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11/07/07

RECADO PARA PEMBA ! - Onde se recorda Afonso Henriques Manta d' Andrade Paes...

Voto a que os mais velhos e aos que com ele trabalharam, também aos jovens o conhecimento histórico e humano deste homem que deu a maior parte da sua vida a Moçambique.

Afonso Henriques Manta d'Andrade Paes, nasce em Válega distrito de Aveiro em 1924.
Cursa Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Ainda estudante dá aulas de Inglês e de desenho num colégio em Ovar.
E projecta a entrada do Estádio da Associação Desportiva Ovarense - colunas lisas e altas que ainda lá estão.
Em 1949 casa-se.
Segue depois para Moçambique onde inicia um longo caminho de arquitectura, que começa em Nampula com um projecto para um edifício que se chamará Lopes Cravo - nome do dono.
A convite do Governador do distrito segue para Pemba com a Família ( mulher e dois filhos ) - a fim de com a construção de seis casas de um bairro económico, começar a estruturar a sua empresa de arquitectura, engenharia e construção civil ( A.H.A.P. ) cuja actividade não se circunscreve apenas a Pemba mas se alonga a todo o distrito de Cabo Delgado, e mais tarde ao Chimoio.
Trabalha para o estado, para outras empresas e para particulares, com projectos seus e empreitadas de construção civil.
Uma das suas preocupações é transmitir conhecimentos, tanto aos desenhadores no atelier, como a operários nas obras.
Tem uma característica muito curiosa - quando a trabalhar no estirador muitas vezes lhe vão surgindo soluções no próprio projecto.
É muito exigente e perfeccionista. E tem um enorme espírito inventivo que muitas vezes ultrapassa a época.
Tudo lhe capta a atenção e o engenho.
(Antes da ida para Nampula, onde residiu dois anos, Andrade Paes viveu com a mulher numa plantação de tabaco em Riane - Ribáué, onde desenhou e orientou a contrução de uma ponte de madeira sobre um rio que atravessava a área. Cativou-o também, nesses meses em que viveu no Riane, a cultura do tabaco, o que o levou a estudar o plantio do vegetal e todo o processo inerente até às folhas secas nas estufas).
Segue uma lista de trabalhos efectuados em Pemba - Cabo Delgado:
  1. Um bairro de seis casas económicas.
  2. Várias habitações de particulares.
  3. Cinco casas na praia do Wimbe, aliás casas completas com quatro divisões, banho sanitário e varanda.
  4. Casa de praia do governador, na mesma praia do Wimbe.
  5. Casa de praia da Marinha.
  6. Edifício da Marinha ( 3 andares na cidade ).
  7. Quartel dos fusileiros.
  8. Estádio com um mural pintado por ele.
  9. Decoração do interior do Hotel Cabo Delgado, em madeiras da região,incluindo mobiliário cujo desenho é de sua autoria.
  10. No mesmo hotel o Bar "Barbatana", seguindo a mesma linha de decoração.
  11. Decoração do interior do Montepio de Moçambique em que pela primeira vez é usada escultura Maconde.
  12. Decoração do interior do edifício do Tribunal, em madeiras da região e desenho de sua autoria.
  13. Habitações sociais no bairro do Cariacó.
  14. Edifício da Fazenda.
  15. Armazém para o algodão da empresa Sagal.
  16. Jardins do Palácio do Governador ( desenho e orientação).
  17. Trabalho de urbanização para Montepuez.
  18. Diversas pontes.
  19. Restauro do tecto da Igreja de S.Paulo em Pemba.
  20. Restauro da Mesquita no bairro do Paquitequete.
  21. Quarteis em Mueda.
  22. Esplanada do Bar Marítimo.
  23. Decoração da Gelataria Glaciar, que era simultaneamente casa de chá.
  24. Após elaboração de estudo económico proposto aos serviços respectivos, criação de uma carreira aérea ( OCAPA - Organização de Carreira Aérea de Porto Amélia ) sobrevoava todo o distrito de Cabo Delgado, a distribuir correio e a transportar passageiros. Tinha dois aviões monomotores e um bimotor. A OCAPA fez intercâmbio turístico com as Ilhas Comores. E foi pioneira nas carreiras aéreas em Cabo Delgado.
    Aliás o Arquitecto Andrade Paes foi também delegado do turismo em Cabo Delgado.
    Levado também pelo seu espírito inquieto e de pesquisa exprimentalista - factor da sua personalidade - o Arq.Andrade Paes tinha mais de mil horas de vôo efectuadas nos aviões da OCAPA.
    Porém não quis tirar o brevet.
Após o processo de descolonização e durante o governo de transição, o Arq. Andrade Paes rumou ao Chimoio (Vila Pery) para trabalhando com a empresa Minas Gerais de Moçambique fazer a urbanização de uma área em Mavita, que compreendia:
  • a) Uma fábrica para extracção de asbestos.
  • b) Um bairro de casas económicas para os trabalhadores.
  • c) Um posto médico.
  • d) O traçado de um campo de aviação.
Após a independência, o Arq. Andrade Paes, foi nomeado em Diário da República como um dos arquitectos junto da Presidência em Maputo.
Quando passado o prazo estipulado voltou a Portugal, colaborou no movimento cooperativo SAAL.
Desagregado este movimento, abriu um gabinete de Arquitectura e Topografia no distrito de Aveiro.
Andrade Paes, faleceu em 1987.
Por Glória de Sant'Anna- 04.11.07
.
(transcrição da home Pemba e Régua)
Jornal João Semana - Ovar - 1 de Junho de 2004:
Sobre Afonso Henriques Andrade Paes:
Memórias a preto e branco.
Achámos curiosa e digna de registo esta referência do Dr. Camilo de Araújo Correia, filho do grande escritor João de Araújo Correia, a um Vareiro que conheceu bem em Porto Amélia, Moçambique, publicada no jornal "O Arrais", da Régua.
“(...) No meu tempo, o grande construtor civil de Porto Amélia era o arquitecto Afonso Henriques de Andrade Paes. Os seus camiões amarelos com grandes letras da cada lado (A.H.A.P.) estavam sempre a passar e repassar.
O encarregado das obras de Andrade Paes era um homem simpático, eficiente e surdo. Para ir ouvindo alguma coisa, usava um aparelho.Um aparelho auditivo de quarenta anos... Constava de uma grande pilha metida no bolso do lado esquerdo do peito e de um fio que, partindo daí, terminava numa oliva introduzida no ouvido. Foi este fio que veio a caracterizar o homem de confiança de Andrade Paes. Entre negros era conhecido por mucunha narame (senhor arame).
Porto Amélia... Porto Amélia...”
Camilo de Araújo Correia ("O Arrais")
O Arquitecto Afonso Henriques Andrade Paes, natural de Válega (da família Soares Paes, comerciantes em Ovar), formado na Escola de Belas Artes do Porto, casado com a escritora Glória de Sant’Ana, nossa ilustre colaboradora, partiu, aos 25 anos, para Moçambique, onde fez trabalhos da sua especialidade em Nampula, cidade onde viveu 2 anos e onde fez o seu 1° projecto de construção civil, e em Porto Amélia, para onde partiu, a pedido do Governador, que lhe encomendou um projecto de casas sociais, ali constituindo a sua empresa (A.H.A.P) de Arquitectura, Engenharia e Construção.
Obs.: As cidades de Ovar e Peso da Régua são consideradas "Irmãs"... Existe em Ovar a "rua da Régua" e na Régua a "rua das Vareiras".
*Vareiros(as) são designados os naturais de Ovar.
E é bom lembrar e repetir que as ruas e recantos de
Pemba sempre irão "falar" deste seu incansável obreiro...
J. L. Gabão