Carlos Saura foge das convenções e mistura fado e dança em seu novo filme.
Lisboa (AFP) — O diretor espanhol Carlos Saura foge de todas as convenções em seu último filme, "Fados", ao misturar dança ao fado, música tradicional portuguesa, famosa por sua nostalgia e melancolia e que, em geral, é escutada da forma mais comportada possível.
No filme, o diretor espanhol de 76 anos mostra uma visão muito pessoal do fado.
Segundo ele, a película tenta dar uma imagem diferente ao gênero musical, mostrando sua evolução, de suas discutidas e incertas origens até às mais novas interpretações, mais inovadoras, feitas por uma jovem geração de artistas.
Segundo alguns especialistas, o fado teria nascido no Brasil, onde os ritmos negros dos escravos africanos se misturaram às "modinhas", músicas dos salões nobres portugueses.
O ritmo teria entrado em contato com os portugueses que vieram ao Brasil em 1807, fugindo de Napoleão.
A questão, no entanto, gera polêmica nos meios especializados.
"Muitos fados tem um ritmo e uma cadência que podem ser dançados; dizer que o fado não foi feito para se dançar é uma invenção puramente portuguesa", afirmou Saura para a AFP.
O fado, conta o diretor, está em plena evolução, assimilando conceitos dos ritmos brasileiros, africanos, hip hop e música clássica, além de contar com intérpretes de diferentes nacionalidades, como Caetano Veloso e Chico Buarque, Mariza, de Moçambique, e a mexicana Lila Downs.
Ao optar pelo plural "Fados", Saura quis assinalar a variedade e as novas possibilidades do gênero.
"Colocamos no filme certos elementos que acreditamos terem influenciado o fado, como os ritmos brasileiros e africanos", explica.
"O fado faz parte de minha cultura, como o tango e outros estilos musicais", assinala.
Uma nova geração de fadistas surgiu nos últimos anos, disposta a assumir terreno e deixar sua marca pessoal, com artistas como Camané, Katia Guerreiro, Mafalda Arnauth, Cristina Branco, Pedro Moutinho e Mariza.
Nascida em Moçambique, Mariza, que figura em "Fados", está se tornando na nova diva no gênero, inspirando-se nos países que falam português e agregando instrumentos novos ao ritmo.
"Ela me parecia uma das artistas que poderia romper melhor o círculo do fado", afirma Saura.
"Parecia-me fundamental renovar o fado; existe um fado ortodoxo, clássico, que vai durar para sempre; e existe outro que leva os fadistas a ir mais além; acredito que a mistura é fundamental", analisa o cineasta.
"Fados" é o último filme da trilogia do cineasta espanhol consagrada a musica, depois de "Flamenco", em 1995, e "Tango", em 1998.
In AFP - 09/10/07