pelos seus conterrâneos por ser taciturno e demasiado formal no contacto com o povo.
De facto, não era muito fácil vê-lo distribuir sorrisos.
Mas os mais atentos têm vindo a notar uma mudança que, segundo algumas fontes bem informadas, se deve a conselheiros apostados em fazer passar uma imagem afável do presidente moçambicano.
Note-se que a sua mulher, Maria da Luz, é, em contrapartida, uma pessoa comunicativa e de trato simpático. Características que a têm ajudado na campanha contra a sida, em que se tem empenhado activamente.
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APOIO TOTAL AO INVESTIMENTO CHINÊS
O maciço investimento chinês em África, incluindo Moçambique, tem suscitado preocupações não só por parte dos moçambicanos, como também por parte dos parceiros ocidentais, incluindo o maior deles, a UE.
A questão chegou a ser levantada na cimeira UE-África, que decorreu no ano passado em Lisboa e, nessa altura, o presidente moçambicano deixou claro que o investimento chinês continuará a ser bem acolhido e que os africanos sabem o que fazem.
“Vejo África como continente independente, maduro e responsável. Assim sendo, quando África entra em negociações e faz acordos com outras entidades, fá-lo enquanto um parceiro maduro”, declarou.
A China tem investimentos de Norte a Sul de Moçambique em áreas como a construção e a reconstrução de infra-estruturas, exploração de minerais, como cobre e carvão, ou a produção de alumínio.
Recentemente, a imprensa local denunciou abusos cometidos por empresas chinesas, nomeadamente o abate ilegal de madeira no Norte do país.

Cabo Delgado - Tráfico humano ocorre perante a apatia das autoridades moçambicanas...2

Segundo o Pedro Nacuo no Notícias - Maputo desta manhã de sábado:
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No penúltimo dia do mês passado, a imprensa foi convocada para uma conferência, na Rua de Chai, linha divisória entre os bairros de Natite e de Cariacó, na cidade de Pemba, onde se localiza a sede provincial da Renamo.
Na véspera já sabíamos do que se iria tratar, nomeadamente a apresentação de uma pessoa que havia sido supostamente raptada por desconhecidos.
Este facto, com condimentos e requintes que estariam a abonar a versão de que ainda se registava o desaparecimento de pessoas no norte da província de Cabo Delgado, no seguimento de uma denúncia feita pelo mesmo partido no ano passado, mobilizou muito rapidamente os jornalistas, sem aquela “gazeta” de alguns colegas que tivessem conhecimento do sucedido.
É que, se diga em abono da verdade, naquela sede colhem-se muitas vezes boas verdades!
No ano passado, com efeito, insistentemente a Renamo havia falado desse fenómeno e o Governo, também insistentemente, a negar, mas aquele a negar de que tinha sido a Renamo a saber primeiro e a denunciar.
Passaram exactamente seis meses, veio depois o Executivo, disfarçadamente a dar razão à Renamo.
Era verdade, havia mortes estranhas, desaparecimento de pessoas para fins obscuros, havia crimes macabros sobre os quais até hoje ninguém sabe dizer nada em relação às suas motivações.
O provérbio macua, segundo o qual “muathó kaniípa inahco mili” (o leão não ruge em duas montanhas), simplesmente porque da segunda já está próximo de si, pelo que convém acautelar-se, parece ter pegado desta feita.
Momade Hamade, que no dia 29 de Janeiro foi presente a jornalistas, por muitas vezes foi infeliz na tentativa de sustentar o seu rapto, na vila de Mocímboa da Praia, numa noite de luar, por homens desconhecidos que o levaram a uma viatura, que normalmente circula por lá, que depois o levou a um acampamento situado entre aquele distrito e Palma, perto da costa.
Hamade viu no acampamento cerca de 20 pessoas, entre as quais meninas e jovens, havia dois brancos, guardas que se comunicavam com gestos, dois o faziam na língua de Camões, mas com um sotaque shangana, de quem ouviu que naquela noite se estava à espera de um helicóptero, pois a missão havia sido cumprida.
Os brancos que estariam a dirigir o acampamento tinham um telefone portátil, grande, com uma antena e perguntaram a Hamade se tinha em mente um número de um familiar com quem quisesse falar pela última vez.
Ele respondeu positivamente.
Ligaram para o tio do homem raptado, Hamade conversou com o tio e terá depois sentido que de facto estava na boca de quem não o haveria de devolver nunca.
Mentiu que queria satisfazer alguma necessidade biológica, foi autorizado, sem ser vigiado pelos guardas que ali haviam e consegue escapulir-se indo percorrer, de novo a mata até que, dia seguinte, se fez, de novo à vila de Mocímboa da Praia onde se apresenta ao comandante da Polícia a quem conta a história da sua efémera, mas horrível odisseia. O chefe dos polícias é que terá sido negligente, pois só disse ao homem que da próxima que visse a viatura que dizia ter-lhe raptado ligasse para o seu telemóvel. Passou-lhe o número.
Jovem, estatura mediana, com traços psicológicos que sugerem tratar-se de quem andou o suficiente na região norte, Momade Hamade deveria, a seguir, responder às perguntas dos jornalistas, a tremerem de sangue quente profissional por terem conhecido uma “bomba”, a partir de um homem concreto que acabava de escapar de um rapto certo.
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Primeira pergunta: se conseguiu, numa situação de aflição, lembrar-se do número do telefone do tio, com que falou para se despedir, usando um aparelho grande, com antena, pertencente aos brancos, pode-nos dizer o nome dele e repetir o número, por favor, já em liberdade, entre pessoas que conhece.
Resposta: o número... mas não me lembro bem, mas é 58911 e ele chama-se Ussene Assamo.
Cá entre nós e interiormente: esse número não existe, nem na telefonia fixa, nem em qualquer outro país, muito menos um telemóvel de que se diz estar em Mocímboa da Praia.
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Segunda pergunta: donde és e onde vives na Mocímboa da Praia?
Resposta: Estou na Mocímboa da Praia há dois anos, antes vivera em Nacala e sou daqui de Pemba, aqui, perto do mercado, neste Bairro de Namutequelíua.
Cá entre nós e interiormente: esta cara é por demais desconhecida, e uma pessoa que diz ser natural de Pemba, acha que o bairro que fica perto do mercado de Mbanguia se chama Namutequelíua... então estamos em Nampula!
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Terceira pergunta: O comandante distrital, segundo diz, passou-lhe um número para usar quando visse de novo a viatura que lhe raptou.
Qual é o número do comandante em Mocímboa da Praia?
Resposta: O número deixei no papel por ele passado, que está na calça que tinha usado nesse dia.
Nós outros acabamos por aí.
Há vezes que a preguiça (será?) nos aconselha a terminar por algum ponto, sobretudo depois que descobrimos que as questões-chave não estão a ser satisfeitas.
Arruma-se e vai-se à procura de outros assuntos. Até que haja novos desenvolvimentos.
Novos desenvolvimentos são: que o próprio tio já está, conforme fontes oficiais, a confessar a manipulação. Com que fins, não se sabe, mas sabe-se, isso sim, que a notícia deixou alguns investidores, sobretudo ligados à prospecção de petróleo na região, atrapalhados e outros tiveram que, às correrias, regressar onde achavam que estariam seguros.
Que o suposto rapto desestabilizou, não haja dúvidas.
Esperamos por novos desenvolvimentos.
Pedro Nacuo
  • Cabo Delgado - Tráfico humano ocorre perante a apatia das autoridades moçambicanas, parte 1 - aqui !

2/03/08

Cabo Delgado - Tráfico humano ocorre perante a apatia das autoridades moçambicanas...

Por: Fernando Sidumo - Maputo - Diário do País - Um moçambicano que se dá pelo nome de Momed Ahmad acusa um grupo de 10 estrangeiros, entre originários dos países do Ocidente e da África, de o terem raptado, a 23 de Janeiro de 2008, para um acampamento com tendas de campanha montadas no mato, algures no distrito da Mocímboa da Praia, na província nortenha de Cabo Delgado.
Já no local, Ahmad diz ter encontrado um contigente de pouco mais de 20 pessoas, supostamente moçambicanos também feitos reféns dos raptores e lhe deram tempo para fazer uma última comunicação via telefone com um seu familiar, dizendo algo que ia na alma.
Depois de se comunicar com um seu tio, o raptado cidadão pediu para ser acompanhado para fazer necessidades fora do acampamento, ao que lhe foi autorizado e aproveitando-se da distraição dos que o acompanhavam e também da escuridão, pôs-se em fuga de regresso à vila sede do distrito da Mocímboa da Praia onde tratou de comunicar à Polícia da República de Moçambique (PRM) da ocorrência. Momed Ahmad disse ter a PRM apenas se limitado a tomar nota da ocorrência e aconselhá-lo a identificar o grupo às autoridades policiais logo que se deparar com o mesmo.
Inconformado com o comportamento da PRM, Ahmad diz, falando ao jornal que se dirigiu a Pemba para denunciar o sucedido, iniciativa que também resultou num fracasso, “pois ali também os agentes só me ouviram e mais nada fizeram”.
Momad Ahmed desconfia que o grupo seja de traficantes de pessoas para extração dos seus órgãos humanos ou para venda dos raptados nos países vizinhos.