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5/04/10

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Quem são os Makonde? - Parte 2

Do conhecimento das coisas belas nasce o desejo de as reproduzir...
A Arte Em Cabo Delgado - Máscara Maconde - Significado Litúrgico - As máscaras dos macondes traduzem muitos de seus anseios, usos, costumes tradições e também supertições. Os documentos estatuários da iniciação, tanto masculina como feminina, são de grande interesse etnográfico. É no povo Maconde que se encontra o melhor que a arte nativa Moçambicana pode apresentar neste aspecto. Se é certo que a obra retrata a imagem do sentir do artista, de tal modo que ambas se identificam tantas vezes como sendo a sua representação recíproca, com as máscaras litúrgicas nativas sucede outro tanto, visto ambas viverem essa simbiose mística. O artista só recebe a honrosa incumbência da manufatura das máscaras quando se julga e é julgado por todos em estado de pureza. O trabalho a que põe mãos é feito na clausura de sua oficina ou em lugar retirado, nunca sujeito à observação de quem quer que seja; resulta, assim sob o signo do máximo sigilo e segredo. Quando, dias depois, ultima as máscaras, eles e elas são um todo confundível, pois que o espírito representado na obra é o mesmo que se encontra na alma do artista. O mesmo elo os liga: a liturgia do culto. Não há duas máscaras iguais, nem mesmos padrões a caracteriza-las. Tanto as dimensões, como os motivos decorativos são sempre diferentes.

A sua configuração tanto pode ser dolicocéfala como braquicéfala. Cada máscara é pertença pessoal; não está sujeita a troca, venda ou cedência. Por morte, passa, como herança, aos sobrinhos uterinos.

Se já lhe não é atribuído o poder da virtude, ou julgado te-lo perdido em parte, a máscara é sepultada com ceromónias rituais. Ela compartilha nos atos que traduzem o contato do humano com o mundo dos mortos, e em outros quantos mais constituam ritos.

Entre os macondes há dois tipos de máscaras, representando, respectivamente, animais e homens (ou mulheres). As dos animais e dos homens destinam-se, geralmente, a criar climas artificiais de superstição, excitação colectiva e até pavor; têm o nome de “ lipico”. As máscaras que servem ás mulheres utilizam-se para as ceromónias de iniciação, danças, etc, e designam-se por “ natumbeiro”. São de madeira de uma só peça e cobrem toda a cabeça. Não permitem a visão, a não ser pela abertura da boca, para o que são feitas de maneira a ficarem bastante inclinadas para a retaguarda e a permitirem que os raios visuais passem por exata abertura. A posição da máscara faz levantar a cabeça, dando-lhe uma atitude de decisão e arrogância.

Como convêm aos intentos religiosos, sociais e folclóricos, é o passado que inspira o artista.

Nele todo o nativo encontra a fonte das suas energias físicas e espirituais. As feições escultóricas traduzem espíritos bons e maus, todos, porém, dignos de respeito e atenção. Veneração, nobreza, hilaridade, meditação, etc, tudo isso cabe nas várias expressões das máscaras, enriquecidas pela tatuagem, corte de cabelo, barba e outros motivos decorativos. As máscaras femininas distinguem-se por não serem terríficas e trazerem, em geral, adornos clânicos nas orelhas, nos lábios e no nariz; as suas expressões são suaves e dasanuviadas.
O conhecimento que temos da cirurgia plástica, corrente em muitos países, destinada não só a salvar acidentados ou mutilações ou cicatrizes terríveis, mas também com o fim de suprimir defeitos naturais ou reduzir as superfícies de peles ou carnes flácidas, leva-nos a encontrar explicação para a prática de certos povos nativos que se deixam tatuar ou mutilar em operações dolorosas, seguindo técnicas primitivíssimas.

A curiosidade parece satisfazer-se com analogia que, neste particular, os chamados povos cicatrizados e atrasados revelam.

Ora se nos nativos os desenhos caprichosos das tatuagens que incidem nos seios, peito, baixo ventre e coxas das mulheres podem pretender ter por fim realçar predicados femininos, o fato só por exceção é resultante de preocupações do embelezamento, pois a sua razão de ser baseia-se em valores muito mais complexos, se não transcendentes. Há verdadeiramente como que o mistério das tatuagens. Para o desvendar são necessárias observações e diligências aturadas.

Entre os nativos o conhecimento da vida obtém-se por um exame-prova que promove o adolescente à categoria de homem ou de mulher. É mais do que uma cerimônia, pois constitui um período de provação e promoção, considerado o mais importante da vida do nativo e que o leva da situação neutra, inclassificada, à de elemento da comunidade consciente e idónio. Só assim integrado, será mais uma peça pertencente ao corpo e espírito do clã.Trata-se de uma lei imutável que tem duração milenária, que ninguém discute e todos respeitam; que não pode ser profanada nem sequer pela inconfidência para com os estranhos da tribo e menos para com o europeu. Até mesmo entre si o assunto merece-lhes tal respeito que dele se abstêm de falar até ao momento necessário. O sacrifício da dor, e a sua aceitação, sem o menor gesto de protesto, promove-o à categoria de adulto. O ensinamento das dores é o preço de entrada para a sociedade. A recordação do sacrifício terá de perdurar, por isso é nas regiões mais sensíveis e dolorosas que há que suportar a operação.

A tatuagem, as mutilações e deformações associam-se ao ato de circuncisão, quando não tem lugar antes ou depois.

As cerimônias são antecedidas por provas de obediência, de coragem, de valor moral e físico. Mas todos estes aspectos deverão pertencer à mesma estrutura mística que anima e mantém sagrada a tradição. Trata-se de um padrão cultural, de iniciação nos mistérios da vida, que exige conhecimentos, os quais só podem firmar-se, segundo a ética nativa, pela renúncia, sacrifício, jejum, dor, etc. Daí as grandes manifestações festivas que têm lugar após a entrada na sociedade dos circuncidos.

Mas não é só na iniciação que se executam tatuagens e mutilações. Há graus sociais que exigem dos membros, que a elas pertencem, provas de sangue que servem a trazer presente aos olhares de todos, as insígnias desses cargos de privilégio. Assim acontece, por exemplo, aos grandes chefes tribais, e aos chefes menores. A par das tatuagens que recebem, aqueles chefes prestam também provas de resistência física e coragem moral. As credenciais são assim obtidas , delas fazendo parte igualmente, certos objetos, como a lança de autoridade, a catana, o bastão, etc.

Também para artífices ou cargos especializados se usa, por vezes, para os identificar, a tatuagem, bem como para os que se convertem aos islamismo, apostatando da lei consuetudinária. A configuração esquemática das tauagens varia, em geral, segundo o sexo e a parte do corpo onde incide. Obtém-se por picada ou pontuagem, escarificação, feitas por maio de agulhas, estiletes ou ganchos, empregando-se substâncias cáusticas e matérias corantes, à mistura com cinza, que serve, simultaneamente, para obter altos e baixos relevos, dar cor e desinfectar. O fogo é o agente geral que facilita e purifica a operação.

As tatuagens podem ser feitas em fases sucessivas, nomeadamente quando constituem revelação de identidade dos graus da escala social a que os operados são arvorados.

Os desenhos representam figuras geométricas de retângulos, losangos ou quadrados, curvas, retas, aspectos remiformes, cículos, cruzes, espinhas de peixe, etc.. As figurações naturalistas esquematizadas e estilizadas das tatuagens são exclusivas do povo maconde.

O Lagarto e o Crocodilo figuram entre os animais estilizados nelas representadas. Motivos mágicos como o do sardão, combinam-se, em valores decorativos, com os traçados geométricos já mencionados. A par de ornatos de fantasia há símbolos de fertilidade ou de procriação. Palmeiras estilizadas, molhos de mandioca, etc, ganham aspecto de valor artístico em numerosas tatuagens.
A máscara é um produto resultante do espírito tradicional e religioso do nativo. Com o rosto velado por ela, volta-se virtualmete, para o mundo dos antepassados, mundo de respeito e de virtudes, que se chama o mundo das sombras. Então a alegria irrompe dos corações dos presentes e as mais belas exteriorizações da dança e do canto têm lugar para grande satisfação dos sentidos. O bailarino maconde é a figura principal do Mapico. A máscara de madeira cobre-lhe a cabeça. Uma indumentária estranha, imprecisa, sempre diferente veste-lhe o corpo. Ela constitui o seu melhor atavio. As pernas são tapadas pór mais uma cobertura, assemelhando-se a meias, desde os pés até à coxa. Guizos suspensos ajudam, pelo som, a marcar melhor o ritmo. Em cada “Mapico” há vários dançarinos que ora dançam isolados, ora em conjunto. Os cantadores têm também a sua oportunidade de exibir-se e são numerosos entre os rapazes e os homens. Os chifres dos animais, longos e recurvados, servem de instrumento musical para o “Mapico”. Também se utilizam para outros fins de natureza utilitária, nomeadamente para transmissão de mensagens a distância. A sua presença nas danças e cantares como tubas, tem interesse decorativo e suscita apreço na assistência feminina. Para o “Mapico” não há necessidade de grandes preparativos. Todos são comparticipantes, com exceção, em geral, das mulheres. Deste modo, o passatempo distrai rapazes e homens. A mulher e a adolescente são espectadoras contemplativas, que não obstante, se deleitem com as habilidades artísticas dos homens. Durante a sessão há mudanças de papel. Os músicos passam a dançarinos, os dançarinos a cantores, etc.
A arte as estatuária maconde abre perspectivas de compreensão, entendimento e percepção geral a todo o povo do planalto. A mácara tem o seu significado sagrado, é só para os escolhidos do clã. Com ela não se brinca. A sua presença nos “mapicos” não constitui símbolo decorativo ou de entretenimento. Pelo contrário, a pequena estátua de ébano, pau rosa ou madeira branca ou vermelha, que sai das mãos do artista, essa é simples motivo de exteriorização do seu apreço e predileção por usos, costumes, de expressivas demonstrações de agrado e prazer material ou espiritual. Nasce do povo e ao povo se destina. Não é uma alfaia litúrgica, não reproduz o respeito e o culto dos mortos, não faz parte desse mundo implacável, místico, castigador ou dadivoso, mas sempre considerado secreto.

A estatueta é antes uma expressão de humanidade, de harmonia e de beleza formal.

O curandeiro, o mago, o adivinho são ali representados ao mesmo nível das coisas populares, como o homem a tomar café, ou a mulher que é representada a fumar cachimbo, a farinar cereais, a transportar água, a cozinhar, ou o animal em atitudes peculiares, sempre belas, isolado ou com seus filhotes.

Todos os motivos são tratados como espírito artístico, onde a perfeição e a beleza são predicados indespensáveis, indiferente ao julgamento do europeu, ou de outro povo nativo, só exigente consigo mesmo. Há uma determinate estético-erótica quando realça os dotes femininos, mas tal concepção não coloca em segundo lugar o valor da mulher como mãe e elemento indespensável na ordem e economia do lar.

A estilização faz parte do seu labor artístico, sem deformar ou tornar menos real as fihuras, antes lhes dando um todo belo, mais harmônico e sensíve, sem atingir a sobrenaturalidade ou o irrealismo.
BAILADO GUERREIRO

Gestos que parecem descoordenados, não obstante retratarem com fidelidade os movimentos febrilmente ritmados, aparentemente desconexos das danças macondes, que têm lugar durante os mapicos junto das sanzalas. Movimentos verdadeiramente musicais pela perfeita correspondência com os sons da orquesta.Quase pode afirmar-se que não há notas misicais, sem igual correspondência de gestos, desde os mais suaves, ondulantes, menos perceptíveis, os mais rápidos, lançados ou salteados.

Os braços desenham no ar sucessivas linhas quebradas, correspondentes às partes compreendidas entre as articulações do ombro, cotovelo e pulso. Parecem escrever e marcar compassos musicais. As esculturas são ricas na representação destes movimentos de dança de que as nossas, as modernas, são, muitas vezes, apagada ou esbatida cópia.
(Clique nas imagens acima para ampliar)

Fontes:
A arte em Moçambique - Alberto F. M. Pereira - 1966
Os Macondes de Moçambique - Jorge Dias
In - "Moçambique Arquivo Vivo" - grupo do MSN
Colaboração de Armando Silva - Cascais/Lisboa - Portugal

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Quem são os Makonde?


QUEM SÃO OS MAKONDE ? - Os Makondes são um povo da África oriental, que habita 3 planaltos do norte de Moçambique e sul da Tanzânia. Têm como actividades principais, a agricultura e a escultura. Sendo apreciados mundialmente pelas suas belas máscaras e esculturas em madeira, que reflectem a sua estética e cultura ricas.

A maioria dos cerca de 1.260.000 Makondes mantêm uma religião tradicional embora parte da população seja hoje cristã.

Os Makondes são um povo Bantu provavelmente originário de uma zona a sul do lago Niassa – Na fronteira entre Moçambique, Malawi e Tanzania. A hipótese desta origem foi apurada a partir da análise de fontes escritas e orais, e é ainda reforçada por semelhanças culturais com o povo Chewa, que ainda hoje habita uma vasta zona a sul e sudoeste do lago Niassa, no Malawi e na Zâmbia.

Os Makondes teriam assim pertencido, em tempos remotos, a uma grande federação Marave, que teria iniciado a sua migração para nordeste, ao longo do vale do rio Lugenda, em tempos bastante longínquos.

Mantiveram-se muito isolados até tarde, pois só no século XX é que os portugueses, que na altura colonizavam Moçambique, conseguiram controlar as zonas por eles habitadas. Isto deveu-se à sua localização, protegida por zonas ingremes de difícil acesso e por florestas densas. O facto de os Makondes terem ganho uma imagem de violentos e irrascíveis, também ajudou ao seu isolamento.

Desta forma, conseguiram manter uma forte coesão cultural, que apesar de ter diminuido nos anos que se seguiram à chegada dos portugueses, ainda assim conseguiu resistir em vários aspectos. Também a religião tradicional se manteve dominante, tendo as conversões ao cristianismo começado apenas por volta de 1930.

Este povo tem grandes preocupações estéticas, que se podem observar não só nas máscaras e esculturas, mas em todo o tipo de objectos. Também na arquitectura das aldeias e caminhos de acesso, se nota um cuidado estético.

Todos os tipos de objectos são feitos com grande sensibilidade estética e demonstram um amor pela beleza, caixas de remédio e rapé, cachimbos, rolhas de garrafa, bilhas, potes e panelas de cerâmica, tambores, insígnias de poder, instrumentos rituais, etc.

Os Makondes, assim como muitos outros povos, dão muita importância aos ritos de passagem, sendo os mais importantes os ritos de iniciação masculina e feminina. E ligada aos ritos de iniciação masculina, está a mais importante dança dos Makondes, o Mapico, onde são usadas máscaras com o mesmo nome.

Esta dança é muito importante na vida dos Makondes de Moçambique, havendo uma aura de mistério e segredo rodeando a preparação das máscaras e a dança propriamente dita, sendo por exemplo importante que não se saiba a identidade do dançarino.

Para a dança, um jovem mascara-se de homem ou animal, vestindo panos e usando uma máscara Mapico na cabeça. Existem vários passos que o dançarino executa, sempre em sintonia com a música dos tambores, apresentando uma espécie de encenação teatral, que encanta e diverte todos os que assistem.

Depois de um extase de actividade por parte do dançarino, segue-se uma encenação de perseguição e fuga, entre o dançarino e um grupo de aldeões.

O Mapico é o centro das festas tradicionais, em que são realizadas as cerimónias de iniciação.

Depois da chegada dos portugueses às áreas Makondes, muito rapidamente as autoridades coloniais e os missionarios, se aperceberam do grande talento e técnica dos artistas, e usaram esse talento para satisfazer os seus interesses. Dando origem a esculturas de cristos e virgens por um lado, e bustos do ditador Salazar, do poeta camões, Alexandre Herculano, e de outras individualidades da história portuguesa, por outro. Também surgiram esculturas tipificadas, tais como: o fumador de cachimbo, o caçador, o lavrador, a mulher transportando água, a mulher pilando alimentos, etc.

O interesse por esta produção de esculturas foi tão grande que levou a uma maior organização da produção, com diversificação e criação de novos temas.

Este fenómeno mudou por completo o mundo do escultor Makonde, que passou de camponês que também esculpe, a um artista quase a tempo inteiro.

Apesar destas mudanças importantes e do impacto da cultura exterior na sociedade Makonde, a tradição continua a ter muita força e a enquadrar a vida dos artistas, que continuam a cumprir os seus deveres na sociedade tradicional.

Aconteceram grandes alterações económicas e sociais nas últimas décadas na sociedade Makonde, que no entanto tem conseguido adaptar-se relativamente bem às mudanças e manter um saudável equilibrio.
- Do sitio do Escultor Makonde Ntaluma.

Ntaluma é um escultor moçambicano que nasceu em Nanhagaia, distrito de Nangade, província de Cabo Delgado, Moçambique, no último ano da década de 60, num Sábado, com o calor do planalto, onde os homens se assustaram com as gargalhadas das parteiras tradicionais Makondes. Dando grande felicidade ao seu pai que estava muito ansioso.

Iniciou o seu trabalho de transmitir a sua mensagem através da madeira, em Novembro de 1990, no Museu de Etnologia de Nampula. Depois de ter recebido os segredos da escultura Makonde, do seu mestre Crisanto Bartolomeu Ambelikola.

Em 1992 chegou a Maputo onde, com um grupo de amigos, fundou a “Favana Grupo de Escultores Makonde”, no parque de campismo de Maputo. Em 1994 começou a ensinar escultura Makonde a moçambicanos e estrangeiros.

Em 2000, integrou a ASEMA - Associação de Escultores Makonde, que funciona no Museu Nacional de Arte de Moçambique.

Chegou a Portugal em 2002 onde começou a desenvolver com outros artistas, um intercâmbio de sensibilidades artísticas.

Em 2003 assumiu a responsabilidade da escola de escultura da ALDCI – Associação Lusófona para o Desenvolvimento, Cultura e Integração - Portugal, integrada na escola da multi-culturalidade.

Está representado em coleções particulares nos quatro cantos do mundo.

As Origens da arte: Quem não se lembra de alguma vez na vida ter visto uma escultura Makonde, que faz rodopiar as pessoas numa viagem que é de todos nós, numa reafirmação de que a arte está permanentemente nos corações de todas as latitudes.

A humanidade é uma parte da natureza com os seus fenômenos.

Para o escultor, uma imagem não é só um simulacro provido de qualidades vivas, é também uma forma de o homem manifestar o seu imaginário. Desde a idade da pedra que os nossos antepassados esculpem com as suas mãos, as formas naturais da terra.
 - Do sitio do Escultor Makonde Ntaluma.
Makonde - Um Povo repleto de cultura - (Titulo : Arte Makonde por Maria Mhaigue,data : 17/8/2004, Espaço Moçambique) - Estatuária Makonde Moderna - Do estilo moderno há que destacar o Estilo Shetani e o Estilo Ujamaa.

Nos anos 50, é significante um novo desenvolvimento da arte entre os Macondes, que foram para a Tanzânia e tomaram contacto com ideias políticas e sociais. Isto ajudou a alterar as suas consciências.

A escultura Maconde, deixa de ser apenas os objectos tradicionais que eram comercializados ao longo da costa do sul de Tanganyika.

Desde a independência, cabeças esculpidas de quase tamanho real têm aparecido demonstrando versatilidade, que pode ser retirado da imaginação do artista. As cabeças são de uma grande beleza e equilíbrio estético. Em vez de terem cabelo no topo, parecem seres animais e mitológicos a devorar-se simultaneamente.

É uma ilusão impressionante e profundamente dramática. São as preocupações e acontecimentos do dia-a-dia, expressados pelo simbolismo. Símbolos de fertilidade, imagens representativas de luta anti-colonial, o erotismo dos espíritos.

Estilo Shetani
No início dos anos 60 a escultura toma um carácter bizarro, naquilo que viria a ser conhecido como estilo Shetani. Desenvolveu-se entre os Macondes que viviam no exílio na Tanzânia, porque em Moçambique colonial a força da igreja católica proibiu os talhadores de trataram temas das suas tradições ancestrais e espíritos.
Mesmos os rituais como o Mapiko foram proibidos e reprimidos, desde que isto era visto como uma heresia pagã, nos termos dos valores cristãos impostos pelo o colonialismo.

Os Macondes das áreas ocupadas pelos portugueses continuaram a talhar essencialmente figuras realistas, embora umas fossem mais estilizadas do que outras.

O estilo Shetani revelou uma cosmogonia de seres e espíritos malignos que habitam a natureza e forças que o homem tem de enfrentar todos os dias.
A partir do ano de 66 este estilo começou a ganhar reconhecimento a nível mundial.

Shetani é uma palavra usada para traduzir os espíritos Nandenga da cosmogonia Maconde, que também é representada no Mapico.

Contudo é melhor descrito nos contos que são passados de boca em boca.

É um espírito mau que espalha a doença como o vento. Têm só uma perna, um braço, um dedo, um olho, e um cabelo.

No norte da Zambézia, é chamado o “espírito do Mato”.

A palavra Shetani pode ser usada ainda para descrever qualquer figura ou espírito não identificado, como animais de diferentes tamanhos, principalmente nocturnos e misteriosos.

Cada Shetani têm o seu próprio nome e ambiente geográfico. Alguns são das florestas, outros das planícies ou das aldeias. Uns têm prostitutas, e alguns foram trazidos pelos indianos ou pelos europeus.

Os Shetanis não explicam o mundo, mas com todas as suas fábulas ajudam a passar as dificuldades que podem ocorrer no dia-a-dia.

Em suma, eles têm um sentido simbólico, profundamente humano, criativo e estimulador para a imaginação.

Toda esta cosmogonia era expressada na escultura, com um sentido de grande equilíbrio e movimento.

Era uma representação eloquente do sofrimento, angustia e desespero, mostrava uma técnica notável em transformar a fantasia em escultura e expressar novas ideias que surgiam do contacto com outros povos e situações.

Artistas:

Bartolomeu Ambelicola
Nasceu no ano de 1939, Cabo Delgado, oriundo de uma família de escultores. Ainda em criança começa a esculpir fazendo parte da sua infância o convívio com os velhos mestres.

Com a luta armada cedo se passa para as zonas libertadas onde continua a desenvolver a sua arte.

Em 1978 vai residir para Nampula, mas em 1983 por motivos de sobrevivência regressa a Nandimba onde hoje vive como camponês. Tem obras suas na colecção do Museu Nacional de Arte e do Museu de Nampula.

Celestino Tomás
Nasceu em Miúla, Mueda, Cabo Delgado, em 1944, no seio duma família de grandes escultores. Teve como Mestre seu Tio Ndomessa André com quem se inicio verdadeiramente na escultura depois de ter frequentado durante dois anos a Missão de Lipelwa. Em criança já brincava esculpindo em paus leves e mandioca.

Foi emigrante na Tanzania de 1964 a 1972 onde continuou a esculpir tendo-se então instalado em Dar-es-Salam e depois em Arusha. EM 1975 regressa a Miúla e durante três anos faz a sua casa e dedica-se ao trabalho no campo. Em 1978 vai para Nampula numa tentativa de poder vir a dar continuidade à sua arte o que veio a concretizar, e onde se manteve até 1981, data em que se viu obrigado a regressar à sua terra, por questões de sobre vivênvia, vivendo hoje como camponês. Tem obra em colecções de vários países, tendo participado também em exposições colectivas em Moçambique como peçaas da colecção do Museu de Nampula.

Cristovão Alfonso
Nasceu em 1949 em Nampanha, Mueda, Cabo Delgado tendo ainda em criança emigrado para a Tanzânia, com os pais, donde regressa só em 1976, a Namaluco – Quissanga, transferindo-se em seguida para Nampula onde passa a viver. E é já em 1979 – com 30 anos de idade que se inicia na escultura, aprendendo com os seus familiares, entre os quais se conta seu irmão Jerónimo Dinhuassua já falecido.

Lamizosi Madanguo
Lamizosi conta 36 anos e nasceu em Miúla, Mueda, Cabo Delgado. Cedo seguiu a tradição familiar de ser escultor. São seus irmãos, Nkalewa Bwaluka e Cristiano Madanguo tendo já ele um filho a esculpir, Francisco Lamizosi.

Quando inicia os seus estudos, na Missão de Lipelwa, logo os tem que interromper dado o começo da Luta Armada. Iniciada esta, mantêm-se sempre nas Zonas Libertadas desenvolvendo aí a sua arte.

Periódicamente deslocava-se a Mtwata na Tanzânia onde vendia todas as suas obras.

Em 1978 vai para Nampula e integra-se na Cooperativa 16 de Junho, onde ainda hoje vai vivendo da sua arte.

Obras suas pertencem a museus nacionais e várias colecções provadas.

Miguel Valingue
Nasceu em Nanhagaia, Mueda, Cabo Delgado em 1953. Em 1964 entra para a escola primária, junto ao Régulo Likama, aderindo por essa altura também à Luta Armada, o que o leva a optar pelas Zonas Libertadas do Planalto de Mueda e a abandonar os estudos. Em 1968 vai para a Tanzânia com a família, começando em 1969, e tendo como Mestre se irmão Rafael Massude.
Até 1974 vive em Mtawara regressando no Governo de Transição a Mueda.

Em 1978 fica residência em Nampula e passa a fazer parte da Cooperativa 16 de Junho. Em 1986 vem para Maputo em busca de melhores condições de vida. Tentou entrar para uma cooperativa, mas constatou que aí só aceitavam artesanato em série. Hoje, trabalha por conta própria respeitando a sua arte. Tem várias obras nas colecções do Museu Nacional de Arte e do Museu de Nampula.

Nkabala Ambelicola
Nasceu em Miúla, Mueda, Cabo Delgado, em 1930 e como era natural do seu meio familiar, logo em criança abraçou a arte de esculpir em madeira. Pertencendo a uma grande família de escultores, ele tem como Mestres seu pai, Ambelicola Njeu, e seu tio, Kyakenia.

Logo após o massacre de Mueda adere à FRELIMO apoiando a Luta Armada por todos os meios ao seu alcance: desde o transporte de material de guerra à produção no campo, sem contudo abandonar a sua arte.

Quando da Independência sai de Nandimba onde se encontrava e vai para Nampula em busca de trabalho, fixando aí residência e passando a elemento da Cooperativa 16 de Junho.

Participou em várias exposições colectivas no exterior em Moçambique, tendo obras suas em várias colecções nacionais.

Nkalewa Bwaluka
ou Leo, como antigamente assinava as suas obras, nasceu em Miúla, Mueda, Cabo Delgado, em 1928. Pertence a uma família de grandes escultores e tem dois filhos que já o são: Machele Nkalewa e Nancheto Nkalewa. Quando era pequeno acompanhava o seu pai na feitura de máscaras Mapiko que deveriam ser usadas no final das cerimónias de iniciação, começando também com o pai a esculpir figuras humanas.

Em 1963 emigra para a Tanzânia passando a viver em Masunga, Mtwara, onde desenvolveu grande actividade, que depois enviava as peças para a Europa.

Em 1967 instala-se junto à Estrada de Moshi, esculpindo e vendendo aí os seus trabalhos.

Em 1976 regressa a Miúla, passa a Nampula e em 1978, por questões de sobrevivência regressa à sua terra onde hoje é caçador. Obras suas pertencem a museus nacionais e colecções particulares no estrangeiro.

Estilo Ujama
Nos meados dos anos 60, os escultores Macondes, tinham o estatuto de refugiados políticos, uma vez que o seu país estava ocupado pelo poder colonial.

Por esta altura um novo estilo de talhe aparece, o estilo Ujama.

O estilo Ujama embora tenha aparecido mais tarde do que o Shetani, na sua forma compacta é mais aproximado do tipo de talhe tradicional africano.

A base é esculpida bem relevo para representar a família, de forma realista nos corpos e caras, mantendo características típicas Macondes.

Na forma não compacta as figuras formam uma torre acrobática, captando o sentido de movimento expresso no estilo Shetani.

Artistas:

Kauda Simão
Nasceu em Idovo, Mueda, Cabo Delgado, em 1958. Oriundo de uma família de escultores. Ainda em criança começa a esculpur, mas logo no início da luta armada passa-se para as Zonas Libertadas vivendo e convivendo entre escultores mais velhos e em associação com estes.

Integrado na Luta pela Independência ele apoia tomando parte em alguns combates e carregando material de guerra. Reinicia a actividade de escultor em 1979, em Nampula.

Rafael Nkatunga
Nasceu em Ncaja Nasingusa, actual aldeia Litembo, Mueda, Cabo Delgado, em 1951. Tinha apenas um ano de idade quando acompanhouo seu s pais que emigraram para a Tanzânia, indo viver para Dar-es-Salam onde fez instrucção primária, começando então a trabalha como seu cunhado, Constantino Mpakulo, que considera ainda hoje o seu verdadeiro Mestre. EM 1968 instala-se junto à Estrada de Bagamoyo, onde começa a trabalhar, regressando a Moçambique em 1973, indo viver numa base da FRELIMO e passando a trabalhar no campo como a melhor forma de apoio à Luta Armada. Em 1975 volta a Mueda e retoma a sua arte.

Em 1977 fixa residência em Nampula onde trabalha ainda hoje.

Obras suas já participaram em várias exposições internacionais e estão representadas em várias colecções nacionais.
- Clique nas imagens acima para ampliar.

(Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado em breve)