Chimoio, 4 Outubro 2007 (PlusNews) - Ribeiro João, de 43 anos, fugiu da guerra civil em Moçambique em 1987 para o Zimbabwe. Ele foi um dos 1.7 milhão de moçambicanos que deixaram o país em busca de asilo nas nações vizinhas durante a guerra civil de 16 anos.
Mas se por um lado, João escapou dos perigos da luta armada em Moçambique que acabou em 1992, por outro encontrou no Zimbabwe um inimigo tão perigoso quanto a guerra: o HIV.
Ele contou ao PlusNews que durante cinco anos ficou num campo de refugiados na província de Masvingo, no sudeste do Zimbabwe.
Em 1992 foi para os subúrbios de Mutare, região mais ao norte do território.
“Vivíamos aglomerados e no seio de muita prostituição acabei por ficar infectado”, diz.
NOVA GUERRA
De volta a Moçambique desde 2003, João afirma que agora “desenrasca a vida com um inimigo a combater [a Sida].”
Com três filhos – todos seronegativos, o mais novo com 15 anos –, João é um dos 37 voluntários da Associação Provincial de Ex-Emigrantes de Moçambique (AEXEMO), em Chimoio, capital provincial de Manica, na região central do país.
O grupo oferece prevenção do HIV e cuidados contra a Sida em locais públicos, como mercados e fontenários, conta o coordenador Manuel Manuença.
“Em bicicletas, os voluntários levam gratuitamente ao hospital os doentes que têm dificuldade para andar”, diz Manuença.
Os voluntários ainda fabricam pão e lavram hortas para gerar rendimentos e garantir a alimentação de 10 ex-refugiados seropositivos, além das viúvas e filhos de outros que morreram em decorrência da Sida.
A AEXEMO pretende agora criar empregos aos ex-refugiados em parceria com o Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional, do Ministério do Trabalho.
VIVÍAMOS AGLOMERADOS E NO SEIO DE MUITA PROSTITUIÇÃO ACABEI POR FICAR INFECTADO
O pedreiro Elias, que pede omissão do apelido, tem 29 anos e é um dos seropositivos ajudados pelos voluntários.
“Eu vivo sozinho e sinto um amparo quando os meus amigos [ex-refugiados] me apóiam”, disse ao PlusNews.
Natural de Cabo Delegado, Elias se refugiou no Zimbabwe em 1988, quando tinha 12 anos, e desde que voltou a Moçambique em 1994, nunca mais teve dinheiro para procurar por sua família nesta província ao norte do país.
“Já formei uma nova família cá [em Chimoio]”, disse.
“E tenho dúvidas se minha antiga família iria me reconhecer.”
Quando conversa com Elias e recorda os momentos que a guerra civil trouxe a Moçambique, João prefere lembrar do acordo de paz em 1992.
Com o cessar-fogo, João e seus colegas dizem que agora é hora de superar a epidemia que atinge 16.2 por cento dos adultos moçambicanos.
(ac/lb/ms)-PlusNews África