6/28/11

ÚLTIMA VONTADE


Quando eu morrer,
Que seja em Agosto
Com toda a gente de férias.
Quero morrer sem desgosto,
Sem dor e sem aborrecer,
Envolto na brancura de um lençol,
Só um padre, a família e os amigos,
Sem mais ninguém saber.
Quero morrer sem choros, sem gritos
E sem anúncio no jornal.
Morrer não é o fim,
E quem me diz a mim
Que a minha vida, afinal,
Não se renovará num caminho
De amor e carinho,
De risos verdadeiros,
Todos os dias renovados
Como se fossem os primeiros?
Quando eu morrer,
Lavem-me com a lágrima do adeus
Que quem morre sempre deita,
Não com pena de morrer,
Mas triste pelos que ficam,
Mais tristes e abandonados,
Sem saberem o que os espera:
Se a disputa de uma herança
Ou o fim de uma esperança.
Quando eu morrer,
Metam-me num jazigo
Com uma ampla janela
Para ver, através dela,
O sol de cada domingo.
Ponham-me flores e uma vela,
Uma cruz e um poema
Que aqui deixo escrito:
Nasceu sem saber porquê,
Viveu sem que o entendessem.
Morreu sabendo para quê:
Para que na ausência o lembrassem.
Basta para dizer tudo,
O que foi o meu mundo
Em criança e em adulto.
Atravessei mares e continentes,
Chorei nas noites de abandono,
Amei raças diferentes
E não sei se matei por engano.
Quando eu morrer,
Não quero ir para a terra;
Em vez de morrer uma vez,
Morreria, então, duas vezes.
Concordem que não o merecerei
E, se o fizerem, garanto-vos,
Nunca o esquecerei.
Afinal, quem vive com os remorsos
De uma última vontade não cumprida,
Naquele instante de amargura e despedida
Em que o sangue se esvai,
No grito intolerável que a vida dá,
Até se esbater cansado num ai
Que até parece que, depois dele, nada mais há?
Quando eu morrer,
As andorinhas farão ninhos
No beiral da casa onde nasci,
Cantando de mansinho
Para que não me interrompam o fim.
Apanhem uma que seja dócil e bela,
Prendam-na às minhas mãos
E deixem-me ir assim com ela,
Caixão aberto e o sol a brilhar,
As pessoas espantadas a olhar
Para um funeral nunca visto.
Batam palmas devagarinho,
Não se importem de parecer mal,
Não falem durante o caminho,
E vejam se vou a voar.
Quando eu morrer,
Se calhar, não terei tempo de dizer
O que sempre calei em vida:
Que amei tanto os outros
E alguns não me mereceram,
Que chorei por loucos
E por quem não devia,
Que encolhi silêncios
Pelos que nunca me lembraram
E alguns até se afastaram.
Quando eu morrer
Vai ser penoso ir-me embora,
Deitado, estrada fora,
Sem me mexer,
Sem poder beijar os frutos da minha felicidade,
Virtudes e defeitos do meu ser,
Os seus rostos mais lindos do que o sol a nascer
E sorrir-lhes, então, até à eternidade.

- De M. Nogueira Borges* extraído com autorização do autor de sua obra "O Lagar da Memória". O livro "O Lagar da Memória" foi apresentado  dia 12 de Março último na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia . Informações para compra aqui. Também pode ler M. Nogueira Borges no blogue "Escritos do Douro". A imagem ilustrativa acima é formada/editada por diversas fotos recolhidas da internet livre. Clique na imagem para ampliar.
  • *Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua - Portugal.

6/22/11

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884

PARABÉNS ILHA DO IBO - SALVÉ 24 DE JUNHO !

A vila de Ibo foi fundada em 1761, sendo uma das primeiras primeira capitais de Cabo Delgado. O seu auge posterior esteve relacionado com o comércio esclavagista. Com a sua abolição começa o lento declínio económico que se consuma politiciamente com a transferência das últimas repartições da administração de Cabo Delgado para Pemba (então Porto Amélia) em 1929. A ilha tem 10 km de comprimento por cinco de largura e está quase totalmente urbanizada, localizando-se aí a vila do Ibo, sede do distrito do mesmo nome. Encontra-se dentro do Parque Nacional das Quirimbas. (Fontes Dr. Carlos Lopes Bento* e Wikipédia)
Neste 24 de Junho, passa-se mais um aniversário da histórica Vila do Ibo.

  • *Carlos Lopes Bento - A primeira capital de Cabo Delgado foi na ilha de Querimba, onde podemos encontrar as ruinas de monumentos religiosos do século XVI ou até, possivelmente, na ilha de Amisa.
:: -- ::
Link's para "Ilha do Ibo":
Ilhas de Querimba (blog do Dr. Carlos Lopes Bento)
Pesquisa de trabalhos sobra a Ilha do Ibo no blogue ForEver PEMBA
Algumas imagens publicadas na net sobre a bela e histórica Ilha do IBO
:: -- ::
MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL
A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO
Trabalho de autoria do Dr. Carlos Lopes Bento elaborado em especial para o dia 24 de Junho de 2011- Aniversário da histórica Ilha do Ibo.
(Dê duplo click com o "rato/mouse" para ampliar e ler)
A ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ILHA IBO, DESDE 1884