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O SUICÍDIO
Em pouco tempo, correra em toda aldeia Kunakavanga de boca em boca e de familia em familia o boato segundo o qual, o jovem Kanhembe havia sido visto na calada da noite envolvido em acto de adultério com Malonda, terceira mulher do nkulungwa Kavanga, régulo da aldeia Kunakavanga. Segundo as más linguas, Kanhembe mantinha o seu romance secreto com Malonda, uma jovem esbelta, clara, tatuada e com dentes afiados como mandavam as regras na sua comunidade, desde os tempos recuados, época em que os dois eram adolescentes. O seu romance veio a conhecer o fim quando, sem consentimento da jovem, os pais decidiram aceitar o pedido de casamento formulado pelo Kavanga sem que este tenha dialogado com a Malonda. Temendo represálias pesadas por parte da família, Malonda não viu outra saída se não seguir o destino que lhe era traçado pela circunstância, pese embora o seu coração estivesse entregue espontaneamente ao Kanhembe. Esta situação trouxe um grande sofrimento ao Kanhembe que assistiu, sem nada fazer, à cerimónia da entrega do seu amor ao velho Kavanga que, orgulhosamente, fez questão de paralisar a vida da aldeia do nkulungwa Nkwemba para os aldeões testemunharem o seu célebre enlace.
O tempo passou e consigo foram as lembrança do célebre casamento do velho Kavanga e, por ironia do destino, passado muitos anos, Kanhembe veio a casar na aldeia Kunakavanga, onde vivia Malonda, seu amor roubado. Como a tradição makonde daquele tempo mandava o homem viver os primeiros dois anos na aldeia e na familia da mulher, Kanhembe veio morar na povoação de Kunakavanga em cumprimento da tradição. Foi nessa altura que gente de má fé espalhou em toda aldeia inúmeros boatos dando conta que Kanhembe andava de cavaqueira com Malonda, esposa do afamado nkulungwa Kavanga. Como não houvesse evidências, Kanhembe foi poupado aos interrogatórios dos velhos conservadores do conselho dos ancião da aldeia Kunakavanga.
Porém, uma certa noite de céu decorado de estrelas e de terra banhada de luar, foi visto alguém, no silêncio da noite, saindo dissimuladamente da cubata de Malonda e se precipitando para o terreiro da aldeia, na direcção em que morava o jovem Kanhembe, num dia em que Kavanga dormia descansadamente na casa da quarta esposa, localizada na entrada da aldeia. Este acontecimento espalhou-se no dia seguinte em toda aldeia, tendo sido, uma vez mais, posto em causa o bom nome do jovem Kanhembe, que na altura do acontecimento se encontrava na aldeia vizinha participando na cerimónia fúnebre de um dos parentes do terceiro grau morto há dias por um leão quando voltava da machamba.
Quando voltou a aldeia, o jovem foi colhido de surpresa pela noticia que não parava de espalhar-se. Sentindo-se ultrajado e sendo tratado pelos aldeões com atitude de real culpado, saiu de casa à tarde sem se despedir e com lipeta nas costas contendo uma longa corda de ntope que servira para empilhar capim que tinha sido usado dias anteriores para cobrir a palhota dos sogros. Kanhembe atravessou o terreiro em diagonal, passou pela rua da Malonda como se quisesse dizer algo e mais tarde seguiu o caminho que levava a floresta conservando um silêncio tumular. Pensativo, passou em frente de uma casa que cheirava a gordura e em que se achava uma infinidade de gente bebendo nkalogwè e de súbito ouviu o seu nome pronunciado com intusiasmo. Não parou e nem se dignou olhar. Continuou a marcha em direcção a floresta. Próximo ao limiar da aldeia, três homens trajando roupas usadas até o remendo olharam-no com espanto e passaram-lhe duvidando a sua sanidade mental. Kanhembe não se atrapalhou e continuou a sua marcha como se a morte na sua grandiosa força lhe chamasse com excessiva urgência.
Entretanto, após ter deixado a aldeia andou alguns minutos num caminho tortuoso que levava às machambas dos aldeões e, mais adiante, bem perto do caminho embrenhou-se pela mata onde, próximo a uma mangueira frondosa parou. Defecou nas imediações e trepou na árvore até aos primeiros ramos, onde tirou a corda, amarrou num dos ramos que se mostrava consistente, fez um nó e pôs-se ao pescoço. Meditou durante alguns instantes e de repente deixou-se cair. Os olhos arregalaram-se, o pescoço estreitou-se e a corda penetrou-lhe às entranhas, obrigando-o a soltar a lingua para fora como se de um búfalo morto se tratasse. Estrebuchou violentamente e, por fim, mantve-se sereno com o mijo a escorrer pelas pernas abaixo. Oscilando ao prazer do vento, o corpo de Kanhembe manteve-se na floresta durante quatro dias e na tarde do último dia, foi descoberto por um caçador que passava por ali a caminho das suas armadilhas e que logo, tratou de comunicar os aldeões. Quando estes chegaram, soltaram o malogrado em estado de putrefacção e trataram de o enterrar sem que o levassem à aldeia.
Dias depois, Kavanga surpreendeu Malonda em acto de adultério na sua cubata com um dos anciãos da sua aldeia. O sucedido chocou aos populares e, rapidamente, o conselho dos anciãos tratou de ocultar o sucedido para que não criasse rebilião.
Em pouco tempo, correra em toda aldeia Kunakavanga de boca em boca e de familia em familia o boato segundo o qual, o jovem Kanhembe havia sido visto na calada da noite envolvido em acto de adultério com Malonda, terceira mulher do nkulungwa Kavanga, régulo da aldeia Kunakavanga. Segundo as más linguas, Kanhembe mantinha o seu romance secreto com Malonda, uma jovem esbelta, clara, tatuada e com dentes afiados como mandavam as regras na sua comunidade, desde os tempos recuados, época em que os dois eram adolescentes. O seu romance veio a conhecer o fim quando, sem consentimento da jovem, os pais decidiram aceitar o pedido de casamento formulado pelo Kavanga sem que este tenha dialogado com a Malonda. Temendo represálias pesadas por parte da família, Malonda não viu outra saída se não seguir o destino que lhe era traçado pela circunstância, pese embora o seu coração estivesse entregue espontaneamente ao Kanhembe. Esta situação trouxe um grande sofrimento ao Kanhembe que assistiu, sem nada fazer, à cerimónia da entrega do seu amor ao velho Kavanga que, orgulhosamente, fez questão de paralisar a vida da aldeia do nkulungwa Nkwemba para os aldeões testemunharem o seu célebre enlace.
O tempo passou e consigo foram as lembrança do célebre casamento do velho Kavanga e, por ironia do destino, passado muitos anos, Kanhembe veio a casar na aldeia Kunakavanga, onde vivia Malonda, seu amor roubado. Como a tradição makonde daquele tempo mandava o homem viver os primeiros dois anos na aldeia e na familia da mulher, Kanhembe veio morar na povoação de Kunakavanga em cumprimento da tradição. Foi nessa altura que gente de má fé espalhou em toda aldeia inúmeros boatos dando conta que Kanhembe andava de cavaqueira com Malonda, esposa do afamado nkulungwa Kavanga. Como não houvesse evidências, Kanhembe foi poupado aos interrogatórios dos velhos conservadores do conselho dos ancião da aldeia Kunakavanga.
Porém, uma certa noite de céu decorado de estrelas e de terra banhada de luar, foi visto alguém, no silêncio da noite, saindo dissimuladamente da cubata de Malonda e se precipitando para o terreiro da aldeia, na direcção em que morava o jovem Kanhembe, num dia em que Kavanga dormia descansadamente na casa da quarta esposa, localizada na entrada da aldeia. Este acontecimento espalhou-se no dia seguinte em toda aldeia, tendo sido, uma vez mais, posto em causa o bom nome do jovem Kanhembe, que na altura do acontecimento se encontrava na aldeia vizinha participando na cerimónia fúnebre de um dos parentes do terceiro grau morto há dias por um leão quando voltava da machamba.
Quando voltou a aldeia, o jovem foi colhido de surpresa pela noticia que não parava de espalhar-se. Sentindo-se ultrajado e sendo tratado pelos aldeões com atitude de real culpado, saiu de casa à tarde sem se despedir e com lipeta nas costas contendo uma longa corda de ntope que servira para empilhar capim que tinha sido usado dias anteriores para cobrir a palhota dos sogros. Kanhembe atravessou o terreiro em diagonal, passou pela rua da Malonda como se quisesse dizer algo e mais tarde seguiu o caminho que levava a floresta conservando um silêncio tumular. Pensativo, passou em frente de uma casa que cheirava a gordura e em que se achava uma infinidade de gente bebendo nkalogwè e de súbito ouviu o seu nome pronunciado com intusiasmo. Não parou e nem se dignou olhar. Continuou a marcha em direcção a floresta. Próximo ao limiar da aldeia, três homens trajando roupas usadas até o remendo olharam-no com espanto e passaram-lhe duvidando a sua sanidade mental. Kanhembe não se atrapalhou e continuou a sua marcha como se a morte na sua grandiosa força lhe chamasse com excessiva urgência.
Entretanto, após ter deixado a aldeia andou alguns minutos num caminho tortuoso que levava às machambas dos aldeões e, mais adiante, bem perto do caminho embrenhou-se pela mata onde, próximo a uma mangueira frondosa parou. Defecou nas imediações e trepou na árvore até aos primeiros ramos, onde tirou a corda, amarrou num dos ramos que se mostrava consistente, fez um nó e pôs-se ao pescoço. Meditou durante alguns instantes e de repente deixou-se cair. Os olhos arregalaram-se, o pescoço estreitou-se e a corda penetrou-lhe às entranhas, obrigando-o a soltar a lingua para fora como se de um búfalo morto se tratasse. Estrebuchou violentamente e, por fim, mantve-se sereno com o mijo a escorrer pelas pernas abaixo. Oscilando ao prazer do vento, o corpo de Kanhembe manteve-se na floresta durante quatro dias e na tarde do último dia, foi descoberto por um caçador que passava por ali a caminho das suas armadilhas e que logo, tratou de comunicar os aldeões. Quando estes chegaram, soltaram o malogrado em estado de putrefacção e trataram de o enterrar sem que o levassem à aldeia.
Dias depois, Kavanga surpreendeu Malonda em acto de adultério na sua cubata com um dos anciãos da sua aldeia. O sucedido chocou aos populares e, rapidamente, o conselho dos anciãos tratou de ocultar o sucedido para que não criasse rebilião.
Francisco Absalão
21/04/2008
21/04/2008
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GLOSSÁRIO:
Nkulungwa – Chefe da povoação;
Ntope – Acta selvagem;
Lipeta – Muchila feita de pele de animais selvagens;
Nkalogwè – Oteka ou, por outra, bebida tradicional feita de mipira.
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Nkulungwa – Chefe da povoação;
Ntope – Acta selvagem;
Lipeta – Muchila feita de pele de animais selvagens;
Nkalogwè – Oteka ou, por outra, bebida tradicional feita de mipira.
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O Autor:
-Francisco Absalão;
-Nome artístico -Allman Ndyoko;
-Nome artístico -Allman Ndyoko;
-Nasceu em 11 de Abril de 1977 na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado em Moçambique;
-Residência actual - Maputo;
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Leia:
- "A Origem - Ou como surgiu o povo Makonde", texto de Francisco Absalão publicado no ForEver PEMBA em 29/Março/2008 - Aqui !
- "O Turbilhão Lendário", texto de Francisco Absalão publicado no ForEver PEMBA em 24/Outubro/2007 - Aqui !
- "O Nó Sagrado", um conto de Allman Ndyoko (Francisco Absalão) - publicado no ForEver PEMBA em 19/Março/2008 - Aqui !
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