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10/19/09

A África está à venda...


Análise de Clovis Rossi da Folha de São Paulo/Brasil, 16/10/09:

- Está para ser fechado um acordo pelo qual a República do Congo -- ou Congo-Brazzaville -- arrendará a uma empresa sul-africana, a Agri SA, o equivalente a um terço de seu território, exatamente 10 milhões de hectares.

A Agri representa cerca de 70 mil agricultores e empresas sul-africanas, que ficarão com o direito a livre acesso às terras por um período incrivelmente longo, de até 90 anos, em troca de uma injeção de recursos que o governo local, em tese, aplicará nas zonas afetadas pela operação.

Um bom negócio para o desenvolvimento da África, o continente esquecido? Pode ser mas pode ser também um passo adiante no que Jacques Diouf, diretor-geral da FAO, o braço da ONU para agricultura e alimentação, chama de "neocolonialismo".

A operação no Congo faz parte do que o jargão internacional batizou de "land grabing", "tomada de terras", denunciada em um relatório divulgado meses atrás pela própria FAO mais o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e um centro britânico de pesquisas, o Instituto Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento.

O documento aponta, já no título, as duas possibilidades contidas nesse tipo de operação: chama-se "Tomada de Terras ou Oportunidade de Desenvolvimento?".

O texto informa que "países africanos estão entregando vastos pedaços de terra cultivável para outros países e investidores quase de graça, com os únicos benefícios consistindo em vagas promessas de empregos e infraestrutura".

A única diferença entre o "land grabing" na República do Congo e em outros países africanos está na nacionalidade dos investidores. No Congo, são da própria África. Nos países investigados pelo relatório da FAO e associadas (Etiópia, Gana, Mali, Madagascar e Sudão), são países ricos como a Arábia Saudita e a Coreia do Sul, temerosos por sua segurança alimentar. Mas a grande compradora de terras é a China, que busca, além de segurança alimentar, a exploração de minérios.

O relatório da FAO diz que, nos últimos cinco anos, cerca de 2,5 milhões de hectares foram entregues a estrangeiros, o que equivale à metade da terra arável do Reino Unido. Mas há uma outra estimativa, feita por Peter Brabeck, presidente da Nestlé, que eleva o total a 15 milhões de hectares, ou meia Itália, distribuídos por África, Ásia e América Latina.

O Brasil aparece na ponta africana da equação. O site Mother Jones, de temas ambientais e de desenvolvimento, visitou Massingir, no fundão de Moçambique, onde está em preparação um projeto de US$ 500 milhões, que promete empregar duas mil pessoas e usar aproximadamente 75 mil acres de terra para plantar cana-de-açúcar e produzir etanol, em usina com tecnologia brasileira -- o tipo de projeto que é a menina dos olhos do presidente Lula.

De novo, o projeto, conhecido como ProCana, apresenta a possibilidade de transformar para melhor a vida de milhares de africanos pobres ou de "pôr em risco o parque transnacional [vizinho] e outros importantes projetos de conservação", escreve Adam Welz, o enviado de "Mother Jones".

Tudo o que a diplomacia brasileira dispensa é a materialização do segundo cenário.

2/15/08

A África emergente onde o Brasil vai lucrar bilhões...

(Clique na imagem para ampliar)
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Interessante artigo de Lena Pinheiro publicado na revista "Isto É - Dinheiro - Caderno Economia" (Brasil) de 08/02/08:
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A ÁFRICA ESTÁ BOMBANDO. E O BRASIL VAI LUCRAR BILHÕES.
O continente cresce acima da média dos emergentes, atrai investimentos e muitas empresas brasileiras estão atentas ao despertar desse grande mercado.
A região não costuma estar no radar de grandes bancos de investimentos nem pertence ao BRIC, bloco criado pela Goldman Sachs para indicar os países emergentes mais promissores – entre eles, o Brasil. Muitas vezes, é lembrada apenas por epidemias, guerras civis ou massacres étnicos. Só que essa é a velha África, historicamente marginalizada pelo Ocidente. Há uma outra que se desenvolve num ritmo alucinante, sendo liderada por Angola, que cresceu 25% em 2007. Na média, o PIB da África vem avançando cerca de 5% ao ano, desde 2004. As exportações, puxadas por minérios e petróleo, têm crescido 28% ao ano e vários países, com fartos superávits comerciais, estão colocando em marcha grandes programas de investimento na área de infra-estrutura. As empresas brasileiras, naturalmente, estão atentas ao despertar da África. Na semana passada, executivos da Camargo Corrêa estavam em Moçambique finalizando o contrato para a construção de uma das maiores usinas hidrelétricas da região, a Mphanda Nkuwa, um projeto orçado em US$ 3,2 bilhões. “Há um forte ciclo de desenvolvimento ocorrendo na África e o Brasil está aproveitando essa maré via investimentos diretos e exportação”, analisa o empresário Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp.
Os investimentos brasileiros na região têm contado com apoio oficial. Ao anunciar uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para Angola, no fim do ano passado, o presidente Lula afirmou que o Brasil deve “ter uma participação mais forte” na região. Já na iniciativa privada, o trabalho é intenso. A Petrobras e as construtoras Camargo Corrêa e Norberto Odebrecht investem juntas bilhões de dólares no continente para garantir presença em suas mais importantes obras. A identificação cultural e lingüística facilita a aproximação. Na Norberto Odebrecht, onde a África já é a terceira maior fonte de receita, com peso de 13,77%, um dos projetos que mais chama a atenção é a construção do Terminal de Contêineres de Doraleh, no porto de Djibuti. A obra de US$ 300 milhões une trabalhadores de 16 nacionalidades, dentre brasileiros, africanos e indianos. “Por muito tempo, o Ocidente não soube como tratar a África”, diz Roberto Dias, diretor da construtora. “A China os colocou no colo e isso fez o Brasil finalmente acordar.”
A maior estatal nacional, a Petrobras, é uma das maiores investidoras na região, com planos de aplicar US$ 1,3 bilhão somente em Angola e na Nigéria até 2012. Angola, vale dizer, já produz mais petróleo do que o Brasil e é sócia da Opep, a organização dos países exportadores.
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PIB DE US$ 1,2 TRILHÃO JOGA LUZES SOBRE O CONTINENTE ESQUECIDO.
Se os investimentos diretos estão em alta, a balança comercial está igualmente favorável. Dados de 2006, indicam um recorde na corrente de comércio entre Brasil e África, de R$ 32,3 bilhões, uma evolução de 153% em relação ao ano anterior. A complementaridade das economias explica parte do avanço, mas o crescimento da classe média local é, de fato, o grande motor da expansão brasileira em países como a África do Sul. Conhecida como “Black Diamonds”, a classe média sul-africana cresceu 30% no ano passado e consome cerca de US$ 25 bilhões anualmente.
“Esse grupo está demandando como nunca celulares, automóveis e outros bens de consumo”, afirma o professor da Unicamp, Adalto Roberto Ribeiro. Só na região metropolitana de Campinas, o número de empresas que passaram a exportar para algum país africano saltou de 63, em 2001, para 131, em 2007. O melhor é a qualidade. “Nossa pauta de exportações para lá é basicamente de manufaturados”, diz Maria Paula Velloso, diretora da Apex, a agência de promoção às exportações, que encabeça projetos para que essa boa maré esteja também ao alcance de pequenos e médios empresários brasileiros.
Lena Pinheiro - Isto É - Dinheiro.