Sou filho de antigos combatentes mas não sou antigo combatente - Marcelino Ngalilo Ding’ano, autor de “Órfãs Efémeras”, livro lançado semana passada em Pemba.
Na véspera do dia do lançamento do seu livro envolve-se num acidente de viação e contrai uma fractura num dos membros superiores. A partir do hospital provincial de Cabo Delgado, em Pemba, distribui mensagens aos amigos dando conta do sucedido que “mesmo assim, a cerimónia tem lugar amanhã mesmo”.
É filho de combatentes da luta de libertação nacional, o escritor que semana passada lançou o livro “Órfãs Efémeras”, na cidade de Pemba, Cabo Delgado, mas não se quer afirmar antigo combatente, como o fazem, segundo diz, muitos oportunistas. Acha injusto. Prefere viver honestamente a vida.
“Nasci durante a luta armada, não fui a nenhum outro sitio fora do território moçambicano. Portanto nasci e cresci no território de Cabo Delgado. Vivi todas as circunstancias da guerra (as amarguras, os horrores...) tudo o que a guerra impunha, apesar da idade vivi na carne, mas não tenho razão para me afirmar antigo combatente”, palavras do artista.
Ele pretende contrariar a ideia ora prevalecente, sobretudo em cabo Delgado, de que os filhos dos antigos combatentes são igualmente antigos combatentes e, vai daí usufruírem dos direitos àqueles reservados, incluindo a pensão de reforma.
“Li um pouco o estatuo da Associação dos Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional e vi que me dá chance de o ser, mas não quero pôr-me ao luxo de convidar-me pessoalmente para o ser. Não quero nem aproveitar a mentira. O máximo que posso fazer é inscrever-me, se calhar ter cartão, mas não como caminho ao encontro de benesses. Uma alternativa para colher benefícios. Não estou interessado”.
Acrescenta que seria bom dizer que foi estudante nas zonas libertadas do que procurar o luxo de ter sido antigo combatente, alegadamente porque encara isso como pessoas que pegou em armas e esteve na frente da batalha.
“Eu nunca fiz isso, apesar de ser verdade que muitas vezes fugi na companhia dos meus pais às incursões inimigas, base da minha inspiração para fazer este livro, mas não é isso que me pode qualificar antigo combatente”.
Marcelino Ngalilo Ding’ano é o novo homem das letras que Cabo Delgado passou a conhecer publicamente, a partir do dia 20 deste mês.
Disse que tinha ouvido dos seus professores e outras pessoas mais experientes que escrever (ou por outra publicar) não era brincadeira nenhuma. Curiosamente, conforme ele, nunca ninguém lhe havia dito que, afinal era o dinheiro era preciso. Que também aqui é o dinheiro que fala.
È como se chegou a dizer no acto do lançamento, que “ainda há, em Moçambique, quem fica 20 anos com algo para dizer, mas não o consegue”. Há muitas limitantes para que as pessoas usem do seu direito a apresentar a sua opinião, a sua arte, as suas vivências e, enfim, o direito a ser ouvido. Ainda o viver fora dos corredores á volta das grandes capitais provinciais, é um dilema. O estar a 2.800 quilómetros da capital, é duplo problema. “É confrangedor. Fiquei mais desesperado no período de espera de patrocínio do que naquele de inspiração, da edificação da minha própria obra. Em 20 anos outros produzem três a quatro livros. Houve muitos motivos para desesperar, mas acabei acreditando até sair com ‘Órfãs Efémeras’, sabendo, entretanto, que se estivesse num outro sitio deste país, não enfrentaria as mesmas dificuldades, teria menos”, lamenta Ngalilo Ding’ano.
O autor traz-nos, na verdade, uma história de duas meninas irmãs, que regressaram de volta do seu inocente passeio pela aldeia duma região a norte de Cabo Delgado, então circunscrição de Palma, se certificam que não mais tinham pais por ali, porque exactamente durante a sua ausência se registou um bombardeamento da tropa colonial que dispersou os habitantes da povoação.
“Órfãs Efémeras” pretende trazer ao público leitor o momento psicológico em que viveram os pais e as crianças, depois do ataque inimigo que nunca mais os voltaria a ligar, sendo que cada uma das partes ficou sem saber o paradeiro da outra.
Escreveu, segundo ele confessa, com uma terminologia à maneira bantu, mais precisamente à maneira maconde, para que o “bolo” deste ensaio saiba ao caldo secular e delicioso dos caracóis do planalto e chama à atenção para outros factos.
“De nomes, actos e factos com alguma realidade material e/ou imaterial, a semelhança é, muitas vezes uma coincidência dolorosa!... quando um escritor se submerge no seu mundo indiscritivo, ele fica ciente das ciladas que vai armando a muitos, porque ao longo desse arriscado voo literário”.
Acrescenta que “a língua, a palavra, a emoção e a fantasia da sua loucura ensaísta vão ás vezes, disferindo, é verdade, inocente e impreterivelmente, a quaisquer que se julguem lesados. È a magia dos nossos dons a culpa daquele que nos infundiu sublime inteligência”.
Pedro Nacuo - Maputo, Quarta-Feira, 25 de Julho de 2007:: Notícias
“Nasci durante a luta armada, não fui a nenhum outro sitio fora do território moçambicano. Portanto nasci e cresci no território de Cabo Delgado. Vivi todas as circunstancias da guerra (as amarguras, os horrores...) tudo o que a guerra impunha, apesar da idade vivi na carne, mas não tenho razão para me afirmar antigo combatente”, palavras do artista.
Ele pretende contrariar a ideia ora prevalecente, sobretudo em cabo Delgado, de que os filhos dos antigos combatentes são igualmente antigos combatentes e, vai daí usufruírem dos direitos àqueles reservados, incluindo a pensão de reforma.
“Li um pouco o estatuo da Associação dos Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional e vi que me dá chance de o ser, mas não quero pôr-me ao luxo de convidar-me pessoalmente para o ser. Não quero nem aproveitar a mentira. O máximo que posso fazer é inscrever-me, se calhar ter cartão, mas não como caminho ao encontro de benesses. Uma alternativa para colher benefícios. Não estou interessado”.
Acrescenta que seria bom dizer que foi estudante nas zonas libertadas do que procurar o luxo de ter sido antigo combatente, alegadamente porque encara isso como pessoas que pegou em armas e esteve na frente da batalha.
“Eu nunca fiz isso, apesar de ser verdade que muitas vezes fugi na companhia dos meus pais às incursões inimigas, base da minha inspiração para fazer este livro, mas não é isso que me pode qualificar antigo combatente”.
Marcelino Ngalilo Ding’ano é o novo homem das letras que Cabo Delgado passou a conhecer publicamente, a partir do dia 20 deste mês.
Disse que tinha ouvido dos seus professores e outras pessoas mais experientes que escrever (ou por outra publicar) não era brincadeira nenhuma. Curiosamente, conforme ele, nunca ninguém lhe havia dito que, afinal era o dinheiro era preciso. Que também aqui é o dinheiro que fala.
È como se chegou a dizer no acto do lançamento, que “ainda há, em Moçambique, quem fica 20 anos com algo para dizer, mas não o consegue”. Há muitas limitantes para que as pessoas usem do seu direito a apresentar a sua opinião, a sua arte, as suas vivências e, enfim, o direito a ser ouvido. Ainda o viver fora dos corredores á volta das grandes capitais provinciais, é um dilema. O estar a 2.800 quilómetros da capital, é duplo problema. “É confrangedor. Fiquei mais desesperado no período de espera de patrocínio do que naquele de inspiração, da edificação da minha própria obra. Em 20 anos outros produzem três a quatro livros. Houve muitos motivos para desesperar, mas acabei acreditando até sair com ‘Órfãs Efémeras’, sabendo, entretanto, que se estivesse num outro sitio deste país, não enfrentaria as mesmas dificuldades, teria menos”, lamenta Ngalilo Ding’ano.
O autor traz-nos, na verdade, uma história de duas meninas irmãs, que regressaram de volta do seu inocente passeio pela aldeia duma região a norte de Cabo Delgado, então circunscrição de Palma, se certificam que não mais tinham pais por ali, porque exactamente durante a sua ausência se registou um bombardeamento da tropa colonial que dispersou os habitantes da povoação.
“Órfãs Efémeras” pretende trazer ao público leitor o momento psicológico em que viveram os pais e as crianças, depois do ataque inimigo que nunca mais os voltaria a ligar, sendo que cada uma das partes ficou sem saber o paradeiro da outra.
Escreveu, segundo ele confessa, com uma terminologia à maneira bantu, mais precisamente à maneira maconde, para que o “bolo” deste ensaio saiba ao caldo secular e delicioso dos caracóis do planalto e chama à atenção para outros factos.
“De nomes, actos e factos com alguma realidade material e/ou imaterial, a semelhança é, muitas vezes uma coincidência dolorosa!... quando um escritor se submerge no seu mundo indiscritivo, ele fica ciente das ciladas que vai armando a muitos, porque ao longo desse arriscado voo literário”.
Acrescenta que “a língua, a palavra, a emoção e a fantasia da sua loucura ensaísta vão ás vezes, disferindo, é verdade, inocente e impreterivelmente, a quaisquer que se julguem lesados. È a magia dos nossos dons a culpa daquele que nos infundiu sublime inteligência”.
Pedro Nacuo - Maputo, Quarta-Feira, 25 de Julho de 2007:: Notícias
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