10/12/17

A pedido de diversos gulosos... sabores de Moçambique


A pedido de diversos gulosos...

Sabia que:
- As bebidas tradicionais abundam em Moçambique e as diferentes regiões têm as suas bebidas predilectas.
Algumas das mais comuns são feitas usando-se o fruto do caju, do canhu, mandioca, manga, coco e cana-de-açúcar.
Normalmente os frutos são colhidos, lavados, deixam-se amadurecer completamente.
Depois abrem-se-lhes para retirar as sementes e as cascas e é tudo colocado num recipiente grande (como a bilha) para fermentar por um ou dois dias.
A mistura é depois coada, o liquido engarrafado, e está pronto para ser consumido.

- Maheu é um refresco servido normalmente em cerimónias ou como mata-bicho (pequeno almoço/café da manhã).
Junta-se um quilo de farinha de milho e três litros de água e deixa-se cozer por 20 minutos até fazer uma papa.
Deixa-se arrefecer num lugar escuro pelo menos durante 2 dias.
No terceiro dia acrescenta-se o açúcar a gosto e serve-se fresco.
O maheu é pesado, por isso não abuse para ter apetite para as outras delícias da festa.

-Piripiri: Para usar como tempero, o piripiri fresco e malaguetas devem ser cortados ao comprido e ao meio.
Remova os caules e sementes antes de cortá-los aos pedaços ou em fatias finas.
Lave sempre as mãos depois para evitar transmitir aos olhos os óleos do piripiri pois podem fazer mal.

- Você sabia?... que a mangueira começa a produzir fruta no sexto ano e depois produz mangas duas vezes por ano durante quarenta anos.

- ACHAR DE LIMÃO

Ingredientes:
1 kg de limão pequeno bem maduro
150 gr. de piripiri maduro e seco
2 colheres de sopa de sal

Preparação:
Lava-se a metade da quantidade de limão, corta-se em quatro partes sem deixar que seseparem.
Põem-se sal dentro do limão e mete-se num frasco com o piripiri.
Com a outra metade da quantidade de limão faz-se o sumo de limão e acrescenta-se no frasco contendo o limão cortado e piripiri.
Deixa-se ficar quatro dias em molho.
No quinto dia côa-se o piripiri (deixar escorrer bem o sumo) moem-se na “mbenga”, junta-se-lhe o sumo de limão e côa-se de novo para separar as sementes.
Junta-se o preparado (piripiri coado com limão) com o limão cortado ao meio e mete-se em frascos.
Depois de pronto deve-se expor ao sol durante alguns dias
O sal deve ser suficiente, pois assim o achar conserva-se durante mais tempo.

- CARIL DE CAMARÃO EM ANANÁS

Ingredientes:
750 gr de camarão fresco, cozido e sem as veias
Sumo de um limão
2 colheres de sopa de óleo
l cebola cortada
l colher de sopa de coentro cortado
2 tomates cortados
2 colheres de chá de pó de caril(curry)
1 chávena de caldo de peixe
2 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de farinha de trigo
2 ananases pequenos

Preparação:
Numa panela refogue a cebola em óleo e adicione o tomate, coentro e o pó de caril.
Cozinhe durante cinco minutos.
Adicione o caldo e o camarão salpicado com sumo de limão e deixe ferver em lume brando durante quinze minutos.
Misture a manteiga e a farinha de trigo e adicione esta mistura ao camarão aos poucos para engrossar o molho até se tornar macio.
Deixe cozer por mais alguns minutos e retire do lume.
Corte o ananás ao meio ao comprido e tire algumas partes da polpa.
Recheie os espaços ocos com a mistura de camarão e decore com coentro cortado e a casca de um limão torcida.

- CHAMUÇAS INDIANAS:

Ingredientes:
Água – 1 chávena
Alho – 5 dentes
Caril – 2 colheres de sopa
Cebola pequena – 2
Coentros – 2 colheres de chá
Farinha – 2 chávenas
"Garam masala" – 1 colher de sopa
Gengibre em pó – 1 colher de sopa
Manteiga – 5 colheres de sopa
Menta – 1 colher de sopa
Óleo – q.b.
Sal – 1 colher de chá
Sumo de limão – 1 colher de sopa
Vaca picada – 250grs.

Preparação:
Junte a farinha, o sal, a manteiga e a água numa tigela.
Amasse bem e deixe repousar enquanto prepara o recheio.
Aqueça a manteiga numa frigideira, junte metade da cebola picada, o gengibre ralado e o alho picado.
Deixe alourar, juntando depois o caril, o sal, o vinagre e a carne de vaca muito bem picadinha. Mexa bem, e deixe cozer em lume brando durante 10 a 15 minutos.
Adicione um pouco de água, no caso de secar demais.
Junte a este preparado o garam masala, as folhas de menta picadas e os coentros picados, mexendo bem. Retire do lume e deixe arrefecer.
Faça pequenas bolas com a massa e estenda-as e corte-as em forma de quadrados com mais ou menos 10 cm de lado, numa superfície coberta com farinha.
Deite uma colher de sopa de recheio no centro de cada quadrado de massa, dobrando-a, depois, em forma de triângulo.
Dobre as pontas, para que a chamuça não se abra ao fritar.
Aqueça bem o óleo e deixe aloirar as chamuças.
Ao retirar do óleo passe-as por papel absorvente, para que não fiquem muito gordurosas.

Tente fazer e... Bom apetite!
- In "O Cozinheiro" por Marielle Rowan.

6/28/15

SAUDADE AFRICANA - Manuel Coutinho Nogueira Borges

EM MEMÓRIA DE UM AMIGO QUE PARTIU HÁ 3 ANOS
Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Portugal. Faleceu em 27 de Junho de 2012. Extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória":
Onde está a África da minha saudade que conheci quando ainda não sabia que o futuro nunca é o que sonhamos?

África tão longe e tão longa que a recordação parece não ter contornos e o tempo passado permanece em cada dia que a mágoa nos aleija a alma. Acarto comigo um fardo de angústia que me isola no meio de muita gente, aquela solidão feita da repugnância do que se ouve e vê, da ingratidão que não se merece, da violência dos gestos e das palavras, da profanização sacralizada como se, na vida, só valesse o exponencial de todas as manhas.

É na invocação africana que se me diluem a podridão envolvente, a incapacidade da rotina, os olhares mal encarados, a indiferença das bocas fechadas.

Onde está a África dos meus clamores, das lágrimas escondidas nas sombras das noites de escuta?

África da surpresa por amigos esventrados, estendidos nas caixas dum Unimog ou de uma Berliet, e eu, com o seu fio de ouro nas mãos, sem articular uma frase, garganta presa pela afonia, estômago à beira do vómito, a fugir de ver o sangue e os rostos desfigurados, e os camuflados cheios do esterco da morte inglória, e as botas furadas pelos restos do chumbo, e o cérebro tomado por agulhas a picarem-me por todo o lado, por tudo que é corpo e consciência, e a olhar em meu redor sem uma luz na noite a ensinar-me o caminho, sem um som no fim da terra vermelha para me provocar o andar, sem (meu Deus!) uma esperança de que os mortos inocentes pudessem renascer para o meu convívio.

Onde está a África das cantinas no esconso da selva, das trovoadas e das chuvas apanhando-me nos descampados da savana, das queimadas fantasmagóricas nas noites despertas, perscrutando as curvas e os trilhos da traição, dos luares arrebatadores contemplados por entre os mosquiteiros já gastos pelo uso de muitos rostos, os uivos das hienas, atordoadas pelo cio e pela fome, arrepiando-me todo, acelerando o coração, alagando-me de suor, puxando a G-3, aconchegando o caqui, retesando os nervos com o dedo no gatilho?

Onde está a África das manhãs de maresia nas praias de todas as bandeiras azuis, sem ventos nem garrafões ou ossos de frango nas areias; praias tão quentes e tão finas que até parecia que um homem as pisava pela primeira vez, as suas águas tinham lábios de espuma que nos beijavam sempre em ternuras sem fim, corais como conchas vivas de um sonho irrepetível; palmares enormes como naves de catedrais góticas por onde o sol entrava, coado pelos vitrais da folhagem tão fresca, resplandecente e pura como a virgindade de uma criança?

Onde está a África das presunções fardadas, das madrinhas de guerra, das filmagens da Televisão com «um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de propriedades», dos dias de São Vapor com cubas libres e «quem me dera regressar no Pátria!», dos calendários de mulatas nuas repletos de cruzes nos dias já passados, da obrigação de atravessar rios em almadias à procura de esconderijos de armas em ilhas paradisíacas, dos Postos Administrativos onde os sipaios nos deitavam sorrisos pepsodentes, dos funerais com danças de despedida e dos bifes de antílope a enfartaram barrigas vazias de tanta ração de combate?

Onde está a África das noites estreladas num céu tão belo e tão esmagador que dava vontade de ter asas para voar para a lua redonda como uma bola de cristal; noites de ritmos endiabrados, sensuais e espasmódicos, que o sangue fervia nas veias e rejubilava nas têmporas?

Quando o dia clareava e o fogo redondo subia na terra, um feitiço nos ludibriava com a ilusão de paz na vastidão da selva.
- Porto, *M. Nogueira Borges - do livro "Lagar da Memória".
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*Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua - Portugal. Faleceu em 27 de Junho de 2012. Extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "Escritos do Douro".