Joanesburgo - Kader Asmal, ex-ministro do governo sul-africano, advogado, deputado e membro do comité executivo do Congresso Nacional Africano (ANC), acusou o governo do presidente Mugabe de “conduzir uma guerra tirânica contra o seu próprio povo”.
Discursando, na quinta-feira à noite, na sessão de lançamento do livro da activista zimbabueana Judith Todd “Trough The Darkness” (Através da Escuridão), Asmal não poupou o regime da Zanu-PF e o seu líder Robert Mugabe, afirmando que só lamenta não ter falado mais cedo sobre a tragédia no Zimbabue.
As palavras de Asmal, que merecem grande destaque na imprensa de Joanesburgo, constituem uma clara afronta à atitude do Presidente da República e líder do ANC, Thabo Mbeki, que nunca denunciou as violações dos direitos humanos no Zimbabue e sempre se recusou a criticar o seu homólogo zimbabweano.
Kader Asmal admitiu que o silêncio tem feito dele cúmplice da situação e questionou os pontos de vista de Thabo Mbeki, segundo os quais apenas os zimbabweanos podem decidir o seu futuro.
Lamentando a forma como as coisas no Zimbabue se transformaramem “cinzas e mais cinzas”, o político e professor universitário afirmou que “a liberdade que se viveu no Zimbabue nos anos 80 tornou-se um pesadelo em consequência da preservação do poder em meia dúzia de mãos”.
Declarando que fala como “orgulhoso cidadão de uma África do Sul livre, que deveria ter aberto a boca e feito campanha há muito contra um regime que colocou o Zimbabue de joelhos”, o político do ANC não hesitou em classificar o Presidente do Zimbabue como um “tirano”.
“E porque é que só falo agora? Eu deveria tê-lo feito nos anos 80, quando milhares de pessoas foram assassinadas pela infame 5ª Brigada em Matabeleland. A Igreja Católica falou, eu não”, penitenciou-se Asmal.
O livro “Through The Darkness”, agora publicado na África do Sul, narra os acontecimentos ocorridos precisamente nos anos que se seguiram à conquista do poder por Robert Mugabe.
Em 1982-83, receoso de uma possível rebelião de dirigentes da tribo ndebele, da região de Bulawayo (à qual pertencia o então “vice” Joshua Nkomo), Mugabe enviou para aquela zona a 5ª Brigada, que havia sido treinada na Coreia do Norte.
Segundo milhares de testemunhos recolhidos pela Igreja Católica, ONG e activistas - e que deram mesmo origem a um relatório da ONU- as tropas, que respondiam directamente a ordens de Robert Mugabe, mataram mais de 20 mil civis, enterrando-os em valas comuns.