9/22/07

Em Mecúfi...Vinte anos a atrasar.

(Imagem daqui)
Quem o diz é o professor Camilo Ajuma, da aldeia Napuilimuiti, junto à margem esquerda do rio Megaruma, distrito de Mecúfi, Cabo Delgado. Considera-se semeado naquele distrito, tendo germinado o suficiente e, provavelmente, está à espera de apodrecer, pois tudo indica que ninguém o quer doutro modo, senão no que se encontra há 20 anos.
Foi formado como professor primário no Centro de Montepuez vindo de Mueda, sua terra natal.
Depois de três anos de formação ficou na verdade professor, em 1986, tendo sido colocado no ano seguinte no distrito de Mecúfi donde nunca mais saiu.
Começou pela Escola Primária de Muária.
Foi transferido para Natuco, a seguir Nangassi, depois Zambene, mais adiante, na sede do posto administrativo de Murébuè.
Quando pensava que estava a aproximar-se da cidade de Pemba, aonde sempre quis ir aumentar os seus conhecimentos, eis que é transferido de novo para Zambene, para somar sete anos na mesma escola/aldeia, o tempo mais longo de toda a sua lenga-lenga pelo distrito de Mecúfi.
Há três anos foi transferido para a aldeia onde hoje se encontra, em Napuilimuiti, no vigésimo ano, sem saber mais nada em relação àqueles conhecimentos psico-pedagógicos que trazia de Montepuez, em 1987.
Diz que é azar!
Diz que é porque não é indisciplinado, é o preço da obediência, da disciplina de aceitar trabalhar sob todas as vicissitudes que um ambiente aldeão dá todos os dias.
Se fosse indisciplinado, diz ele, já teria sido transferido como muitos do distrito de Mecúfi.
Camilo Ajuma diz que colegas com quem fez o curso de professor primário hoje estão a fazer cursos superiores e outros concluíram-nos.
Lamenta saber que em 20 anos teria até feito quatro licenciaturas, passo que não lhe é permitido pelas autoridades da Educação, que lhe indiferiram os três requerimentos que lhes dirigiu.
“Dizem que não posso deixar as turmas à mercê”, é ele que fala.
Ele vai construindo escolas graças à mobilização popular que faz com mestria, como aconteceu em Zambene e agora em Napuilimuiti.
Diz às populações para levantarem as paredes de pau-a-pique depois vai ter ao governo a pedir, pelo menos, a cobertura com chapas de zinco.
Foi assim lá como cá.
Em Napuilimuiti até é director da escola, de 193 alunos, assistidos por quatro professores, entre os quais professora.
Uma aldeia, como quase todo distrito, politicamente muito activa onde a livre expressão é bem aproveitada.
É em Mecúfi, na aldeia Sassalane, onde disseram ao governador Lázaro Mathe que pela maneira como o distrito está a ser dirigido, com muitas atitudes e comportamento de exclusão com base na pertença ou não a determinado partido, corre-se um sério risco de os dirigentes estarem a afastar os votos da Frelimo a favor de outros partidos.
Apontaram regiões donde viriam os que votariam, pois os filhos dessas zonas é que tiram proveito do facto de os seus familiares serem quadros nos aparelhos tanto governativo quanto do partido Frelimo a que alguns deles dizem pertencer.
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 22 de Setembro de 2007:: Notícias

Ronda pelos blogues - O Vouguinha fala de Lourenço Marques...

Do prometedor "Vouguinha" que tem como articulista Branquinho de Almeida (também "macua" convicto e por afinidade), menciono:
Nas minhas digressões regulares pelos "sítios" da Net, relembrei Lourenço Marques, actual Maputo, capital de Moçambique.
O pedaço da minha vida naquela terra enraizou-se, sobretudo, no Norte, por terras macuas.
Considerei-me sempre um "bicho do mato".
Circunstancialismos de ordem profissional - a vida de saltimbanco administrativo -, e familiar (os meu pais viviam numa vila do interior de Cabo delgado), não me permitiram uma vivência substancial nas principais cidades, passe o facto de ser Porto Amélia a minha "base de apoio", sempre que me era possível ou necessário.
A capital conhecia-a em Agosto de 1968, quando uma guia de marcha me fez seguir de Balama (na zona de Montepuez), para a cidadela militar de Boane.
Durante cerca de 10 meses, os fins de semana eram, inevitavelmente, passados naquela cidade grande, que recordo muito limpa, arejada, de amplas artérias, desenhada a compasso e esquadro.
Para essa agradável contestação, o tempo foi mais do que suficiente.
Mas não é só na policromia das acácias, na beleza estética das avenidas e do betão, que um homem se completa.
E, mais por culpa da minha juventude introvertida, talvez, ensimesmada, do que pela sociedade local, nunca cheguei a integrar-me, a conhecer, na vertente humana, aquela índica cidade!
Para além de meia dúzia de companheiros, como eu deslocados naquela urbe, para cumprimento de obrigações militares e um ou outro ali residente, que partilhavam os convívios informais dos dias de descanso, não conheci mais ninguém, nem, que soubesse, por lá tinha familiares.
Assim, numa exploração quase solitária, ia passando as horas pelo Nacional, pelo Piri-Piri, numas geladinhas no Continental ou no Bar do Negresco, nuns passeios por Malhangalene, numas "voltas" pela Baixa, nuns filmes no Manuel Rodrigues (o César Rodrigues era meu companheiro em Boane), num "piscar de olho" às bifas na Costa do Sol...e nos inevitáveis raids pela Rua do Nosso Major...no Pinguim, Luso e quejandos...e umas "visitas à Pensão Nini (?) lá para as bandas da Polana, quando haviam mais umas notas na depauperada bolsa!...Passe a lacuna da deficiente integração no ambiente social laurentino, bem me sentiria se por ali continuasse até ao fim da minha "guerra", que de lá me devolveu ao Norte, não de calção e camisa "casca de ovo" (rsrsrsr..) como ali chegara quase um ano antes, mas espartilhado num camuflado fruta-cores!
E é porque também ali fui feliz e aquela bela cidade ficou a fazer parte do meu roteiro de vida, que sinto prazer em revisitá-la através destes "clips", com imagens daqueles tempos e mais recentes: