6/22/05

Só para saber...


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...e constar:

The New York Times - Best Sellers - 22/06/2005

CHILDREN'S BOOKS:
Top 5 at a Glance
1. OH, THE PLACES YOU'LL GO! written and illustrated by Dr. Seuss
2. 10 LITTLE RUBBER DUCKS, written and illustrated by Eric Carle
3. LOTSA DE CASHA, written by Madonna. Illustrated by Rui Paes*
4. RUNNY BABBIT, by Shel Silverstein
5. THE DRAGONOLOGY HANDBOOK, edited by Dugald A. Steer

*Rui Paes ou Rui Andrade Paes é natural de Pemba, filho do falecido e inesquecível arquiteto Afonso H. Andrade Paes (Pemba guarda até hoje a expressão de seus traços arquitetônicos) e da poetisa do mar azul de Pemba Glória de Sant'Anna. É irmão da também artista plástica nascida em Pemba Inez Andrade Paes.

6/19/05

C., um caso difícil...ou Pemba em 1995


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De Angola recordando Pemba ou mais uma "crónica" do Miguel S. em seu "Agora ComDestino" (ex-SemDestino):

parte 3
O C. era um tipo com um carácter particularmente forte. Não era daquelas pessoas com quem se simpatiza logo de início. Era difícil. Foi a primeira pessoa que conheci quando cheguei a Pemba. Ainda por cima, éramos não só vizinhos como os únicos habitantes do acampamento outrora prenhe de italianos.
- Até amanhã! - e lá desapareceu o C. por detrás da porta da sua casa, perpendicular à minha no acampamento do Alto Gingone. Que céu tão estrelado. E que silêncio. A luz na zona era praticamente só e apenas a nossa. Sem sono, bastante cedo ainda, a volta para reconhecimento do espaço que viria a ser também o meu nos meses seguintes.
- Boa noite - respondeu o guarda ao meu cumprimento munido de uma AK-47 a um canto fora do alcance da luz e junto à entrada para o acampamento. Era ainda jovem. Magro, calças descosidas e rasgadas nas pontas terminando ligeiramente acima do tornozelo. Sorriso nos lábios.
Estávamos confinados a um espaço relativamente grande com um campo de ténis, rede algo esburacada, e sem ninguém para jogar. Uma piscina sempre vazia porque tinham rebentado com a bomba. Um ginásio vazio. Salvava-se a mesa de ténis de mesa. Isso e o jardim. Do outro lado a área industrial. Típica. Rapidamente se chegava à entrada. Os guardas makondes. O espreitar cuidado para as palhotas ali mesmo ao lado da fábrica, com as luzes de algo a queimar e as sombras deambulando pelo meio das palhotas ou gente, sobretudo mulheres envoltas em capolanas, sentada nas esteiras.
Após uma noite mal dormida, a alvorada às 5:30 da manhã, já quente e húmida, para iniciar a jornada de trabalho às 6:30, foi algo estranha. E violenta. Sobretudo violenta para quem gosta do silêncio da noite. À entrada do escritório pré-fabricado a telefonista/recepcionista, a Ancha, que sofria de bócio mas era extremamente simpática. À direita e no primeiro gabinete à esquerda a Antónia, anafadíssima e de grande sorriso, tesoureira, com o puto Lourenço, já contabilista em estado inicial. Do lado direito, o gabinete do C.. Ao fundo do corredor a área de Recursos Humanos onde pontificava o inesquecível (e futuro vizinho, uns anos mais tarde) Abdul Ibrahimo Pingalsi. Um espectáculo de pessoa. Ronga, tinha ido parar a Pemba cumprir o serviço militar e por lá ficou com uma mwani. De uma integridade impressionante este Abdul. Com ele trabalhava a makonde com um cú enorme e anca larguíssima, penso que se chamava Z.. As formas mais violentas que jamais vira, em tamanho e consistência encimadas por um tronco e cara incomparavelmente magras. Foi ela que me safou quando as coisas apertaram um ano mais tarde. No sentido oposto ficavam os gabinetes dos Directores, o meu espaço logo a seguir ao do Engº Rangeiro, formado na RDA, em frente o do UP e ao fundo a sala de reuniões (local onde viria a ser apanhado pelo DG a receber uma massagem da mulatíssima Olga...).
"Onde eu me vim meter?", pensei eu inúmeras vezes naquelas primeiras semanas, sobretudo após a fase da descoberta em que tudo é novidade. O escritório era pré-fabricado já com algum tempo, mas cheio de malta simpática a colorir o ambiente. O acampamento pré-fabricado, apesar de alguma qualidade, mas sobredimensionado para apenas dois gatos pingados. Depois das 17h era a solidão alimentada pela escuridão do cair da noite pouco depois. A chuva intensa da época das chuvas. Sem televisão, sem internet, sem jornais, sem revistas, sem bica, sem pastel de nata, quase sem telefone, só restava mesmo a descoberta do desconhecido.

Yono.
Miguel S.
(17/06/2005)
Parte 2