11/08/22

ALBUM ETNOHISTÓRICO DAS ILHAS DE QUERIMBA, IBO E MATEMO 1969 1972

👉 🇵🇹 🇲🇿 🇧🇷 — País MOÇAMBIIQUE  
— Região CABO DELGADO  
— Ilhas QUERIMBA, IBO e MATEMO  
— Autor professor doutor CARLOS LOPES BENTO  
** Edição ©forEverPEMBA OUT 2022  

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https://issuu.com/gotael/docs/matriz/
Por Carlos Lopes Bento
Quem é Carlos Lopes Bento 
- Antropólogo. Doutorado em Ciências Sociais. Sócio da SGL. 
DADOS PESSOAIS
- Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em  Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada..

FORMAÇÃO ACADÉMICA
- Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
- Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba).
- Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “ As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. Situação Colonial, Resistências e Mudança- 1742-1822.
- Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional. Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI).
- Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal”.
- Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI.
- Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. Actualmente faz parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
- Investigador em vários projectos de natureza sócio-politica e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT.
- Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo.

ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras

12/14/17

SABORES GASTRONÓMICOS ENTRE OS WAMWANI DA ILHA DO IBO/CABO DELGADO. ACHEGAS PARA SEU ESTUDO.


Por Carlos Lopes Bento
- Antropólogo. Doutorado em Ciências Sociais. Sócio da SGL.      
Com esta comunicação, que foi elaborada com base em dados actuais, disponibilizados por vários informadores mwani, procuramos revelar alguns dos traços da cozinha mwani do quotidiano, festiva e do sagrado e conhecer, não só a complexa e heterogénea composição das suas saborosas comidas, como também os pratos considerados emblemáticos servidos em Cabo Delgado, particularmente, na ilha do Ibo. 

Situação geográfica das Ilhas de Querimba
Dispostas em forma de rosário, numa direcção norte-sul, as Ilhas de Querimba, que constituem o arquipélago do mesmo nome ou de Cabo Delgado formado por mais de três  dezenas de pequenas ilhas, situam-se no Oceano Indico Ocidental, a norte da ilha de Moçambique, entre as baías de Pemba e de Thunghi.

A ilha do Ibo, uma das cerca de 32 ilhas que integram o arquipélago, faz parte do território litorálico norte de Moçambique e é a 4ª ilha em superfície, mas com apenas 15 Km² (5x3).

Situada a sul da ilha de Matemo e a norte da ilha de Quirimba, possui um riquíssimo património humano e histórico resultante de intensos movimentos comerciais e religiosos encetados, desde o séc. VIII, por povos de múltipla proveniência (..., árabes, persas, suaílis, indianos, chineses, africanos (makhwa, makonde, yao, mafites, …), portugueses, franceses, wasakalava, ingleses,... ), constituindo um território privilegiado, fértil em contactos, choques e interpenetrações de culturas, um espaço de cooperação, competição e de conflito, um local propício a transformações biológicas e socioculturais.

Estes seculares cruzamentos, conjugados com as condições ecológicas específicas da ilha e com a diversidade crenças religiosas da população do Ibo, originaram um típico e riquíssimo património alimentar, resultante da interpenetração secular das cozinhas e culturas asiática (polinésia, indiana e persa), americana, africana e europeia. 

Dada a natureza dos seus solos corálicos e a irregularidade das chuvas, a agricultura na ilha do Ibo foi sempre praticada em pequena escala. Contudo, face ao crescente aumento da sua população, os seus moradores tiveram a necessidade de cultivar, em pequenas machambas, mandioca, feijão, milho, mapira, abóboras e pepinos, tanto nos seus quintais, vedados a laca-laca, onde plantaram papaeiras, goiabeiras, bananeiras, palmeiras, massaniqueiras e ateiras, como também nos terrenos baldios, fora da povoação.

Atendendo a que produção é insuficiente para satisfação da totalidade das necessidades alimentares, resolveram o problema indo fazer as suas machambas nas terras firmes próximas, onde colhem milho, arroz, mapira, feijão, mandioca, amendoim, gergelim, rícino, castanha de caju, mangas, … . 

A palmeira, o cafezeiro silvestre e a mangueira crescem, em número limitado, por toda a ilha.

Há criação de gado caprino, ovino e bovino, em pequena escala e de aves de capoeira.

Pela sua posição geográfica, a ilha do Ibo é rica em recursos aquáticos (peixes, crustáceos e moluscos). Para além dos pescadores, homens e mulheres, sempre que se deparam com dificuldades financeiras recorrem à pesca, utilizando armadilhas e pequenas redes ou panos junto à praia.

Esta disparidade entre as actividades agrícola e pesca influenciaria, decisivamente, a cozinha mwane, onde predomina a utilização dos produtos marinhos. 

A população pratica as religiões católica e islâmica, esta limitativa de alguns produtos alimentares.
Depois destes pertinentes considerandos, volto ao tema principal.

Do seu património alimentar, realçarei, nesta Comunicação (1), a comida mwane preparada e consumida no dia-a-dia, nas datas festivas e nos tempos sagrados e a sua heterogénea composição. 

A cozinha mwane utiliza na confeção dos seus variados manjares: arroz, mandioca, feijão,  milho, mapira, meixoeira, abóbora, gergelim, amendoim, coco, rícino, cana doce, batata doce, pepino, cebola, tomates, coentros, alhos, piripiri, castanha de caju, manga, papaia, anona, ata, romã, ananás, massanica, jambalão, banana, tamarindo, limão,  folhas verdes de hortaliça, mandioca, de batata doce, moringa e abóbora, excelentes para confecionar a matapa, peixe fresco ou seco e mariscos( camarão, carangueijo, lagosta, lulas, chocos, polvo, inhamata ... ), carne de bovino, caprino, ovino e de aves, ovos, açucar, sal, mel, vinagre, especiarias- açafrão, gengibre, cominhos, canela, cravinho e cardamungo. 

A alimentação, habitualmente, preparada pelas mulheres, embora em 1971 existissem 27 cozinheiros, tem como base o caril (nsuzi), de:

- carne ou peixe/polvo/carangueijo/inhamata, 
- coco (nsuzi uanazi),
- oleo de amendoim  (nsuzi uamafuta),
- abóbora (nsuzi uamanga),
- feijão (nsuzi uaunde), 
- caranguejo, camarão, macasa, inhamata, ... . 

e como acompanhamento (kuria):

- arroz de coco (kanazi), 
- bilinjé (arroz), 
- milho (kamafafaluela), 
- arroz refogado (kitoré),
- milho e feijão (makutshuko), 
- lumino de batata doce, banana, mandioca, abóbora
- mazizima (papa de mapira) 
- quitoré (arroz refogado)  
- matapa de folhas.

Para além dos temperos orientais que adquire, utiliza muitos produtos da terra: sal, priripiri, manga verde, de que faz vinagre, tamarindo (verde e maduro), limão, cebola, alho, tomate, fruto do embondeiro, ... .

Também se prepara e consome vários tipos de achar (conservas): limão, cebola, tamarindo, manga, que são conservados em sal, piripiri e vinagre. 

Bolos: nkate, de f.trigo (uabolo), f. milho (uariba), f. mandioca (pinaga), f.arroz (pneu), f.trigo (uumacajojo), f.arroz (vitumbula), f. mapira (viliosso), biscoito, igual ao anterior mas com forma biscoito de Portugal, f.arroz (uakumimina), uapão de ló, uasonho, 

Doces: abóbora, batata doce, meixoeira cozidio, coco (uanazi), amendoim pilado (uaintessa), castanha caju pilada (uacorosso), gergelim pilado (uaifuta), massanica (iaunazi), pera, papaia, banana, caju, manga, ngodó (bolo de farinha de arroz, coco e açucar que é servido na festa das raparigas culávia mwari) , uaunde, dinuto, virassassa, 

Os pratos de carne de cabrito, galinha, pato ovino ou bovino são apenas consumidos em datas festivas.

Como bebidas utlilizam água simples, chá, café, leite, limonada, laranjada. Para algumas cerimónias utilizam a água das chuvas e a água de coco.
Do seu trem de cozinha constam: frigideiras, panelas de barro- com boca larga para o  caril (kikalando), com boca pequena para arroz (kiungo), e para água (mivulo), panelas de cobre, alumínio e ferro, caçarolas de barro, tachos de alumínio, frigideiras, pedras de moer, peneiras (kissero), coadores (msudjo), almofarizes e pilões de madeira, raladores (mbusi), concha de casca de coco (lupaua),trempes de ferro, ... .

Com exceção do mês do Ramadão, o mwane faz três refeições por dia, diferentes das do quotidiano, nas cerimônias especiais- ritos de passagem, festas religiososas e nalgumas cerimónias de despossessão de espíritos.

No dia a dia
São servidas três refeições diárias: pequeno almoço/matabicho, almoço e jantar.

Ao pequeno almoço
Das 6 às 8 horas a alimentação é diversificada. Habitualmente toma-se:

- Chá com ribas, pneus, sonhos ou vitumbulas
- Chá com pão, ou bolos,bolos, nkate de trigo, milho, mandioca ou arroz, riba, leite e pão, 
- Pão e peixe frito.
- Leite ou leite com pão
- Café
- Ovos, cozidos ou fritos
- Arroz ou feijão com caril de peixe
- Mandioca cozida com peixe frito

Ao meio da manhã podia comer-se batata doce ou qualquer doce.

Ao almoço
Das 12 às 14 horas, a refeição é pouco variável. Habitualmente come-se:

- Arroz ou mapira e mais raramente, feijão, com caril de peixe­- frito, cozido ou assado ou de âmbar, temperados com  achares/azedos de manga ou limão.
- Tocossado de peixe acompanhado de arroz de coco 
- Arroz com peixe frito.
- Cebolada de peixe

Por vezes, pelas 17 horas, podia tomar-se uma chávena de leite ou comer sobejos do almoço.

Ao jantar

Das 19 às 20 horas, a refeição é variável, constando de 

- Chá com nkate, bolo ou pão 
- Chá com nkate de magaga
- Leite e café 
- Chá com aletria
- Arroz com caril de peixe
- Arroz de mapira com caril de peixe
- Arroz cozido com peixe
- Ovos fritos ou cozidos

Ao almoço e jantar, sempre que possível, come-se não só tchima/matapa de verduras (de folhas de abóbora, mandioca e hortaliça), batata doce ou mandioca, cozidas ou assadas, como também fruta, seja papaia, banana, laranja, ananás, pera goiaba, pera abacate, anona, ata, manga, de produção própria ou comprada. Também os doces caseiros diversos, são, algumas vezes, também consumidos.

Cerimónias religiosas e outras

Nas cerimónias religiosas - nascimento do profeta Maomé, festa a S. Francisco Xavier, maulide e fateha-oração pelos mortos confecciona-se uma alimentação especial constituída por carne de bovino e caprino.

No cumprimento de promessas, a alimentação preparada, galinha ou pato com arroz de caril é oferecida a orfãos ou alunos da madrassa), 
- No início da construção de casas, embarcações, gamboas e  a falta de chuva, preparam refeições à base de carnes de bovino, cabrito, galinha, pato e de arroz, em que a mapira, como elemento purificador(mapézi), o coco e os bolos têm presença obrigatória.

Cerimônias familiares

- Akika, apresentação da criança ao 7º dia do nascimento. No dia aprazado, de manhã cedo, as mulheres (familiares, amigas e vizinhas) preparam, com esmero, no quintal da família anfitriã, os bolos rote e o caril de cabrito, que, mais tarde, serão servidos aos convidados que molham os bolos no mel e o caril no azedo (achar feito localmente com manga verde, limão, pepino, tamarindo...). De realçar que, também, aos dignatários políticos e religiosos, aos vizinhos e órfãos, por uma questão de testemunho e de prestígio social, são oferecidas pequenas porções de carne, crua ou cozida, de mel e bolos. Como bebidas são servidos chá, café ou qualquer refresco e nunca bebidas alcoólicas proibidas pelo Alcorão. 

- Kutolola, furar orelhas das raparigas para brincos (kutolola brinco) e base nariz para kipine (kutolola kipine) serve-se doce de gergelim e bolo de arroz (n´godó).

- Corte de cabelo de rapazes e raparigas a comida própria: caril de carne de vaca, de galinha ou pato, com arroz ou apenas bolos e biscoitos com chá ou leite.

- Kulavia - Saída das raparigas do enclausuramento porque vai casar ou demora em fazê-lo. Nesta ocasião fazem-se doces de n'godó e nkate de mapira ou mandioca.

- Limbaje. Confecionam-se doces da melhor qualidade feitos pela família da noiva com a importância enviada pelo pai do noivo, na carta do pedido de casamento, que depois são enviados com a resposta ao pedido feito.

- Arusse - Casamento. Para a almoço do dia do casamento, o pai da noiva compra: 2,5 de arroz, 1 bovino, 1 cabrito, 1,5 saco de farinha de trigo, 25 quilos de açúcar, cocos, batatas, temperos. As pessoas mais abastadas, por vezes, confeccionam pratos de chacuti, chamuças, bebinca, … .

Nos ritos de passagem

- Kumbi, circuncisão dos rapazes, no acampamento, alimentam-se de mel, arroz de cabrito, peixe assado, tudo sem caril nem sal; já em casa, tomam leite, chá e bolos.

- Riga, iniciação das raparigas, faz-se caril de galinha sem temperos, chá forte com café com leite, bolos e biscoitos.

Nas cerimônias ligadas aos cultos de possessão, nas chamadas danças do diabo, há comidas que variam consoante a origem do espírito incorporado na mulher, que não farão parte desta comunicação.

E para terminar a indicação dos pratos da cozinha mwane mais recomendados por amigos nossos Muadjas:

- tocossado de peixe com xima de mandioca ou milho branco, ou arroz de coco ou mapira com coco;
- lumino (de mandioca ou de batata-doce, banana macaco verde) de peixe fresco; 
- caril de coco de caranguejo/camarão/peixe acompanhado com arroz ou leite  de coco;
 - quitoré com safi frito, acompanhado de arroz de coco, de mapira, de meixoeira ou soloco;
- peixe frito com milho e feijão (macutchucu);
- arroz de coco ou de mapira com  caril de peixe e molho de coco;
- caril de cabrito com arroz amarelo
- caril de peixe com arroz de coco e matapa
- bolo de meixoeira cozido, rotis (apas), filhoses, nkate wa kumimina (bolo de arroz) e nkate wa magaga (bolo de mandioca seca;
- doces de abobora e batata-doce.

Uma análise mais aprofundada da cozinha mwane, dos seus ingredientes e objectos/utensílios utlizados na sua preparação alimentar mostrar-nos-á que:

- grande parte das plantas alimentares - cereais, legumes e árvores de fruto - e especiarias são originárias  da Asia, Oceania e da América;

- Muitos dos utensílios utilizados  chegaram a África através da difusão cultural, provenientes da Oceania e Asia- pilão, mós, raspador, … ;

- muitos dessas plantas e utensílios são signos comuns da língua suaíli  ou dela derivados  e cobrem uma vasta área de África do litoral e interior;

- muitas iguarias e seus temperos, bolaria, doces são vocábulos das línguas suaíli, macua e português.

A cultura alimentar, aqui descrita, longe de estar completa, mostra bem a diversidade e a riqueza da cozinha mwane- do dia-a-dia e festiva, bem diferente da preparada nas terras firmes do interior, muito mais simples, tanto nos produtos como na confecção. A diferenciação existente deve-se aos seculares contactos da comunidade mwane com gentes de outras culturas e civilizações: árabe, asiática, e europeia, portadoras de outros saberes e estilos de vida, muitos deles integrados, por úteis, na cultura local.

Terminada a minha Comunicação, resta-me agradecer a vossa estimada presença.

A todos um BEM HAJA.
- Carlos Lopes Bento
ANEXOS
ALGUMAS RECEITAS TÍPICAS DA GASTROMONIA MWANE

TOCOSSADO DE GALINHA

Ingredientes:

2 Frangos
1 ½ Tomate grande
2 Caldos Knorr de frango
1 ½ Cebola grande
1 Colherinha de massa de tomate
6 Azedos de manga previamente demolhados para tirar a acidez
½ Colherinha de sal
3 Piri-piri
1 ½ Colherinha de óleo

Execução:

Cortar o tomate e a cebola em pedaços pequenos, para que não fiquem nem grandes nem picados.
Num tacho, colocar 1 chávena de água e deitar um caldo Knorr, metade do tomate e da cebola já cortados, meia colherinha da massa de tomate e deixar ferver um pouco, cerca de 1 minuto.
Adicionar o frango, mais 1 chávena de água e a restante ½ colherinha de massa de tomate. Juntar 1 ½ colherinha de óleo.
Deixar ferver, pôr ½ colherinha de sal (para dar outro sabor, para além do caldo Knorr) e deixar ferver mais um pouco. Por fim, colocar o resto da cebola e tomate cortados e o azedo, sem mexer.
Deixar cozer estes últimos ingredientes sem mexer, deixando apenas acamar.
Ao deixar cozer muito bem, golpear 3 piri-piris e juntar para apurar.

Autoras:
- Compilada por Fernanda Carrilho e executada por Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

TOCOSSADO DE PEIXE

Ingredientes:

0.5 Kg de peixe grande / médio fresco (de preferência) às rodelas.
3 tomates grandes bem maduros sem pele e cortados aos pedaços.
1 cebola grande às rodelas.
1 dente de alho grande picadinho.
1 piripiri às rodelas (opcional).
Sal à gosto.
Sumo de 1 limão.
Água suficiente pra cobrir tudo.

Modo de fazer:

Coloca num tacho o peixe já limpo. Por cima, deita os restantes ingredientes exceptuando os 2 últimos.
Leve ao lume brando. Quando o líquido do peixe diminuir um pouco, deita a água e deixa reduzir um pouco sua quantidade. Por fim, adiciona o sumo do limão, mexendo o tacho e pouco depois desliga.
Acompanha-se com arroz de coco.
N.B. - Pode-se substituir por frango, é também saudável e delicioso.

Cedida por Margy

ACHAR DE SOLÃO

Ingredientes:

1 n’sudjo ou kitunga cheio de manga seca (azedo ou ambuche).
2 copos de vinagre.
6 pés de cravinho.
2 colherinhas de cominhos em pó.
2 colherinhas de coentros em pó.
½ colherinha de açafrão.
3 colherinhas de piripiri moído.
2 colherinhas de massa de tomate (para quem queira).
2 cebolas cortadas.
1 alho que chegue para uma colher cheia quando pisado
2 colherinhas de sal.
Óleo que chegue para a quantidade do azedo de manga (mais ou menos 6 conchas).
1 colherinha de açúcar.

Preparação:

De véspera, coloca-se a manga seca numa tigela e deitam-se os 2 copos de vinagre, deixando a demolhar até ao dia seguinte.
No dia seguinte, cortam-se as 2 cebolas e pisam-se muito bem os alhos com o sal. Colocam-se então a cebola dum lado, o alho doutro e todos os temperos juntos.

Execução:

Verte-se o óleo que chegue para todo o azedo numa panela, deixando até ferver. Após ter fervido, retira-se a panela do fogo. Aí, colocam-se todos os temperos e só depois o azedo. No final, deita-se 1 colherinha de açúcar e volta-se a colocar no fogo para misturar tudo e ficar pronto.

*Notas:

- N’sudjo ou kitunga, são kisseros pequenos, ou seja, peneiras feitas tradicionais Mwanes (do Ibo).
- Azedo ou ambuche, é manga seca em Kimwane, língua falada no Ibo.

Autoras:
- Receita compilada por Fernanda Carrilho e feita por sua Mãe, Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

ACHAR DE LIMÃO

Achar de limão é feito assim: 

Limãozinho maduro. piri-piri em pó ou fresco vermelho e sal.
Abre-se o limão em quatro com a casca e mete-se o sal e o piri-piri dentro do limão.
Vai-se arrumando num frasco de vidro ou barro... no final deita-se sumo de limão até cobrir o limão todo no frasco... Tapa-se o frasco e põe-se a ao sol durante um ou dois dias para curtir.
O suco de limão fica espesso e esta pronto para servir.
Atenção.... o achar não é caril, portanto serve-se só um  pouco...

- Cedida pela Nady.

LUMINO DE MANDIOCA

Ingredientes:

2 kg de mandioca. 
1/2 litro de leite de coco.
1 cebola.
Peixe, camarão ou frango.
Açafrão.
Manga seca, manga fresca(acida)ou tamarino ou suco de limão.
Sal e piri-piri verde. 
Modo de fazer:

Descascar a mandioca e cozer com um pouco de sal. Não deve ficar mole mas bem cozida.
Cortam-se as tiras não finas e arrumam-se numa panela.
Põe-se o leite de coco e o resto dos ingredientes todos (excepto o peixe ou frango) na panela, leva-se ao lume e vai-se mexendo lentamente ate começar a ferver. (fogo brando).
10 minutos depois da fervura, põem-se as postas de peixe já fritas e tostadas, ou os bocados de frango já cozidos ou o camarão fresco descascado.
Mais 10 minutos de cozedura e o lumino está pronto.
Pode-se acompanhar com um achar de limão.

- Cedida pela Nady.

MATAPA DE ABÓBORA

Cortas as folhas como se fosse pra fazer caldo verde, e pões numa panela com um pouco de água a cozer ( 10 minutos).
Enquanto isso levas leite de amendoim, cebola cortadinha, tomate fresco, sal e malagueta (se houver) e pões a cozer, mexendo sempre com uma colher de pau (se não tiveres colher de pau, tens que mexer com a mão senão, não anima...) rsrsrs brincadeira.
Quando o amendoim começar a engrossar despejas as folhas que já estão quase cozidas.
Deixas apurar mais uns 10 minutos e já esta  pronto.
Podes variar pondo camarão fresco, fica bom. também.

- Cedida por Nady.

FEIJOADA À MODA DO IBO

A base, é galinha e camarão e as quantidades ao gosto, possibilidades de cada um e nº de convivas.
De preferência o feijão e a galinha, devem ser do tipo cafreal, ou seja, pequenos e saborosos. 
No sul de Moçambique, este feijão chama-se "Timbauene".
O feijão coze-se primeiro, de preferência com um chouriço para dar o gosto, mas de carne de vaca ou carneiro!!!
Entretanto, prepara-se o refogado com os temperos: A cebola não deve ser muito picada, o alho só pisado e tudo isto se frita em muito pouco óleo, com tempero de pó de caril (mistura de açafrão indiano, colorau/coentro e cominho). 
Podem pôr-se outros temperos, ao gosto.
Depois do refogado bem cheiroso, deitar a galinha aos pedaços, mexe-se bem para fritar por fora sem deixar cozinhar e depois tapa-se o tacho e deixa-se cozinhar.
Se precisar de liquido, nunca água: ou cerveja ou vinho branco.
Quando a galinha estiver quase cozida, deitar o camarão descascado (eu deixo ficar as cabeças) e o feijão e deixa-se ferver por 5 minutos. Então, mistura-se isto tudo numa lata de leite de coco, deixa-se levantar fervura, mexendo sempre, mas não mais que 5 minutos e está pronto. 
É melhor quando feita de véspera.
Serve-se com arroz branco simples ou de coco, banana frita e ananás grelhado, querendo.

- Receita cedida, gentilmente por São Alves.


Quem é Carlos Lopes Bento 
DADOS PESSOAIS
- Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em  Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada..

FORMAÇÃO ACADÉMICA
- Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
- Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba).
- Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “ As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. Situação Colonial, Resistências e Mudança- 1742-1822.
- Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional. Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI).
- Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal”.
- Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI.
- Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. Actualmente faz parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
- Investigador em vários projectos de natureza sócio-politica e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT.
- Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo.

ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras

COMUNICAÇÕES E PUBLICAÇÕES 
- 1980 - "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal";
- 1982 - "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento";
- 1984 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado";
- 1986 -  "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica";
- 1986 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais";
- 1987 - "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?";
- 1988 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida";
- 1989 - "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala";
- 1990 - “La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo”;
- 1991 -  O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado";
- 1992 - "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972";
- 1997 - "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português";
- 1998 - "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba. Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar";
- 1999 - "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921";
- 2000 - "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos" (Resumo da tese de doutoramento);
- 2000 - “Contactos de Cultura Pós-Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto”;
- 2001 - “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas-Ritos de passagem”;
- 2001 - “Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba- Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar”.
- 2003 - “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança”;
- 2003 -“A possessão em Moçambique- O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)”.
- 2004 - "A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto;
- 2005 - "A Sociedade de Geografia de Lisboa e o Turismo”
- 2007 -  “Um Projecto de Investigação sobre Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e Vale do Tejo. (Breve Notícia.(Meados Do Século XX)”;
- 2008 - “O Novo Código de Posturas da Câmara Municipal de Cabo Delgado, de 1887. Uma Leitura Etnográfica;
- 2009 - “Tecnologias Tradicionais do Mundo Rural, no Ribatejo: O Ciclo do Azeite em Mouriscas (Abrantes), nos meados do Século XX”;
- 2010 - “Os Sakalava de Madagascar em Moçambique. Ataques às Ilhas de Querimba e Terras Firmes Adjacentes e Suas Implicações, entre 1800-1817”;
- 2011 - “As Condições de Trabalho em Moçambique, depois da Abolição da Escravatura. Direitos e Deveres dos Serviçais e Colonos e dos Patrões, em 1880 na Província de Moçambique”;
- 2011 -“A Mestiçagem Biocultural nas Ilhas de Querimba/Moçambique e suas Implicações na Administração Colonial Portuguesa. Achegas para o seu Estudo”;
- 2011 - “Notas sobre algumas das seculares manufaturas  das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado;
- 2013 - “Palestra na Escola Secundária do Cartaxo sobre” Memórias do mundo rural no alto Ribatejo, nos meados do século xx. O ciclo dos cereais: o milho e o trigo, a sua transformação em farinha e o fabrico do pão caseiro, em fornos a lenha”
- 2014 - “Sabores gastronómicos entre os wamwani da ilha do Ibo/Cabo Delgado. Achegas para seu estudo”;
- 2015 -“ Moinhos e Azenhas de Mouriscas. Vivências e Memórias de um jovem moleiro -1944-1949”. A.I.D.I.A., Cadernos Culturais, nº 9, Agosto 2015. 2ª edição. 2017. pp. 57”;
- “Mouriscas. Preservar o seu Património Cultural para Defesa da sua Identidade”. A.I.D.I.A , Cadernos Culturais, nº 10, Novembro 2015, p. 133”;
- 2016 - “Mouriscas, do Passado ao Presente. Artes e Ofícios e seus Titulares(1860-1911) . A.I.D.I.A,  Cadernos Culturais, nº 12, Março 2016, pp 257”;
- 2017 - “Obreiros do Mundo Agrícola de Mouriscas, I e II. Proprietários, Agricultores e Jornaleiros e seus Titulares (1860 e 1911). A.I.D.I.A, Cadernos Culturais, nºs 20, Dezembro 2016, pp. 296 e 21, Março 2017, pp 120”;
- Tem publicados dezenas de artigos sobre as Ilhas de Querimba  em https://foreverpemba.blogspot.com.br/
FESTAS FELIZES 
Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em 14 de Dezembro de 2017. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos e imagens deste blogue só com a citação da origem/créditos.