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9/16/08

Ecos da imprensa lusa - 7º. COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA EM BRAGANÇA!

7º. colóquio da lusofonia de 2 a 5 de outubro 2008.
Setembro 2008 - Quando cheguei da Austrália (a Portugal) fui desafiado pelo meu saudoso mentor, José Augusto Seabra, a fazer os Colóquios da Lusofonia longe estava eu de supor que em Outubro de 2008 estaria a realizar o 10º colóquio, sendo o 7º em Bragança.
Desde então, ao contrário do mundo ocidental que confunde multiculturalismo com islamismo e outros ismos, tenho definido a minha versão de Lusofonia. Mas o que entendo dela é aquilo que foi expresso ao longo destes últimos anos, em cada um dos Colóquios sendo esta uma visão das mais abrangentes possíveis, que visa incluir todos na Lusofonia que não tem de ser Lusofilia nem Lusografia e muito menos a Lusofolia que por vezes parece emanar doutras entidades. Cada vez mais gente parece aceitar esta minha versão que muitas pontes tem ajudado a construir como se verá este ano, quando terminado o Colóquio nos dirigirmos à Galiza para abrir oficialmente a ACADEMIA GALEGA DA LINGUA PORTUGUESA... ...
... ... Este ano iremos falar da «Língua Portuguesa e Crioulos: um enriquecimento biunívoco». Para isso teremos como convidado de honra JOÃO CRAVEIRINHA, moçambicano, escritor e artista plástico, além de inúmeros especialistas na área como a Professora Doutora Dulce Pereira que terão uma sessão de apresentação e autógrafos dos seus livros. Igualmente foi possível trazer de novo a Bragança os dois académicos que em 2007 acederam a serem patronos deste evento: Malaca Casteleiro da Academia de Ciências de Lisboa e Evanildo Bechara da Academia Brasileira de Letras. Igualmente presentes deverão estar Adriano Moreira (Presidente da Academia) e Artur Anselmo... ...
... ... São as seguintes as instituições representadas:
Academia Brasileira de Letras, Academia de Ciências de Lisboa, Academia de Letras de Brasília, AGAL Galiza, Associação pró Academia Galega da Língua Portuguesa, blogue A Bem da Nação, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, Clube dos Poetas Vivos (Galiza), Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança, Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Instituto Politécnico do Porto, Movimento Internacional Lusófono, Universidade do Algarve, Universidade de Évora, Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade Estadual de Santa Cruz da Bahia, Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, Universidade Lusófona, Universidade Mackenzie de São Paulo, Universidade de Nottingham no Reino Unido, Universidade de São Paulo Brasil.
  • Leia o artigo em texto integral - Aqui! (Diário de Trás-os-Montes).

4/17/08

Mia Couto fala de Jorge Amado em São Paulo - Brasil !

O moçambicano Mia Couto esteve em Março último no Brasil. E falou em São Paulo da influência de Jorge Amado na cultura dos países africanos lusófonos:
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Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na gênese da literatura dos países africanos que falam português. A nossa dívida literária com o Brasil começa há séculos, quando Gregório de Mattos e Tomaz Gonzaga ajudaram a criar os primeiros núcleos literários em Angola e Moçambique. Mas esses níveis de influência foram restritos e não se podem comparar com as marcas profundas e duradouras deixadas pelo baiano. Deve ser dito (como uma confissão à margem) que Jorge Amado fez pela projeção da nação brasileira mais do que todas as instituições governamentais juntas. Não se trata de ajuizar o trabalho dessas instituições, mas apenas de reconhecer o imenso poder da literatura. Nesta sala, estão outros que igualmente engrandeceram o Brasil e criaram pontes com o resto do mundo. Falo, é claro, de Chico Buarque e Caetano Veloso. Para Chico e Caetano, vai a imensa gratidão dos nossos países que encontraram luz e inspiração na vossa música, na vossa poesia. Para Alberto da Costa e Silva vai o nosso agradecimento pelo empenho sério no estudo da realidade histórica do nosso continente.Nas décadas de 50, 60 e 70, os livros de Jorge cruzaram o Atlântico e causaram um impacto extraordinário no nosso imaginário coletivo. É preciso dizer que o escritor baiano não viajava sozinho: com ele chegavam Manuel Bandeira, Lins do Rego, Jorge de Lima, Erico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Drummond de Andrade, João Cabral Melo e Neto e tantos, tantos outros.Em minha casa, meu pai - que era e é poeta - deu o nome de Jorge a um filho e de Amado a um outro. Apenas eu escapei dessa nomeação referencial. Recordo que, na minha família, a paixão brasileira se repartia entre Graciliano Ramos e Jorge Amado. Mas não havia disputa: Graciliano revelava o osso e a pedra da nação brasileira. Amado exaltava a carne e a festa desse mesmo Brasil. Neste breve depoimento, eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: por que este absoluto fascínio por Jorge Amado, por que esta adesão imediata e duradoura? É sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto do baiano. Eu acho que o maior inimigo do escritor pode ser a própria literatura. Pior que não escrever um livro, é escrevê-lo demasiadamente. Jorge Amado soube tratar a literatura na dose certa, e soube permanecer, para além do texto, um exímio contador de histórias e um notável criador de personagens. Recordo o espanto de Adélia Prado que, após a edição dos seus primeiros versos confessou: "Eu fiz um livro e, meu Deus, não perdi a poesia..." Também Jorge escreveu sem deixar nunca de ser um poeta do romance. Este era um dos segredos do seu fascínio: a sua artificiosa naturalidade, a sua elaborada espontaneidade. Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Bahia e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida cotidiana. O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: "Para mim, a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e via a minha terra. E quando encontrei Quincas Berro d'Água eu o via na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe. "Essa familiaridade exisitencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passeavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos. Em Angola, o poeta Mario António e o cantor Ruy Mingas compuseram uma canção que dizia:
Quando li Jubiabá/me acreditei Antônio Balduíno./Meu Primo, que nunca o leu/ficou Zeca Camarão.
E era esse o sentimento: António Balduino já morava em Maputo e em Luanda antes de viver como personagem literário. O mesmo sucedia com Vadinho, com Guma, com Pedro Bala, com Tieta, com Dona Flor e Gabriela e com tantos os outros fantásticos personagens. Jorge não escrevia livros, ele escrevia um país. E não era apenas um autor que nos chegava. Era um Brasil todo inteiro que regressava à África. Havia pois uma outra nação que era longínqua mas não nos era exterior. E nós precisávamos desse Brasil como quem carece de um sonho que nunca antes soubéramos ter. Podia ser um Brasil tipificado e mistificado, mas era um espaço mágico onde nos renasciam os criadores de histórias e produtores de felicidade. Descobríamos essa nação num momento histórico em que nos faltava ser nação. O Brasil - tão cheio de África, tão cheio da nossa língua e da nossa religiosidade - nos entregava essa margem que nos faltava para sermos rio. Falei de razões literárias e outras quase ontológicas que ajudam a explicar por que Jorge é tão Amado nos países africanos. Mas existem outros motivos, talvez mais circunstanciais. Nós vivíamos sob um regime de ditadura colonial. As obras de Jorge Amado eram objeto de interdição. Livrarias foram fechadas e editores foram perseguidos por divulgarem essas obras. O encontro com o nosso irmão brasileiro surgia, pois, com épico sabor da afronta e da clandestinidade. A circunstância de partilharmos os mesmos subterrâneos da liberdade também contribuiu para a mística da escrita e do escritor. O angolano Luandino Vieira, que foi condenado a 14 anos de prisão no Campo de Concentração do Tarrafal, em 1964, fez passar para além das grades uma carta em que pedia o seguinte: "Enviem meu manuscrito ao Jorge Amado para ver se ele consegue publicar lá no Brasil..."Na realidade, os poetas nacionalistas moçambicanos e angolanos ergueram Amado como uma bandeira. Há um poema da nossa Noêmia de Sousa que se chama Poema de João, escrito em 1949 e que começa assim:
João era jovem como nós/João tinha os olhos despertos,/As mãos estendidas para a frente,/A cabeça projetada para amanhã,/João amava os livros que tinham alma e carne/João amava a poesia de Jorge Amado.
E há, ainda, outra razão que poderíamos chamar de linguística. No outro lado do mundo, se revelava a possibilidade de um outro lado da nossa língua. Na altura, nós carecíamos de um português sem Portugal, de um idioma que, sendo do Outro, nos ajudasse a encontrar uma identidade própria. Até se dar o encontro com o português brasileiro, nós falávamos uma língua que não nos falava. E ter uma língua assim, apenas por metade, é um outro modo de viver calado. Jorge Amado e os brasileiros nos devolviam a fala, num outro português, mais açucarado, mais dançável, mais a jeito de ser nosso. O poeta maior de Moçambique, chamado José Craveirinha, disse o seguinte numa entrevista:
"Eu devia ter nascido no Brasil. Porque o Brasil teve uma influência tão grande que, em menino eu cheguei a jogar futebol com o Fausto, o Leônidas da Silva, o Pelé. Mas nós éramos obrigados a passar pelos autores clássicos de Portugal. Numa dada altura, porém, nós nos libertamos com a ajuda dos brasileiros. E toda a nossa literatura passou a ser um reflexo da Literatura Brasileira. Quando chegou o Jorge Amado, então, nós tínhamos chegado à nossa própria casa.
"Craveirinha falava dessa grande dádiva que é podermos sonhar em casa e fazer do sonho uma casa. Foi isso que Jorge Amado nos deu. E foi isso que fez Amado ser nosso, africano, e nos fez, a nós, sermos brasileiros. Por ter convertido o Brasil numa casa feita para sonhar, por ter convertido a sua vida em infinitas vidas, nós te agradecemos companheiro Jorge. Muito obrigado."
Fonte jornal "O Estado de São Paulo"
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Trajetória:
António Emílio Leite Couto, 53, conhecido como Mia Couto, é moçambicano, nascido na cidade da Beira-Moçambique em 1955 de pais portugueses e mora hoje em Maputo, capital do país. Cursou medicina e jornalismo, levando a cabo apenas o segundo curso. Foi diretor do jornal Notícias de Maputo e da revista Tempo. Aderiu à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e participou da luta pela independência do país que, em 1975. Foi, durante a Guerra Civil, diretor da Agência de Informação de Moçambique e um dos compositores do hino nacional de sua pátria. Posteriormente, formou-se biólogo, profissão que exerce até hoje. É autor de diversos livros, entre os quais Terra Sonâmbula (romance, 1992) - considerado um dos melhores livros africanos da história -, A Varanda Do Frangipani (romance, 1996), O Gato e o Escuro (conto infantil, 2001) e A Chuva Pasmada (novela, 2005). Sua obra é reconhecida pela originalidade e pela reinvenção lingüística, patente até mesmo nos títulos de seus livros, como Estórias Abensonhadas (contos, 1994) e Mar Me Quer (novela, 1998). Os principais prêmios com que foi agraciado foram: Grande Prêmio de Ficção Narrativa (Vozes Anoitecidas, 1990), Prêmio de Literatura, da Associação de Escritores Moçambicanos (Terra Sonâmbula, 1995), Prêmio Mário António, da Fundação Calouste Gulbenkian (O Último Vôo do Flamingo, 2002), Prêmio União Latina de Literaturas Românticas (pelo conjunto da obra, 2007) - concedido pela primeira vez a um escritor africano. Atualmente, é sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras. Eleito por unanimidade, ocupa, desde 1998, a cadeira de número 5.
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Mia Couto falando de Jorge Amado em São Paulo Brasil no mês de Março de 2008:
(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a rádio "ForEver PEMBA.FM" no lado direito do menu deste blogue.)
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= Se encontrar dificuldades em assistir o video acima "dentro" do blog, poderá tentar Aqui ! =