6/07/05

Miscelânea sentimental.


Posted by Hello Trabalho do artista plástico italiano Piero

Emocionalmente surpreendido transcrevo do "Sublimações":

Sexta-feira, Junho 03, 2005

Euro-África Minha

A Mãe é do Douro e nasceu no Porto por um acaso feliz; eu sou do Tejo e nasci em África por um acaso da sorte.
A Mãe fez dois anos durante a viagem para Moçambique; eu fiz dois anos, na torna-viagem, pouco depois de chegar a Lisboa, vinte e dois anos mais tarde.
A Mãe guarda duas ou três memórias breves desses tempos primevos passados no norte, antes da viagem africana: a apanha das castanhas ouriçadas debaixo dos castanheiros durienses e um rio de vinho a escorrer de uma pipa que ela abrira sem saber como... mas também eu guardo algumas memórias tímidas mas nítidas desse ínfimo tempo africano que me coube: a cadelinha Susy e os seus dois cachorrinhos e uma traquinice insignificante que “vitimou” minha prima.
Quando a Mãe visitou Portugal pela primeira vez, em Abril de 1975, trouxe-me com ela.
Eu tinha um ano mas lembro-me perfeitamente de Tróia e da piscina com dezenas de cadeiras amarelas vazias, espreguiçadas ao sol primaveril.
Em Maio voltámos a Moçambique e em Novembro eu já estava definitivamente de regresso a Portugal com os Avós.
Meus Pais só regressariam em Abril do ano seguinte.
Durante estes quase trinta anos, a Mãe, inicialmente com alguma incontida emoção, foi descobrindo e conferindo a História e a Geografia de Portugal que ela conhecia apenas do Liceu e das descrições familiares, num tempo em que ainda se aprendia que D. Afonso Henriques era um rei façanhudo e destemido que tinha conquistado aos mouros Santarém, Lisboa, Alcácer do Sal, Évora, Serpa, e Juromenha.
A mesma emoção que eu senti quando, tal como ela, anos mais tarde regressei a África, primeiro à África de Sul e quatro anos depois a Moçambique.
Então, também eu reconferi, embargada, a Lourenço Marques colonial imaginada, narrada pelos Pais e Avós, com a Maputo da minha experiência pessoal actualizada.
Mas também Porto Amélia (Pemba), a Ilha de Moçambique (a Ilha), Nampula (a Linda), a Beira...O Minho, o Douro, o Vouga, o Mondego, o Tejo, o Sado, o Mira e o Guadiana da Mãe tiveram, então, a sua equivalência nos meus Rovuma, Monapo, Licungo, Zambeze, Save, Limpopo, Incomati e Umbeluzi.
E se minha Mãe tinha sabido redescobrir as vinhas do Douro, os pinhais de Leiria e os montados do Alentejo... também eu soube redescobrir os mangais do Lumbo, os palmares da Angoche e os canaviais de Xinavane... e nem sequer o Marão, a Estrela e Arrábida ficaram sem os seus Namuli, Chiperone e Gorongoza...Agora, que já conhecemos o verso e o reverso do mesmo percurso euro-africano que ambas partilhamos, intrincado de partes de um mesmo diapositivo de sentimentos comuns, estamos definitivamente quites com a memória.

6/03/05

Àqueles que, sei, me entenderão!


Posted by Hello 18/05/2005 - O Pembista (Tó Coelho) e Esposa
no Egipto - Templo Hatshepsut

...Àqueles que, sei, me entenderão!

VOLTEI!

Quase vinte e nove anos passados, voltei ao continente cujo cálido regaço embalou as nossas meninices.

Não ao local desejado mas àquele que, por ora, era viável.

Já se deram conta, estive em Africa. Mais propriamente em Hurghada, no Egipto.

Sem pieguices balofas, confesso-me indescritivelmente emocionado quando voltei a tocar o chão africano.

Emoção, saudade, sentimento de culpa como se de uma certa forma de “traição” se tratasse, por não regressar ao “local devido”? Julgue quem ler.

Por sorte minha e por ser de noite, ninguém deu conta dos indícios que podiam denunciar o meu estado de alma, à chegada. O vento quente do deserto, uma tossezita inventada e as “tarefas bagageiras” deram também um precioso contributo…

Depois… oito dias de ripanço, com Sol, calor, praia, peixes, corais e tantas outras coisas que só Africa pode proporcionar.

Até as acácias rubras deram o seu contributo exibindo, vaidosas, as suas vestes mais garridas.

Quanto aos peixes e corais, embora mais famosos, ficam muito aquém dos “nossos” tanto em quantidade como em variedade. Isto sob reserva do estado actual deles que; neste momento, desconheço. Só a área coberta é maior.

Nos recifes, há grande quantidade de coral morto. Talvez resultado da sobrecarga que o turismo exerce com barcos e mergulhadores por todo o lado.

O deserto e as montanhas do Mar Vermelho surpreendem pela beleza que dificilmente se imaginava. Só areia e calhaus mas o quadro que se nos depara é de uma beleza magnífica e inesperada. Deparei com ela aquando da deslocação a Luxor, (a Tebas, capital do Alto Egipto, de que falávamos nas aulas de Historia, lembram-se?).

Como em tudo na vida, o que é bom acaba depressa a hora de regressar chegou em louca correria desenfreada. Mal dei por mim, sobrevoava já o Cairo a 34.000 pés de altitude, a caminho de casa e do trabalho.

Parafraseando o Calimero: C’EST PAS JUSTE !!!!!!!!!
António Coelho - Maio de 2005