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9/18/08

Retalhos da História de CABO DELGADO - O nascimento de MOCIMBOA DA PRAIA

Não há informações seguras sobre a origem de Mocimboa da Praia, pois o comandante Leote do Rego é o primeiro autor que se lhe refere com algum detalhe, ao mencionar que "em 1855 havia em Mossimboa 398 habitantes christãos e mouros" e que, cinquenta anos depois, eram poucos mais (Leotte do Rego, Op. cit., p. 78.).
No entanto, nos registos da corveta Mindelo que entrou na baía de Mocimboa da Praia em Fevereiro de 1882 "a fim de fazer aguada e receber frescos", verifica-se que o seu comandante se lhe referia como um "estabelecimento português bastante importante a 50 milhas a sul de Cabo Delgado", onde foi " recebida lenha e alguma água" (António Marques Esparteiro, Op. cit., Vol. XVII, p. 45.).
No seu relatório de governo, também Mouzinho de Albuquerque salienta que até 1894 a ocupação de Moçambique pelos portugueses se resumia de facto a uma estreita faixa do litoral, à excepção de alguns pontos isolados no interior, como Sena, Tete, Zumbo e pouco mais, acrescentando que no norte "apenas o Tungue, Mocimboa e Ilha do Ibo estavam ocupadas no distrito de Cabo Delgado" (J. Mousinho de Albuquerque, Moçambique (1896-1898), Sociedade de Geografia de Lisboa, 1913, p. 37.).
A concessão da Companhia do Niassa incluía Mocimboa nos seus domínios e nos registos do imposto de palhota por ela cobrado em 1903, que atingiram 13.97 contos de reis, verifica-se que Tungue rendeu 3.5, Mocimboa 2.9, o Ibo 2.28 e Porto Amélia 0.34, o que significava que, no mínimo, Mocimboa tinha alguma importância fiscal (René Pélissier, Op. cit., Vol. I, p. 378.).
Por outro lado, escreveu-se mais tarde que "Mocimboa da Praia era, em 1916, um lugar deserto na imensa costa moçambicana", "mato virado ao mar" e que "em 1917, só havia ali dois europeus, ambos funcionários da antiga Companhia do Niassa", um edifício que era a Administração do Concelho e residências de funcionários (Rodrigues Júnior, Diários de Viagem (8.000 quilómetros em Moçambique), p. 73.).
Numa visão concordante com aquela, também se escreveu que "o grande animador de Mocimboa da Praia" ou "o criador de Mocimboa da Praia", foi António Vieira, que foi telegrafista na última campanha de África (Rodrigues Júnior, Op. cit., p. 65.).
Terminada a guerra, o telegrafista António Vieira e dois companheiros fixaram-se naquele local, fizeram uma sociedade com sede no Ibo e com uma sucursal em Mocimboa da Praia, iniciando atividades agrícolas e comerciais. Como não havia estradas, os produtos eram transportados à cabeça dos carregadores desde o interior ao litoral, seguindo depois em lanchas à vela até ao Ibo, de onde embarcavam para a Europa.
"Mocimboa ficava no fim de tudo. Ali não ia vapor" (Rodrigues Júnior, Op. cit., p. 74.).
Mais tarde, o comandante João Coutinho referia-se a Mocimboa como "porto de valioso comércio", informando que as embarcações de cabotagem têm fácil acesso ao porto e que "últimamente têm ali afluido alguns produtos do interior, avultando, pelo seu preço, o marfim" (João Coutinho, De Nyassa a Pemba, p. 16.).
Em meados da década de 60 Mocimboa da Praia já era uma pequena vila onde residiam algumas famílias europeias, indianas e asiáticas, dispondo de algum comércio, um aeroporto servido regularmente pela DETA, uma ponte-cais para pequenas e médias embarcações, armazéns portuários, algumas instalações militares e diversas ruas bem alinhadas com residências de boa construção destinadas aos funcionários.
No entanto, era uma povoação isolada de onde só se podia sair por terra em colunas militares e que foi alvo de alguns flagelamentos de artilharia por parte da Frelimo.
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O autor:
Adelino Rodrigues da Costa entrou para a Escola Naval em 1962 como cadete do "Curso Oliveira e Carmo", passou à reserva da Armada em 1983 no posto de capitão-tenente e posteriormente à situação de reforma. Entre outras missões navais que desempenhou destaca-se uma comissão de embarque realizada no norte de Moçambique entre 1966 e 1968, onde foi imediato da LGD Cimitarra e comandante das LFP Antares e LFG Dragão.Especializou-se em Artilharia, comandou a LFG Sagitário na Guiné, foi imediato da corveta Honório Barreto, técnico do Instituto Hidrográfico, instrutor de Navegação da Escola Naval, professor de Navegação da Escola Náutica e professor de Economia e Finanças do Instituto Superior naval de Guerra. Nos anos mais recentes foi docente universitário, delegado da Fundação Oriente na Índia e seu representante em Timor Leste. É licenciado em Sociologia (ISCSP), em Economia (ISEG), mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação (ISCTE) e membro da Academia de Marinha.
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O livro:
Título - As Ilhas Quirimbas - Uma síntese histórico-naval sobre o arquipélago do norte de Moçambique;Edição - Comissão Cultural da Marinha;Transcrição da publicação "As ilhas Quirimbas de Adelino Rodrigues da Costa, edição da Comissão Cultural da Marinha Portuguesa, 2003 - Capítulo 11, que me foi gentilmente ofertado pelo Querido Amigo A. B. Carrilho em Pinhal Novo, 26/06/2006.
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Do mesmo autor neste blogue:
  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 1 - Aqui!
  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 2 - Aqui!
  • Retalhos da História de Pemba - A Companhia do Niassa e a fundação de Porto Amélia - Parte 3 - Aqui!

- Em breve neste blogue:

  • Zanzibar e a escravatura nas Quirimbas;
  • A Ilha do Ibo;
  • As Quirimbas em finais do século XIX e a decadência do Ibo.