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4/17/08

Mia Couto fala de Jorge Amado em São Paulo - Brasil !

O moçambicano Mia Couto esteve em Março último no Brasil. E falou em São Paulo da influência de Jorge Amado na cultura dos países africanos lusófonos:
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Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na gênese da literatura dos países africanos que falam português. A nossa dívida literária com o Brasil começa há séculos, quando Gregório de Mattos e Tomaz Gonzaga ajudaram a criar os primeiros núcleos literários em Angola e Moçambique. Mas esses níveis de influência foram restritos e não se podem comparar com as marcas profundas e duradouras deixadas pelo baiano. Deve ser dito (como uma confissão à margem) que Jorge Amado fez pela projeção da nação brasileira mais do que todas as instituições governamentais juntas. Não se trata de ajuizar o trabalho dessas instituições, mas apenas de reconhecer o imenso poder da literatura. Nesta sala, estão outros que igualmente engrandeceram o Brasil e criaram pontes com o resto do mundo. Falo, é claro, de Chico Buarque e Caetano Veloso. Para Chico e Caetano, vai a imensa gratidão dos nossos países que encontraram luz e inspiração na vossa música, na vossa poesia. Para Alberto da Costa e Silva vai o nosso agradecimento pelo empenho sério no estudo da realidade histórica do nosso continente.Nas décadas de 50, 60 e 70, os livros de Jorge cruzaram o Atlântico e causaram um impacto extraordinário no nosso imaginário coletivo. É preciso dizer que o escritor baiano não viajava sozinho: com ele chegavam Manuel Bandeira, Lins do Rego, Jorge de Lima, Erico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Drummond de Andrade, João Cabral Melo e Neto e tantos, tantos outros.Em minha casa, meu pai - que era e é poeta - deu o nome de Jorge a um filho e de Amado a um outro. Apenas eu escapei dessa nomeação referencial. Recordo que, na minha família, a paixão brasileira se repartia entre Graciliano Ramos e Jorge Amado. Mas não havia disputa: Graciliano revelava o osso e a pedra da nação brasileira. Amado exaltava a carne e a festa desse mesmo Brasil. Neste breve depoimento, eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: por que este absoluto fascínio por Jorge Amado, por que esta adesão imediata e duradoura? É sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto do baiano. Eu acho que o maior inimigo do escritor pode ser a própria literatura. Pior que não escrever um livro, é escrevê-lo demasiadamente. Jorge Amado soube tratar a literatura na dose certa, e soube permanecer, para além do texto, um exímio contador de histórias e um notável criador de personagens. Recordo o espanto de Adélia Prado que, após a edição dos seus primeiros versos confessou: "Eu fiz um livro e, meu Deus, não perdi a poesia..." Também Jorge escreveu sem deixar nunca de ser um poeta do romance. Este era um dos segredos do seu fascínio: a sua artificiosa naturalidade, a sua elaborada espontaneidade. Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Bahia e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida cotidiana. O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: "Para mim, a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e via a minha terra. E quando encontrei Quincas Berro d'Água eu o via na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe. "Essa familiaridade exisitencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passeavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos. Em Angola, o poeta Mario António e o cantor Ruy Mingas compuseram uma canção que dizia:
Quando li Jubiabá/me acreditei Antônio Balduíno./Meu Primo, que nunca o leu/ficou Zeca Camarão.
E era esse o sentimento: António Balduino já morava em Maputo e em Luanda antes de viver como personagem literário. O mesmo sucedia com Vadinho, com Guma, com Pedro Bala, com Tieta, com Dona Flor e Gabriela e com tantos os outros fantásticos personagens. Jorge não escrevia livros, ele escrevia um país. E não era apenas um autor que nos chegava. Era um Brasil todo inteiro que regressava à África. Havia pois uma outra nação que era longínqua mas não nos era exterior. E nós precisávamos desse Brasil como quem carece de um sonho que nunca antes soubéramos ter. Podia ser um Brasil tipificado e mistificado, mas era um espaço mágico onde nos renasciam os criadores de histórias e produtores de felicidade. Descobríamos essa nação num momento histórico em que nos faltava ser nação. O Brasil - tão cheio de África, tão cheio da nossa língua e da nossa religiosidade - nos entregava essa margem que nos faltava para sermos rio. Falei de razões literárias e outras quase ontológicas que ajudam a explicar por que Jorge é tão Amado nos países africanos. Mas existem outros motivos, talvez mais circunstanciais. Nós vivíamos sob um regime de ditadura colonial. As obras de Jorge Amado eram objeto de interdição. Livrarias foram fechadas e editores foram perseguidos por divulgarem essas obras. O encontro com o nosso irmão brasileiro surgia, pois, com épico sabor da afronta e da clandestinidade. A circunstância de partilharmos os mesmos subterrâneos da liberdade também contribuiu para a mística da escrita e do escritor. O angolano Luandino Vieira, que foi condenado a 14 anos de prisão no Campo de Concentração do Tarrafal, em 1964, fez passar para além das grades uma carta em que pedia o seguinte: "Enviem meu manuscrito ao Jorge Amado para ver se ele consegue publicar lá no Brasil..."Na realidade, os poetas nacionalistas moçambicanos e angolanos ergueram Amado como uma bandeira. Há um poema da nossa Noêmia de Sousa que se chama Poema de João, escrito em 1949 e que começa assim:
João era jovem como nós/João tinha os olhos despertos,/As mãos estendidas para a frente,/A cabeça projetada para amanhã,/João amava os livros que tinham alma e carne/João amava a poesia de Jorge Amado.
E há, ainda, outra razão que poderíamos chamar de linguística. No outro lado do mundo, se revelava a possibilidade de um outro lado da nossa língua. Na altura, nós carecíamos de um português sem Portugal, de um idioma que, sendo do Outro, nos ajudasse a encontrar uma identidade própria. Até se dar o encontro com o português brasileiro, nós falávamos uma língua que não nos falava. E ter uma língua assim, apenas por metade, é um outro modo de viver calado. Jorge Amado e os brasileiros nos devolviam a fala, num outro português, mais açucarado, mais dançável, mais a jeito de ser nosso. O poeta maior de Moçambique, chamado José Craveirinha, disse o seguinte numa entrevista:
"Eu devia ter nascido no Brasil. Porque o Brasil teve uma influência tão grande que, em menino eu cheguei a jogar futebol com o Fausto, o Leônidas da Silva, o Pelé. Mas nós éramos obrigados a passar pelos autores clássicos de Portugal. Numa dada altura, porém, nós nos libertamos com a ajuda dos brasileiros. E toda a nossa literatura passou a ser um reflexo da Literatura Brasileira. Quando chegou o Jorge Amado, então, nós tínhamos chegado à nossa própria casa.
"Craveirinha falava dessa grande dádiva que é podermos sonhar em casa e fazer do sonho uma casa. Foi isso que Jorge Amado nos deu. E foi isso que fez Amado ser nosso, africano, e nos fez, a nós, sermos brasileiros. Por ter convertido o Brasil numa casa feita para sonhar, por ter convertido a sua vida em infinitas vidas, nós te agradecemos companheiro Jorge. Muito obrigado."
Fonte jornal "O Estado de São Paulo"
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Trajetória:
António Emílio Leite Couto, 53, conhecido como Mia Couto, é moçambicano, nascido na cidade da Beira-Moçambique em 1955 de pais portugueses e mora hoje em Maputo, capital do país. Cursou medicina e jornalismo, levando a cabo apenas o segundo curso. Foi diretor do jornal Notícias de Maputo e da revista Tempo. Aderiu à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e participou da luta pela independência do país que, em 1975. Foi, durante a Guerra Civil, diretor da Agência de Informação de Moçambique e um dos compositores do hino nacional de sua pátria. Posteriormente, formou-se biólogo, profissão que exerce até hoje. É autor de diversos livros, entre os quais Terra Sonâmbula (romance, 1992) - considerado um dos melhores livros africanos da história -, A Varanda Do Frangipani (romance, 1996), O Gato e o Escuro (conto infantil, 2001) e A Chuva Pasmada (novela, 2005). Sua obra é reconhecida pela originalidade e pela reinvenção lingüística, patente até mesmo nos títulos de seus livros, como Estórias Abensonhadas (contos, 1994) e Mar Me Quer (novela, 1998). Os principais prêmios com que foi agraciado foram: Grande Prêmio de Ficção Narrativa (Vozes Anoitecidas, 1990), Prêmio de Literatura, da Associação de Escritores Moçambicanos (Terra Sonâmbula, 1995), Prêmio Mário António, da Fundação Calouste Gulbenkian (O Último Vôo do Flamingo, 2002), Prêmio União Latina de Literaturas Românticas (pelo conjunto da obra, 2007) - concedido pela primeira vez a um escritor africano. Atualmente, é sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras. Eleito por unanimidade, ocupa, desde 1998, a cadeira de número 5.
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Mia Couto falando de Jorge Amado em São Paulo Brasil no mês de Março de 2008:
(Para evitar sobreposição de sons, não esqueça de "desligar" a rádio "ForEver PEMBA.FM" no lado direito do menu deste blogue.)
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= Se encontrar dificuldades em assistir o video acima "dentro" do blog, poderá tentar Aqui ! =

3/29/08

A ORIGEM... ou Como surgiu o povo MaKonde !

A ORIGEM
Por Allman Ndyoko (Francisco Absalão)
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Não havia em todo planalto makonde um homem tão erudito como Alupeke. Ele era um homem simples de estatura baixa, robusto, escuro, cabeça calva e olhos castanhos de um tom aproximado ao cacau. Pertencia à linhagem namakongo* e tinha tatuado a cara, o tórax, o abdómen, a região renal e os braços. A sua tatuagem tinha um carácter decorativo do corpo com desenhos coloridos como acontecia com os demais makondes. Para além da tatuagem tinha os dentes afiados e este processo não fora de nascença, tinha sido feito no likumbi* quando era criança.
Como dizia, a sua erudição havia bebido dos velhos antigos makondes e uma boa parte contada pelo seu avô materno quem havia lhe feito crescer. O homem era por excelência um exímio contador de estórias antigas e tinha conquistado em todo planalto uma invejável fama e simpatia de gente humilde de todas idades. Nas festividades das aldeias Alupeke era o convidado de honra e lá delirava o auditório con suas narrativas heróicas grandiosas tendo no meio das façanhas personagens makondes valentes e destemidos.
Entretanto, um certo dia um grupo de jovens da povoação de Antupa irrompeu à casa do chefe da aldeia, que também se chamava Antupa, para pedir que intervisse numa contenda banal de dois jovens que discutiam sem consenso acerca da origem do povo makonde. Achando interessante a discussão, o chefe Antupa convocou todos os sábios da sua povoação para encontrar a verdadeira estória sobre a origem dos makondes. Porém, o dia aprazado para a reunião foi sábado à tarde. Era inverno. A tarde estava nublada, fria e agradável. A chitala* de Antupa em tão pouco tempo ficou repleta de jovens ávidos de ouvir estórias antigas transmitidas de boca em boca, séculos e séculos, sem que perdesse na totalidade o sentido que as perpetua de geração em geração. O terreiro, por sua vez, ficou abarrotado de gente, ruidoso, vivo e impressionante como nunca, e, dir-se-ia que uma competição de mapico* estava prestes a desenrolar-se.
No entanto, o velho Antupa apresentou ao auditório quatro sábios, dentre os quais, o afamado Alupeke. Os jovens ulularam de alegria, aplaudiram incansavelmente e assobiaram. Depois, chamou o primeiro sábio para contar o que sabia à propósito da origem do povo makonde. O terreiro gelou de silêncio que era tão profundo ao ponto de se ouvir a respiração compassada da multidão. Um velho baixinho, de rosto redondo e tatuado, de dentes afiados e barba desleixada atravessou o centro da roda humana e deteve-se no centro com ar cerimonioso.
- Sei muito pouco sobre a história da nossa origem. – Confessou o velho tímido e sem precipitar-se. Depois, continuou. – Contudo, rezam os relatos antigos que o nosso berço ficava no lado do planalto que pende para o rio Rovuma e lá a terra era coberta de mato grosso. Um certo dia desse mato saiu um homem que não se banhava e bebia e comia muito pouco. Este homem, um dia foi a uma floresta vizinha, onde esculpiu uma figura humana no pau-preto e trouxe onde vivia. Ao anoitecer, a figura esculpida despertou para a vida e tornou-se mulher.
O velho interrompeu a narração para respirar e de seguida, prosseguiu no ponto onde havia interrompido:
- Na mesma noite, os dois desceram ao rio Rovuma para se banhar e aqui a mulher deu luz uma criança que nasceu morta. Sairam dali, atravessaram o rio, subiram o planalto pelo meio até uma certa região, onde se fixaram. Aqui a mulher deu luz outro bebé que também nasceu sem vida. Depois disto voltaram ao Rovuma. Aqui nasceu o terceiro filho, vivo e saudável. Viveram aqui até gerarem muitos filhos que formaram a família makonde.
O velho girou pelos calcanhares e foi-se acomodar. Os dois que seguiram não trouxeram novidades, apenas subscreveram a estória narrada pelo primeiro sábio. E para terminar, foi convidado o famoso Alupeke para contar o que sabia à propósito do assunto que os reunia. O auditório animou-se repentinamente, criou-se um murmúrio ensurdecedor que cessou assim que Alupeke posicionou-se no centro balouçando a cabeça.
- O que vou contar não vem de mim. – advertiu Alupeke com uma voz viva, alegre e solene. – Foi contado por homens eruditos makondes que guardaram na sua memória um legado historico muito importante do nosso povo.
Alupeke baixou os olhos, pestanejou e manteve-se calado por uns breves instantes, durante os quais esteve a ressuscitar em pensamento as narrativas dos sábios antigos. Depois, como se acordasse de um sonho, acrescentou:
- Por isso, guardem no coração tudo o que de mim ouvirem porque tudo é verdadeiro como o orvalho que se forma nas madrugadas frígidas de inverno.
Todos riram satisfeitos pelas suas palavras belas e sábias. Porém, sem gaguejar e nem precipitar-se, Alupeke, continuou deixando um ofuscante relâmpago de sincero orgulho brilhar nos olhos:
- Há muito, muito tempo, o nosso povo no seu todo vivia lá para as bandas do lago Niassa. Um certo dia, veio naquelas bandas um povo estranho chamado Ngoni* que expulso pelos povos dos reinos lacustres do Lago Victória veio até às terras habitadas pelo nosso povo à procura de terras para habitar. – Sorriu e prosseguiu com uma entoação vocal embaladora. – Temendo um confronto sangrento com aqueles estranhos, o nosso povo veio a fixar-se no vale do rio Rovuma, à volta do Negomano, permanecendo pelas baixas do rio, onde havia abundância de caça. Contudo, aqui o povo foi expulso por uma terrível seca e fome. A fome que se seguiu era tanta que as pessoas foram obrigadas a alimentar-se de carne humana.
O silêncio em redor continuava pesado, a atenção aumentava à medida que o narrador contava os episódios históricos e o estado melancólico tornava-se evidente no auditório sempre que os factos penetrassem em cenários tristes.
- O nosso povo não se conteve. Caminhou à procura de alimentos até que, por sorte, encontraram desabitado o planalto onde hoje temos a honra de viver e aqui fixou-se. Contudo, neste planalto não havia água, mas a terra era fresca e produtiva. Daí em diante, os nossos ancestrais trabalharam a terra e, com ajuda da chuva e fortes orvalhos tiveram abundância de alimentos. A partir desse momento, o nosso povo, que não tinha o nome que hoje tem, ficou conhecido por vamakonde* que significa pessoas que vivem em terras sem água mas férteis.
Alupeke calou-se, retirou-se do centro da moldura humana para se juntar ao grupo de outros sábios e nesse momento houve uma chuva de aplausos que encheu o terreiro sem parar. A multidão irrompeu o centro cantando alegre e o erudito Alupeke foi imediatamente carregado pelos populares endoidecidos pela sua recente narrativa. O terreiro voltou a encher-se de murmúrios e assobios. Um largo sol aclarou a povoação e um grupo de jovens satisfeitos improvisou uma sessão de mapico* para homenagear o génio.
Por Francisco Absalão-01/04/2007.
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*Glossário:
- Namakongo –
Linhagem Namakongo;
- Likumbi – Rito de iniciação;
- Chitala – Local de convívio social dos homens;
- Mapiko – Dança de máscara;
- Vamakonde – Makondes;
- Ngoni – Grupo étnico dessidente dos Zulus que por volta de 1834 veio a fixar-se na zona do lago Niassa vindo do lago Victória, provavelmente, expulso por alguns reinos lacustres.
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O Autor:
-Francisco Absalão;
-Nome artístico -Allman Ndyoko;
-Nasceu em 11 de Abril de 1977 na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado em Moçambique;
-Residência actual - Maputo;
-e.mail's - frank_absalao@yahoo.com.br ou frank_absalao77@yahoo.com.br.
  • Leia "O Turbilhão Lendário", texto de Francisco Absalão publicado no ForEver PEMBA em 24/Outubro/2007 - Aqui !
  • Leia "O Nó Sagrado", um conto de Allman Ndyoko (Francisco Absalão) - publicado no ForEver PEMBA em 19/Março/2008 - Aqui !

3/19/08

O Nó Sagrado - Um conto de Allman Ndyoko (Francisco Absalão)

(Imagem original recolhida na net)
Era uma tarde azul de chambo – época seca que começa em Julho e termina em Outubro.
Isolado do resto do mundo, a vida no planalto corria normalmente com a sua gente envolvida em labores diferentes, como é lógico, e despreocupada com a evolução e inovação, contudo, fiéis a tradição herdada dos ancestrais.
Kandingwele, jovem caçador da linhagem de midamu, chegou exauto na margem esquerda do rio Chudi acompanhado de três cães de caça e pousou no chão quatro dimbutuka, produto de um dia de caça na densa floresta makonde. Limpou com a palma da mão o suor que lhe escorria pela face abaixo e sentou-se na sombra de um arbusto que crescia alegre na margem do rio. Tirou do lipeta um favo de mel, sacudiu-o contra o tronco do arbusto e, destraido, pôs-se a saborear o mel com gosto naquele recanto da natureza digno de admiração.
O sol estava escaldante, o ar pesado e quente. Ao longo do rio a vegetação era toda fresca. Havia sombras de sobra por todo lado e no leito do rio podia-se ouvir o murmúrio das águas correntes que passavam entre os musgos e as pedras levando e espalhando por todo leito folhagem seca e fresca caída das árvores que se prostravam majestosamente ao longo das duas margens.
Passado algum momento, Kandingwele ergueu-se do arbusto e pequenos ramos com folhagem roçaram-lhe cordialmente a face tatuada com esmero. Espreguiçou-se bocejando e marchou cansado até perto das águas do rio. Lavou as mãos lentamente, bebeu a água com avidez de um guerreiro perdido e por fim, lavou o rosto com as duas mãos. De seguida, ergueu-se ajeitando a sua ingonda e no silêncio da imensidão da floresta ouviu vozes e risos estridentes. Deteve-se alguns instantes escutando atentamente e, nesse momento, os cães ladraram com ímpeto correndo em direcção ao nascente do rio, onde três donzelas makondes banhavam-se destraídas e envolvidas numa louca brincadeira que obrigava água a espumar e a emitir um barulho ensurdecedor.
As donzelas assustaram-se.
Sairam da água a sete pés tapando com as palmas das mãos as partes íntimas do corpo.
Kandingwele escondeu-se entre as árvores e, sorrateiramente, pôs-se a assistir as raparigas apavoradas. Dobrou-se sobre o ventre três vezes, como quem não podia mais de tanto rir, e depois manteve-se sereno espreitando entre a ramada as donzelas que se esforçavam a vestir rapidamente. Nisto, puseram-se as bilhas com água à cabeça e sairam apavoradas em direcção à povoação aliando a presença de cães, noutra margem do rio, à presença indubitável do homem.
Quando as donzelas desapareceram da vista, Kandingwele sentou-se, novamente, debaixo da sombra do arbusto e sem dar em conta viu-se mergulhado em profundas meditações através do coração, órgão que, segundo os velhos sábios makondes, pensa e sente. Melancólico, Kandingwele, rebuscou relíquias amorosas de um passado muito recente e guardadas a sete chaves nas profundezas da sua memória. Revisitou com gosto a lista de raparigas que namorara às escondidas longem dos olhos desconfiados dos aldeões e por fim, sorriu de orgulho e satisfação esboçando na sua fisionomia triste uma expressão alegre e animada. Aspirou o ar profundamente, meneou a cabeça vigorosamente para afastar da mente aquelas recordações que lhe enchiam de emoção o coração. Volveu o olhar nas águas que corriam no leito cantando em tom cristalino e depois arrancou nas proximidades uma pétala enorme de uma flor selvagem. Desfez em pedaços insignificantes, sem saber porquê, e lançou-os para o rio. Olhou os retalhos com indiferença enquanto se esmeravam em vão contra a correnteza das águas que faziam os objectos passarem velozes por entre as pedras e o caniçal musgoso que predominava o leito do Chudi. Repetiu vezes sem conta esta brincadeira até que passado algum momento, ouviu o estalar insistente de ramos e folhas secas. Kandingwele revistou rapidamente a mata com os olhos e escondeu-se por entre os arbustos. O som insistente de pisadas de ramos e folhas secas intensificou-se significativamente e de repente, surgiu em frente dos seus olhos, noutra margem do rio, uma bela e sedutora rapariga que levava debaixo do braço esquerdo uma bilha decorada com perfeição por uma ceramísta makonde anónima perdida algures nas inúmeras povoações do planalto. Desceu o rio distraída até às águas, onde encheu a bilha e saiu para pousa-la na margem coberta vegetação verdejante. De seguida, despiu-se naturalmente, desceu, novamente, o rio e lançou-se às águas trauteando feliz com a vida.
Kandingwele saiu do esconderijo profundamente encantado pela beleza extraordinária da jovem makonde. Aproximou-se ao leito do rio e os olhos se encontraram. A donzela sorriu e continuou o banho olhando para o estranho que lhe assistia estupefacto noutra margem do rio. Kandingwele acenou-lhe a mão timidamente e a rapariga retribuiu o gesto naturalmente. Os dois olharam-se tranquilamente nos olhos como se se conhecessem de toda vida. Kandingwele sentou-se no chão cruzando os braços no peito e continuou apreciando a rapariga admirando, sobretudo, os seus seios túrgidos, olhos semi-esbugalhados, lábios escuros e carnudos, o seu olhar contagiante, suas coxas fartas e nádegas bamboleantes.
A rapariga saiu da água, passou as mãos pelo o corpo abaixo escorrendo gotas que lhe cobriam a pele e vestiu-se lançando olhares furtivos e sedutores ao Kandingwele. Quando acabou de vestir-se, pôs-se a bilha à cabeça, acenou a mão em sinal de despedida e serpenteando o corpo, propositadamente, desapareceu da vista seguindo o caminho que conduzia a povoação.
Entretanto, naquele dia à noite, já em casa e dentro do aposento, Kandingwele, não conseguia encetar o sono. Rebolava de um lado para o outro tentando apagar na sua mente aquela extraordinária donzela que vira à tarde daquele dia na margem direita do Chudi. Todavia, as suas recordações eram mais vivas e fortes do que o seu simples desejo de apagar na sua mente aquelas doce lembranças que lhe roubavam o sono. Contudo, já perto da madrugada o jovem foi vencido pelo sono.
No dia seguinte era domingo. Ao entardecer, o som de lipalapanda irrompeu o céu do planalto cortando-o de lés-a-lés e anunciando a sessão dominical de mapiko. Em pouco tempo as ruas ficaram agitadas. O terreiro encheu-se de gente e jovens de povoações distantes chegaram para uma competição de mapiko. Os murmúrios multiplicaram-se e o terreiro ficou barulhento. Era um grande dia!
Entretanto, soaram, por alguns instantes, os sons de vinganga e ntodje e, por fim, o som de lipalapanda cortou, novamente, o céu anunciando o inicio da competição. Kandingwele saiu do quintal e já na rua que conduzia ao terreiro da povoação juntou-se a um grupo de aldeões que se dirigia a competição fazendo comentários dos melhores grupos de mapiko. Enquanto caminhavam com destino ao terreiro, junto deles vinham vozes entrecortadas embaladas em cânticos antigos trazidos até ali pelo vento que soprando sem impetuosidade, levava consigo à terras distantes o tam-tam secular dos tambores, despertando assim os espíritos antigos adormecidos na imensa e densa floresta makonde.
Pouco tempo depois, chegaram ao terreiro e juntaram-se à multidão que cantava acompanhando orgulhosamente as batucadas dos tambores. Havia muita gente. O ar estava pesado e o cheiro humano era intenso. O mapiko com seus vestes e máscara característicos dançava no centro da roda humana fazendo, de quando em vez, brincadeiras engraçadas com o auditório. A sua frente, um grupo de tocadores de batuques esforçava-se em tocar os tambores procurando ganhar a simpatia do público que delirava acompanhando os cânticos dos percussionistas.
Kandingwele fez ao acaso uma ronda com os olhos em torno da multidão e, de repente, algo chamou sua atenção: doutro lado da moldura huamana estava a donzela do rio. Fez um esforço no meio da multidão caminhando ao seu encontro e quando chegou perto a donzela tinha já desaparecido. Ficou perplexo! Olhou em redor como se estivesse a procura de um diamante perdido e, por fim, saiu da multidão todo melancólico e pôs-se a procura da rapariga nos pequenos aglomerados de gente que se achavam nas inúmeras sombras de mangueiras espalhadas pelo terreiro.
De súbito, alguém bateu-lhe suavemente as costas. Kandingwele virou-se interrogativamente e viu à sua frente a donzela do rio sorrindo-lhe.
- O que procuras? – Quis saber a rapariga.
- Eu?
- Sim!
- Nada. – Disse Kandingwele embaraçado e depois acrescentou. – Estou a tentar apanhar ar fresco.
- Muito bem.
- E tu? O que fazes aqui?
- Queria ver se conseguias me descobrir...
- Como soubeste que vinha ao seu encontro?
- Advinhei.
O jovem fez um movimento para caminhar deixando um casal de velhos passar e depois, questionou:
- Chegaste bem ontem?
- Cheguei. – Sorriu. – E tu?
- Cheguei também, mas não consegui dormir nem tão pouco.
- Porquê?
- Não parava de pensar em ti.
A donzela riu. Olhou o interlocutor nos olhos e manteu-se serena e sorridente.
- Nunca alguém havia me deixado assim na vida. – Confessou Kandingwele honestamente.
- A sério?
- A sério. – O jovem esboçou uma expressão facial sincera e patética.
A donzela agitou o corpo toda gingona acompanhando com estilo o rufar dos batuques. Dirigiu o olhar para o centro da roda humana onde dois mapikos dançavam procurando mostrar à todo custo o auditório tudo o que sabiam acerca da arte de dançar mapiko. De seguida, volveu o olhar ao interlocutor.
- Posso te fazer uma pergunta? – Questionou Kandingwele.
- À vontade.
- O que faço para ganhar o seu coração?
A donzela riu. No fim, disse:
- Mostra que és valente.
- Como? – Sorriu. – Matando um leão ou domando um crocodilo?
- Não. – Retorquiu a donzela sorrindo.
- Então, como?
- Pedindo a minha mão em casamento.
Os dois jovens desataram a rir todos satisfeitos.
- A propósito. – Disse a rapariga assim que os risos cessaram. – Como te chamas?
- Kandingwele. E tu?
- Nkalimile.
- Belo nome.
- O seu também é muito belo, pese embora seja meio engraçado. – Observou Nkalimile.
- Porquê?
- Sei lá...
Os dois desataram a rir novamente felizes com a vida. Entretanto, afastaram-se da multidão e caminharam até perto do limiar do terreiro, onde detiveram-se no beiral de uma das palhotas que circundava o terreiro. Já longe do barulho dos populares e dos tambores, kandingwele, quis saber:
- Que linhagem pertences?
- Sou ntchipedi . E você?
- Midamu.
- Bem que não somos da mesma linhagem . – Monologou Nkalimile.
- Já agora, que faço para te ver novamente?
- É muito simples. – Assegurou a donzela. – Vivo na entrada da povoação e também podes me encontrar no rio nas tardes.
- A mesma hora que te vi ontem?
- Com certeza.
- Então, para não te roubar mais tempo,vejo-te outro dia.
- Não tem de quê.
Kandingwele fez movimento para caminhar. Os jovens olharam-se nos olhos intensamente e, no fim, deram-se as costas. Kandingwele dirigiu-se a casa muito feliz e Nkalimile voltou a juntar-se à multidão que assistia e dançava ao som das batucadas de vinganga e ntodje que, de quando em vez, eram intercaladas pelos sons ensurdecedores de lipalapanda .
No entanto, nos dias subsequentes Kandingwele e Nkalimile encontraram-se no rio e na floresta várias vezes até que uma certa tarde de quinta-feira e de céu nublado Kandingwele sentado na cama de lutandove ao lado do pai e do tio materno informou-lhes da sua pretenção de casar-se com Nkalimile.
- A ideia é boa e eu estava a espera de ouvir algo semelhante faz muito tempo. – Disse o pai rabiscando com uma bengala umas linhas obliquas na terra.
- E quem é a menina? – Quis saber o tio visivelmente emocionado.
- É Nkalimile. Uma bela e educada rapariga que vive lá no fim da povoação.
- É trabalhadora e saudável? – Inquiriu o pai olhando o filho firmemente.
- É, pai...
- Muito bem.
- E de que linhagem ela é?
- É ntchipedi.
Houve silêncio. Depois de alguns instantes, o pai disse:
- Há problema, meu filho.
- Que problema? – Quis saber Kandingwele estupefacto.
- Não é possível casares com essa rapariga. – Disse o tio tocando levemente o ombro do sobrinho.
- Porquê?
- É uma longa e complicada estória... – Explicou o pai. De seguida, acrescentou. – Foi há muito, muito tempo que tudo começou.
O velho calou-se. Reflectiu alguns instantes e voltou ao fio de pensamento.
- Há muito tempo um homem da linhagem vankundya matou um elefante na floresta. Ele e gente da sua linhagem comeram o animal todo de uma só vez e ficaram dali em diante a serem chamados vantchipedi, isto pelo facto de terem conseguido devorar sozinhos um elefante enorme.
O velho fez uma pausa novamente para ordenar as suas ideias, mas logo voltou ao ponto onde havia interrompido:
- Depois deste acontecimento, passaram duas gerações e houve likumbi muito grande. Na véspera do regresso dos rapazes do mato, morreu um deles e, pelo sucedido, todos rapazes adoptaram o nome de vamidamu em alusão às marmitas que era levadas para eles no mato. Depois disso, passaram-se ainda gerações. Portanto, vankundya e vamidamu são parentes dos vantchipedi e não é permitido casar entre eles.
Kandingwele suspirou. Meneou a cabeça como se estivesse a desaprovar a estória e manteu-se cabisbaixo. O tio olhou-o, passou-lhe a mão pelas costas e disse:
- Há muitas outras estórias antigas que proibem casamentos entre certas linhagens. Por exemplo, gente da linhagem vamboei estão impedidos de casar-se com membros da linhagem vanachuluma porque antigamente estes últimos mataram um parente dos vamboei. Apesar desta morte ter sido compensada com uma outra, infelizmente, estas duas linhagens ficaram para sempre inimigas.
- Por isso, filho, tens que procurar rapariga doutra linhagem para casar. – Disse o pai visivelmente abalado.
- Tenho certeza que vais achar, novamente, alguém especial que te fará muito feliz. – Encorajou o tio procurando animar o sobrinho.
Kandingwele manteu-se calado. O pai e o tio não pronunciaram uma palavra se quer e, passado algum momento, o jovem ergueu a cabeça e saiu dali melancólico para passear...
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Glossário:
- Chambo – Época seca que começa em Julho e termina em Outubro;
- Midamu – Alguém da linhagem vamidam;
- Dimbutuka – Gazelas;
- Vanachuluma –Linhagem Nachuluma;
- Vamboei – Linhagem Mboei;
- Rankundya – Linhagem de Nkundya;
- Likumbi – Lugar onde se realizam ritos de iniciação para os rapazes. Normalmente é lugar perto da povoação, mas escondido no mato, onde os vaali (rapazes ou meninas) vivem durante os meses de sua segregação no mato;
- Lutandove – cama composta de base de estacas e atravessada com cordas tecidas com palha;
- Ntchipedi – Alguém da linhagem vantchipedi;
- Lipalapanda – Chifre de antílope, normalmente, usado para anunciar uma festa ou animar uma sessão cultural;
- Midamu – Alguém da linhagem vamidamu;
- Vinganga – Batuque pequenos, achatados e meio delgados;
- Ntodje – Batuque delgado;
- Mapiko – Dança de máscara;
- Makonde – Povo do norte de Moçambique.
  • Leia também "O Turbilhão Lendário" outro texto de Francisco Absalão transcrito no ForEver PEMBA em 24/Outubro/2007 - Aqui !
O Autor:
- Francisco Absalão
- Nome artístico - Allman Ndyoko;
- Nasceu em 11 de Abril de 1977 na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado em Moçambique;
- Residência actual - Maputo;

1/16/08

Filme Moçambicano "Terra Sonâmbula" compete no Pune International Film da Índia e Londres.

Dados colhidos nos “IMENSIS”, "CCPM", "DIÁRIO DIGITAL/LUSA" e outros sites informativos da net - O filme `Terra Sonâmbula´, inspirado no livro de autoria de António Emílio Leite Couto (Mia Couto) com o mesmo nome, realizado por Teresa Prata, foi seleccionado para competir no Pune International Film Festival, que começou ontem na Índia, e no Bird`s Eye Film Festival de Londres, dedicado ao cinema realizado por mulheres.
De acordo com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), o festival de Pune decorre até 17 de Janeiro e o festival de Londres decorrerá entre os dias 06 e 13 de Março.
`Terra Sonâmbula´ é uma co-produção portuguesa, alemã e moçambicana, através da ÉbanoMultimédia, baseado no livro do escritor Mia Couto.
Primeira longa-metragem da realizadora, «Terra Sonâmbula» conquistou em Dezembro do ano passado o Prémio da Federação Internacional da Crítica de Cinema no Festival Internacional de Cinema que decorreu em Kerala, na Índia.
Depois da estreia absoluta a 27 de Agosto passado, no Festival de Cinema de Montreal (Canadá), «Terra Sonâmbula» estreou-se na Europa em Outubro, no Festival Internacional de Cinema de Mannheim-Heidelberg (Alemanha).
O filme, que conta a história de Muidinga, um menino moçambicano que procura a família em plena guerra civil, só tem dois actores profissionais no elenco, a moçambicana Ana Magaia e a portuguesa Laura Soveral. Os restantes actores, incluindo o menino de 12 anos que protagoniza Muidinga são amadores.
Teresa Prata, formada em argumento e realização pela Deutsche Film und Fernsehakademie Berlin (Academia de Cinema e Televisão de Berlim), é também autora das curtas-metragens «Uma Questão de Vida ou Morte» (1994), «Mil Olhos, O Sonhador do Oeste»(1996), «Leopoldo» (1999) e «Partem tão Tristes, os Tristes» (1999).
A realizadora, que passou a infância em Moçambique e a adolescência no Brasil, estudou em Portugal, e agora está baseada na Alemanha, tem uma formação bastante eclética: estudou piano no Rio de Janeiro, formou-se em biologia em Coimbra e cinema em Berlim. "Acho que um cineasta precisa ter a formação mais diversificada possível", defende. Leu o livro de Mia Couto quando estudava em Berlim e achou a história «maravilhosa e fantástica», decidindo passá-la ao cinema, com o consentimento do escritor, que quando visionou a longa-metragem gostou da adaptação feita.
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Terra Sonâmbula - O Fime:
Gênero: Drama
Tipo: Longa-metragem / Colorido.
Produtora(s): Ebano Multimedia, Filmes de Fundo, Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia, Radiotelevisão Portuguesa, ZDF/Arte
Diretor: Teresa Prata
Roteirista: Teresa Prata baseado no romance homónimo de Mia Couto
Elenco: Tânia Adelino, Candido Andrade, Valdemar António, Aron Silva Bila, Marcela Chambale, Eugénio Cumbane, Márcia Cumbane, Aliaga da Silva, Eduardo Durão, Cergílio Félix, Afonso Francisco, Hélio Fumo, Ilda Gonzalez, Prafutabai Jaiantilel, Aladino Jasse
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Primeiro romance do moçambicano Mia Couto, já bem conhecido e apreciado pelo público português, Terra Sonâmbula tem como pano de fundo os tempos de guerra em Moçambique, da qual traça um quadro de um realismo forte e brutal.
Dentro deste cenário de pesadelo movimentam-se personagens de uma profunda humanidade, por vezes com uma dimensão mágica e mítica, todos vagueando pela terra destroçada, entre o desespero mais pungente e uma esperança que se recusa a morrer.
Terra Sonâmbula é um romance admirável, sem dúvida uma das melhores obras literárias que nos últimos anos se escreveram em português.