Empresários moçambicanos saem do Brasil cheios de ilusões !
Os mais de 50 empresários moçambicanos que nos últimos dias estiveram em jornadas de negócios no Brasil, sucessivamente em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, regressam à casa com toda a expectativa de terem despertado os brasileiros para um país chamado Moçambique. Até aqui, a relação comercial entre Moçambique e Brasil é mais retórica que prática. Os brasileiros, com uma economia bem mais pujante que a moçambicana, estão, como se diz na gíria, “noutra”, pelo que, apesar da língua comum, das similaridades culturais, de um modo geral, não têm o nosso país na agenda. Dos 87 biliões de dólares de importações que os brasileiros já fizeram, de Janeiro a Julho deste ano, de uma previsão de 155 biliões até Dezembro, Moçambique não contribuiu com um centavo dólar que fosse. Por outras palavras, nos primeiros sete meses de 2007, o nosso país não exportou rigorosamente nada para o Brasil! Também os brasileiros não exportaram muito para Moçambique no mesmo período: apenas 12 milhões de dólares. Sem dúvidas, muito pouco para dois países que se consideram irmãos. Mas esta realidade não é apenas deste ano. Vem de há alguns anos: em 2006, Moçambique exportou para o Brasil 15 milhões de dólares; em 2005, 20 milhões; em 2004, 14 milhões; e em 2003, 4 milhões. O nosso país está em 129º lugar no ranking dos países que exportam para o Brasil, liderado pelos Estados Unidos da América, Argentina, China e Países Baixos. Os produtos que Moçambique exporta para o Brasil são estatuetas e outros objectos de madeira, quadros, bijutarias e obras de cestaria. Recebe, em contrapartida, do Brasil basicamente carnes, frangos, calçado, vestuário, entre outros. Em 2006, o Brasil totalizou 35 milhões de dólares em exportações para Moçambique; em 2005, 28 milhões. Inverter esta tendênciaÉ esta tendência que Moçambique quer inverter. Por isso, na sua visita ao Brasil, o Presidente da República levou consigo mais de 50 empresários. Para além de falar com políticos, o Chefe do Estado reuniu com homens de negócios, incentivando-os a investir em Moçambique e ou a fazerem parcerias com os empresários moçambicano. Guebuza funcionou como um catalizador, enquanto em paralelo os empresários faziam os seus contactos. Falou com os ministros da parte económica do governo de Lula, com as administrações da Vale do Rio Doce, da Camargo Correia, visitou e reuniu com o presidente da Federação das Associações Industriais de São Paulo. No Rio de Janeiro, os empresários, já sem o Chefe do Estado, participaram num seminário com os empresários brasileiros na Federação das Câmaras de Comércio Exterior do Brasil, onde tiveram oportunidade, através de vários painéis, de “vender” Moçambique como um bom destino de investimento. No fim, ao cabo de nove dias, ficou a convicção de que se começou a abrir uma porta importante para o investimento, dado o enorme potencial do Brasil.
O PAÍS - 14.09.2007