10/01/05

Vende-se o "João Ferreira dos Santos".

30-09-2005 - Noticias Lusófonas :

Grupo português João Ferreira dos Santos está à venda.

Grande parte do património da empresa portuguesa João Ferreira dos Santos, o maior grupo agro-industrial de Moçambique, encontra-se à venda por cerca de 16,6 milhões de euros, para saneamento financeiro, noticia hoje a imprensa de Maputo.
Segundo o semanário Savana, a operação visa sanear financeiramente a empresa e está a ser seguida pelo governo de Moçambique e diversas instituições bancárias, credoras da JFS.
A JFS tem alegadas dívidas à banca e ao tesouro moçambicano avaliadas em 28 milhões de euros e, em meados deste ano, terá tentado, sem êxito, negociar a situação com uma instituição bancária portuguesa e um grupo britânico.
Fundado por um português, João Ferreira dos Santos, o grupo mantém actividade em Moçambique há 107 anos, tendo resistido ao processo de nacionalizações desencadeado após a independência, em 1975, e à guerra civil que opôs o governo da FRELIMO à guerrilha da RENAMO, entre 1986 e 1992.
Presente em sete das onze províncias moçambicanas, o JFS integra 13 empresas, algumas das quais participadas pelo Estado, sobretudo na área da agricultura onde emprega milhares de trabalhadores rurais.
Em Junho deste ano, o governo designou Augusto Sumburane, director nacional dos Jogos, para coordenador da acção para evitar a falência do grupo.
Aquele jornal avança que o grupo está a vender a maioria do seu capital accionista nas empresas Sociedade Algodoeira do Namialo, Sociedade Algodoeira do Niassa, Chá de Magoma, Companhia Agrícola JFS, Citrinos do Chimoio e em duas plantações no país.
O Savana acrescenta que diversos prédios em Nampula (norte), na capital, Maputo, bem como a desactivada fábrica de bicicletas da Matola (sul) estão igualmente à venda.

9/30/05

Espaço para a arte de Inez Andrade Paes

A Natureza foi sempre refúgio e fonte de inspiração para o ser humano.

Assim escrevem sobre pássaros e Inez Andrade Paes:

Frequentemente, a sua acepção poética compreende um universo de concórdia e equilibrio a que se sobrepõem as representações classícas do Jardim do Paraíso. Uma Arcádia perdida onde, no pastoral e bucólico, se abrem rasgões de presença divina servida por uma ortodoxia pagã.

Nestas representações, as aves - os pássaros - são simbolo capital e têm, por isso, presença abundantemente marcada. Criaturas do espaço, espíritos do vento, as aves substancializam a própria alegoria do Ar. É esse "outro" ser que "fala", que dá voz a uma história - a chave de íntimos segredos. Se a sua ausência não nos traria perplexidade, estimularia certamente a erupção de um lento terror.
No sexto livro de "A Eneida", Vergílio escreveu: "Fácílis descensus Averno. Fácil é descer aos infernos". Averno era, para Vergílio, o portal do Hades. Um lago tão venenoso que os vapores das águas fétidas matariam qualquer pássaro que por sobre ele voasse. A palavra Averno deriva do grego "aorno" na qual "a" é prefixo de negação e "orno" ou "ornis" significa pássaro. O Inferno seria, assim, um lugar sem pássaros.

A presença dos pássaros fascina pela beleza da plumagem e a poesia do voo. São também os pássaros, muitas vezes, símbolo de poder espíritual - a pomba branca do Espírito Santo, a águia de S. Jono de Patmos (ou Zeus), o pavão de Juno, etç. - e de estatuto social - a posse de araras era restrito apanágio da Família Real. Como emblemas da alma, os pássaros assumem, muitas vezes, corporeidade de boas ou más qualidades, propicios ou desagradáveis augúrios.

"O estatuto dos pássaros" é auspicioso - como diria um augure romano. "Auspicioso" vem de duas palavras latinas: "avis" (pássaro) e "spiceri" (ver, observar) e derivou do antigo hábito de prever o resultado de qualquer empreendimento através da observação do canto e voo dos pássaros ou analise de suas entranhas. Esta mesma atividade que nos fará hoje sorrir, fez parte integrante do percurso que levou ao Renascimento Europeu e para o qual contribuíram, pela atenção meticulosa do detalhe e observação directa do mundo natural, dois grandes pintores: Leonardo daVinci (no Sul) e Albrecht Durer (no Norte).

Desde os primeiros diagramas rupestres até ao detalhe analítica do Renascimento, desde o naturalismo do século XVIII e reconciliação entre arte e ciência no século XIX, até ao ênfase do reconhecimento correcto do meio ambiente e sua representação realista no século XX, que os registos pictóricos de aves não deixaram nunca de participar do imaginário universal a que fazem constante e estimulante apelo.

É extraordinariamente refrescante ver agora esta exposição de pintura de pássaros, na qual, como ciclo poético, Inez Andrade Paes sobrepõe o poder de interpretação das referências naturais à objetividade científica mais crua, ao mesmo tempo que se serve dela. O todo com um resultado que se formaliza em elegante equílibrio.

A limpidez da cor usada no tratamento de cada imagem e a delicada aplicação da linha defenidora dos detalhes fundamentais tem, na sua economia de meios, a qualidade dos clássicos. E é esse mesmo aspecto que confere a estas pinturas o seu carácter contemporâneo.

Sebastian Bruy-Hard, Cambridge, Inglaterra, 2001 (In brochura "Pássaros da Península Ibérica" - Museu Múnicipal de Silves - 9 de Novembro a 2 de Dezembro de 2001)
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Inez Andrade Paes é artista plástica natural de Pemba-Moçambique e reside atualmente em Portugal.
Seus quadros procurados e apreciados no mundo da arte guarnecem coleções particulares. Alguns de seus diversos trabalhos podem ser vistos nestes endereços: