9/15/07

Em Cabo Delgado "Coisas Lindas" - Pedro Nacuo.

Há viagens para as quais não resistimos quando somos convidados, mas custa a aceder imediatamente a um convite para ir cobrir a entrega de um poço a um grupo de cidadãos ou de cadernos escolares a alunos com alguma especificidade de índole social. Isso acontece muitas vezes com instituições que lidam com a assistência humanitárias às populações.
Por isso, não tem sido fácil nos tempos que correm cobrir este tipo de eventos. Quando é o Governo a fazê-lo, tem-se muitas dificuldades de o acompanhar. Não parece que se traz ao público o que espera de uma acção do Governo. Que abriu um poço e entregou a 1500 beneficiários ou que reparou poços, mas as pessoas não os utilizam porque devem ser elas a contribuírem para comprarem a bomba, dois mil meticais cada, como aconteceu em Mapupulo? Sinceramente!
Mas o Governo é esperto. Ao criar o Instituto Nacional de Acção Social (INAS) fê-lo com características de uma entidade religiosa dentro de si, de tal jeito que quando se está num evento dessa parte do Ministério da Mulher e Acção Social, foge-se do foro meramente governamental. Tem-se a sensação de se estar perante uma instituição humanitária. E Cabo Delgado desde a direcção provincial ao próprio instituto, parece terem sido apetrechados de pessoas vindas de alguma formação religiosa.
Passavam 10 anos da criação do INAS em 10 de Setembro corrente. Por essa ocasião aceitamos acompanhar esses “religiosos” aos distritos interiores de Balama e Namuno, escolhidos propositadamente, para neles lançar os programas de assistência directa aos incapacitados.
Na aldeia Rovuma vimos uma associação, cujo nome inspira confiança. Aliás, o seu nome é mesmo Confiança, criada em 2002 por 33 membros e hoje comporta 77. Faz culturas de rendimento e pequenos negócios. Os seus associados não querem dizer quanto dinheiro têm em banco porque “dinheiro é como uma grávida, não se declara, mas se vê ao longo do seu desenvolvimento”.
Mas a mais linda coisa foi chegar nas instalações octogenárias da missão de Santa Maria de Namuno onde há quatro anos estivemos e escrevemos criticamente por não serem aproveitadas para nenhuma iniciativa de calor. Até o sino da igreja havia sido “ilegalmente” levado pela Escola Primária do Segundo Grau quando se transferiu para novas instalações, o que obrigou a uma musculatura entre o único padre então residente e a direcção daquele estabelecimento de ensino.
Desta vez vimos a irmã Piergiuliano Paradiso a cuidar de 144 crianças da aldeia Nanrapa que todos os dias vão à escolinha onde aprendem a cantar, falar na língua portuguesa e a comer à mesa para além de desenhar.
Uniformizadas, as crianças soltam um sorriso de esperança e a pouco e pouco vão ganhando confiança no futuro e já não são tímidas como antes da inciativa se ter implantado, sem apoio de dentro do país, mas sim de outras pessoas do além que se solidarizam com o propósito da irmã Piergiuliano, italiana, mais outras duas de nacionalidades brasileira e ruandesa.
Outros projectos referem-se a mulheres no corte e costura a aprenderem a fazer o que a sua imaginação já tinha mas que lhes faltava enquadramento e apoio para libertarem as suas iniciativas.
É aqui onde o INAS também esteve, desta feita trazendo algum apoio para as crianças da escolinha de Nanrapa. Leite, cadernos e muita outra coisa para dizer na prática às irmãs de que não estão sozinhas na ideia de que aqueles petizes merecem aquele amparo. Coisa bonita!
P.S. A malária reuniu em Nampula durante três dias, até ontem, jornalistas também de Tete, Zambézia, Niassa e Cabo Delgado. Um destacado político e general na reserva inquietou-se ao cruzar com muitos deles nos corredores do complexo “O Bamboo” que acolhia o semina´rio. Primeiro não sabia que Rogério Sitoe era director do “Notícias” e a um outro jornalista perguntou: o que têm a ver jornalisats com a malária? Responder, não, mas há-de ver!
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 15 de Setembro de 2007:: Notícias

Está em Moçambique Fernando Henrique Cardoso, pioneiro e pai do Brasil económicamente estável de hoje.

Em Moçambique, FHC sugere 'arrojo' para combater inflação
Maputo, 14 Set (Lusa) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta sexta-feira em Maputo, capital de Moçambique, "políticas arrojadas" para conter a inflação, citando o sucesso do Brasil neste campo, mas reconheceu a "fragilidade" de alguns Estados face às exigências do Fundo Monetário Internacional. Numa palestra proferida nesta sexta na Universidade Politécnica em Maputo sobre a sua experiência, durante o período em que foi ministro da Fazenda, FHC apontou as diversas estratégias adotadas para impedir a hiperinflação e que culminaram com a mudança da moeda brasileira. O ex-ministro brasileiro da Fazenda apontou como exemplo do seu sucesso a mobilização dos parlamentares e a adoção de políticas de previdência social e administração pública, além da democratização do acesso às políticas sociais.Às vezes, "tinha que ser muito duro com os deputados, que têm uma linguagem muito dura. Um dia no Parlamento perguntaram-me sobre a negociata que estávamos fazendo com o Fundo Monetário Internacional" (FMI), lembrou. "O Brasil teve que tomar medidas duras para o controle do déficit público", mesmo diante de algumas reclamações do FMI, disse. Apesar de reconhecer a incapacidade de certos países para fazer frente ao FMI, FHC sugeriu a implementação de "políticas arrojadas" nestes Estado, visando inverter algumas situações de dependência àquela instituição financeira mundial. No seu mandato, antes de assumir a presidência brasileira, em 1994, FHC primou pela mobilização de uma maioria parlamentar e conquista da opinião pública a favor do seu plano de estabilização, o Plano Real. "Enquanto havia recomendações [dos assessores] para não falar com jornalistas [por exemplo] quando entrasse na minha sala, eu fazia o contrário", disse numa alusão a sua estratégia para angariar simpatia da população, já "cansada da inflação". As medidas de controle do déficit público foram acompanhadas da reforma monetária, que se completou com a entrada em circulação de uma nova moeda, o Real, em julho de 1994. Apesar das várias crises externas que tiveram um forte impacto na economia brasileira, as estratégias seguidas pelo sociólogo resultaram na redução da inflação na casa de um dígito por cento anual, que continua até hoje. Conseqüentemente, as reformas abriram caminho para a modernização da infra-estrutura econômica, com a abertura para investimentos privados nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, petróleo, transportes e mineração, apesar de uma forte oposição no Congresso Nacional do Brasil. As mudanças escolhidas por FHC refletiram-se igualmente no maior acesso ao ensino básico, bem como na generalização do atendimento básico de saúde e da previdência social e os benefícios gozados por pequenos agricultores, que tiveram acesso amplo à terra e ao crédito.
Agência Lusa - 14/09/07