11/30/05

Moçambique - Jornalista Carlos Cardoso...



Julgamento do principal suspeito da morte Carlos Cardoso começa 5ª feira.

Aníbal dos Santos Júnior, "Anibalzinho", considerado o elo de ligação entre os mandantes e os executores do assassínio do jornalista moçambicano Carlos Cardoso, em Novembro de 2000, começa a ser julgado na quinta-feira.
O julgamento de "Anibalzinho" resulta da anulação pelo Tribunal Supremo de Moçambique (TS) de um anterior julgamento por um tribunal de primeira instância, que o condenou a 28 anos e seis meses de cadeia, considerando-o um "criminoso por tendência" e culpado da co- autoria material da morte do jornalista.
O choque social que causou o assassínio do mais conhecido jornalista moçambicano de investigação e os requintes com que o mesmo foi perpetrado terão levado o juiz Augusto Paulino a aplicar uma condenação extraordinária de 28 anos e seis meses a "Anibalzinho", num país cujo sistema admite como moldura penal máxima ordinária 24 anos de cadeia.
Mas, já este ano, o Supremo moçambicano declarou nula a condenação de "Anibalzinho", validando um recurso do seu advogado que alegou que o seu constituinte foi forçado a um julgamento à revelia, para não contar "o que sabe sobre o crime".
Quando do primeiro julgamento, em 2002, o arguido encontrava- se em fuga da cadeia de alta segurança da Machava, arredores de Maputo, à qual regressou depois de ter sido detido na África do Sul.
Anibalzinho, portador de passaporte português, voltou a fugir da Machava em 2004, tendo sido capturado no Canadá, país que lhe negou o pedido de asilo político.
O facto de dois co-réus confessos no processo da morte do jornalista Carlos Cardoso terem apontado "Anibalzinho" como líder da quadrilha que executou o jornalista e de trabalhadores do jornal Metical, de que a vítima era director e proprietário, terem confirmado que o réu frequentou a redacção do jornal nas vésperas do assassínio, transformam-no na peça-chave para o esclarecimento do crime.
Um dos co-réus que confessou ter participado na morte do jornalista alegou em tribunal ter presenciado encontros entre "Anibalzinho" e Nyimpine Chissano, o filho mais velho do antigo Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, em que alegadamente se discutiu o assassínio do jornalista.
Por outro lado, um outro co-réu, considerado um dos mandantes do crime, exibiu em tribunal cheques supostamente pagos por Nyimpine Chissano a "Anibalzinho" encomendando a morte do jornalista.
Na sequência dessas alegações, a procuradoria moçambicana abriu um processo-crime contra Nyimpine Chissano, cujo seguimento é até hoje desconhecido.
A advogada da família de Carlos Cardoso, Lucinda Cruz, disse hoje à Agência Lusa que aguarda o julgamento com "expectativa e cepticismo, pois o réu é peça chave do processo, mas é também imprevisível e contraditório". "Umas vezes já disse certas coisas e noutras mudou um ou outro elemento, não é pessoa credível", frisou Lucinda Cruz.
A advogada afirmou que dependendo da idoneidade dos seus depoimentos, do julgamento de "Anibalzinho" pode ficar estabelecida a extensão dos mandantes e o real envolvimento de todos os arguidos ainda detidos.
"Nas nossas alegações finais da discussão e julgamento da causa em primeira instância dissemos que pode haver outros mandantes além dos que foram condenados. O interesse da presença de "Anibalzinho" pode entender-se por aí", sublinhou Lucinda Cruz.
A advogada da família de Carlos Cardoso disse ainda que os factos que forem apresentados por "Anibalzinho" podem também influir no juízo dos recursos interpostos pelos cinco réus já condenados em primeira instância.
Por seu turno, o advogado Abdul Gani, que defende o gerente do balcão em que ocorreu a fraude bancária que Cardoso investigava quando foi abatido, disse esperar que no julgamento se esclareçam "algumas zonas de penumbra" que alegadamente "ficaram por dissipar".
"Na ausência de "Anibalzinho", o tribunal baseou-se em versões de uma testemunha que apresentou sete teorias sobre quem esteve nas reuniões em que se preparou a morte do Carlos Cardoso, acabando por levar à prisão de inocentes", sublinhou Gani, que negou em tribunal o envolvimento do seu constituinte no crime.
Abdul Gani referia-se a Osvaldo Muianga, vulgo "Dudu", que implicou os três réus que o tribunal considerou mandantes do assassínio.
A primeira e a última sessões do julgamento, que decorre no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, serão transmitidas em directo pela televisão e rádio públicas de Moçambique.

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