2/07/07

Moçambique - Movimento "Amigos das Florestas".


Um conjuntos de cidadãos, provenientes dos mais diversos sectores da sociedade, preocupados com a situação de desflorestamento em curso no país, reuniu-se recentemente na cidade de Maputo, tendo tomado a decisão de unir esforços para, no próximo dia 21 de Março de 2007, organizar e realizar uma Marcha Comemorativa do Dia Internacional das Florestas, criando ainda aquele que será adiante designado como movimento "Amigos das Florestas".
Trata-se de uma forma de apelar à suspensão imediata do abate indiscriminado das florestas moçambicanas, exigindo, em alternativa, uma gestão sustentável dos recursos florestais.
Como se sabe, após dados tornados públicos recentemente, as nossas florestas estão a conhecer um ritmo imparável e assustador de destruição, conduzindo ao pior dos cenários num futuro que se receia bem próximo: um país sem floresta, tal como aliás já aconteceu em algumas nações africanas - Gana, Nigéria e Costa do Marfim.
A nossa madeira está a ser exportada a preço muito baixo para a China, sem que haja lugar a qualquer tipo de processamento, havendo lugar à violação de uma série de diplomas legais.
Há fortes indícios de práticas de corrupção por parte de alguns funcionários do Aparelho do Estado, bem como de operadores privados, nacionais e estrangeiros.
Mesmo os casos em que a exploração está a ser realizada nos termos do regime de concessão florestal, as notícias não são em nada animadoras, pois os concessionários, regra geral, actuam como os titulares de licença simples: cortam, procedem a um pseudo-florestamento para ingles ver, não instalam qualquer industria de processamento, não cumprem planos de maneio.
Para a província da Zambézia, por exemplo, calcula-se que dentro de 5 a 10 anos já não haverá floresta.
Para além deste caso, há registo de ilegalidades a ter lugar nas províncias de Cabo Delgado, Sofala, Nampula, Tete e Manica.
Nem as florestas sagradas das comunidades escapam.
A nossa madeira está a sair via porto (opção oficial), mas também clandestinamente, através, por exemplo, do rio Rovuma em direcção à Tanzania (opção não oficial).
Vigora a política do "corte e foge", pouco ou nada fica para as comunidades locais (salvo honrosas excepções), pouco fica para o país (muito mais ganharíamos se fizessemos uma gestão sustentável das florestas - teríamos desenvolvimento económico, desenvolvimento social e protecção do ambiente, os três pilares do desenvolvimento sustentável) e muito ganham aqueles que compram (a nossa madeira é processada na China, gerando postos de trabalho, e reexportada para diversos locais do mundo, gerando receitas bastante significativas).
Se nada fizermos de imediato, corremos o risco de vir a assistir às inúmeras consequencias de semelhante inércia: erosão, perda de biodiversidade, desertificação, alteração da hidrologia, alterações climáticas, etc.
Em termos conclusivos, o nosso comportamento está, directa ou indirectamente, a contribuir para a geração de mais pobreza absoluta.
Há que fazer qualquer coisa!
Por isso junte-se a nós, partilhando ideias, reenviando a informação, consciencializando o próximo e mobilizando toda e qualquer pessoa que queira viver num país com florestas protegidas.

Carlos Serra, jurista, membro fundador da Justiça Ambiental (Amigos das Florestas)

2/05/07

ÁFRICA - Disparidade tecnológica aumenta.


As conexões de banda larga com a Internet na África devem mais que duplicar até 2011, mas o continente está ficando ainda mais para trás do restante do mundo, porque os governos não estão promovendo a abertura de mercados e a redução de custos do setor.
As conexões de Internet de alta velocidade na África, incluindo DSL, WiMax e tecnologias sem fio como a telefonia móvel 3G, provavelmente chegarão à marca dos sete milhões até 2011, ante três milhões atualmente, de acordo com um recente relatório do grupo sul-africano de pesquisa BMI-TechKnowledge.
Esse total se compara a quase 70 milhões de conexões banda larga já instaladas na União Européia.
A disparidade significa que os serviços de banda larga continuarão inacessíveis para a maioria dos africanos, o que provavelmente limitará o investimento estrangeiro no setor.
"A África ficou muito para trás do restante do mundo, e parece que a disparidade só aumentará, a menos que alguma coisa seja feita", disse à Reuters Richard Hurst, co-autor do relatório e analista de telecomunicações na BMI.
Menos de um por cento dos africanos têm acesso a serviços de banda larga, devido a uma falta de conectividade internacional e a monopólios complexos, ante 22% dos norte-americanos e 30% dos europeus ocidentais, segundo Hurst. Mais de três quartos das conexões africanas de Internet são discadas.
Os norte-africanos são o grupo mais familiarizado com a Internet, no continente, porque os governos da região liberalizaram os setores de telecomunicações, enquanto os provedores de acesso à Internet têm acesso a diversos cabos submarinos de telecomunicações, graças à proximidade entre a região e a Europa.
Mas na África Oriental, a banda larga é virtualmente inexistente, porque não há cabo submarino que ligue a região ao resto do mundo, o que força os provedores locais a depender de conexões via satélite, dispendiosas e pouco confiáveis.
Os países da África Oriental deveriam estar construindo um cabo submarino, mas o projeto está paralisado. Embora outras empresas, entre as quais a indiana Reliance Communications, tenham expressado interesse em instalar um sistema rival de cabos, o projeto deve demorar.

Reuters - In Terra

2/04/07

ÁFRICA - A invasão chineza...


Empresas brasileiras sofrem mais um golpe das concorrentes chinesas -- desta vez na África.
Por Malu Gaspar
EXAME -Durante muito tempo, o continente africano foi fonte de lucros e oportunidades para um seleto grupo de companhias brasileiras.
Para algumas delas, a África era uma espécie de quintal onde podiam fazer seus negócios com facilidade graças ao desinteresse de concorrentes do mundo desenvolvido pela região, muito pobre e dilacerada por guerras fratricidas.
Acostumadas a operar em meio ao subdesenvolvimento, gigantes como Odebrecht, Petrobras, Marcopolo e Vale do Rio Doce realizaram boa parte de seu processo de internacionalização em países africanos nas décadas de 80 e 90.
Para a infelicidade dessas empresas, porém, esse cenário de tranqüilidade faz parte do passado. Nos últimos meses, elas vêm colhendo sinais alarmantes de que uma ameaça poderosa está invadindo o "quintal": os chineses, com seu apetite insaciável por petróleo e demais commodities.
Com generosas ofertas de financiamento concedidas por Pequim, as empresas da China estão ampliando rapidamente seu acesso às reservas africanas.
E começam a levar a melhor em negócios que antes não escapavam aos pesos pesados do Brasil.
Uma das primeiras a se dar conta da nova realidade foi a Odebrecht, que está na África desde a década de 80.
Dona de contratos importantes em Angola, como as obras da hidrelétrica de Capanda, a Odebrecht vinha propondo ao governo do país a reforma do aeroporto da capital, Luanda, desde 2004.
Em meados de 2005, após a China anunciar um empréstimo de 2 bilhões de dólares para a reconstrução da infra-estrutura de Angola, a empreiteira descobriu que a idéia da reforma havia sido sepultada.
Os recursos emprestados só poderiam ser gastos com empresas chinesas, e elas faziam questão de construir um aeroporto novo.
O pacote incluiu ainda a reconstrução de três ferrovias e várias obras menores.
"Os chineses fizeram barba, cabelo e bigode", diz Humberto Rangel, diretor de novos negócios da Odebrecht Angola.
Em junho passado, foi a vez de a Vale amargar uma derrota que a fez reavaliar seus planos para o Gabão, também na África.
Depois de investir 15 milhões de dólares no país, a empresa perdeu para os chineses a disputa pelo direito de explorar a mina de ferro de Belinga, tida como a maior jazida inexplorada do mundo, com potencial para 1 bilhão de toneladas.
Os chineses se dispuseram a gastar 3 bilhões de dólares em infra-estrutura e a comprar toda a produção da mina.
Meses antes, os governos chinês e gabonês assinaram vários acordos bilaterais, prevendo desde empréstimos em troca de óleo até cooperação técnica para desenvolvimento da pesca.
Além da abundância de capital, a mão-de-obra barata chinesa entra algumas vezes como parte da negociação -- o que torna o pacote imbatível.
Segundo o diretor de uma empreiteira brasileira, os preços chineses chegam a ser 30% mais baixos.
Como não há estatísticas confiáveis, as estimativas acerca do número de trabalhadores chineses na África variam muito -- de 10 000 a 80 000.
Muitos desses operários são levados de navio.
"Os navios chineses atracam na costa e ficam lá enquanto durar a obra", diz Ronaldo Chaer, da Câmara de Comércio Brasil-Angola, que visita o país regularmente.
O avanço chinês alimenta lendas urbanas, como a de que os operários levados à África são, na verdade, prisioneiros.
Também há quem acredite na existência do esquema da "cama quente", em que o mesmo leito é ocupado duas vezes ao dia por operários que fazem turnos alternados de 12 horas.
A África não é a primeira região do planeta a sofrer a ofensiva da China.
Há algum tempo, indústrias de países ricos e pobres passam dificuldades por causa da concorrência de produtos chineses.
A diferença é que essa "invasão" está mais sofisticada.
Nesse novo tipo de ofensiva, os chineses emprestam dinheiro barato em troca de acesso ao subsolo e de bons contratos de obras públicas para suas próprias empresas.
Também conta a favor o imenso peso geopolítico da China, um dos cinco países do mundo a deter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU -- apoio particularmente valorizado por países em risco de sofrer sanções internacionais.
Foi essa combinação que garantiu às empresas chinesas uma posição de destaque no Irã.
Entre as obras feitas no país está a conclusão do metrô de Teerã, iniciado por uma empresa francesa e concluído pelos chineses.
O Irã, que vive às turras com os americanos desde que relançou seu programa nuclear, tem se valido do apoio chinês para tentar evitar medidas mais duras da comunidade internacional -- em troca, claro, de vantagens comerciais.
Esse expediente tem feito a diferença também na África, que concentra as últimas áreas inexploradas de recursos naturais do planeta.
Desde 2003, os chineses já emprestaram mais de 9 bilhões de dólares à região, a maior parte em troca de petróleo.
Também já cancelaram dívidas de países africanos no valor de 10 bilhões de dólares.
E estão sempre prontos a dar apoio a países com má fama no cenário internacional -- demonstração do imenso pragmatismo que rege a política externa chinesa, em franco contraste com a retórica terceiro-mundista de poucos resultados praticada pelo Itamaraty.
Para os chineses, os resultados vieram rápido.
A China tornou-se o terceiro maior parceiro comercial da África, atrás de Europa e Estados Unidos.
Em 1995, o comércio entre China e África movimentou 3 bilhões de dólares.
Em 2006, quando Angola se tornou o principal fornecedor de petróleo da China, o volume total já era de 40 bilhões.
Dados colhidos pelo Conselho Empresarial Brasil-China apontam que os chineses estão em cerca de 900 projetos na África, a maioria financiada por estatais chinesas de construção pesada.
A presença da China elevou também os patamares da disputa pelo petróleo africano.
Em junho passado, a petrolífera Sinopec fez a maior proposta da história pelos direitos de explorar um campo em Angola -- 1,1 bilhão de dólares.
Desta vez foi a Petrobras que teve de lidar com o jeito chinês de atuar.
A estatal brasileira perdeu a concorrência, e só não foi excluída do negócio graças à tecnologia de exploração em águas profundas.
Embora tivesse vencido a disputa, a Sinopec não tinha capacidade técnica para perfurar e operar o poço.
A Petrobras só pôde ficar com uma participação de 30% no negócio, apesar de desembolsar o mesmo que os chineses, que ficaram com 40% -- o equivalente a 400 milhões de dólares.
A estatal não divulga sua oferta inicial pelo poço, mas estima-se que tenha tido de aumentá-la em pelo menos 30% para conseguir manter-se na operação.
"Só aceitamos porque consideramos que esse campo dará boa rentabilidade.
Não temos as mesmas necessidades dos chineses e não faríamos um negócio que pudesse dar prejuízo", diz João Figueira, que ocupou até o final de 2006 a gerência executiva da área internacional da Petrobras.
O caso da Petrobras mostra que as empresas brasileiras ainda conseguem manter a competitividade em projetos que demandam maior capacidade tecnológica e mão-de-obra mais qualificada.
A Odebrecht, por exemplo, ainda cresce em Angola e é considerada a favorita para as obras de reconstrução da barragem do Gove, iniciada pelos colonizadores portugueses há mais de 30 anos e abandonada desde a independência do país, em 1975.
A Marcopolo, que tem uma fábrica na África do Sul, já convive com concorrentes chineses, mas ainda não perdeu nenhum contrato para eles no continente.
"Por enquanto, os ônibus chineses não são tão competitivos na relação custo/qualidade.
Mas sabemos que uma hora eles vão conseguir chegar lá", diz Ruben Bisi, diretor de operações internacionais da companhia.
Esse é o centro das preocupações brasileiras hoje.
Uma das principais características dos chineses é sua rapidez em aprender e copiar a tecnologia dos rivais.
"Logo eles vão começar a fazer o mesmo que nós, e aí vamos ter de dar pirueta", diz um empreiteiro que já foi sondado por chineses sobre sociedades em obras mais complexas na América do Sul.

2/03/07

Diversificando...Jovens criam site com contagem de mortos no Rio de Janeiro.


RIO DE JANEIRO - É muito comum ouvir que o Rio de Janeiro e outros Estados brasileiros têm tantas mortes violentas quanto países em situação de guerra.
Pensando nisso, Andre Dahmer e Vinicius Costa, jovens moradores do Rio, decidiram criar o site Rio Body Count, que disponibiliza diariamente a quantidade de pessoas mortas e feridas no Estado.
O número de mortos é computado desde quinta-feira e tem como base notícias de imprensa e relatos de colaboradores.
Segundo o analista de sistemas Vinicius Costa, 25 anos, a idéia surgiu do site Iraq Body Count, que mantém e atualiza diariamente o número de civis mortos no Iraque devido a ação das tropas norte-americanas desde o início da guerra, em março de 2003.
"Olhando alguns estudos feitos pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESEQ), percebemos o que todo mundo já sabe mas não quer enxergar: morre tanta gente aqui (no Rio) quanto lá (no Iraque)", acrescentou.
Para ele, as causas da violência no Rio são, entre outras, a falta de investimento em educação e falta de vontade "não só política, mas também da sociedade".
De acordo com Costa, o problema está na acomodação do povo, "que gosta muito de reclamar, mas depois liga a TV e fala que trabalhou o dia inteiro, tentando se isentar da responsabilidade. É preciso acordar. Parar de fechar os olhos, achando que o problema vai sumir".
Carioca do bairro da Água Santa, zona norte do Rio, Costa, que se considera minoria por nunca ter sido assaltado em sua cidade, diz que a violência não é grande apenas no Rio. "Temos recebido inúmeros e-mails de pessoas de São Paulo e Minas dizendo que nesses lugares é quase a mesma coisa.
Claro, o que acontece aqui no Rio tem maior exposição, mas a situação está crítica em todo o Brasil.
Não só no Brasil, mas em todo o mundo", finalizou.

2/02/07

Moçambique - A morte das florestas VI...

Porto de Pemba : Madeira apreendida ultrapassa mil toros.
O processo de verificação e inspecção da madeira apreendida em 50 (e não 47) contentores pertencentes à operadora propriedade de cidadãos chineses MOFID, em Cabo Delgado, permitiu concluir que 1154 toros iam ser ilegalmente exportados, não fosse a pronta intervenção do governo provincial, depois de uma denúncia popular.
Deste número, 853 toros eram de jambire e 301 de umbila, ambas espécies cuja exportação naqueles moldes é interdita por lei.
Lázaro Mathe, governador provincial, confirmou, ontem, o facto e acrescentou que, parta além de jambire e umbila, a MOFID ia exportar outras espécies, mas não proibidas, nomeadamente 132 metros cúbicos de pau-ferro,107 de pau-preto e 160 de muanga.
O executivo de Cabo Delgado, para além de ter ordenado a apreensão, que culminou no processo de verificação, toro por toro, que levou cerca de duas semanas, tomou outras medidas consideradas pesadas contra a empresa infractora, designadamente que ela fique fiel depositária do produto até que se faça a venda em hasta pública, conforme recomenda a lei em casos do género.
A MOFID vai ainda pagar uma multa no valor de 276 745 meticais pela infracção e terá que voltar a serrar a madeira que havia passado por este processo sem obediência às dimensões legalmente estabelecidas.
Por outro lado, dada a quase certeza de que possa haver negligência ou conivência de agentes do Estado, o governador de Cabo Delgado fez saber que um processo paralelo vai ser aberto contra os fiscais florestais que assistiram ou tinham a obrigação de assistir ao empacotamento da madeira antes de ser levada para o porto.
Mathe desmentiu que, para além, da madeira, tivessem sido encontrados outros produtos, entre os quais pontas de marfim, como se chegou a propalar na província, mas considerou a operação como um veemente sinal de que os moçambicanos estão a tomar consciência de que a riqueza lhes pertence, tendo em conta que a denúncia, segundo se disse, veio de um cidadão anónimo.
“Posso garantir que, para além da madeira não havia mais nada, porque os contentores, desde as 14 horas do dia 16 foram guarnecidos pela polícia, 24 sobre 24 horas, até à abertura do último”, acrescentou.
A denúncia terá vindo de uma mensagem de telemóvel dirigida ao governador, com o seguinte teor:
“A empresa MOFID tem 19 contentores no porto prestes a embarcar, contendo toros de madeira, na sua maioria jambire. Apelo vigorosamente que não deixe que estes desmandos continuem a acontecer na província”.
Maputo, Sexta-Feira, 2 de Fevereiro de 2007:: Notícias

Moçambique - A morte das florestas V...


Onde se retrata com clareza revoltante a anarquia, o desrespeito pela Lei e a corrupção que imperam em Cabo Delgado por parte de quem deveria fazer respeitar essa Lei, quando, entre outros, o tema é MADEIRAS e destruição dos recursos naturais.
É uma vergonha !
Terra amada, terra desmatada: o que acontece às nossas florestas em Cabo Delgado.
É agora a vez de mostrar o que se está a passar em Cabo Delgado a propósito das nossas florestas, feito o percurso pela Zambézia (1 e 2).
Eis uma carta do engenheiro Heike E. Meuser, endereçada ao governador de Cabo Delgado:
"Heike E. Meuser Maputo, 08 de Janeiro 2007
DED, Maputo
V. Excia. O Governador de Cabo DelgadoPemba
Excelentissimo Sr. Governador de Cabo Delgado,
Venho por esse meio informar a V. Excia. dos acontecimentos que nós vivemos enquanto nós, os meus dois filhos de 11 e de 15 anos de idade, eramos como turistos em Cabo Delgado.
No sabado, dia 06 de Janeiro deste ano, meus filhos quiserem fazer um safari para ver os famosos liões e elefantes no Parque National de Quirimba, em Mareja.
Infelizmente, em vez de animais salvagems, eles eram testemunhos de um encontro com dois camiões cheios de madeira preciosa, madeira que foi tirado de maneira ilegal do Parque National de Quirimba.
Não só o facto de ser enfrentado com madeireiros ilegais, também o encontro foi violente, um fiscal de Mareja foi aleijado dos madereiros, aparamente trabalhando por um chines.
Tais acontecimentos não favorecem ao turismo e dão um mal exemplo, ao lado dos efeitos negativos para os fundamentos da natureza moçambicana.
Agradecemos antecipadamente a Vossa atenção
Heike Meuser
Eng. Agr,, Mag. Agr."

Eis uma carta denúncia:
Denuncia a quem de direito:
Dia 6 de Janeiro de 2007, às 12h, recebemos informação via radio Motorola que se estava a efectuar o transporte ilegal de madeira num camião.
Às 12:20, enviei um carro, Land Rover com 4 fiscais armados para confiscar a madeira e os mesmos encontraram a um individuo numa motorizada.
Imobilizaram o individuo e respectiva motorizada e levaram a ambos na viatura Land Rover para o posto de Biaque.
Enquanto isso eu Dominik, tambem fui ao local para ver como estava a situação, pois nesse momento eu estava de guia turistico com alguns turistas dos quais dois eram menores.
A 3 km, antes de chegar a Biaque, encontrei um Toyota Corolla escondido que achando que tinham ludubriado aos fiscais que capturaram ao individuo da motorizada decidiram arrancar com a viatura justo no momento que eu estava a chegar e comecei e perseguir o respectivo carro que este parou e dele sairam 2 individuos que eram fiscais fardados e se puseram em fuga mas a população diz que viu 3 pessoas a sairem do carro.
Perguntei ao motorista o que estava a fazer naquele local e disse que estava a comprar castanha.
Dirigimo-nos ao posto e não havia ninguém, só estava um fiscal comunitario.
O Land Rover que estava com os fiscais armados e o individuo da motorizada foram por uma outra estrada a 3km de Macomia, numa aldeia chamada Arrapale para procurar o camião, entraram do mato 3km adiante e encontraram 2 camiões de marca Faw, azul, MNB 98-56 e Faw, branco, MPB 09-69.
Falamos com os motoristas e pedimos os documentos e chaves dos camiões e ficaram 3 fiscais para guardar os camiões que transportavam 32 e 48 touros de pau ferro sem sigla.
Liguei para o Sr. Dias por volta das 15horas, responsavel da fiscalização, informando do ocorrido e pedindo ajuda de Pemba.
Disse que ia mandar um carro do parque e que guardasse os documentos dos camiões, enquanto isso chegaram ao local os senhores Rafael e Majimoto, fiscal do parque nacional e chefe do posto.
Estes começaram a exigir-me os documentos dos camiões, um motorista dum dos camiões começou a agredir me a mim e a minha viatura, tentou levar as chaves do meu Land Rover, a situação tornou-se incontrolavel e tentei sair dali e ele bateu-me com uma pedra no braço enquanto eu estava no interior do carro com os turistas não esquecendo que duas eram menores.
Os fiscais do parque (Rafael e Majimoto), nao interviram nesta contenda e eu disse que ia dar queixa à policia.
Chegados ao posto policial de Ancuabe que está a 40km do local da contenda, liguei para o Sr.Dias a informa-lo do sucedido e ele disse que era para eu deixar os documentos e chaves dos camiões na policia.
Pedi para falar com o comandante mas não estava e falei com o chefe de operacões e pedi um policia armado para voltar a Biaque, nesse momento chegou o Corolla com o operador ilegal mais 2 fiscais, entraram na esquadra e disseram que iam levar o caso para o posto que iam fazer um auto de noticias e aviso de multa.
Avisei aos presentes que o Sr.Dias tinha dado ordens para deixar os documentos e chaves na policia e negaram e entregaram aos operadores ilegais na presença dos fiscais.
Pedi proteção da policia e negaram alegando que teria proteção dos fiscais do parque.
Voltamos para o local onde estavam os camiões, encontramos o Corolla na estrada e os fiscais iam a pé para o mato, oferecemos boleia e negaram.
Chegados a local, levamos os nossos 3 fiscais que tinham ficado a guardar os camiões e começou confusão entre motorista do camião e os fiscais, feriu a um deles, tiraram a motorizada do Land Rover com ajuda da população local, partiu o rádio Motorola que recuperamos e fugimos, quando chegamos a estrada, estacionamos o nosso carro para bloquear o camião que saia para Macomia e eles foram para Biaque, mobilizaram 20 homens para fazer frente ao meu carro e enquanto eles vinham nós faziamos marcha atras e eles acabaram cansados e desisitiram.
Enquanto isso o outro Land Rover levou o ferido e os turistas e eu continuei com as deligencias.
Os camiões por fim foram escoltados por uma viatura do parque que só estava com motorista sem fiscal, o Corolla que ia à frente dos camiões e atràs deles ia um Hilux que tentou bloquear-me mas não conseguiu e eu fiquei atras dos camiões.
Antes do cruzamento a Ancuabe ultrapassei os camiões e fiquei parado a frente para impedir que fossem a selva macua.
Os camiões avançaram em direção a Ancuabe, ultrapassei-os para prevenir a saida para Montepuez, perto da esquadra encontrei ao Hilux que dava boleia à mãe dum fiscal.
Insistimos para meter os camioes no quintal da esquadra de Ancuabe sede e não aceitavam mas por fim aceitaram.
O motorista começou a insultar aos fiscais até que a policia teve que intervir fazendo uso da sua arma.
Abriu-se a investigação e o policia de servico chamou-me de maneira arrogante, pediu-me o Dire e questionou o meu nome Dominik nome de mafioso, pedi para repetir e disse o mesmo.
Pediu o nome dos motoristas dos camiões mas nao pediu-lhe documentos.
Fiz queixa de agressão fisica contra minha pessoa e os meus fiscais e transporte ilegal de madeira, a policia não aceitou a queixa de agressão e disse que só ia tratar do assunto madeira.
A policia entregou um auto de entrega aos agentes do parque, pedimos para ler em voz alta e não aceitou.
Enquanto se faziam as diligencias o Sr. Magimoto, insultou-me, dizendo que eu não sabia nada porque não estava formado em Gorongosa, eu sugeri que ele devia contar os touros, sendo o fiscal e porque os camiões iam ficar na esquadra e ele disse que não era trabalho dele, que eu fosse contar os touros e fui contar.
Quando todos estavam a sair (Fiscais, Motoristas e operador ilegal), este último ameaçou-nos que se nos saissemos da esquadra alguem ia morrer.
Pedimos à policia para mostrar a copia do auto de entrega e a matricula nao correspondia com a do camião.
Pedi o nome de oficial de serviço e recusou-se e dar e essa conversa foi escutada via celular pelo Sr. Nazerali, assessor do parque.
Fomos jantar e apareceu o Director distrital da agricultura para falar comigo e estava acompanhado da esposa e do Comandante da Policia na sua viatura.
Reportei tudo que tinha acontecido, disse que estava desiludido por não ter apoio das autoridades locais e disse que viviamos numa anarquia total e ele disse me que tinha que ter cuidado com o que dizia porque era perigoso.
Por volta da 1:30 da manha os camiões estavam na esquadra, voltei para casa porque dia seguinte tinha que levar os turistas para Pemba porque viajavam.
Às 20.30 do dia 7 de Janeiro de 2007, liguei para o oficial de administracão para saber como estava a situação e ele disse que os camiões tinham saido, quis saber a que horas tinham saido os camiões e nao me facultou essa informação.
Nenhuma autoridade do parque foi à esquadra saber do assunto.
Entretanto, leia aqui, aqui e aqui documentos em língua inglesa.
Já agora, saiba sobre os 47 contentores de madeira apreendidos há dias no porto de Pemba.
Finalmente, hoje ainda e a propósito do que se passa com as nossas florestas na Zambézia e em Cabo Delgado, escreverei aqui uma carta ao presidente da República:
Carta para o Senhor Presidente da República, Armando Emílio Guebuza
Senhor Presidente,
Permita-me que lhe escreva esta carta.
Sei que não tem tempo para a ler, mas quero acreditar que alguém lhe dará conhecimento dela.
Senhor Presidente: a nossa terra já exportou escravos, ouro, marfim, madeira, tanta coisa! Como sabe, escrevi nos manuais de História de Moçambique, nos anos 80, como tudo isso se passou.
Agora, Presidente, parece que estamos a regressar aos séculos da pilhagem.
As nossas florestas estão a ser delapidadas.
E floresta, Presidente, é raíz, floresta é o conjunto das nossas raízes, desta terra amada, mas desta terra cada vez mais desmatada.
Presidente: corremos o risco de perdermos as raízes.
Permita-me sugerir-lhe uma coisa: a nomeação imediata de uma comissão de inquérito dirigida pelo decano dos nossos cientistas, Professor Engenheiro Carmo Vaz.
E é tudo, Presidente.
A luta continua.
Carlos Serra
Centro de Estudos Africanos