5/12/12

ENCONTRO DE ANTIGOS ALUNOS E PROFESSORES DO COLÉGIO LICEAL DE S.PAULO 2012

Em Fatima no Exército Azul ( Domus Pacis ), no próximo dia 26 de Maio de 2012

"Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhámos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contato se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos. Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

- Fernando Pessoa
cd
Como diz Fernando Pessoa, assim é.
Não nos percamos no tempo. Continuemos teimosamente a promover os nossos encontros anuais. Contamos com o vosso  comparecimento e divulgação.
Todos não seremos demais para este grande dia. Ano após ano e cada vez mais, tem sido ocasião de muitas recordações, emoções e  até de grande festa.
Será como habitualmente no Exército Azul ( Domus Pacis ), no próximo dia 26 de Maio de 2012.
A EUCARISTIA será celebrada às 12 horas, pelo Sr.  Padre Luis Marques.
Às 13 horas será servido o almoço no refeitório.
A ementa será constituída por:Aperitivos: 
  • Porto Seco/Martini, Sumo de laranja; 
  • Pão de trigo, pão de milho, queijo, manteiga, azeitonas;
  • Fumeiro regional (morcela de arroz e chouriço grelhado);
  • Sopa da nossa aldeia;
  • Bacalhau à Domus Pacis;
  • Costeleta de vitela grelhada com ervas aromáticas


Saboreado com diversas tentações:
  • Doce de natas/ pudim de laranja/mousse de manga e fruta da época.
Para acompanhar e ajudar na digestão:
  • Vinho branco e tinto da região, água mineral, cerveja ou refrigerantes;
  • Café.
O preço por pessoa é de € 20,50.  IVA incluido à taxa de 23% .
Agradecemos a v/confirmação até ao dia 17 de Maio de 2012, indicando-nos a vossa opção para o repasto.

NOTA: Este ano temos uma nova modalidade de pagamento, a fim de evitar algumas complicações que têm surgido em anos anteriores.
À vossa chegada, na recepção da Domus Pacis, deverão adquirir um ticket - individualizado - que deverá posteriormente ser entregue à entrada do refeitório.
Agradecemos a vossa ajuda e compreensão.

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A SALA É PARA NÃO FUMADORES
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Um abraço amigo das,
(frente)
(verso)
Clique nas imagens para ampliar. Imagens digitalizadas encontradas nos arquivos do falecido jornalista do Diário de Lourenço Marques em Moçambique, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão.

4/15/12

História e histórias d'África no Brasil - NEGRO SULINO



Por Fábio Campos

Santana do Ipanema cidade secular, encravada no médio sertão das Alagoas. Palco de histórias memoráveis, desde o Período Imperial brasileiro. De quando os primeiros desbravadores aqui aportaram resolvidos a cultivar a terra. Dispostos a domesticar e catequizar os indígenas com a ajuda dos missionários. A água em abundância do rio Ipanema garantia de boa caça e pesca. O rio oferecia-se inteiro, para gerar variadas fontes de renda dos seus novos e antigos habitantes. Rio manso deixou-se domar. Deu de si, o massapé para preencher os tapumes de pau-a-pique. Água para o gado bovino. Madeira da mata branca para as edificações e cercados. Argila das encostas do curso d’água, donde se manufaturavam panelas, potes e tachos. O junco e a palha de suas barrancas, com que os rurícolas cobriam suas habitações rupestres. Dele os índios vivam e tiravam seus artefatos de combate, utensílios domésticos e pigmentos para ornar o corpo.

Santana do Ipanema em breve se elevaria a categoria de vila quando aqui chegaram os primeiros negros da descendência dos Bantos africanos – faltavam trinta anos para a princesa Isabel assinar a Lei Áurea - os negros trazidos de África para o Brasil chegavam na condição de escravos. Trazidos de Angola, República do Congo, Moçambique, Guiné Bissau. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em Dembos, Macuas, Benguelas e Anjicos. Eram levados pelo litoral, nos porões dos navios, amarrados pelos pés e mãos para não fugirem. Comercializados nos dois grandes centros da época, o cais do porto de Salvador e Rio de Janeiro. Uma vez vendidos, aos mercadores de escravos, viajavam léguas a pé para o interior, para serem revendidos aos senhores feudais. Em Minas Gerais iam para a garimpagem de ouro, na Província do Rio de Janeiro para as lavouras de café, no Nordeste iam para a região Atlântica, para o cultivo da cana-de-açúcar. Parte deles embrenhados nos sertões, iam para a lida com gado bovino e o serviço doméstico das casas grandes de ricos comerciantes e donatários.

Um dia chegou a Vila da Ribeira de Santana, um comboio de mais de vinte pessoas e dez montarias. Havia entre eles mercadores de especiarias, alguns corsários, e um vendedor de escravos que trazia seis negros - quatro homens e duas mulheres - já vendidos. Uma encomenda do senhor Martiniano Vieira, donatário-herdeiro de parte das doze léguas de terras devolutas, compreendidas entre a Serra do Caracol à Ribeira dos Cabaços. Concedidas pelo imperador D. Pedro II, aos irmãos Martins. Os negros em fila indiana chegaram a pé. Traziam argolas, envolta do pescoço, que unia uns aos outros por uma corrente de ferro. Além de terem as mãos amarradas às costas. Cobertos de poeira - não fosse pela respiração ofegante e o andar claudicante - passariam facilmente por estátuas feitas de barro de louça. Sangravam dos pulsos e da sola dos pés. Os tropeiros pararam no largo defronte a igreja de Senhora Santana. Os habitantes da vila se aproximaram por interesses variados. Alguns para compra de manufaturados - vindos da província - tecidos, aguardente, fumo e pólvora. Outros por pura curiosidade.

Os mercadores de escravos aproveitavam a aglomeração no largo, para anunciar a Vila da Ribeira de Santana, sobre os seus mais novos moradores. Os negros de propriedade do senhor Martiniano Vieira. Dali por diante assim deviam ser tratados, como parte dos bens pertencentes ao donatário. Os negros foram levados para um barracão denominado de senzala, construído para aquele fim. Durante o dia os negros realizavam serviços de capina e plantio, pastoreio de gado e mil outras empreitadas. À noite recolhidos na rústica masmorra, cantavam cantigas de além mar. Cantigas de sua terra-mãe África. Canções na língua Haúça, um dialeto onde proliferavam palavras com muitas Gangas e muitos Zumbas. Os negros de origem africana eram rebatizados pelo missionário Francisco Correia, com nomes cristãos. Receberiam do catequista, nomes de santos da igreja católica de acordo com as datas de seus nascimentos. Àqueles não sabia determinar com exatidão a data em que haviam nascido. O frade batizou-os com o nome das principais províncias brasileiras, Salvador, Sebastião, Vicente e Agostinho. As mulheres passaram a se chamar de Tereza Cristina e Isabel, em referência a imperatriz e à princesa, respectivamente esposa e filha do imperador. Muito embora os negros jamais deixariam suas origens e suas crenças. Acreditavam em deuses vários para cada evento da vida. Praticavam rituais de vodun originados do candomblé Jeje. À noite ao redor de uma fogueira dançavam ao som de tambores evocando seus deuses. Sacrificavam pequenos animais, pediam proteção e clamavam pela liberdade perdida. Os brancos da vila passaram a respeitar e temer os negros pelos poderes imputados a eles. Acreditavam que tinham a capacidade de transformarem-se em animais, ou tornarem-se invisíveis em determinadas ocasiões. Poderes de ter o corpo fechado para o ataque com arma branca, e mesmo de serem imortais. Os negros mantinham ainda o hábito de falar no seu dialeto de origem, e seus nomes de batismo na mãe África. O negro Sebastião chamado na tribo afro de Heviassô-Agué que significa deus da caça e da floresta teria se amasiado com a negra Tereza Cristina, Ayizan-fa, rainha do mercado e da adivinhação, tiveram doze filhos. O primogênito cujo nome de batismo no ritual afro era Agassu-Lino que na língua Banto quer dizer “aquele que vem do reinado de Benin do Congo”.

Agassu-Lino tornou-se grande líder do povo afro que residia na Vila da Ribeira. Tornou-se uma lenda viva pelos prodígios a ele atribuídos. As negras Bás contavam histórias de dormir aos filhos dos brancos sobre as façanhas de Agassu-Lino. Histórias de suas caçadas fantásticas. Peripécias de ter matado onças e lobos gigantes com as próprias mãos. A proeza de ter enfrentado o próprio diabo. Os negrinhos da vila deram-lhe o carinhoso apelido de Sulino. Pelos muitos anos viveu, habitou o Alto dos Negros - um reduto Quilombola no Serrote de Seu Marinho - ao lado do seu povo. Originários e descendentes da tribo Banto. Já em idade avançada era consultado pelos brancos, que queriam livrar-se de mandingas e moléstias - que os atormentavam - em corpo ou em espírito. Sulino acabou deixando o morro e foi morar na cidade. Era comum encontrá-lo perambulando pelas ruas na madrugada. Acabaria acusado de bruxaria, de virar lobisomem em noite de luas cheias e de praticar rituais satânicos. Em 1975 quando completou cem anos de idade, entrou em casa, fechou as portas e não mais saiu. Seis meses depois, os moradores da vizinhança tomaram uma atitude, destelharam a casa e entraram, nem vestígio de Sulino. Cobras, sapos, aranhas e ratos foram os únicos ocupantes encontrados lá dentro. 
- Fonte e transcrição "Alagoas na Net"