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12/14/17

SABORES GASTRONÓMICOS ENTRE OS WAMWANI DA ILHA DO IBO/CABO DELGADO. ACHEGAS PARA SEU ESTUDO.


Por Carlos Lopes Bento
- Antropólogo. Doutorado em Ciências Sociais. Sócio da SGL.      
Com esta comunicação, que foi elaborada com base em dados actuais, disponibilizados por vários informadores mwani, procuramos revelar alguns dos traços da cozinha mwani do quotidiano, festiva e do sagrado e conhecer, não só a complexa e heterogénea composição das suas saborosas comidas, como também os pratos considerados emblemáticos servidos em Cabo Delgado, particularmente, na ilha do Ibo. 

Situação geográfica das Ilhas de Querimba
Dispostas em forma de rosário, numa direcção norte-sul, as Ilhas de Querimba, que constituem o arquipélago do mesmo nome ou de Cabo Delgado formado por mais de três  dezenas de pequenas ilhas, situam-se no Oceano Indico Ocidental, a norte da ilha de Moçambique, entre as baías de Pemba e de Thunghi.

A ilha do Ibo, uma das cerca de 32 ilhas que integram o arquipélago, faz parte do território litorálico norte de Moçambique e é a 4ª ilha em superfície, mas com apenas 15 Km² (5x3).

Situada a sul da ilha de Matemo e a norte da ilha de Quirimba, possui um riquíssimo património humano e histórico resultante de intensos movimentos comerciais e religiosos encetados, desde o séc. VIII, por povos de múltipla proveniência (..., árabes, persas, suaílis, indianos, chineses, africanos (makhwa, makonde, yao, mafites, …), portugueses, franceses, wasakalava, ingleses,... ), constituindo um território privilegiado, fértil em contactos, choques e interpenetrações de culturas, um espaço de cooperação, competição e de conflito, um local propício a transformações biológicas e socioculturais.

Estes seculares cruzamentos, conjugados com as condições ecológicas específicas da ilha e com a diversidade crenças religiosas da população do Ibo, originaram um típico e riquíssimo património alimentar, resultante da interpenetração secular das cozinhas e culturas asiática (polinésia, indiana e persa), americana, africana e europeia. 

Dada a natureza dos seus solos corálicos e a irregularidade das chuvas, a agricultura na ilha do Ibo foi sempre praticada em pequena escala. Contudo, face ao crescente aumento da sua população, os seus moradores tiveram a necessidade de cultivar, em pequenas machambas, mandioca, feijão, milho, mapira, abóboras e pepinos, tanto nos seus quintais, vedados a laca-laca, onde plantaram papaeiras, goiabeiras, bananeiras, palmeiras, massaniqueiras e ateiras, como também nos terrenos baldios, fora da povoação.

Atendendo a que produção é insuficiente para satisfação da totalidade das necessidades alimentares, resolveram o problema indo fazer as suas machambas nas terras firmes próximas, onde colhem milho, arroz, mapira, feijão, mandioca, amendoim, gergelim, rícino, castanha de caju, mangas, … . 

A palmeira, o cafezeiro silvestre e a mangueira crescem, em número limitado, por toda a ilha.

Há criação de gado caprino, ovino e bovino, em pequena escala e de aves de capoeira.

Pela sua posição geográfica, a ilha do Ibo é rica em recursos aquáticos (peixes, crustáceos e moluscos). Para além dos pescadores, homens e mulheres, sempre que se deparam com dificuldades financeiras recorrem à pesca, utilizando armadilhas e pequenas redes ou panos junto à praia.

Esta disparidade entre as actividades agrícola e pesca influenciaria, decisivamente, a cozinha mwane, onde predomina a utilização dos produtos marinhos. 

A população pratica as religiões católica e islâmica, esta limitativa de alguns produtos alimentares.
Depois destes pertinentes considerandos, volto ao tema principal.

Do seu património alimentar, realçarei, nesta Comunicação (1), a comida mwane preparada e consumida no dia-a-dia, nas datas festivas e nos tempos sagrados e a sua heterogénea composição. 

A cozinha mwane utiliza na confeção dos seus variados manjares: arroz, mandioca, feijão,  milho, mapira, meixoeira, abóbora, gergelim, amendoim, coco, rícino, cana doce, batata doce, pepino, cebola, tomates, coentros, alhos, piripiri, castanha de caju, manga, papaia, anona, ata, romã, ananás, massanica, jambalão, banana, tamarindo, limão,  folhas verdes de hortaliça, mandioca, de batata doce, moringa e abóbora, excelentes para confecionar a matapa, peixe fresco ou seco e mariscos( camarão, carangueijo, lagosta, lulas, chocos, polvo, inhamata ... ), carne de bovino, caprino, ovino e de aves, ovos, açucar, sal, mel, vinagre, especiarias- açafrão, gengibre, cominhos, canela, cravinho e cardamungo. 

A alimentação, habitualmente, preparada pelas mulheres, embora em 1971 existissem 27 cozinheiros, tem como base o caril (nsuzi), de:

- carne ou peixe/polvo/carangueijo/inhamata, 
- coco (nsuzi uanazi),
- oleo de amendoim  (nsuzi uamafuta),
- abóbora (nsuzi uamanga),
- feijão (nsuzi uaunde), 
- caranguejo, camarão, macasa, inhamata, ... . 

e como acompanhamento (kuria):

- arroz de coco (kanazi), 
- bilinjé (arroz), 
- milho (kamafafaluela), 
- arroz refogado (kitoré),
- milho e feijão (makutshuko), 
- lumino de batata doce, banana, mandioca, abóbora
- mazizima (papa de mapira) 
- quitoré (arroz refogado)  
- matapa de folhas.

Para além dos temperos orientais que adquire, utiliza muitos produtos da terra: sal, priripiri, manga verde, de que faz vinagre, tamarindo (verde e maduro), limão, cebola, alho, tomate, fruto do embondeiro, ... .

Também se prepara e consome vários tipos de achar (conservas): limão, cebola, tamarindo, manga, que são conservados em sal, piripiri e vinagre. 

Bolos: nkate, de f.trigo (uabolo), f. milho (uariba), f. mandioca (pinaga), f.arroz (pneu), f.trigo (uumacajojo), f.arroz (vitumbula), f. mapira (viliosso), biscoito, igual ao anterior mas com forma biscoito de Portugal, f.arroz (uakumimina), uapão de ló, uasonho, 

Doces: abóbora, batata doce, meixoeira cozidio, coco (uanazi), amendoim pilado (uaintessa), castanha caju pilada (uacorosso), gergelim pilado (uaifuta), massanica (iaunazi), pera, papaia, banana, caju, manga, ngodó (bolo de farinha de arroz, coco e açucar que é servido na festa das raparigas culávia mwari) , uaunde, dinuto, virassassa, 

Os pratos de carne de cabrito, galinha, pato ovino ou bovino são apenas consumidos em datas festivas.

Como bebidas utlilizam água simples, chá, café, leite, limonada, laranjada. Para algumas cerimónias utilizam a água das chuvas e a água de coco.
Do seu trem de cozinha constam: frigideiras, panelas de barro- com boca larga para o  caril (kikalando), com boca pequena para arroz (kiungo), e para água (mivulo), panelas de cobre, alumínio e ferro, caçarolas de barro, tachos de alumínio, frigideiras, pedras de moer, peneiras (kissero), coadores (msudjo), almofarizes e pilões de madeira, raladores (mbusi), concha de casca de coco (lupaua),trempes de ferro, ... .

Com exceção do mês do Ramadão, o mwane faz três refeições por dia, diferentes das do quotidiano, nas cerimônias especiais- ritos de passagem, festas religiososas e nalgumas cerimónias de despossessão de espíritos.

No dia a dia
São servidas três refeições diárias: pequeno almoço/matabicho, almoço e jantar.

Ao pequeno almoço
Das 6 às 8 horas a alimentação é diversificada. Habitualmente toma-se:

- Chá com ribas, pneus, sonhos ou vitumbulas
- Chá com pão, ou bolos,bolos, nkate de trigo, milho, mandioca ou arroz, riba, leite e pão, 
- Pão e peixe frito.
- Leite ou leite com pão
- Café
- Ovos, cozidos ou fritos
- Arroz ou feijão com caril de peixe
- Mandioca cozida com peixe frito

Ao meio da manhã podia comer-se batata doce ou qualquer doce.

Ao almoço
Das 12 às 14 horas, a refeição é pouco variável. Habitualmente come-se:

- Arroz ou mapira e mais raramente, feijão, com caril de peixe­- frito, cozido ou assado ou de âmbar, temperados com  achares/azedos de manga ou limão.
- Tocossado de peixe acompanhado de arroz de coco 
- Arroz com peixe frito.
- Cebolada de peixe

Por vezes, pelas 17 horas, podia tomar-se uma chávena de leite ou comer sobejos do almoço.

Ao jantar

Das 19 às 20 horas, a refeição é variável, constando de 

- Chá com nkate, bolo ou pão 
- Chá com nkate de magaga
- Leite e café 
- Chá com aletria
- Arroz com caril de peixe
- Arroz de mapira com caril de peixe
- Arroz cozido com peixe
- Ovos fritos ou cozidos

Ao almoço e jantar, sempre que possível, come-se não só tchima/matapa de verduras (de folhas de abóbora, mandioca e hortaliça), batata doce ou mandioca, cozidas ou assadas, como também fruta, seja papaia, banana, laranja, ananás, pera goiaba, pera abacate, anona, ata, manga, de produção própria ou comprada. Também os doces caseiros diversos, são, algumas vezes, também consumidos.

Cerimónias religiosas e outras

Nas cerimónias religiosas - nascimento do profeta Maomé, festa a S. Francisco Xavier, maulide e fateha-oração pelos mortos confecciona-se uma alimentação especial constituída por carne de bovino e caprino.

No cumprimento de promessas, a alimentação preparada, galinha ou pato com arroz de caril é oferecida a orfãos ou alunos da madrassa), 
- No início da construção de casas, embarcações, gamboas e  a falta de chuva, preparam refeições à base de carnes de bovino, cabrito, galinha, pato e de arroz, em que a mapira, como elemento purificador(mapézi), o coco e os bolos têm presença obrigatória.

Cerimônias familiares

- Akika, apresentação da criança ao 7º dia do nascimento. No dia aprazado, de manhã cedo, as mulheres (familiares, amigas e vizinhas) preparam, com esmero, no quintal da família anfitriã, os bolos rote e o caril de cabrito, que, mais tarde, serão servidos aos convidados que molham os bolos no mel e o caril no azedo (achar feito localmente com manga verde, limão, pepino, tamarindo...). De realçar que, também, aos dignatários políticos e religiosos, aos vizinhos e órfãos, por uma questão de testemunho e de prestígio social, são oferecidas pequenas porções de carne, crua ou cozida, de mel e bolos. Como bebidas são servidos chá, café ou qualquer refresco e nunca bebidas alcoólicas proibidas pelo Alcorão. 

- Kutolola, furar orelhas das raparigas para brincos (kutolola brinco) e base nariz para kipine (kutolola kipine) serve-se doce de gergelim e bolo de arroz (n´godó).

- Corte de cabelo de rapazes e raparigas a comida própria: caril de carne de vaca, de galinha ou pato, com arroz ou apenas bolos e biscoitos com chá ou leite.

- Kulavia - Saída das raparigas do enclausuramento porque vai casar ou demora em fazê-lo. Nesta ocasião fazem-se doces de n'godó e nkate de mapira ou mandioca.

- Limbaje. Confecionam-se doces da melhor qualidade feitos pela família da noiva com a importância enviada pelo pai do noivo, na carta do pedido de casamento, que depois são enviados com a resposta ao pedido feito.

- Arusse - Casamento. Para a almoço do dia do casamento, o pai da noiva compra: 2,5 de arroz, 1 bovino, 1 cabrito, 1,5 saco de farinha de trigo, 25 quilos de açúcar, cocos, batatas, temperos. As pessoas mais abastadas, por vezes, confeccionam pratos de chacuti, chamuças, bebinca, … .

Nos ritos de passagem

- Kumbi, circuncisão dos rapazes, no acampamento, alimentam-se de mel, arroz de cabrito, peixe assado, tudo sem caril nem sal; já em casa, tomam leite, chá e bolos.

- Riga, iniciação das raparigas, faz-se caril de galinha sem temperos, chá forte com café com leite, bolos e biscoitos.

Nas cerimônias ligadas aos cultos de possessão, nas chamadas danças do diabo, há comidas que variam consoante a origem do espírito incorporado na mulher, que não farão parte desta comunicação.

E para terminar a indicação dos pratos da cozinha mwane mais recomendados por amigos nossos Muadjas:

- tocossado de peixe com xima de mandioca ou milho branco, ou arroz de coco ou mapira com coco;
- lumino (de mandioca ou de batata-doce, banana macaco verde) de peixe fresco; 
- caril de coco de caranguejo/camarão/peixe acompanhado com arroz ou leite  de coco;
 - quitoré com safi frito, acompanhado de arroz de coco, de mapira, de meixoeira ou soloco;
- peixe frito com milho e feijão (macutchucu);
- arroz de coco ou de mapira com  caril de peixe e molho de coco;
- caril de cabrito com arroz amarelo
- caril de peixe com arroz de coco e matapa
- bolo de meixoeira cozido, rotis (apas), filhoses, nkate wa kumimina (bolo de arroz) e nkate wa magaga (bolo de mandioca seca;
- doces de abobora e batata-doce.

Uma análise mais aprofundada da cozinha mwane, dos seus ingredientes e objectos/utensílios utlizados na sua preparação alimentar mostrar-nos-á que:

- grande parte das plantas alimentares - cereais, legumes e árvores de fruto - e especiarias são originárias  da Asia, Oceania e da América;

- Muitos dos utensílios utilizados  chegaram a África através da difusão cultural, provenientes da Oceania e Asia- pilão, mós, raspador, … ;

- muitos dessas plantas e utensílios são signos comuns da língua suaíli  ou dela derivados  e cobrem uma vasta área de África do litoral e interior;

- muitas iguarias e seus temperos, bolaria, doces são vocábulos das línguas suaíli, macua e português.

A cultura alimentar, aqui descrita, longe de estar completa, mostra bem a diversidade e a riqueza da cozinha mwane- do dia-a-dia e festiva, bem diferente da preparada nas terras firmes do interior, muito mais simples, tanto nos produtos como na confecção. A diferenciação existente deve-se aos seculares contactos da comunidade mwane com gentes de outras culturas e civilizações: árabe, asiática, e europeia, portadoras de outros saberes e estilos de vida, muitos deles integrados, por úteis, na cultura local.

Terminada a minha Comunicação, resta-me agradecer a vossa estimada presença.

A todos um BEM HAJA.
- Carlos Lopes Bento
ANEXOS
ALGUMAS RECEITAS TÍPICAS DA GASTROMONIA MWANE

TOCOSSADO DE GALINHA

Ingredientes:

2 Frangos
1 ½ Tomate grande
2 Caldos Knorr de frango
1 ½ Cebola grande
1 Colherinha de massa de tomate
6 Azedos de manga previamente demolhados para tirar a acidez
½ Colherinha de sal
3 Piri-piri
1 ½ Colherinha de óleo

Execução:

Cortar o tomate e a cebola em pedaços pequenos, para que não fiquem nem grandes nem picados.
Num tacho, colocar 1 chávena de água e deitar um caldo Knorr, metade do tomate e da cebola já cortados, meia colherinha da massa de tomate e deixar ferver um pouco, cerca de 1 minuto.
Adicionar o frango, mais 1 chávena de água e a restante ½ colherinha de massa de tomate. Juntar 1 ½ colherinha de óleo.
Deixar ferver, pôr ½ colherinha de sal (para dar outro sabor, para além do caldo Knorr) e deixar ferver mais um pouco. Por fim, colocar o resto da cebola e tomate cortados e o azedo, sem mexer.
Deixar cozer estes últimos ingredientes sem mexer, deixando apenas acamar.
Ao deixar cozer muito bem, golpear 3 piri-piris e juntar para apurar.

Autoras:
- Compilada por Fernanda Carrilho e executada por Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

TOCOSSADO DE PEIXE

Ingredientes:

0.5 Kg de peixe grande / médio fresco (de preferência) às rodelas.
3 tomates grandes bem maduros sem pele e cortados aos pedaços.
1 cebola grande às rodelas.
1 dente de alho grande picadinho.
1 piripiri às rodelas (opcional).
Sal à gosto.
Sumo de 1 limão.
Água suficiente pra cobrir tudo.

Modo de fazer:

Coloca num tacho o peixe já limpo. Por cima, deita os restantes ingredientes exceptuando os 2 últimos.
Leve ao lume brando. Quando o líquido do peixe diminuir um pouco, deita a água e deixa reduzir um pouco sua quantidade. Por fim, adiciona o sumo do limão, mexendo o tacho e pouco depois desliga.
Acompanha-se com arroz de coco.
N.B. - Pode-se substituir por frango, é também saudável e delicioso.

Cedida por Margy

ACHAR DE SOLÃO

Ingredientes:

1 n’sudjo ou kitunga cheio de manga seca (azedo ou ambuche).
2 copos de vinagre.
6 pés de cravinho.
2 colherinhas de cominhos em pó.
2 colherinhas de coentros em pó.
½ colherinha de açafrão.
3 colherinhas de piripiri moído.
2 colherinhas de massa de tomate (para quem queira).
2 cebolas cortadas.
1 alho que chegue para uma colher cheia quando pisado
2 colherinhas de sal.
Óleo que chegue para a quantidade do azedo de manga (mais ou menos 6 conchas).
1 colherinha de açúcar.

Preparação:

De véspera, coloca-se a manga seca numa tigela e deitam-se os 2 copos de vinagre, deixando a demolhar até ao dia seguinte.
No dia seguinte, cortam-se as 2 cebolas e pisam-se muito bem os alhos com o sal. Colocam-se então a cebola dum lado, o alho doutro e todos os temperos juntos.

Execução:

Verte-se o óleo que chegue para todo o azedo numa panela, deixando até ferver. Após ter fervido, retira-se a panela do fogo. Aí, colocam-se todos os temperos e só depois o azedo. No final, deita-se 1 colherinha de açúcar e volta-se a colocar no fogo para misturar tudo e ficar pronto.

*Notas:

- N’sudjo ou kitunga, são kisseros pequenos, ou seja, peneiras feitas tradicionais Mwanes (do Ibo).
- Azedo ou ambuche, é manga seca em Kimwane, língua falada no Ibo.

Autoras:
- Receita compilada por Fernanda Carrilho e feita por sua Mãe, Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

ACHAR DE LIMÃO

Achar de limão é feito assim: 

Limãozinho maduro. piri-piri em pó ou fresco vermelho e sal.
Abre-se o limão em quatro com a casca e mete-se o sal e o piri-piri dentro do limão.
Vai-se arrumando num frasco de vidro ou barro... no final deita-se sumo de limão até cobrir o limão todo no frasco... Tapa-se o frasco e põe-se a ao sol durante um ou dois dias para curtir.
O suco de limão fica espesso e esta pronto para servir.
Atenção.... o achar não é caril, portanto serve-se só um  pouco...

- Cedida pela Nady.

LUMINO DE MANDIOCA

Ingredientes:

2 kg de mandioca. 
1/2 litro de leite de coco.
1 cebola.
Peixe, camarão ou frango.
Açafrão.
Manga seca, manga fresca(acida)ou tamarino ou suco de limão.
Sal e piri-piri verde. 
Modo de fazer:

Descascar a mandioca e cozer com um pouco de sal. Não deve ficar mole mas bem cozida.
Cortam-se as tiras não finas e arrumam-se numa panela.
Põe-se o leite de coco e o resto dos ingredientes todos (excepto o peixe ou frango) na panela, leva-se ao lume e vai-se mexendo lentamente ate começar a ferver. (fogo brando).
10 minutos depois da fervura, põem-se as postas de peixe já fritas e tostadas, ou os bocados de frango já cozidos ou o camarão fresco descascado.
Mais 10 minutos de cozedura e o lumino está pronto.
Pode-se acompanhar com um achar de limão.

- Cedida pela Nady.

MATAPA DE ABÓBORA

Cortas as folhas como se fosse pra fazer caldo verde, e pões numa panela com um pouco de água a cozer ( 10 minutos).
Enquanto isso levas leite de amendoim, cebola cortadinha, tomate fresco, sal e malagueta (se houver) e pões a cozer, mexendo sempre com uma colher de pau (se não tiveres colher de pau, tens que mexer com a mão senão, não anima...) rsrsrs brincadeira.
Quando o amendoim começar a engrossar despejas as folhas que já estão quase cozidas.
Deixas apurar mais uns 10 minutos e já esta  pronto.
Podes variar pondo camarão fresco, fica bom. também.

- Cedida por Nady.

FEIJOADA À MODA DO IBO

A base, é galinha e camarão e as quantidades ao gosto, possibilidades de cada um e nº de convivas.
De preferência o feijão e a galinha, devem ser do tipo cafreal, ou seja, pequenos e saborosos. 
No sul de Moçambique, este feijão chama-se "Timbauene".
O feijão coze-se primeiro, de preferência com um chouriço para dar o gosto, mas de carne de vaca ou carneiro!!!
Entretanto, prepara-se o refogado com os temperos: A cebola não deve ser muito picada, o alho só pisado e tudo isto se frita em muito pouco óleo, com tempero de pó de caril (mistura de açafrão indiano, colorau/coentro e cominho). 
Podem pôr-se outros temperos, ao gosto.
Depois do refogado bem cheiroso, deitar a galinha aos pedaços, mexe-se bem para fritar por fora sem deixar cozinhar e depois tapa-se o tacho e deixa-se cozinhar.
Se precisar de liquido, nunca água: ou cerveja ou vinho branco.
Quando a galinha estiver quase cozida, deitar o camarão descascado (eu deixo ficar as cabeças) e o feijão e deixa-se ferver por 5 minutos. Então, mistura-se isto tudo numa lata de leite de coco, deixa-se levantar fervura, mexendo sempre, mas não mais que 5 minutos e está pronto. 
É melhor quando feita de véspera.
Serve-se com arroz branco simples ou de coco, banana frita e ananás grelhado, querendo.

- Receita cedida, gentilmente por São Alves.


Quem é Carlos Lopes Bento 
DADOS PESSOAIS
- Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em  Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada..

FORMAÇÃO ACADÉMICA
- Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
- Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba).
- Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “ As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. Situação Colonial, Resistências e Mudança- 1742-1822.
- Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional. Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI).
- Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal”.
- Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI.
- Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. Actualmente faz parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
- Investigador em vários projectos de natureza sócio-politica e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT.
- Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo.

ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras

COMUNICAÇÕES E PUBLICAÇÕES 
- 1980 - "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal";
- 1982 - "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento";
- 1984 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado";
- 1986 -  "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica";
- 1986 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais";
- 1987 - "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?";
- 1988 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida";
- 1989 - "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala";
- 1990 - “La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo”;
- 1991 -  O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado";
- 1992 - "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972";
- 1997 - "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português";
- 1998 - "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba. Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar";
- 1999 - "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921";
- 2000 - "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos" (Resumo da tese de doutoramento);
- 2000 - “Contactos de Cultura Pós-Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto”;
- 2001 - “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas-Ritos de passagem”;
- 2001 - “Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba- Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar”.
- 2003 - “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança”;
- 2003 -“A possessão em Moçambique- O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)”.
- 2004 - "A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto;
- 2005 - "A Sociedade de Geografia de Lisboa e o Turismo”
- 2007 -  “Um Projecto de Investigação sobre Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e Vale do Tejo. (Breve Notícia.(Meados Do Século XX)”;
- 2008 - “O Novo Código de Posturas da Câmara Municipal de Cabo Delgado, de 1887. Uma Leitura Etnográfica;
- 2009 - “Tecnologias Tradicionais do Mundo Rural, no Ribatejo: O Ciclo do Azeite em Mouriscas (Abrantes), nos meados do Século XX”;
- 2010 - “Os Sakalava de Madagascar em Moçambique. Ataques às Ilhas de Querimba e Terras Firmes Adjacentes e Suas Implicações, entre 1800-1817”;
- 2011 - “As Condições de Trabalho em Moçambique, depois da Abolição da Escravatura. Direitos e Deveres dos Serviçais e Colonos e dos Patrões, em 1880 na Província de Moçambique”;
- 2011 -“A Mestiçagem Biocultural nas Ilhas de Querimba/Moçambique e suas Implicações na Administração Colonial Portuguesa. Achegas para o seu Estudo”;
- 2011 - “Notas sobre algumas das seculares manufaturas  das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado;
- 2013 - “Palestra na Escola Secundária do Cartaxo sobre” Memórias do mundo rural no alto Ribatejo, nos meados do século xx. O ciclo dos cereais: o milho e o trigo, a sua transformação em farinha e o fabrico do pão caseiro, em fornos a lenha”
- 2014 - “Sabores gastronómicos entre os wamwani da ilha do Ibo/Cabo Delgado. Achegas para seu estudo”;
- 2015 -“ Moinhos e Azenhas de Mouriscas. Vivências e Memórias de um jovem moleiro -1944-1949”. A.I.D.I.A., Cadernos Culturais, nº 9, Agosto 2015. 2ª edição. 2017. pp. 57”;
- “Mouriscas. Preservar o seu Património Cultural para Defesa da sua Identidade”. A.I.D.I.A , Cadernos Culturais, nº 10, Novembro 2015, p. 133”;
- 2016 - “Mouriscas, do Passado ao Presente. Artes e Ofícios e seus Titulares(1860-1911) . A.I.D.I.A,  Cadernos Culturais, nº 12, Março 2016, pp 257”;
- 2017 - “Obreiros do Mundo Agrícola de Mouriscas, I e II. Proprietários, Agricultores e Jornaleiros e seus Titulares (1860 e 1911). A.I.D.I.A, Cadernos Culturais, nºs 20, Dezembro 2016, pp. 296 e 21, Março 2017, pp 120”;
- Tem publicados dezenas de artigos sobre as Ilhas de Querimba  em https://foreverpemba.blogspot.com.br/
FESTAS FELIZES 
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em 14 de Dezembro de 2017. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos e imagens deste blogue só com a citação da origem/créditos.

11/14/14

A CONSTRUÇÃO DO FAROLIM DA MUJACA, NA ILHA DO IBO

Prof. Carlos Lopes Bento

10/17/14

18 de Outubro de 2014 - DIA DA CIDADE DE PEMBA

 56º ANIVERSÁRIO DE PEMBA


8/25/14

OS POETAS NÃO MORREM!

Eduardo White - Wikipédia
Prémio Literário Glória de Sant'Anna 2013

6/22/14

A sabedoria dos provérbios macuas !

Educação e saúde nos provérbios macuas

O povo macua é uma tribo bantu, do norte de Moçambique, cuja população está em torno de três milhões de pessoas.
Sua cultura manifesta-se particularmente nos seguintes aspectos: língua, cultura literária, contos, advinhas, provérbios e danças.
Alexandre Valente de Matos passou mais de 30 anos entre os macuas e, após recolher mais de mil provérbios, compilou a metade, importando-se em ventilar o sentido autêntico de cada um. Estes adágios englobam a sabedoria do povo e deixam evidente a fonte de sua vasta riqueza cultural, intelectual e moral.
Matos, depois de estudar cientificamente os provérbios macuas, acredita que é importante fazer-se justiça com este povo. “Quando, agora, se atenta ponderadamente a que todo este código de máximas luminosas, cunhadas em linguagem selecta, lacónica e filosófica, pertence a um povo imenso que até há bem pouco tempo era tido na conta de atrasado e selvagem, no conceito de europeus responsáveis, quanto não devemos penitenciar-nos por não nos termos debruçado a sério, desde o princípio, sobre o estudo da formosa alma africana!
Os aforismos macuas, na sua faceta cultural, fazem parte do chamado patrimônio comum a toda a humanidade, encerrando normas de moralidade e de guia seguro para a vida prática, que nos maravilham e enchem de espanto.
Muitas vezes, em companhia dos meus experientes interlocutores ou a sós comigo, sorria de íntima felicidade ao pensar na opulência de conceitos belos e profundos deste tesouro escondido no campo do pai de família.
Em busca de uma forma mais correcta de expressar a verdade, direi que no corpo destes provérbios se reflete vivamente, como em filmado documentário paisagístico, toda a vida do povo, deixando descobrir as suas fontes inspiradoras: crenças, acontecimentos, histórias reais, fábulas, ditos lacônicos e elegantes, hábitos dos homens e dos animais e, principalmente, a observação atenta até aos últimos pormenores dos caprichosos segredos da Natureza circundante.”
Cada povo tem sua forma de expressar seus valores e, para entendê-los, nada melhor que se portar Em Roma como os romanos.
Os provérbios macuas são caracterizados por certa penumbra de mistério, a sua expressão processa-se, algumas vezes, por linguagem de recorte difícil; ditos concisos lavrados por cinzel obscuro em termos obsoletos e com omissões flagrantes, cujo sentido nem o jovem nem os leigos menos versados na língua conseguem captar.
É possível notar que a sua grande maioria tem uma formulação alegórica, fazendo-nos reportar do sentido literal para o metafórico quando procuramos interpretá-los.
Assim, cada provérbio macua “É sempre o mistério ou enigma, cobrindo ciosamente com o véu espesso, a olhos estranhos, o oráculo riquíssimo das vozes sapienciais de um povo...” “Além de tudo o mais, os provérbios macuas condensam toda a filosofia de um povo – filosofia esta que se patenteia exuberante em princípios, ditames, normas e axiomas por que se rege o seu direito consuetudinário.”
Em outro ensaio (Lacaz-Ruiz, 1998), dissemos que “Dentre os provérbios de origem africana, alguns podem confirmar a influência no estabelecimento de valores e normas, bem como da sua possível aplicação no foro jurídico:

Mwana mukuru na ithe ni hamwe (O filho mais velho e o pai são uma coisa só - kikuyo);
Mwana wa mberi (O filho primogênito é toda minha alegria - kikuyo);
Kwa mwendwa gutiri kirima (No caminho para a casa do amado não se encontram montanhas - kikuyo);
Heri kufa macho kuliko kufa moyo (É melhor perder a vista que a alma - kiswahili);
Choru ndeilenuragha ni luembe Twake (Ao elefante, os marfins não lhe pesam - taita);
Omwamwa salia namakosa tawe (Mais vale a mensagem que o mensageiro - luhya).

Ainda sobre provérbios de origem africana, dentro do conceito lohmanniano (Fujikura & Meidani, 1995) de sistema língua - pensamento, Lauand (1994) analisa a universalidade filosófico-teológica dos provérbios.”
Também assim são os macuas. Segundo Matos (1982) “Em muitos passos da sua vida, os Macuas fazem uso dos provérbios, reforçando a atitudes e posições, quer estas se firmem em preceitos de correcção e gravidade, quer derivem para o cómico ou para grosseria picaresca. Mas o forte do seu emprego, o lugar onde se obtém o seu efeito mais retumbante, ocorre nas sessões de julgamento dos milandos (litígios) no parrô (tribunal) do régulo.
Quando na ventilação de um milando este atingiu uma fase de beco sem saída, se uma das partes litigantes citar um provérbio, com propriedade e acerto, a favor da sua causa, é como se acendesse uma luz na treva ou se rasgasse uma picada através da selva densa, pois que tem a causa ganha, pela certa.
Os aforismos têm, pois, entrada livre no tribunal do régulo como normas preceptivas ou vindicativas do direito e da justiça, e é à luz da sua doutrina que as contendas e demandas são deslindadas e solucionadas.
Muitas vezes, é o próprio régulo, na sua qualidade de juiz, que encerra a audiência ou julgamento com a citação de conceituoso rifão.”[1]
O missionário Matos diz ainda que “Como reverso da medalha, toparemos outros, cujo papel é dar combate à preguiça, à ganância e ambições desmedidas, ao orgulho e soberba, à fanfarronice, à intriga, ao roubo, à fornicação, à desconfiança, à avareza, aos maus hábitos, à negligência, à ingratidão, à vergonha, à mentira, à maledicência, à vilania, à inveja – a terrível nrima, fonte de males imensos no seio das famílias africanas...”

Provérbios macuas relacionados com a educação e saúde[2] :
Da coletânea com exatos 500 provérbios macuas de Matos (1982), podem ser selecionados os seguintes, relacionados com a saúde e educação, ou com a falta delas.
Os comentários feitos em cada provérbio são adaptações das explicações feitas pelo autor do livro Provérbios Macuas.
Munamuyara khapá – Vós gerais filhos à maneira do cágado.
Comentário – Os bantas afirmam que o cágado não tem o costume de chocar os ovos que põe, deixando este cuidado à mãe natureza. Quem escuta este provérbio recebe na realidade uma dura censura, a de estar descuidando do trato saudável dos filhos, isto é, foi buscar no casamento apenas a satisfação do prazer sexual.
Mùnnuwale muhupu wa makhala – Sois corpulento como um saco de carvão.
Comentário – Usado para pessoas que fazem algo que delas não se esperava. A quem tem físico e saúde, recomenda-se também que tenha juízo. A expectativa, quando não é feita de acordo com a realidade das coisas, causa as maiores decepções. Quem vê uma parreira vistosa e corre atrás dos frutos e não os encontra diz Muita parra, pouca uva.
Okhawá, ntapha na Muluku – A morte é um laço de Deus.
Comentário – Aqui diríamos contra a morte, não há remédio. Os africanos imaginam Deus como um caçador para apanhar os homens. Este provérbio retrata a situação daqueles que levam uma vida indigna e não dão importância à realidade da morte. Assim é a vida dos que desprezam o cuidado com a saúde, e a morte chega como um laço do caçador.[3]
Mukhopo ori mumu, ohittèla; ottèla va ririmaru – O peixe mukopo está aqui na água e não é branco; só fica branco no peito.
Comentário – Entende-se que o peixe mukopo é preto, e mesmo vivendo na água, não fica branco. Logo, o preguiçoso que não se lava bem, pode escutar este provérbio, pois, para se banhar, não basta estar na água, é preciso se esfregar para ficar limpo. Esta mesma expressão aplica-se aos desleixados, que não se esforçam por vencer as dificuldades que aparecem na vida.
Ekumi owoka – A saúde engana
Comentário – Quantos estão aparentemente saudáveis, mas apresentam no seu interior tanta doença e ruína.
Wòpa nlapa, wìtipera – Tocar o tamborzinho (nlapa) é esforçar as mãos.
Comentário – Este tambor, mesmo sendo de pequeno tamanho, para ser bem tocado, é necessário que se aplique a ele com capacidade, energia e persistência. E aqui diríamos A perseverança tudo alcança ou mais faz quem quer do que quem pode. Para todos servem estes conselhos, pois para saber algo, é preciso estudar, e cada um colhe o que plantou.
Wìkhunèla wòna orirya – Agasalhar-se é sentir frio.
Comentário – Os régulos de tempos em tempos, em reuniões específicas, lembram aos seus súditos a importância do trabalho, do viver em paz, e de não provocar litígios. Não falta nestas ocasiões quem peça a palavra para reclamar da falta de educação e respeito dos outros. Ora, o pequeno rei que a todos conhece pede para ele se sentar, pois o que reclama é um deles de quem ele fala. Nós diríamos: Se falaste é porque vestiste a carapuça ou Quem fala mal dos outros fala mal de si mesmo.
Mòro wa va’salani ohisa empá – O fogo aceso na lixeira é capaz de incendiar a casa.
Elavilavi khenikhwiwa; enxèriha maitho – A patifaria não se mata; apenas torna vermelhos os olhos do patife.
Comentário – Este é o modo sutil de dizer daquele que fez ações indignas, e que não é condenado à morte, mas pela perda da confiança dos outros, chora amargamente. Os nossos correspondentes são: Ninguém faz mal que não venha a pagar, e quem faz o mal espere outro tal.
Okhomàla okhuma nitho – Ser esperto é ter lume nos olhos.
Comentário – A esperteza indica atenção nos detalhes das coisas; é estar atento à Natureza, pois nela encontramos as respostas para todas as coisas. O esperto não deixa escapar um animal que passa ao lado; mede os prós e contras prudentemente; tem a vontade forte o suficiente para resistir quando é convidado para o mal; e sabe tomar conta das coisas que lhe são confiadas, com o mesmo zelo que tem pelo que lhe é próprio. Os provérbios correspondentes são: Quem em todos crê erra; e quem em nenhum não acerta e não bebas coisa que não vejas, e nem assines carta que não leias.
Kophweleya”, wunnuwa nikuma – Aquele que diz “Ando aborrecido” é capaz de perpetrar um grave delito.
Comentário – A tristeza é um grande mal. É o caso de uma pessoa que anda chateada e aborrecida, e quando lhe perguntam como está responde laconicamente que está chateada com a vida; em breve chegará a notícia de que se enforcou... Por um cabelinho se pega o fogo ao linho. Por este motivo, é importante educar na alegria, ensinando que temos uma dignidade, e não criando uma falsa expectativa para as coisas. Das frustrações vem a tristeza, e com ela, a morte.
Opanke mùpa, onroromela olupa – Quem fabrica flechas confia na pontaria.
Comentário – Aquele que vai para o alto mar acredita que sabe pescar e conhece bem os segredos do mar. Este provérbio transmite a idéia de que as coisas, para serem levadas a bom termo, carecem não só de inteligência, mas também de vontade. Provérbios similares em português seriam: Quem não cansa, alcança e Não se pescam trutas a bragas enxutas.

Provérbios macuas e a família :
Cada criança que vem ao mundo tem direito a um pai, uma mãe, uma família.
Tornaram-se populares os conceitos de que uma criança doente se recupera antes e melhor se conta com os cuidados da mãe.
São também evidentes os problemas causados nos centros de ensino por filhos de pais separados.
Mesmo que a família seja um tema polêmico, ela ainda é o fiel da balança, a esperança da sociedade. Pedir conselho aos mais velhos é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, existem a experiência e a sabedoria, por outro, estão o ceticismo e o cansaço da vida. Os tempos atuais são outros quando comparados ao das gerações anteriores. As mudanças quanto à forma são evidentes, mas quanto à essência, não.[4]
Desta forma, o conflito de gerações sempre irá existir, mas os problemas sociais serão inversamente proporcionais ao zelo do processo educacional familiar.
O tempo gasto com a família nunca é perdido, e sempre haverá conseqüências positivas no âmbito pessoal, familiar e social.
O conhecido provérbio "Mateus, primeiro os teus" resume o que foi dito.
Na África, é mais comum se ouvir: Dine with a stranger but save your love for your family (Jante com um estranho, mas reserve seu amor para sua família).
Para finalizar, dois provérbios macuas.
O primeiro retrata o conflito de gerações; o segundo a educação para o ser humano:
Ka namwana a khapá; mapele ari mmirimani – Sou uma mulher com filhos, mas de raça pequena como o cágado, cujos seios estão recolhidos no próprio peito.
Comentário – Os africanos sabem perfeitamente que o cágado é ovíparo, mas por alegoria, dizem que os seus peitos estão escondidos no interior da carapaça. Assim sendo, caso alguém diga que uma moça ainda não tem condições para ir ao casamento por ter peitos pequenos e ser de baixa estatura ou um moço ou uma criança que dão uma resposta com sabedoria e graça quando acuados poderão escutar este provérbio. Para estas situações, os provérbios similares são: Da mulher e da sardinha a mais pequenina e Os homens não se medem aos palmos.
Okhala onokhalihaniwa – Viver é ajudarmo-nos uns aos outros a viver.
Comentário – Para o ser humano, o existir e o coexistir são a mesma coisa. A vida tem muitos dissabores e contratempos, sejam eles as doenças, os percalços ou as fatalidades, que só iremos superar com a amizade, carinho ou amparo dos nossos familiares e amigos. O homem precisa da ajuda da mulher e vice-versa. Os filhos precisam dos pais, e estes confiam no auxílio dos filhos. Quem se isola do convívio dos outros por orgulho, egoísmo, avareza ou qualquer outro motivo vil, está condenado à tristeza e à morte. Um dos membros da família nunca fica doente sozinho, nunca ninguém fica só na tarefa de educar os filhos, assim nos diz a voz da África: One knee does not bring up a child e One hand does not nurse a child.

Considerações finais :
Quantas pessoas analfabetas há que viveram longe da chamada civilização ou dos grandes centros urbanos, que nunca freqüentaram centros de ensino, e parecem nada possuir, mas tudo possuem, pois têm o licor da sabedoria.
Com modos de ser manso, com uma alegria interior que transborda no trato com os demais e o olhar que penetra na alma.
As palavras desta gente são proverbiais, como as vozes que vêm da África.
Um provérbio macua exprime bem tudo isto.
Diz o que é muitas vezes o provérbio na relação entre as pessoas:
Mwèrera ahiva etthepo ni nipoxo (ou nivali ou nluku) – O que experimentou matou o elefante a caqueirada (ou a pedrada).
Este provérbio é usado para pessoas que conseguem grandes êxitos, com recursos insignificantes.
Talvez os provérbios representem estes recursos insignificantes, mas, se bem usados, serão uma fonte de unidade e sabedoria, de paz e de alegria.

Referências Bibliográficas:
FUJIKURA, A.L.C., MEIDANI, H.Santo Tomás e os Árabes - Estruturas lingüísticas e formas de pensamento. Revista de Estudos Árabes. v.3, n.5-6, p.33-51, 1995. (Tradução do original LOHMANN, J.Saint Thomas et les Arabes - Structures linguistiques et formes de pensées. Revue Philosophique de Louvain, v.74, fév, p.30-44, 1976.)
HANANIA, A.R., LAUAND, L.J.Oriente e Ocidente: Língua e Mentalidade – II. Revista de Estudos Árabes. v.1, n.2, p.37-51, 1993.
LACAZ-RUIZ, R.O referencial comum dos provérbios e a personalidade humana. In:______ Projeto provérbios para Escolas de Primeiro e Segundo Graus. São Paulo : Editora Mandruvá. 1988, p.50.
LAUAND, L.J.Sentenças de sabedoria dos antigos. In: ______ Hanania, A, R.; Lauand, L.J. Oriente & Ocidente: Sentenças e sabedoria dos antigos. São Paulo: EDIX/Centro de Estudos Árabes DLO-FFLCH/USP, 1994a, p. 64.
LAUAND, L.J.África: língua, provérbios e filosofia bantu. In: Luiz Jean Lauand (org.) Oriente e Ocidente: o literário e o popular. - Traduções e estudos sobre diversas culturas. vol.6. São Paulo: Edix/CEA/DLO/FFCLH/USP, 1994b, p.23-36.
LINO CURRÁS NIETO, J.Provérbios e virtudes. São Paulo : Quadrante. 1999, p.86.
MATOS, A.V.Provérbios macuas. Lisboa : IICT/JICU. 1982, p.376.
RUIZ, R.O tempo dos pais e o tempo dos filhos. Interprensa v.3, n.29, p.4, 1999.
[1] Também estão presentes nos provérbios uma elevada ética, justiça, amor à verdade, espírito de generosidade, deferência para com os outros, serenidade nas dificuldades, prudência nas palavras, estima e veneração, prestação de ajuda mútua, desprendimento do coração perante as belezas efêmeras do Mundo, vanidade da formosura feminina, hábitos de trabalho, confiança em Deus nas desgraças e esperança na sua justiça incorruptível, casamento como sociedade perfeita em que o homem e a mulher se complementam mutuamente, o certo contra o incerto, economia doméstica, valor da experiência ou da prática, gratidão, intrepidez, conveniências da mansidão, lições da morte..., dando veracidade ao anexim latino Vox populi, vox Dei. (cf. Matos op. cit.)
[2] "Provérbios existem em todas as culturas e também no Ocidente; mas não tão copiosamente e, sobretudo, não com a força psicológica que exercem no Oriente, onde todos conhecem vivamente os mesmos inúmeros provérbios que, além de constituírem um tesouro de sabedoria prática, erigem-se - junto com os livros da tradição religiosa - num poderoso referencial comum. O que, talvez, não seja alheio ao fato - para o qual tanto gostava de chamar atenção o Dr. Jamil Almansur Haddad - da fraca incidência de busca de auxílio psiquiátrico por parte do árabe. A propósito, note-se que precisamente um dos mais graves problemas culturais do Ocidente, hoje, é a ausência de um referencial comum, duradouro e universal. (HANANIA &LAUAND, 1993.)
[3] Neste sentido, vale a pena lembrar a misericórdia de Deus para com os homens. Um santo dizia que Deus não pode ser comparado a um caçador, que fica à espreita do primeiro erro para nos castigar, mas sim a um jardineiro, que cuida de suas flores, e quando elas estão belas, leva-as para Si.
[4] “O tempo dos pais e o tempo dos filhos são tempos que correm a uma velocidade muito diferente. E a sensação que a sociedade provoca, principalmente nos pais, é a de que isto é irreversível, tão irreversível quanto o progresso tecnológico que todos acompanhamos e vivemos. O que nos escapa é que há um tempo compartilhado não apenas pelas gerações dos pais e dos filhos, mas por todas as gerações. Um tempo que ainda podemos compartilhar em comum: trata-se do tempo de “ser pessoa”. É verdade que fica difícil aconselhar ou passar experiênciassobre “ser isto” ou “ser aquilo”, quando sabemos que não temos experiências vitais nem “disto” nem “daquilo”, porque, de fato, o mundo correu muito depressa e o presente tem muito pouca permanência. Porém o tempo de “ser pessoa” tem uma outra velocidade. Uma velocidade constante, e não continuamente acelerada. Tanto é pessoa o jovem de hoje quanto o jovem dos tempos clássicos da Grécia. (Ruiz, 1999)
- Rogério Lacaz Ruiz Adilson José Mangetti, aluno especial da Pós-Graduação Fac. de Zootecnia e Eng. de Alimentos USP/Pirassununga, Av. Duque de Caxias Norte, 225 13630-970 - Pirassununga - SP-Brasil.

Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Actualização em Outubro de 2013 e Junho 2014. 

3/15/14

TALACO – A FORMIGA CARNÍVORA

Lá pelos idos de 1960/61, morávamos na Fazenda Sômboa (onde o meu pai era o gerente), próxima da Missão Têngua (padres franciscanos capuchinhos da Terceira Ordem Franciscana Secular) a 15 quilômetros de Milange sentido Quelimane, Zambézia, Moçambique.

Tínhamos no quintal de casa, uma pequena criação de coelhos, e os mesmos estavam instalados em cinco ou seis pequenas repartições com três ou quatro coelhos em cada uma.

Esse criadouro fora construído em estilo “palafita” a mais ou menos um metro e vinte de altura.

Certa manhã acordamos e nos deparamos com um espetáculo dantesco. Uma parte da “palafita” havia sido atacada em algum momento da noite ou madrugada, e o ataque ainda estava em pleno processo.

Pudemos constatar a fantástica voracidade dessas pequenas formigas de cor preta.

As mesmas subiram por uma das colunas de canto da “palafita”, e logo se instalaram na primeira repartição, depois passaram à segunda e por fim à terceira. As demais repartições não foram tomadas, pois as formigas foram surpreendidas pela presença humana logo de manhã bem cedo.

Na primeira repartição, dos três coelhos que lá havia víamos três montes de milhares de formigas...ao serem afastadas com paus, pudemos ver esqueletos de coelhos com praticamente 90% de seus corpos desprovidos de carne.

No segundo compartimento um dos coelhos estava só ossos, e os demais ainda com boa parte de seus corpos sendo consumidos.

No terceiro e último compartimento atingido por elas, um ou dois coelhos vivos e apavorados e um outro morto, mas ainda com uma menor incidência de formigas.

O ninho delas foi descoberto a uns 30 metros de distancia e uma vez aberto, tornou-se uma pequena cratera de pouco mais de um metro e meio de profundidade por um diâmetro de aproximadamente três a quatro metros. O chão estava literalmente preto de formigas, e lembro-me do meu pai despejar uma lata de gasolina e atear fogo terminado assim com aquele formigueiro.

Lembro-me também, mais ou menos por volta dessa data, um dos funcionários da fazenda, chamou o meu pai de madrugada, informando que o touro reprodutor da fazenda que dormia em um galpão coberto e fechado, construído especialmente para ele, estava muito nervoso e ameaçava arrebentar a porta.

Quando o meu pai lá chegou, verificou que o chão estava cheio de talaco, e as tais formigas não davam descanso ao touro... as mesmas o picavam todo, principalmente entrando nas narinas e orelhas, deixando-o extremamente irritado. Como era de madrugada, a solução foi remover o touro do local, levando-o para um curral aberto, e pela manhã o ninho das formigas foi localizado por funcionários nativos e destruído.

A última lembrança minha do Talaco, foi lá pelo meio do ano de 1965, eu na altura com nove ou dez anos. Morávamos em Milange, poucas semanas antes de retornarmos a Portugal.

Os meus pais acordaram comigo gemendo e lembro-me que entre o limiar do sono e do acordado, sentia-me picado aqui e ali. Eu ainda na cama, os meus pais constataram que estava sendo atacado pelo Talaco e rapidamente me tiraram dali e me despiram, sacudindo as formigas que começaram a tomar conta do meu corpo. Naquela noite, ninguém mais dormiu. Todos os móveis foram tirados do quarto, e o chão lavado com querosene, o melhor produto que se tinha no momento para afastar essas formiguinhas impertinentes. Depois arrumar todo o quarto e descobrir logo ao amanhecer o foco das formigas para exterminá-las.

Pude com estas três experiências constatar a voracidade deste tipo de formiga. Pequeninas mas que fazem um estrago!!!!
Carlos Santos (02 de maio de 2005) - Do Bar da Tininha - Yahoo!

1/14/14

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - NOTAS SOBRE ALGUMAS DAS SECULARES MANUFACTURAS DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO

- Lisboa, Carlos Lopes Bento, 13 de Janeiro de 2014. Em memória e com saudade, a minha querida Esposa Maria Augusta, que Deus chamou deste Mundo faz hoje 13 meses.
  • Outros trabalhos do historiador Carlos Lopes Bento neste blogue
  • O Dr. Carlos Lopes Bento no Google.
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Janeiro de 2014. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

1/05/14

Eusébio, o 'Pantera Negra', morre aos 71 anos

Eusébio, a 'Pantera Negra', a lenda do futebol português, morreu na madrugada de hoje, aos 71 anos. In "Notícias ao Minuto".

Eusébio da Silva Ferreira, o ‘Pantera Negra’, nascido em Lourenço Marques (atual Maputo, em Moçambique), a 25 de Janeiro de 1942, parte assim, a uns dias de completar 72 anos.

Fonte do Benfica adiantou que Eusébio morreu às 4h30 da madrugada de hoje, vítima de paragem cardiorrespiratória.

A lenda do futebol português, considerado por muitos um dos melhores futebolistas de todos os tempos, sempre teve várias complicações de saúde, principalmente problemas cardíacos. Em junho de 2012 esteve internado no Hospital da Luz, na sequência de um acidente vascular cerebral (AVC) que sofreu na Polónia.

Eusébio estava em Poznan a acompanhar a seleção nacional durante o Campeonato da Europa de futebol, quando se sentiu mal e foi internado num hospital daquela cidade polaca.

O perfil de um campeão português

O futebol nos pés de Eusébio começou ainda menino, quando aos 15 anos jogava no "Os Brasileiros Futebol Clube", em Moçambique.

Foi uma passagem curta na vida de Eusébio, que depois de não passar nos testes para o Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica no seu país de origem, representou o Sporting de Lourenço Marques, onde se começou a distinguir.

As notícias que chegavam à metrópole davam conta das qualidades do jogador e o brasileiro Bauer 'aconselhou' Eusébio a Bella Guttman, alertando o treinador para as qualidades daquele miúdo.

A década de 1960 estava a despontar e Benfica e Sporting envolveram-se numa disputa pelos serviços do 'Pantera Negra': as 'águias' comprometeram-se com a mãe de Eusébio, D. Elisa, e o Sporting com o clube.

O processo demorou a clarificar-se e Eusébio, que chegou a Lisboa em dezembro de 1960 com o nome de código Ruth, apenas viria a estrear-se pelo Benfica em maio de 1961.

Foi o princípio de tudo: uma carreira ímpar, com sucessos, prestígio, lesões, notoriedade e um nome que se transformou numa verdadeira marca, fosse ao serviço do Benfica ou da seleção, com a qual se estrearia em 08 de outubro de 1961.

No Benfica, acabado de se sagrar campeão europeu, Eusébio assumiu papel fundamental no último ano do treinador húngaro.

As 'águias' tinham acabado de alcançar o seu primeiro título europeu e já todos os consagrados (José Águas, Germano, Mário Coluna ou José Augusto) comentavam sobre quem sairia da equipa que derrotara o FC Barcelona (3-2) na final para Eusébio entrar. A rifa saiu a Santana.

O reinado do argentino Alfredo di Stefano (Real Madrid), um dos ídolos do próprio Eusébio, estava perto do fim e uma nova estrela surgia nos relvados, rivalizando com jogadores como Pelé, Puskas, Bobby Charlton ou Beckenbauer, e mais tarde, Johan Cruyff.

Explosão ou velocidade eram características normais em Eusébio, mas sob a sua chancela fica a excelência do remate: de qualquer ângulo, forte, colocado, em sucessivas imagens de corpo dobrado prestes a afligir os guarda-redes contrários.

Na final da Taça dos Campeões Europeus de 1962, o Real Madrid até esteve a vencer por 2-0, mas na noite dos pontapés de longe, mais de metade dos golos resultaram de remates de fora de área, Eusébio brilhou, pese embora o 'hat-trick' de Puskas.

A fama estava a caminho e o 'Pantera Negra' fez não só parte de um Benfica qual águia imperial na década de 1960 - cinco finais dos Campeões Europeus, duas ganhas e três perdidas -, mas de uma seleção 'gigante' no Mundial de 1966, em Inglaterra.

Na estreia de Portugal em campeonatos do Mundo, Eusébio foi um dos grandes responsáveis pelo terceiro lugar, ganhando o troféu destinado ao melhor marcador (nove golos) e sendo considerado por muitos o melhor futebolista da competição.

Na memória de todos ficaram os quartos-de-final com a Coreia do Norte, com Portugal a perder por 3-0 aos 25 minutos, naquele que Eusébio define como "o melhor jogo com a camisola da seleção e um dos melhores" da sua vida.

"Sempre acreditei e disse ao Simões que íamos ganhar. Falei com o Coluna para aguentar a defesa e não sofrermos mais golos".

A partir dos 27 minutos, Eusébio arrancou para uma das melhores exibições individuais da história do futebol: virou o resultado com quatro golos (4-3) e José Augusto ainda fez o quinto para Portugal.

Do primeiro Mundial de Portugal também permanece a imagem de Eusébio a chorar, depois de perder a meia-final frente à seleção da casa, a Inglaterra (2-1), numa carreira pela equipa das 'quinas' em que disputou 64 jogos e marcou 41 golos.

Com o Benfica, o 'King', nome que também passou a ser dado a Eusébio após a Puma ter criado umas botas de homenagem ao jogador, foi 11 vezes campeão nacional, ganhou cinco Taças de Portugal e foi campeão europeu (1961/62).

Até há pouco tempo, e antes do surgimento de jogadores como Luís Figo ou Cristiano Ronaldo (outros nomes grandes de tempos mais recentes), o currículo de Eusébio não tinha rival à altura entre os jogadores portugueses.

O 'Pantera Negra' foi sete vezes o melhor marcador do campeonato português (1963/4, 1964/5, 1965/6, 1966/7, 1967/8, 1969/70 e 1972/73), duas vezes o melhor marcador europeu (1967/8 e 1972/73) e uma vez eleito melhor futebolista Europeu.

Na fase final da carreira passou por outros clubes (Rhode Island, Boston, Monterrey, Beira-Mar, Toronto Metros, Las Vegas, New Jersey Americans e União Tomar), mas a possibilidade de emigrar em pleno auge foi 'vetada' no final da década de 1960.

O Inter de Milão cobiçava Eusébio e rezam as crónicas que oferecia três milhões de dólares (então cerca de 450.000 euros), mas o negócio nunca se chegaria a realizar: uns dizem que a Itália fechara as fronteiras a jogadores estrangeiros, outros que Salazar impediu a transferência.

Além dos golos e jogadas de génio, a carreira de Eusébio foi também marcada pelos sacrifícios impostos pelas várias lesões sofridas, que o levaram sete vezes à sala de operações para intervenções cirúrgicas aos joelhos, seis das quais ao esquerdo.

Hoje, Eusébio continua a ser nome de referência no Benfica e um embaixador da seleção portuguesa, mas a sua importância e mediatismo extravasou o mundo desportivo, tornando-o num autêntico símbolo.

Eusébio recebeu várias distinções nacionais e estrangeiras ao longo da vida, entre elas os colares de Mérito Desportivo (1981) e de Honra ao Mérito Desportivo (1990), além da "Águia de Ouro", o mais alto galardão do Benfica, em 1982.

Do desporto às artes, Eusébio viu a sua imagem inspirar cronistas, realizadores, bandas de música, escultores ou outros criativos.

Uma banda desenhada - Eusébio, o Pantera Negra (de Eugénio Silva) -, uma minissérie, da autoria de Manuel Arouca, uma estátua no Estádio da Luz e uma réplica em Boston, o nome de um avião da TAP e o nome de uma lontra no Oceanário são exemplos.

Eusébio também se 'transformou' em boneco no já extinto programa humorístico televisivo 'Contrainformação', onde tinha o nome de Deusébio.


O antigo jogador tem também o nome em ruas de várias localidades, na galeria da fama em Manchester, em Inglaterra, ou as pegadas no cimento da calçada da fama do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em iniciativas que prolongam no tempo um futebolista de exceção.

  • No blogue ForEver PEMBA em 14 de JUnho de 2009 - Ronda pela net: Jornalismo brasileiro relembra o Moçambicano Eusébio - Pantera Negra...:
Transcrevo pela dimensão deste ídolo, grandioso e ao mesmo tempo simples que faz parte das memórias de nossa adolescência.

Por mérito, continua a ser, para mim e muitos de nós, o NÙMERO UM do desporto português, moçambicano e além fronteiras. Tanto é assim que o brasileiro GloboEsporte.com dedica-lhe reportagem neste dia 14 de Junho.
Aqui fica, com a devida vénia à "Globo", porque vale a pena ler e é homenagem a este gigante do futebol luso-africano que sempre recordaremos, gratos por todas as alegrias que nos fez viver:


""Amigos do Pantera Negra relembram histórico do maior craque do futebol português e revelam que apelido do jogador quando criança era 'Didi'. - Eusébio conseguiu reconhecimento internacional e títulos jogando pelo Benfica e pela seleção portuguesa durante as décadas de 60 e 70, mas a glória é compartilhada pelo povo de Moçambique, terra natal do craque, que reencontram o ídolo que costuma fazer visitas freqüentes aos amigos.


- Ele vem sempre aqui. A última vez foi em janeiro e quando chega é aquela festa. Ele jogava com os dois pés, corria muito e, tecnicamente, era o melhor. Tinha um chute mortífero impressionante. A qualquer distância o “gajo” marcava. - contou Bessa, ex-companheiro de Eusébio no Sporting do Moçambique no começo da década de 60. Segundo ele, Eusébio - que nasceu no dia 25 de janeiro de 1942 quando Moçambique era ainda uma colônia portuguesa - está no mesmo patamar que Pelé e Maradona. - Se for para citar outros grandes comparados a ele, lembro apenas desses dois.


Guerra complica o futebol no Moçambique - Além do Sporting do Moçambique, o companheiro de Eusébio jogou em grandes clubes do país como o Textáfrica e Ferroviário na época em que o futebol tinha uma exposição muito maior. Hoje, a paixão dos moçambicanos permanece, mas o esporte ainda se reergue, junto com todo o país que ficou em ruínas com a guerra civil (1976/1992).


- A guerra atrasou muito o nosso país. Não podíamos viajar, jogar, disputar torneios por conta dos conflitos - conta Bessa. Nessa época, Eusébio já estava bem longe e quase pendurando as chuteiras (1979) após, entre muitas conquistas, ser considerado o melhor jogador do Mundial de 1966. Atualmente, 17 anos após o término do conflito, o esporte caminha para o crescimento.


- Acho que o futebol moçambicano está melhorando. Muitos jogadores vão para o exterior e adquirem mais experiência. O Dominguez, por exemplo, é um deles - afirmou Bessa sobre o jogador que está no futebol sul-africano.


“Os Brasileiros”, o primeiro time de Eusébio - Natural de Maputo, Eusébio começou a dar seus primeiros dribles no bairro de Mafalala, região bem pobre, a cerca de 15 minutos do centro da capital (que na época, ainda se chamava Lourenço Marques).


- Ele praticamente nasceu jogando bola. Quantas vezes deixava de ir ao colégio só para jogar futebol! Era uma ligação impressionante! Eusébio sempre foi simples, uma pessoa muito boa e um fenômeno nos gramados – afirmou Alfredo da Silva, amigo de infância de Eusébio que serviu como guia da reportagem do GLOBOESPORTE.COM em Mafalala. A primeira equipe de Eusébio foi um time amador de garotos que tinha um nome bastante sugestivo: “Os Brasileiros”. Cada jogador tinha um apelido que se referia a algum jogador canarinho da época. Eusébio, por exemplo, foi apelidado de Didi.""
- GloboEsporte.com, 14 de Junho de 2009, 10h05.
  • Eusébio da Silva Ferreira - Aqui!
  • Bessa, amigo de Eusébio, mostra fotos antigas do eterno craque do Benfica - Aqui!
  • Alfredo, outro amigo de infância de Eusébio - Aqui!
  • FOTO: Eusébio tira ‘casquinha’ da taça - Aqui!
  • Em Roma, Eusébio lembra rivalidade com Pelé ao comparar Messi e C. Ronaldo - Aqui!
Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

12/31/13

Que venha 2014 ... !

Clique na imagem para ampliar. Imagens da net e texto de J. L. Gabão. Este artigo pertence ao blogue ForEver PEMBA. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores.

12/01/13

PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2014

REGULAMENTO 

O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

Prémio - 
Prémio no valor de 3.000.00 euros a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editado desde Janeiro de 2013 até 7 de Março de 2014.

Elegibilidade - 
a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
b) Não serão aceites antologias ou colectâneas.
c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo a qualquer membro do júri.
j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

Condições - 
Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
a) Contribuir com €300 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
b) Garantir que um mínimo de 200 exemplares do livro estejam disponíveis em stock em Portugal, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
c) Fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
d) Fazer todos os possíveis para que o Autor do livro premiado esteja disponível para a cerimónia da entrega do Prémio.
e) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

Inscrições – 
a) A data limite das inscrições é 7 de Março de 2014.
b) Os trabalhos devem ser enviados pelos editores no formato pdf juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer para premio.literario.poesia@gmail.com ou em forma de livro acabado. No entanto seis exemplares do livro impresso/acabado deverão estar na morada indicada, o mais tardar uma semana a partir do limite das inscrições.

Enviar a Obra, para: 
PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 
GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA 
Rua Professor Domingos Matos, 187
3880-515 VÁLEGA 
PORTUGAL

c) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.
d) Todas as inscrições serão confidenciais.

Lista final - 
a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 7 de Abril de 2014.
b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
c) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

Reprodução de Poemas - 
Poemas dos livros seleccionados poderão ser publicados no JORNAL DE VÁLEGA, no site Glória de Sant’Anna, outros órgãos da Imprensa e press-releases com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura e o Prémio.

Júri - 
a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
f) A decisão final do Júri é irrevogável.
g) A atribuição e entrega do prémio será a 25 de Maio 2014 em local a anunciar.
Mais informações por favor contacte através do e-mail: premio.literario.poesia@gmail.com

10/18/13

18 de Outubro - DIA DA CIDADE DE PEMBA

''Extr. da publicação PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA-1850 a 1960, de Luis Alvarinho, que também se baseou em documentação do Arquivo Hist. de Moçambique, B.O. e Boletim da C. do Niassa, entre outros:

- O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da Colónia 8 de Dezembro, fundada por Jerónimo Romero e dissolvida 5 anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos
  • - Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934.
  • - É elevada à categoria de cidade em 1958 pelo decreto-lei de 18 de Outubro-G.G. da Província.''
PEMBA DE ONTEM E DE HOJE
Por Carlos Lopes Bento para o ForEver PEMBA
 
Ao comemorar-se mais um aniversário da elevação de Pemba a cidade, aproveito a ocasião para saudar todos os seus habitantes e respectivas autoridades e visualizar algumas imagens do meu Album, que lembram um pouco da História recente desta bela urbe, do norte de Moçambique.
 



Para a cidade de Pemba e suas Gentes votos de um futuro próspero e pacífico.
- Portugal, Lisboa, 18 de Outubro de 2009, Carlos Lopes Bento.
Dia da Cidade de PEMBA
LEMBRANDO A CIDADE DE PORTO AMÉLIA/PEMBA E A POETISA GLÓRIA DE SANT’ANA
Pemba - Wikipédia
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E O HOJE DE PEMBA, em 18 de Outubro de 2013:
Aniversário de uma cidade surpreendida! - Noticias OnLine - (Na ótica de Pedro Nacuo)

"""A situação com que a cidade de Pemba é obrigada a coabitar não estava nas previsões de quase todos urbanistas, gestores públicos, incluindo os actores das diferentes áreas político-sociais, cultural e económico, razão porque hoje não é exagero dizer que esta cidade, aos 55 anos de idade, sente-se positivamente surpreendida com cada vez maior demanda, visando satisfazer os apetites que o desenvolvimento económico, por via das descobertas dos recursos naturais, mais a Norte, impõe.

Mesmo localizando-se há cerca de 500 quilómetros de Palma, o epicentro das descobertas de hidrocarbonetos, principalmente o gás, a cidade de Pemba, vive no seu dia-a-dia, o frenesim que uma indústria desse quilate exige, por conta do facto de, até aqui, ser a principal base logística de todas as operações das multinacionais em actividade, tanto em terra como no alto-mar.

Tagir Ássimo Carimo, presidente do Conselho Municipal de Pemba, eleito intervalarmente e que pretende concorrer para as eleições autárquicas do próximo mês, diz que a comemoração dos 55 anos, sobretudo por esta razão, deve servir de momento de reflexão do que será a capital de Cabo Delgado nos próximos 10 a 15 anos.

“As soluções não devem ser encontradas hoje, é o que costumo dizer aos meus colegas, mas deviam tê-lo sido Ontem. Estamos perante evidências às quais devemos simplesmente corresponder, para não defraudarmos as expectativas” diz.

Ainda que se fale da criação de condições logísticas em Palma, incluindo um porto, nada indica que a cidade de Pemba possa vir a ser dispensada a favor do eventual recurso àquele ou outros locais desta província.

Pemba tem um porto marítimo com capacidade de manuseamento de carga de 200.000 toneladas/ano, um aeródromo com ligações directas para Nairobi, Dar-es-Salaam e Joanesburgo e aqui operam cinco bancos e duas agências de crédito.

A baía de Pemba, poderá continuar por muito tempo ainda, a atrair turistas, pois para além de acolher um dos melhores portos da África Austral, oferecendo um amplo ancoradouro que pode ser demandado a qualquer hora, as suas águas são cristalinas sem par, tornando-se num chamariz para os diferentes apetites turísticos de quem vem das outras latitudes.

Ela mede cerca de 10 quilómetros no sentido Norte-Sul e cerca de 11.5 quilómetros Este-Oeste e tem na parte terrestre espaço que hoje é ocupado por 10 bairros e duas unidades residenciais, habitados por 141.316 habitantes, se tivermos fé nos dados do último censo populacional.

Tranquila, como lhe é tradicional, a cidade de Pemba tem encontrado dificuldades de os seus habitantes abraçarem as oportunidades que se oferecem, decorrentes das anteriormente propaladas descobertas dos recursos naturais, mais a Norte da província, justamente porque os seus habitantes ficaram literalmente surpreendidos, mesmo na formação dos seus residentes.

As contas que se fazem actualmente, falam numa força de trabalho de 77.668 pessoas, das quais 42.9% são mulheres, e 57,1% de homens e desse total, 72.5% são empregados e 25% sem emprego, uma carga a não menosprezar, tendo em conta que depois vão engrossar o sector informal, que representa 31,9%, para depois a agricultura e pesca ficar com 19.8 porcento.

É dentro deste quadro que passam os 55 anos de elevação de categoria de cidade, da antiga Porto Amélia, o que ocorreu a 18 de Outubro de 1958 e a edilidade em jeito de balanco, acha que tudo o que foi planificado, à luz do manifesto eleitoral, está a ser realizado, sendo que maior parte foi concluído.

UMA PEQUENA PONTE QUE MARCOU…
O bairro Josina Machel, mas que os populares chamam-no Noviane, nasceu da teimosia dos pembenses face aos rigores de ordenação territorial que eram impostos, que obrigavam que algumas zonas consideradas inóspitas ou reserva de Estado não fossem ocupadas.

A teimosia levou a que, à forca, os citadinos residentes noutros bairros invadissem tais zonas, onde avulta o Chibuabuari e Noviane (Josina Machel), permanentemente alagadiços, íngremes e apertadíssimos. A edilidade, depois que Assubugy Meagy, que foi o primeiro presidente eleito para o município de Pemba, deu lugar a Agostinho Ntauale, cedeu completamente, tendo, inclusive, a autorização da sua ocupação sido um cavalo-de-batalha para as eleições que conduziram este último ao cargo.

Os ocupantes, porém, vinham das suas casas, noutros bairros, onde deixavam novos inquilinos, no advento da “febre” de aluguer de casas para diferentes fins, incluindo, aqueles resultantes do nascimento de muitos serviços na cidade e universidades que chamaram a Pemba, estudantes e docentes que antes não viviam nesta autarquia.

Consumada a ocupação, nada mais restava ao município, do que assistir a um rápido e crescente avolumar de necessidades a satisfazer para os munícipes ali residentes, desde o abastecimento de água, energia eléctrica e outras facilidades, já em pé de igualdade com aqueles que, tendo entendido a medida proibitiva, não quiseram desafiar a autoridade municipal.

Na verdade, tanto Noviane (Josina Machel) quanto Chibuabuari, pertencem ao bairro de Cariacó, razão porque passou a ostentar o estatuto de mais populoso, mais de 47.000 habitantes, suplantando Natite, que até fins da década 90, era o que mais pessoas acomodava.

Nessa sua nova qualidade, Noviane enfrentava, entretanto, um dilema, de travessia de um riacho no seu interior que se havia transformado no maior entrave para que os seus residentes não fizessem a sua vida normalmente. Passou a ser a lamentação de primeiro plano, sempre que alguém das estruturas provinciais ou municipais reunisse com a população daquela área residencial, até que Tagir Ássimo Carimo, toma as rédeas da municipalidade.

No conjunto de infraestruturas e estradas urbanas concluídas, consta, pois a ponte que liga os bairros de Cariacó e a Unidade Josina Machel, inaugurada com pompa que a ansiedade justificava, no dia 20 de Setembro deste ano.

Foram igualmente construídos, no resto da cidade, os mercados dos bairros de Muxara, Mahate e Ingonane, já entregues às estruturas locais para a sua operacionalização, o mesmo que aconteceu em relação às sedes administrativas de Mahate e Maringanha.

Mas ainda há infra-estruturas em construção, nomeadamente, a sede administrativa do bairro de Paquitequete, do posto de saúde do bairro de Alto-Gingone e da Escola Secundária de Amizade Sino-moçambicana, nesta mesma zona habitacional.

Está, por outro lado, em construção uma estrada de terra batida, considerada via rápida, de 5 quilómetros, partindo dos escritórios da ANE (Administração Nacional de Estradas) ao bairro de Chiuba, bem assim foi iniciada a pavimentação em pedra argamassada a rua CI 034.

A LINGUAGEM DAS RECEITAS E A SUA APLICAÇÃO
O nosso jornal teve acesso aos balancetes que se referem às receitas do município, onde deparou com o facto de que houve uma auto responsabilização de colectar 55.525.720,00 MT, pelo menos até Junho do corrente ano, do que resultou um sobre cumprimento em 14%, pois a colecta foi de 62.898,341,95 Meticais.

O fundo de Investimento de Iniciativa Autárquica foi executado em 73 porcento, o de compensação em 71, de estradas em 46 porcento, de combate à pobreza em 99 porcento e do Programa de Desenvolvimento Autárquico,em 64 porcento.

Está-se, com as baixas no fundo de estradas e PDA, perante um grau de cumprimento fixado nos 83 porcento. Especificamente, no que toca ao fundo de redução da pobreza urbana, o município de Pemba, nestes últimos dois anos, recebeu um financiamento no valor de 18.799.948, 21 Meticais, designadamente, para 269 projectos, em 2012 e 201, no presente ano, abrangendo ao todo 469 munícipes, dos quais, 326 homens e 144 mulheres. Os reembolsos dos valores inscritos no fundo de redução da pobreza urbana, situa-se em 52 porcento.

Desde 2011, os 253 projectos financiados, na agricultura, comércio, pecuária, pequena indústria, prestação de serviços, turismo, pesca, entre outras actividades económicas, beneficiando a  182 homens, 71 mulheres(adultos), 61 jovens e 4 associações,  criaram 396 postos de trabalho.

A CAPULANA VEIO COLORIR MAIS A FESTA DA CIDADE
Havia  pouca crença numa festa visível, por ocasião da passagem dos 55 anos da cidade de Pemba, provavelmente, devido ao facto de tudo estar a ser feito em preparação do pleito que a 20 de Novembro próximo, vai chamar os cidadãos para se pronunciarem à boca das urnas sobre o seu destino, escolhendo quem lhes pode dirigir nos próximos cinco anos.

Por outro lado, a preparação da festa esteve fechada no edifício do município e nas sedes administrativas dos bairros, criando um vão a meio, que deixou cidadãos não informados sobre o que iria acontecer desta vez, no dia de Pemba.

Afinal, havia um programa, o que vai ser cumprido por esta ocasião, que não foge muito ao habitual, no que toca à parte oficial da comemoração, mas cheio de muito entretenimento e desporto, como seja, torneios de vólei de praia, canoagem, feira de artesanato, de Gastronomia, espectáculos musicais com artistas locais, entre outras actividades.

Cada um dos 10 bairros de Pemba, terá uma oportunidade de subir ao palco e apresentar o que terá preparado em termos culturais e recreativos por ocasião dos 55- aniversário da cidade.

Porém, o facto de se ter escolhido a cidade de Pemba, como o palco do festival internacional da Capulana, veio dar outro alento à festa de Pemba, que se preparou para participar e ganhar, conforme afiança Tagir Carimo.

“ Nós vamos participar com um desfile fabuloso. Tivemos nos bairros 12 equipas de inscrição de participantes. É verdade que somos apenas hospedeiros do festival, pois não somos os organizadores, mas não queremos deixar os nossos créditos em mãos alheias” assegura o presidente do município de Pemba.

Para a fonte, não há nada a inventar, se bem que a capulana é a forma comumente usada pelas mulheres da baia de Pemba, razão porque não vê a dificuldade de se atingir o número de 15.000 mulheres trajadas de capulana, que se prevê no desfile que fará o festival.

“ Se só o bairro de Cariacó sair com as suas mulheres de capulana, sem falar dos outros, atingiremos o recorde”."""

Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Atualização em Outubro de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.