7/20/09

Ronda pela net: Cabaret at The Moçambique

Andando pela net encontrei hoje no "Soul Safari":

""Uma bela manhã, em outubro de 1955 Antonio Amaral chegou a Joanesburgo vindo de Lourenço Marques, incapaz de compreender uma única palavra da lingua local. Apesar das dificuldades linguísticas comprou um restaurante nesse mesmo dia, em local modesto na Simmonds Steet - Joanesburgo onde começou a servir refeições com pratos recheados de qualidade em sabor e condimentados a piri-piri. Em fins de 1958, mudou-se para o atual endereço em Noord Street, e é para comemorar o primeiro aniversário deste novo restaurante, "O Moçambique", que apresenta especialmente esta "gala cabaré" de artistas importados de Portugal:

  • Elsa Vilar é uma das cantoras mais populares em Portugal. Depois de apenas dois anos no showbusiness, ela agora é uma estrela com início invejável e uma reputação que transforma em sucesso tudo que apresenta. - Salve aqui e depois escute! (formato mp3 - 2,81 MB)
  • Maria Adalgisa ensaiada pelo grande cantor português Tomas Alcaide é uma soprano excelente que dá côr à musica folclórica de Portugal, sendo igualmente proficiente em composições clássicas. - Salve aqui e depois escute! (formato mp3 - 3,29 MB)
  • Moniz Trindade é um dos principais intérpretes do mundo do 'fado-canção'. Nascido em Lisboa, a casa do 'fado', é procurado em todo o Portugal e Espanha para apresentações nos palcos, televisão e rádio. Conhecido e bom compositor é autor de tudo que canta. - Salve aqui e depois escute! (formato mp3 - 1,91 MB)
  • David Pantoja é o instrumentista do grupo. Com acompanhamentos brilhantes de acordeão dá sabor autêntico às canções portuguesas. - Salve aqui e depois escute! (formato mp3 - 6,68 MB)

O diretor musical de "O Moçambique" é Benny Baker, pianista britânico de nascimento e líder da banda. Embora mais conhecido na África do Sul por suas gravações tipo "pop", Benny é um brilhante expoente da "Latin American and Continental dance music". Pouco tempo antes de vir para a África do Sul, dirigiu algumas das mais destacadas boates da Europa e, por duas temporadas, a Orquestra da famosa "Palm Beach Casinos" em Cannes, França.""( from the original liner notes of the album “Cabaret at The Moçambique” Gallotone GALP 1067)

Acrescento - É bom salientar que o texto acima, adaptdo para português, se refere a fatos ocorridos entre 1955/58 aproximadamente. Não se trata de "saudosismo" ou "nostalgia", como determinadas figuras e tendências intelectualóides obtusas, auto intituladas progressistas(?), conhecidas também por seu oportunismo descarado, subserviente ao "políticamente-correto", tentam "diminuir" idiotamente quando se evoca o passado. Trata-se sómente de documentar e divulgar com fidelidade, sem sofisma, a beleza e arte da música popular portuguesa levada além fronteiras lusas, praticada e vivenciada no tempo, na História e na África colonial sim senhor, mas África colonizada de forma diferente, ou como quer que apelidem, do status político-económico-social repleto de defeitos, injustiças, miséria, corrupção, contradições, etç. que a dominam atualmente.

  • E, "de bandeja", o nosso sempre respeitado e conhecido luso-moçambicano João Maria Tudela com o Joe Kentridge Trio... - Salve aqui e depois escute! (formato mp3 - 3,51 MB)

- Com a devida vénia e créditos a Soul Safari - Music treasures from Africa.

7/17/09

De Norte a Sul - Moçambique que vi e ouvi!

Existe um outro Moçambique para além do mundo virtual da internet, das redes sociais emergentes minoritárias, elitizadas e por regra mais preocupadas com o "eu" do que com o "nós" ou o "ao redor". Existe o Moçambique das maiorias... das maiorias pobres, sem informação, sem carro de luxo ou griffe da moda, existe o Moçambique da majoritária miséria, da doença, da impossibilidade de frequentar e até sorrir feliz em locais badalados de saraus, restaurantes, praias, piscinas e festas que se vêm ou lêm nas colunas e redutos sociais da bela Maputo ou de qualquer outra cidade moçambicana! E é esse Moçambique majoritário, carente que precisa ser destacado, noticiado, mesmo que não gostem as tais minorias privilegiadas e dominantes:

- No final de uma longa viagem por terras moçambicanas, o coração transborda e escrevo algumas imagens e impressões em flashes breves e rápidos.

“Não há problema” e “está tudo bem” são expressões que ouvi muitas vezes durante quatro semanas. A realidade é bem diferente. Saúde, habitação, má alimentação, pobreza, vias de comunicação, são problemas reais de Moçambique.

O salário mínimo de um trabalhador não qualificado é de 2.200 meticais, equivalente a mais ou menos 57 euros, por mês. Há quem receba 900 e até 500. Ao passo que um litro de leite pode custar 55 meticais, um quilo de arroz do mais barato 14, um livro escolar 570.

Dez horas é o tempo gasto a percorrer os cerca de 400 quilómetros que separam Cuamba de Nampula, em carrinhas com tracção às quatro rodas. Em tempo de chuvas pode demorar muito mais. Para apanhar uma estrada alcatroada é preciso desviar do caminho e fazer mais 100 quilómetros.

Deslocações de avião, só para estrangeiros ou uma minoria de moçambicanos.

A cidade de Cuamba, com 56800 habitantes, não tem uma única estrada alcatroada. Nesta cidade está a funcionar a Faculdade de Agronomia da Universidade Católica de Moçambique. A cidade está situada no distrito com o mesmo nome, na província do Niassa, norte de Moçambique.

Doença do século, como é aqui designada, a Sida mata a eito e deixa muitas crianças órfãs e seropositivas. Mas também a malária e a cólera matam. O hospital ou o centro de saúde, muitas vezes ficam longe e não há dinheiro para os medicamentos.

A maior parte dos alunos para estudar e fazer os trabalhos de casa tem que ir à biblioteca, único sítio onde há livros escolares. Nas aulas só cadernos para tirar apontamentos.

Em Entre-os-Lagos, localidade próxima da fronteira com o Malawi, na escola secundária, os alunos assistem às aulas sentados no chão. Não há cadeiras nem mesas.

Outro grave problema é a má alimentação que dificulta a aprendizagem, para não falar das distâncias que algumas crianças e jovens percorrem a pé para irem à escola. O transporte é caro, mesmo os «chapas», carrinhas de nove lugares sempre superlotadas. Não admira que andem sempre à procura de boleia.

As mulheres, também elas muitas vezes mal alimentadas, carregam tudo às costas e à cabeça. Os filhos, o pote de água, o molho de lenha. Trabalham na machamba, a semear o que a terra dará para comer, se a chuva ajudar. Quantas nunca viram uma agulha ou uma linha para coser a roupa. Muito menos a máquina de costura. Usam a capulana que é um pano que serve para tudo, até para guardar o dinheiro.

Maputo, a capital, onde há muitas diferenças sociais, vive mais de um milhão de pessoas, em 347 quilómetros quadrados. Casas luxuosas, com guardas armados, arame farpado e electrificado, mas ao virar da esquina muito lixo amontoado, muita pobreza, pessoas que vendem artesanato na rua para ganhar a vida.

O missionário da Consolata, padre Artur Marques, que vive há muitos anos em Moçambique e conhece muito bem o país, afirma que já foi muito pior. Nota-se a reconstrução e reabilitação das estruturas da cidade.

Moçambique depende muito da ajuda internacional, mas só cinco a sete por cento do valor dessa ajuda, chega ao seu destino.

Apesar de todas as dificuldades, alegria e boa disposição é o que não falta ao povo moçambicano.

Ainda conseguem cantar depois de seis horas seguidas sentadas na parte de traz de uma carrinha de caixa aberta.
- Ana Paula FÁTIMA MISSIONÁRIA 16-07-2009 • 17:30.