9/24/07

Moçambique - Norte - Crise na produção de sal provoca alta de preços.

As províncias de Nampula, Cabo Delegado e Niassa, no norte do país, estão a enfrentar uma grave crise no abastecimento de sal, facto que já está a levar ao aumento do preço de venda deste produto no mercado, pressionado pela invasão de intervenientes nacionais e estrangeiros, sobretudo do vizinho Malawi, na sua comercialização.
O “Notícias” soube que a crise se deve às chuvas que se estão a registar nos últimos dois meses fora da estação, afectando os distritos da Ilha de Moçambique, Mossuril, Nacala-Porto e Nacala-a-Velha, considerados os maiores produtores de sal. A chuva tem influências negativas no processo de produção, provocando interrupções constantes na actividade das salinas.
Mahomed Yunuss, presidente da Associação dos Produtores de Sal em Nampula, confirmou o facto, acrescentado que as chuvas imprevistas que se têm registado nos últimos tempos, estão a destruir os canteiros, assim como o sal que se encontra em fase de secagem, incluindo as vias que servem para o escoamento do produto para o local de ensacamento.
“Para reactivar o processo produtivo precisamos de algum tempo. Ao mesmo tempo somos obrigados a recrutar mão-de-obra suplementar para acelerar o processo de reparação dos danos e recolher o sal mas, mesmo assim, temos tido surpresas porque as chuvas que estão a cair fora das previsões provocam prejuízos financeiros avultados”, explicou a fonte.
Nampula é considerado o maior produtor de sal na região norte, tendo planificado para a campanha que vai de Julho a finais de Setembro, uma produção estimada entre 45 mil e 50 mil toneladas daquele produto.
Mahomed Yunuss precisou que devido aos constrangimentos provocados pelas chuvas, a produção do sal naquela parcela do país não vai ultrapassar as duas mil toneladas. A consequência directa deste facto é o aumento da sua procura o que na óptica do nosso entrevistado, não será suficiente para abastecer o mercado local, o que vai concorrer para a actual subida do seu preço de venda ao público.
Segundo informações colhidas pela nossa Reportagem no local, agentes envolvidos na comercialização do sal provenientes de Malawi, estão a invadir as zonas de produção, daquele produto para garantir compras em quantidades significativas a fim de abastecer o mercado daquele país.
Os intervenientes nacionais não estão parados e o seu esforço é de conseguir mercados nas províncias de Cabo Delgado e Niassa. Este facto originou a subida nas compras de sal em cerca de três a cinco vezes mais, comparativamente aos que eram praticados antes de Julho último. Neste momento, o saco de sal de 20 quilogramas está fixado entre oitenta e cem meticais. Antes da crise a mesma quantidade era vendida a vinte meticais.
Maputo, Segunda-Feira, 24 de Setembro de 2007:: Notícias

9/22/07

Em Mecúfi...Vinte anos a atrasar.

(Imagem daqui)
Quem o diz é o professor Camilo Ajuma, da aldeia Napuilimuiti, junto à margem esquerda do rio Megaruma, distrito de Mecúfi, Cabo Delgado. Considera-se semeado naquele distrito, tendo germinado o suficiente e, provavelmente, está à espera de apodrecer, pois tudo indica que ninguém o quer doutro modo, senão no que se encontra há 20 anos.
Foi formado como professor primário no Centro de Montepuez vindo de Mueda, sua terra natal.
Depois de três anos de formação ficou na verdade professor, em 1986, tendo sido colocado no ano seguinte no distrito de Mecúfi donde nunca mais saiu.
Começou pela Escola Primária de Muária.
Foi transferido para Natuco, a seguir Nangassi, depois Zambene, mais adiante, na sede do posto administrativo de Murébuè.
Quando pensava que estava a aproximar-se da cidade de Pemba, aonde sempre quis ir aumentar os seus conhecimentos, eis que é transferido de novo para Zambene, para somar sete anos na mesma escola/aldeia, o tempo mais longo de toda a sua lenga-lenga pelo distrito de Mecúfi.
Há três anos foi transferido para a aldeia onde hoje se encontra, em Napuilimuiti, no vigésimo ano, sem saber mais nada em relação àqueles conhecimentos psico-pedagógicos que trazia de Montepuez, em 1987.
Diz que é azar!
Diz que é porque não é indisciplinado, é o preço da obediência, da disciplina de aceitar trabalhar sob todas as vicissitudes que um ambiente aldeão dá todos os dias.
Se fosse indisciplinado, diz ele, já teria sido transferido como muitos do distrito de Mecúfi.
Camilo Ajuma diz que colegas com quem fez o curso de professor primário hoje estão a fazer cursos superiores e outros concluíram-nos.
Lamenta saber que em 20 anos teria até feito quatro licenciaturas, passo que não lhe é permitido pelas autoridades da Educação, que lhe indiferiram os três requerimentos que lhes dirigiu.
“Dizem que não posso deixar as turmas à mercê”, é ele que fala.
Ele vai construindo escolas graças à mobilização popular que faz com mestria, como aconteceu em Zambene e agora em Napuilimuiti.
Diz às populações para levantarem as paredes de pau-a-pique depois vai ter ao governo a pedir, pelo menos, a cobertura com chapas de zinco.
Foi assim lá como cá.
Em Napuilimuiti até é director da escola, de 193 alunos, assistidos por quatro professores, entre os quais professora.
Uma aldeia, como quase todo distrito, politicamente muito activa onde a livre expressão é bem aproveitada.
É em Mecúfi, na aldeia Sassalane, onde disseram ao governador Lázaro Mathe que pela maneira como o distrito está a ser dirigido, com muitas atitudes e comportamento de exclusão com base na pertença ou não a determinado partido, corre-se um sério risco de os dirigentes estarem a afastar os votos da Frelimo a favor de outros partidos.
Apontaram regiões donde viriam os que votariam, pois os filhos dessas zonas é que tiram proveito do facto de os seus familiares serem quadros nos aparelhos tanto governativo quanto do partido Frelimo a que alguns deles dizem pertencer.
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 22 de Setembro de 2007:: Notícias