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10/24/07

O TURBILHÃO LENDÁRIO - Uma prosa acontecida em Pemba !

(Aqui, imagem de autoria do artista gráfico italiano Piero "Ingonane" que residiu em Pemba de 1989 a 1999)
Nada de melhor nos terá acontecido, naquele ano, do que as nossas férias na baia de Pemba, no norte do país.
Eu e o mano Beto haviamos passado de classe e o kôta prometera, logo nos primeiros dias do ano, umas férias na casa do avô Omar, em Paquitequete .
Assim que ficamos de férias na escola partimos de Maputo para Pemba, de autocarro, na companhia da tia Awa que viera nos buscar à capital.
A viagem fora cansativa mas, ao mesmo tempo, divertida, desde o terminal do TSL, na Avenida das FPLM , até ao controle de Pemba, no bairro de Mahate.
Dali partimos de táxi com destino a casa do avô Omar, no bairro de Paquite, como os pembenses lhe chamam, onde ficariamos quinze dias a gozarmos as férias por entre o marulhar das ondas do Índico.
Enquanto nos dirigíamos para a cidade, que distava uns quilómetros, o taxista ia-nos amostrando a paisagem dominada, principalmente, por embondeiros e algumas árvores menos frondosas e arbustos vulgares.
Do Alto-Gingone, um bairro periférico do aeroporto local, vimos a “esteira” azul do mar deitada manjestosamente ao longo da baia, parecendo um enorme anzol feito de água.
Mas, para o lado direito da estrada que nos conduzia, emergia uma nova cidade próxima da faixa de areia branca que ladeia quase toda a cidade: era a famosa praia do Wimbe, um enorme potencial turístico da região norte do país.
No entanto, pouco tempo depois desembocámos na cidade e passámos pela artéria principal do bairro de cimento.
Enquanto o carro deslizava na estrada asfaltada, vimos de longe os bairros de Cariacó, Natite e Ingonane e, mais tarde, rumamos pela marginal até ao bairro costeiro de Paquitequete, na zona de Kumilamba, onde o táxi parou em frente da casa de um dos vizinhos do avô; descemos, caminhando depois por uma rua estreita que nos levou direitos ao destino.
Ao chegarmos, fomos recebidos com alegria e, dos familiares e vizinhos, recebemos apertos efusivos de mão, à moda dos makimuanes.
Sentado na esteira de palha, na companhia do mano Beto e de outros garotos curiosos que se aproximaram ao chegarmos, pus-me a contemplar a casa que era feita de pau-a-pique, rebocada com matope e coberta de macuti .
O quintal era de bambú suportado por diversas estacas sólidas provenientes de Ulonto, lá na outra margem da cidade.
Depois de todo o cerimonial que um visitante merece, não aguentei mais: ergui-me da esteira e fui para a frente da casa, onde fiquei olhando para o mar azul e ouvindo o som das ondas misturado com o som dos búzios.
Durante muito tempo fiquei ali imóvel e boquiaberto, vendo ao longe pequenas embarcações à vela, pescadores puxando redes carregadas de peixe, barcos a motor transportando passageiros para o Ibo, Mocimboa da Praia, Quirimbas e outros pontos da Província.
Depois de um tempo, deitei o olhar para a margem onde me encontrava e fiquei apreciando a beleza das ondas e assistindo ao espectáculo dos carangueijos que, espantados pelo marulhar das ondas, fugiam em debandada ao encontro dos seus esconderijos que raramente falhavam.
Entretanto, a minha tranquilidade naquele sítio não tardou a chegar ao fim.
Um garoto aproximou-se interrompendo a minha concentração na observação da natureza e, com uma ponta de timidez, informou-me:
- Precisam de ti.
- De mim? – Interroguei-o sem desviar o olhar do mar.
- Sim.
- Aonde?
- Lá no quintal.
- E quem precisa de mim? – Quis eu saber, olhando os seus olhos.
- Avô Omar. – Replicou ele, desviando o olhar.
- Voltou?
- Sim. – Sorriu. – Faz um tempo.
Saí dali e fui até ao quintal. “escoltado” pelo miúdo, que não parava de me lançar olhares furtivos, e, ao chegar, saudei o avô e fiquei conversando com ele desde o rpincípio da tarde até ao anoitecer.
Passados alguns dias e após termos pedido autorização ao avô, eu e mano Beto, e outros garotos do bairro, fomos à praia brincar.
Era sábado; a praia estava repleta de banhista e os pescadores ainda não tinham voltado do mar.
Ficámos na margem apanhando búzios, construíndo castelos de areia, perseguindo caranguejos, brincando com garrafas-azuis e ajudando os pescadores a puxar as redes e a tirar da água os pequenos barcos à vela.
Foi neste dia que ouvi dos nossos novos amigos a lenda do turbilhão Nunumuana, que fica a algumas milhas da Baía de Pemba.
Fiquei curioso e ao mesmo tempo cheio de medo.
Naquele dia não saí de noite para ver o mar sob o luar e muito menos para contar quantos segundos passam entre o acender alternado dos faróis das rochas de Ingonane e Ulonto.
Um certo dia, estando eu na companhia do avô Omar a pescar na zona portuária da baía, interroguei-o acerca da veracidade da misteriosa lenda que corria de boca em boca entre os garotos pembenses.
Ele garantiu-me a veracidade da história e prometeu contar-me tudo, noutro dia, porque a história era longa e complicada.
Os dias foram passando, um atrás do outro, e todas as noites ouvíamos histórias diversas contadas pelo avô, mas, curiosamente, o kôta não se lembrava de contar a história do turbilhão.
Nisto, numa certa noite de luar, décimo terceiro dia da nossa estada em Pemba, a curiosidade obrigou-me a pressioná-lo a contar a história prometida, pelo que o velho me respondeu:
- Tudo bem. Eu vou contar, já que insistes tanto.
Acendeu um tabaco, fumou em silêncio com o olhar perdido num ponto indefinido, como se estivesse a pensar em algo guardado nas profundezas da sua memória, sorriu perceptívelmente fazendo animar a sua face sulcada de profundas rugas e, por fim, começou a narrar a história.
- Reza a lenda que foi há muitos anos, muitos anos mesmo – Repetiu com firmeza, a ponto de acordar o mano Beto que já apanhara uma soneca. – que um barco transportando uma terrível curandeira e seus ajudantes naufragou, numa zona a algumas milhas da nossa costa, e o naufrágio matou todos os ocupantes.
- Ninguém se salvou? – Quis eu saber, curioso.
- Ninguém! – Disse, meneando a cabeça e pegando, ao lado do tronco onde estava sentado, numa “ exportação ” de nipa , que de seguida levou aos lábios, e bebeu um golo pelo gargalo.
Depois de pousar a garrafa no chão, avivou a fogueira que ardia no centro da roda humana, feita de miúdos do bairro ávidos de ouvir histórias antigas transmitidas oralmente de geração em geração, e em seguida continuou:
- Daí, os náufragos transformaram-se em fantasmas ferozes, a ponto de consiguirem, com a ajuda de um turbilhão acompanhado de ventos tempestuosos, imobilizar um navio enorme. A partir daquele dia, todos os peixes da baía passaram a ser deles e, quem pescasse à noite, era frequente deparar-se com fantasmas recolhendo redes e libertando peixes das redes e dos anzóis. Foi nessa época que o peixe, o alimento principal dos nativos, começou a escassear e os pescadores passaram a morrer em massa, vítimas de misteriosos ventos fortes.
Estremeci, escutei o som do mar e olhei em redor do quintal iluminado pela lua que derramava a sua luz sobre todos os bairros da cidade.
Depois, apurei os ouvidos e fiquei ouvindo a história que o avô contava, gesticulando e falando num tom de voz carregado de uma miscelânia de emoção e terror.
- Então, os nativos da baía reuniram-se para resolver o problema e, para tal, chamaram o curandeiro Amisse que, com a ajuda dos ancestrais, conseguiu falar com a curandeira náufraga. Durante o diálogo ela proibiu a pesca nocturna, o uso da rede de malha fina, e o derramamento de líquidos estranhos nas águas e, além disto, ordenou que todos os barcos que passassem pela zona do turbilhão atirassem para o mar alimentos diversos, de preferência carne fresca, como forma de pagar tributo pelos peixes apanhados na baía. Estes alimentos serviam para alimentar os peixes nas profundezas do mar, para melhor se reproduzirem e crescerem saudáveis.
O kôta tossiu três vezes interrompendo a locução; bebeu um trago da sua “primeirinha”, e prosseguiu:
- Quem não obedecesse ao que Nunumuana dissera, uma gigantesca massa de água que se revolve rapidamente cobri-lo-ia imediatamente e, se se tratasse de um barco naufragaria, e os seus ocupantes transformar-se-iam em fantasmas imortais e, depois, ocupar-se-iam de vigiar o mar e impôr a ordem quando se julgasse conveniente.
O velho fez uma pausa.
Puxou do tabaco enrolado num pedaço de papel de caqui, e aspirou voluptosamente o fumo que invadiu temporariamente o espaço da roda feito pelos miúdos que o escutavam com paciência e manifesto interesse.
Depois, enterrou na areia a ponta acesa do cigarro e logo voltou ao fio da história:
- Na verdade, após a cerimónia com o curandeiro, toda a gente passou a respeitar e a cumprir rigorosamente o que Nunumuana dissera e, em consequência disso, os peixes multiplicaram-se na baía, as mortes dos pescadores diminuíram drasticamente, e os nativos e outros habitantes passaram a viver felizes.
O Kôta calou-se e fez-se um silêncio absoluto durante o qual pude ouvi-lo a ressonar como um contrabaixo desafinado.
Olhei para os garotos à minha volta, vi que ainda se achavam atentos como mochos e, por fim, tossi propositadamente.
O velho assustou-se, acendeu novamente o tabaco que havia enterrado na areia e libertou uma grande fumaça que o fez tossir vezes sem conta.
Após um tempo bebeu de uma só vez a sua “ primeirinha ”, entoou em Kimuane uma canção sobre a lenda e, por fim, ergueu-se e começou a dançar enquanto o acompanhavamos em côro, batendo palmas.
Dois dias depois, eu e o mano Beto tomámos o autocarro de volta para Maputo, onde chegámos ao terceiro dia.
Passada uma semana, um impulso não me deixava e, consequentemente, impeliu-me a escrever estas linhas como forma de imortalizar a lenda e dar a conhecer a toda gente como os pembenses passaram a valorizar e a preservar o mar e os seus recursos.
O Turbilhão Lendário por Francisco Absalão - In Blocos OnLine
  • Biografia de Francisco Absalão segundo o "Blocos On Line" - O nome artístico é: Allman Ndyoko. Nasceu em 11 de Abril de 1977 em Pemba, província de Cabo Delgado -Moçambique. Residência actual: Maputo.

10/19/07

Ronda pela net - A África que encanta crianças...

(Imagem original daqui)
Os mistérios e mitos da "agreste" África vão sendo desvendados, expostos cada vez mais neste mundo mágico da informação que é a net e, com o conhecimento, vai acontecendo a transformação gradual do antipático, do inóspito e violento em charme, em poesia, em beleza e até em novidade e encanto para o mundo que a desconhece e até para as crianças.
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Do jornal "Estado de São Paulo"-Brasil, Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007:
África que encanta crianças
Editoras enfim descobrem o tom certo, sem ser superficial ou didático e sem resvalar no preconceito, para divulgar o melhor da cultura africana em livros infantis.
Beth Néspoli
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Sabe como se pronuncia leão em swahili, uma das línguas faladas na África?
- Simba!
- Ah! Por isso o nome do leão no famoso filme da Disney?
A descoberta agrada a crianças e a adultos e vem das páginas do livro infantil Um Safári na Tanzânia, que acaba de ser lançado pela editora SM.
Num país mestiço como o nosso, que tem na África uma matriz cultural importante na formação da identidade nacional, tal publicação é relevante, bem-vinda e deveria estar em todas as bibliotecas públicas.
Embora mais presente nos últimos cinco anos, esse tipo de livro infantil ainda pode ser considerado novidade no mercado editorial.
Mesmo os muito pequenos, que ainda não sabem ler, podem se encantar com as ilustrações de Julia Cairns para o texto de Laurie Krebs, em Um Safári na Tanzânia, que, de forma lúdica, ensina a contar, usando o olhar de um grupo de crianças que passeia pela savana.
Eles vêem javalis, gnus, hipopótamos e leões, sempre em grupo, em número crescente.
No fim do volume, uma espécie de posfácio didático, eficiente e atrativo traz o nome em swahili dos animais vistos pelas crianças, um mapa que localiza a Tanzânia no continente africano e um texto curto sobre o país e o povo Masai que habita a região que faz fronteira com o Quênia.
Outro lançamento infantil da SM é Yemanjá.
A autora, Carolina Cunha, profunda conhecedora da cultura iorubá, escreveu seu primeiro livro para crianças em 2002, Aguemon, também com temática africana, que, editado pela Martins Fontes, foi indicado para o Prêmio Jabuti.
Nas páginas de Yemanjá, o leitor encontra glossário que explica termos como ifá (oráculo iorubá) e ebó (oferenda aos deuses).
De certa forma, Carolina Cunha tenta dar às crianças de hoje algo que ela própria sentiu falta na infância.
Baiana, menina branca de classe média, ela conseguiu que os pais trouxessem da Inglaterra o brinquedo pedido: um bebê negro.
“Não tinha boneca negra em Salvador, só de pano, não é absurdo? Vivendo na Bahia, era inevitável que eu entrasse em contato com a religiosidade de raiz africana. Lembro-me da empregada lá de casa que toda noite de quarta-feira se arrumava, linda, para ir a um ritual que era cercado de mistério. Eu ficava muito curiosa, mas não entendia direito.”
Agora ela não só entende como compartilha essa compreensão, de forma poética e simples, com crianças brasileiras em seus livros.
Envolver o leitor mirim com lendas e mitos da cultura africana certamente é um filão editorial já descoberto.
Por isso mesmo, é preciso tomar cuidado.
Há o risco de simples superficialidade ou, pior ainda, da falsa arte, da historinha inventada unicamente com fins didáticos que, ao fim, não tem potência nenhuma.
Muito interessantes, nesse sentido, são as histórias assinadas por autores africanos.
Pelo menos nas conferidas pelo Estado, nada é explicitamente didático com relação à cultura negra.
Assim é, por exemplo, O Que Tem na Panela, Jamela?, também da SM.
Niki Daly, o autor, nasceu na Cidade do Cabo, na África do Sul.
E o que dizer de um infantil do premiado moçambicano Mia Couto?
Pois ele é um dos autores da coleção Mama África, da editora Língua Geral, que tem entre seus autores outro escritor de renome, José Eduardo Agualusa.
E eles são tão bons escrevendo para crianças quanto para adultos?
A resposta é um sonoro sim, a julgar por O Beijo da Palavrinha, de Mia Couto, e O Filho do Vento, de Agualusa.
“Entender a existência de diferentes visões de mundo é passo fundamental para combater intolerância e preconceito”, diz Dolores Prades, da editora SM.
Se é na infância que mais se aprende, livros agora não faltam.

7/27/07

Pemba - Literatura - Marcelino Ngalilo Ding’ano.

Sou filho de antigos combatentes mas não sou antigo combatente - Marcelino Ngalilo Ding’ano, autor de “Órfãs Efémeras”, livro lançado semana passada em Pemba.
Na véspera do dia do lançamento do seu livro envolve-se num acidente de viação e contrai uma fractura num dos membros superiores. A partir do hospital provincial de Cabo Delgado, em Pemba, distribui mensagens aos amigos dando conta do sucedido que “mesmo assim, a cerimónia tem lugar amanhã mesmo”.
É filho de combatentes da luta de libertação nacional, o escritor que semana passada lançou o livro “Órfãs Efémeras”, na cidade de Pemba, Cabo Delgado, mas não se quer afirmar antigo combatente, como o fazem, segundo diz, muitos oportunistas. Acha injusto. Prefere viver honestamente a vida.
“Nasci durante a luta armada, não fui a nenhum outro sitio fora do território moçambicano. Portanto nasci e cresci no território de Cabo Delgado. Vivi todas as circunstancias da guerra (as amarguras, os horrores...) tudo o que a guerra impunha, apesar da idade vivi na carne, mas não tenho razão para me afirmar antigo combatente”, palavras do artista.
Ele pretende contrariar a ideia ora prevalecente, sobretudo em cabo Delgado, de que os filhos dos antigos combatentes são igualmente antigos combatentes e, vai daí usufruírem dos direitos àqueles reservados, incluindo a pensão de reforma.
“Li um pouco o estatuo da Associação dos Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional e vi que me dá chance de o ser, mas não quero pôr-me ao luxo de convidar-me pessoalmente para o ser. Não quero nem aproveitar a mentira. O máximo que posso fazer é inscrever-me, se calhar ter cartão, mas não como caminho ao encontro de benesses. Uma alternativa para colher benefícios. Não estou interessado”.
Acrescenta que seria bom dizer que foi estudante nas zonas libertadas do que procurar o luxo de ter sido antigo combatente, alegadamente porque encara isso como pessoas que pegou em armas e esteve na frente da batalha.
“Eu nunca fiz isso, apesar de ser verdade que muitas vezes fugi na companhia dos meus pais às incursões inimigas, base da minha inspiração para fazer este livro, mas não é isso que me pode qualificar antigo combatente”.
Marcelino Ngalilo Ding’ano é o novo homem das letras que Cabo Delgado passou a conhecer publicamente, a partir do dia 20 deste mês.
Disse que tinha ouvido dos seus professores e outras pessoas mais experientes que escrever (ou por outra publicar) não era brincadeira nenhuma. Curiosamente, conforme ele, nunca ninguém lhe havia dito que, afinal era o dinheiro era preciso. Que também aqui é o dinheiro que fala.
È como se chegou a dizer no acto do lançamento, que “ainda há, em Moçambique, quem fica 20 anos com algo para dizer, mas não o consegue”. Há muitas limitantes para que as pessoas usem do seu direito a apresentar a sua opinião, a sua arte, as suas vivências e, enfim, o direito a ser ouvido. Ainda o viver fora dos corredores á volta das grandes capitais provinciais, é um dilema. O estar a 2.800 quilómetros da capital, é duplo problema. “É confrangedor. Fiquei mais desesperado no período de espera de patrocínio do que naquele de inspiração, da edificação da minha própria obra. Em 20 anos outros produzem três a quatro livros. Houve muitos motivos para desesperar, mas acabei acreditando até sair com ‘Órfãs Efémeras’, sabendo, entretanto, que se estivesse num outro sitio deste país, não enfrentaria as mesmas dificuldades, teria menos”, lamenta Ngalilo Ding’ano.
O autor traz-nos, na verdade, uma história de duas meninas irmãs, que regressaram de volta do seu inocente passeio pela aldeia duma região a norte de Cabo Delgado, então circunscrição de Palma, se certificam que não mais tinham pais por ali, porque exactamente durante a sua ausência se registou um bombardeamento da tropa colonial que dispersou os habitantes da povoação.
“Órfãs Efémeras” pretende trazer ao público leitor o momento psicológico em que viveram os pais e as crianças, depois do ataque inimigo que nunca mais os voltaria a ligar, sendo que cada uma das partes ficou sem saber o paradeiro da outra.
Escreveu, segundo ele confessa, com uma terminologia à maneira bantu, mais precisamente à maneira maconde, para que o “bolo” deste ensaio saiba ao caldo secular e delicioso dos caracóis do planalto e chama à atenção para outros factos.
“De nomes, actos e factos com alguma realidade material e/ou imaterial, a semelhança é, muitas vezes uma coincidência dolorosa!... quando um escritor se submerge no seu mundo indiscritivo, ele fica ciente das ciladas que vai armando a muitos, porque ao longo desse arriscado voo literário”.
Acrescenta que “a língua, a palavra, a emoção e a fantasia da sua loucura ensaísta vão ás vezes, disferindo, é verdade, inocente e impreterivelmente, a quaisquer que se julguem lesados. È a magia dos nossos dons a culpa daquele que nos infundiu sublime inteligência”.
Pedro Nacuo - Maputo, Quarta-Feira, 25 de Julho de 2007:: Notícias