7/30/05

A PEMBA que encanta.



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No "Rotas & Destinos", já em 2003 se dizia:
Porto de culturas - Quando apetece conhecer a cultura de um país, há que respirar com o seu povo. No caso de Pemba, com as etnias macua, maconde e muani.
Na cidade de Pemba, outrora Porto Amélia em homenagem à rainha portuguesa, um só dia de passeio permite recolher uma imensidão de paisagens humanas, naturais e arquitectónicas dispersas pelos bairros populares, pelas praias e pelas cidades velha e nova, edificadas pelos portugueses no início do século passado. É um dos lugares onde provavelmente melhor se poderá apreciar a multiplicidade de nuances da cultura moçambicana.
É feriado no Paquitequete, o mais antigo bairro de Pemba: 25 de Setembro, dia das Forças Armadas. Dia de sossego, tal como os anteriores, já que o mar é generoso e uma boa jornada de pescaria dá direito a outra de descanso. Faz calor, pelo que os habitantes recolhem-se à sombra das palhotas para os seus afazeres: domar os cabelos crespos em trancinhas, vender em bancas improvisadas, cozinhar ou costurar em velhas máquinas a pedal.
Bairro de pescadores a partir do qual os portugueses edificaram a cidade de Pemba, o Paquitequete acolhia nas suas origens a etnia muani, a que se juntaram os macuas vindos do interior. Os primeiros pescadores e mercadores e os segundos mais votados à agricultura, habitam agora no mesmo espaço, contribuindo para a criação de um ambiente sui generis, em que as reminiscências das culturas árabe e hindu são visíveis tanto no vestuário – as mulheres usam vestidos coloridos, véus ligeiros e brincos no nariz – como pelo lugar de culto religioso, uma pequena mesquita pintada de verde, presença inusitada num bairro construído a colmo e madeira.
Paquitequete revela-se um lugar rico em descobertas. É óbvio que estamos a invadir, em plena rua, momentos da vida privada daquela gente, mas não resistimos e recolhemos imagens que não vamos esquecer: o rosto da mulher macua coberta de musiru (máscara feita a partir de raízes) a pilar milho de bebé às costas, o riso dos homens que nos bares bebem esquecidos de Maomé e a alegria de um jovem que passa em camisa de noite rosa, ao melhor estilo de “Priscila, a Rainha do Deserto”.
Artesãos guerreiros - Do outro lado da cidade, perto do bairro de Natite, visitamos a cooperativa onde uma dezena de artesãos maconde se agrupou para trabalhar e vender histórias da terra contadas em pau preto. Povo originário do planalto de Mueda, situado nesta mesma província, Cabo Delgado, os macondes mantiveram-se isolados face às influências culturais exteriores. Guerreiros, caçadores e escultores, desceram à planície por força da guerra, fugidos dos combates mais violentos no interior do país.
Alheios ao dia de descanso por lei, estes artesãos trabalham de escropo e cinzel em punho, debaixo de embondeiros. Obedecendo ao ritmo de pequenas telefonias manhosas, reproduzem histórias antigas de homens e deuses.
Explica o jovem Nazário, o nosso mestre de cerimónias:
-“Ouvimos o que os mais velhos contam e depois sai tudo da nossa cabeça.”
-Com quem aprendeu?
-“Com o meu querido mestre Estêvão”, responde, e aponta para outro rapaz, apenas um pouco mais velho.
-E tu, Estêvão?
-“Eu devo tudo que sei ao senhor meu pai.”
Nazário saltita de um lado para o outro revelando as peças que julga mais bonitas e as histórias que lhe deram forma. Os outros vão posando enquanto trabalham para as fotos, sem disfarçar o orgulho e a vaidade pela sua profissão. É difícil de imaginar, mas estes rapazes de ar meditativo e sorrisos infantis, em circunstâncias de guerra e seguindo as pisadas dos pais seriam provavelmente os mais destemidos guerrilheiros moçambicanos. Foi, afinal, nesta mesma província que se deu início à luta armada pela independência, liderada pelos macondes.
Cidade colonial - “É um salve-se quem puder, cada um por si, o melhor que souber.”
A expressão resume a vida em qualquer centro urbano de Moçambique. A que se pode acrescentar ainda outra, também vulgar:
-“Aqui vive-se através de atalhos.”
E Pemba não é excepção. Na cidade moderna edificada na zona alta, o mesmo dia de feriado que convida à letargia em Paquitequete e ao empenho artístico dos artesãos na cooperativa traduz-se numa grande azáfama. Comerciantes do Mali, do Zimbabwe, do Malawi e locais carregam e descarregam desde milho, caju e botas Nike último modelo a pneus velhos para abastecer os mercados que adornam as principais avenidas. Qualquer motivo é válido para fazer negócio, qualquer objecto se transforma em produto passível de negociação, seja a proveniência conhecida ou subtraída (como diriam os próprios).
O cenário envolvente, numerosos prédios construídos nos anos 60, organizados em quarteirões ao longo de ruas espaçosas, vão envelhecendo aos poucos, cansados de tanta agitação, à espera de algum cuidado. Apenas os edifícios administrativos, a universidade e as igrejas parecem ter resistido à passagem do tempo, às nacionalizações e à negligência do governo.
-“O que aqui está construído foi deixado pelos portugueses”, queixa-se o nosso guia, natural de Pemba.
-“O Estado nacionalizou os edifícios e as casas, alugou-os, mas só recebeu as rendas, nunca os conservou”, explica.
E agora que a aquisição de imóveis já é permitida (apenas por 99 anos), não significa que o panorama se tenha alterado. As reparações que aquelas grandes moradias implicam são, na realidade, demasiado dispendiosas para as numerosas famílias que as habitam.Assim, mesmo na cidade antiga, frente à belíssima baía de Pemba (a terceira maior do mundo), do que foram imponentes residências de estilo colonial restam pouco mais do que memórias. A tinta desmaiou, as janelas viram o cartão substituir o vidro, as varandas vão desmoronando. Mas os frangipanis e as acácias nos jardins coloridos por buganvílias e a nobreza dos traços arquitectónicos daqueles bairros conferem-lhes alguma beleza e poesia que, mesmo na sua decrepitude, vale a pena (re)descobrir.
Praia de coqueiros - A praia de Wimbe é talvez o maior atractivo de Pemba. Verdadeiro cartão-postal, é banhada pelo Índico nos tons de azul que ora é verde ora cor de céu, num estado de indecisão permanente. Guarda as palmeiras batidas pelo vento, desde os tempos coloniais, assim como as vivendas do outro lado da amurada, que trava a passagem das areias finas e brancas. Restauradas recentemente, estas moradias evocariam as zonas de veraneio entre Esmoriz e Espinho, não fosse o perfume doce de caril e cardamomo proveniente dos restaurantes e das esplanadas sobre a praia. Este sábado 25 de Setembro, dia em que não se trabalha, é dia de festa em Wimbe. Os locais e quem vive nas redondezas deslocam-se até à popular praia, aproveitando a folga para fazer longos piqueniques ou vender bugigangas feitas de conchas e búzios, entre outras dádivas do mar. Na ausência das obrigações escolares, a criançada também invade o areal. O meninos jogam à bola e as meninas passeiam dengosas.
-“Como te chamas? És portuguesa? Estás de férias? Qual é o teu clube de futebol? Voltas em Dezembro?”
Atraídos pela parafernália fotográfica do repórter, todos os miúdos de Wimbe parecem ter rolado pelo areal até nós. Miram e remiram, voltam-se de cabeça para baixo como se naquela perspectiva as descobertas ganhassem dimensões fantásticas. Com avidez, procuram saber mais de um mundo imenso que está ainda por desbravar. Conhecem os futebolistas portugueses pelo nome e todos pertencem a um dos grandes clubes. Mas à pergunta, “o que queres ser quando fores grande?”, respondem em coro: piloto-aviador. Depois, com notícias e canetas novas no bolso, desaparecem com a mesma rapidez com que surgiram.
Dormir sobre a praia - Sendo Wimbe o maior cartão-postal da cidade de Pemba, é também nas suas imediações que se encontra grande parte da oferta hoteleira. Os mochileiros preferem o parque de campismo (o café vale uma visita, mais não seja pela decoração, uma árvore esculpida segundo a tradição maconde), mas existem outras opções como o complexo Caracol, o Nautilus, composto por bungalows mesmo junto ao mar e o Pemba Beach Hotel, a mais recente alternativa.
Este hotel de luxo, pertencente ao grupo sul-africano Rani Africa, parece numa primeira abordagem demasiado grandioso, mas surpreende no interior. Com uma localização privilegiada de frente para o Índico, oferece vista panorâmica para o azul esverdeado do mar onde quer que se esteja: no jardim, nos quartos, no bar ou no restaurante, onde, não podemos deixar de referir, nos deliciámos com o melhor caril de caranguejo e camarão de toda a viagem. Com o corpo bem alimentado e perante o apelo da natureza, aqui o ócio apenas é perdoado a quem não resistir à piscina, imersa num imenso relvado bordado a palmeiras e frangipanis. De contrário, a prática de canoagem, passeios no mar, mergulho ou pesca, organizados pelo centro de actividades do hotel, são a forma mais divertida de se usufruir da beleza natural da costa pembense. A vida nocturna na zona da praia resume-se às esplanadas e ao restaurante-bar Wimbe que às sextas, aos sábados e domingos à tarde se transforma na discoteca mais concorrida de toda a cidade. As mesas são arredadas, a bola de cristal e os sons de África aquecem o ambiente e o resto fica a dever-se apenas à vontade de diversão dos frequentadores. O ambiente é ecléctico: viajantes pé descalço e outros mais aprumados, locais e empresários de passagem, grupos de amigos ou seres solitários reúnem-se para um pé de dança ou para uma ceia tardia na esplanada que se estende sobre o mar. Os corpos, esses, só darão de si altas horas da madrugada, após umas tantas cervejas 2M e dezenas de marrabentas.
Quirimbas–ilhas de sonho - Ao largo da costa de Pemba encontra-se o Arquipélago das Quirimbas. A ilha mais conhecida, Ibo, é fascinante não só pelas praias como pela história e a atmosfera um pouco fantasmagórica, povoada por testemunhos da passagem dos portugueses – palácios e vivendas em ruínas e a fortaleza de São João Baptista do Ibo. Chegou a ser a capital do território moçambicano, no século XVII, mas agora, abriga apenas algumas dezenas de pescadores. Pouco habitada, dispõe de um lodge e de um parque de campismo. Além de Ibo, existem outras pequenas preciosidades, como a ilha de Quirimbas, explorada desde 1928 pela família alemã Gessner, Quilálea, verdadeiro santuário natural, e Matemo e Medjumbi, onde estão a ser construídos um resort e um lodge, ambos pertencentes ao grupo Rani. Uma das formas de chegar a cada uma das ilhas será usar a agência turística Kaskazini, localizada no aeroporto de Pemba, que lhe dará as informações necessárias ou organizará as viagens.

7/28/05

Da janela...



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...de meu "refúgio" bucólico encaro a alegria do dia...