É tarde de quinta-feira, dia 27 de Setembro, Dia Mundial do Turismo, na cidade turística de Pemba.
Estamos a utilizar normalmente o dia, nos nossos afazeres do dia-a-dia, com os políticos a povoarem a província, porque, já se sabe, a antecipação aos processos eleitorais que se aproximam é o que está a dar.
Recebemos dos nossos habituais amigos a informação de que um avião das LAM, procedente de Dar-es-Salaam, não estava a conseguir prosseguir a viagem para Maputo.
Recebemos dos nossos habituais amigos a informação de que um avião das LAM, procedente de Dar-es-Salaam, não estava a conseguir prosseguir a viagem para Maputo.
Algum problema técnico estava a ditar a sua demora em Pemba, com os passageiros encurralados na sala de embarque.
Fomos, como é da nossa obrigação profissional.
Afinal, o avião é daqueles de 30 lugares, que a LAM voltou a colocar na rota Maputo/Pemba/Dar-es-Salaam, vice-versa e entre os passageiros há o assédio ao jornalista para, sobretudo, o influenciar a escrever a notícia, alegadamente porque “se se tratasse de um avião da “Air Corridor” estariam aqui todos vocês da Imprensa”.
Boca para fora, mas a situação real era que a aeronave não estava a sair.
A pouco e pouco fomos sabendo que um dos pneus do trem de aterragem estava vazio, os pilotos não queriam levantar o voo em tais condições por justificadas razões de segurança.
Solicitou-se o compressor da própria companhia, encheu-se o pneu e lá se chamaram os passageiros impacientes para irem a bordo.
Cá fora vimos viaturas que falavam do poder, entre elas do camarada primeiro-secretário do partido da maioria, o que nos indicou haver na sala dos “VIPs” muita Frelimo grande.
Cá fora vimos viaturas que falavam do poder, entre elas do camarada primeiro-secretário do partido da maioria, o que nos indicou haver na sala dos “VIPs” muita Frelimo grande.
O chefe da bancada, Manuel Tomé, havia regressado a Maputo mas outros nomes viajariam naquele voo.
Era o presidente do Conselho Municipal de Maputo, Eneas Comiche, na sua qualidade de membro da Comissão Política do seu partido, e Mateus Kathupa, igualmente nas suas atribuições partidárias.
Calcula-se que, quando se devia desejar as boas-vindas aos passageiros o pneu decidiu inviabilizar, vazando de novo e, mais uma vez a lenga-lenga dos senhores das LAM, tendo à cabeça o comandante.
Outra vez o compressor, outra vez tentar encher, mas outra vez negar ser enchido.
Solução, vamos descer, até novas ordens!
O repórter está no patamar do aeroporto a ver no que viria a dar o que estava a ver.
Provávelmente o assunto viesse a dar numa notícia.
Já parece que vale a pena ir perguntando o que se está a passar na verdade.
Parece que as pessoas não voltam mais ao avião, a coisa é, por isso, séria.
Ora, sendo um dia de avião pequeno, o aeroporto aparentava deserto, não haviam nem aqueles vendedores de objectos de arte, nem aqueles psicologicamente “apanhados” que também se fazem regularmente presentes ao aeroporto.
E no restaurante, lá de cima, estava apenas o servente e o repórter que ia sorvendo um duplo de uma “bebida séria”, enquanto assistia ao teatro que estava a acontecer com os passageiros, a tripulação e os outros funcionários das LAM.
Os pilotos usando os telefones celulares iam sugerindo a Maputo de que, em vez de esperar por um avião que de lá viesse para o socorro fossem, só os dois, à Beira onde substituiriam o pneu e a seguir voltariam a Pemba para reaver os passageiros. Essa não passou.
Ficámos a cochichar nos seguintes termos: “Como uma empresa tão grande não tem acessórios nas principais escalas, incluindo o mais simples, mesmo para um motorista de “aviões” que anda na estrada, pneu sobressalente...”.
E ficava claro que nem em Nampula havia pneus!
Sendo assim eu vou fechar cedo, diz o servente quase a obrigar que a conta fosse paga naquele instante, porque não tinha muitas razões para ali permanecer.
Foi paga.
A seguir, o repórter vai aos lavabos do restaurante.
De regresso descobre que as portas estavam todas fechadas a todas chaves possíveis.
Afinal o empregado havia ido embora.
Ficaram no restaurante o repórter e todas aquelas garrafas de tudo, incluindo bebidas que o restaurante vende muito caro.
Não parecia sério, mas o homem estava preso e o servente havia já apanhado o “chapa” para a sua casa.
Lá em baixo a movimentação de passageiros e dos tripulantes, mais os funcionários das LAM e do aeroporto ia diminuindo, sinal de que o risco de ficar fechado por muito tempo era cada vez mais provável.
Um polícia passa por baixo e pelas persianas o “preso” grita a pedir socorro pois havia sido “esquecido” no restaurante.
Alguém se lembrou que o restaurante era explorado pela esposa do primeiro-secretário da Frelimo que ainda se encontrava no aeroporto a estudar a forma de (re)acomodar os seus chefes.
Olha que (só para desfazer equívocos) a mulher do secretário explora o restaurante muito antes de sonhar que um dia o seu esposo seria grande na Frelimo.
Portanto, isto não significa aquilo e nem tem a ver com isso.
Enquanto se começa a aproximar do chefe, os bombeiros solicitados aproximavam o seu carro de combate a estudar como fazer subir a escada ao encontro do cativo, sem fazer danos.
Discute-se isto e aquilo, na mesma altura em que a esposa do chefe da Frelimo, que explora o restaurante do aeroporto de Pemba, chega muito preocupada, descalça, porque havia recebido a informação do marido.
E abriu as portas.
Haviam passado cerca de 50 minutos!
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 29 de Setembro de 2007:: Notícias
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 29 de Setembro de 2007:: Notícias