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11/08/22

ALBUM ETNOHISTÓRICO DAS ILHAS DE QUERIMBA, IBO E MATEMO 1969 1972

👉 🇵🇹 🇲🇿 🇧🇷 — País MOÇAMBIIQUE  
— Região CABO DELGADO  
— Ilhas QUERIMBA, IBO e MATEMO  
— Autor professor doutor CARLOS LOPES BENTO  
** Edição ©forEverPEMBA OUT 2022  

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https://issuu.com/gotael/docs/matriz/
Por Carlos Lopes Bento
Quem é Carlos Lopes Bento 
- Antropólogo. Doutorado em Ciências Sociais. Sócio da SGL. 
DADOS PESSOAIS
- Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em  Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada..

FORMAÇÃO ACADÉMICA
- Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
- Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba).
- Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “ As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. Situação Colonial, Resistências e Mudança- 1742-1822.
- Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional. Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI).
- Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal”.
- Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI.
- Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. Actualmente faz parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
- Investigador em vários projectos de natureza sócio-politica e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT.
- Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo.

ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras

12/14/17

SABORES GASTRONÓMICOS ENTRE OS WAMWANI DA ILHA DO IBO/CABO DELGADO. ACHEGAS PARA SEU ESTUDO.


Por Carlos Lopes Bento
- Antropólogo. Doutorado em Ciências Sociais. Sócio da SGL.      
Com esta comunicação, que foi elaborada com base em dados actuais, disponibilizados por vários informadores mwani, procuramos revelar alguns dos traços da cozinha mwani do quotidiano, festiva e do sagrado e conhecer, não só a complexa e heterogénea composição das suas saborosas comidas, como também os pratos considerados emblemáticos servidos em Cabo Delgado, particularmente, na ilha do Ibo. 

Situação geográfica das Ilhas de Querimba
Dispostas em forma de rosário, numa direcção norte-sul, as Ilhas de Querimba, que constituem o arquipélago do mesmo nome ou de Cabo Delgado formado por mais de três  dezenas de pequenas ilhas, situam-se no Oceano Indico Ocidental, a norte da ilha de Moçambique, entre as baías de Pemba e de Thunghi.

A ilha do Ibo, uma das cerca de 32 ilhas que integram o arquipélago, faz parte do território litorálico norte de Moçambique e é a 4ª ilha em superfície, mas com apenas 15 Km² (5x3).

Situada a sul da ilha de Matemo e a norte da ilha de Quirimba, possui um riquíssimo património humano e histórico resultante de intensos movimentos comerciais e religiosos encetados, desde o séc. VIII, por povos de múltipla proveniência (..., árabes, persas, suaílis, indianos, chineses, africanos (makhwa, makonde, yao, mafites, …), portugueses, franceses, wasakalava, ingleses,... ), constituindo um território privilegiado, fértil em contactos, choques e interpenetrações de culturas, um espaço de cooperação, competição e de conflito, um local propício a transformações biológicas e socioculturais.

Estes seculares cruzamentos, conjugados com as condições ecológicas específicas da ilha e com a diversidade crenças religiosas da população do Ibo, originaram um típico e riquíssimo património alimentar, resultante da interpenetração secular das cozinhas e culturas asiática (polinésia, indiana e persa), americana, africana e europeia. 

Dada a natureza dos seus solos corálicos e a irregularidade das chuvas, a agricultura na ilha do Ibo foi sempre praticada em pequena escala. Contudo, face ao crescente aumento da sua população, os seus moradores tiveram a necessidade de cultivar, em pequenas machambas, mandioca, feijão, milho, mapira, abóboras e pepinos, tanto nos seus quintais, vedados a laca-laca, onde plantaram papaeiras, goiabeiras, bananeiras, palmeiras, massaniqueiras e ateiras, como também nos terrenos baldios, fora da povoação.

Atendendo a que produção é insuficiente para satisfação da totalidade das necessidades alimentares, resolveram o problema indo fazer as suas machambas nas terras firmes próximas, onde colhem milho, arroz, mapira, feijão, mandioca, amendoim, gergelim, rícino, castanha de caju, mangas, … . 

A palmeira, o cafezeiro silvestre e a mangueira crescem, em número limitado, por toda a ilha.

Há criação de gado caprino, ovino e bovino, em pequena escala e de aves de capoeira.

Pela sua posição geográfica, a ilha do Ibo é rica em recursos aquáticos (peixes, crustáceos e moluscos). Para além dos pescadores, homens e mulheres, sempre que se deparam com dificuldades financeiras recorrem à pesca, utilizando armadilhas e pequenas redes ou panos junto à praia.

Esta disparidade entre as actividades agrícola e pesca influenciaria, decisivamente, a cozinha mwane, onde predomina a utilização dos produtos marinhos. 

A população pratica as religiões católica e islâmica, esta limitativa de alguns produtos alimentares.
Depois destes pertinentes considerandos, volto ao tema principal.

Do seu património alimentar, realçarei, nesta Comunicação (1), a comida mwane preparada e consumida no dia-a-dia, nas datas festivas e nos tempos sagrados e a sua heterogénea composição. 

A cozinha mwane utiliza na confeção dos seus variados manjares: arroz, mandioca, feijão,  milho, mapira, meixoeira, abóbora, gergelim, amendoim, coco, rícino, cana doce, batata doce, pepino, cebola, tomates, coentros, alhos, piripiri, castanha de caju, manga, papaia, anona, ata, romã, ananás, massanica, jambalão, banana, tamarindo, limão,  folhas verdes de hortaliça, mandioca, de batata doce, moringa e abóbora, excelentes para confecionar a matapa, peixe fresco ou seco e mariscos( camarão, carangueijo, lagosta, lulas, chocos, polvo, inhamata ... ), carne de bovino, caprino, ovino e de aves, ovos, açucar, sal, mel, vinagre, especiarias- açafrão, gengibre, cominhos, canela, cravinho e cardamungo. 

A alimentação, habitualmente, preparada pelas mulheres, embora em 1971 existissem 27 cozinheiros, tem como base o caril (nsuzi), de:

- carne ou peixe/polvo/carangueijo/inhamata, 
- coco (nsuzi uanazi),
- oleo de amendoim  (nsuzi uamafuta),
- abóbora (nsuzi uamanga),
- feijão (nsuzi uaunde), 
- caranguejo, camarão, macasa, inhamata, ... . 

e como acompanhamento (kuria):

- arroz de coco (kanazi), 
- bilinjé (arroz), 
- milho (kamafafaluela), 
- arroz refogado (kitoré),
- milho e feijão (makutshuko), 
- lumino de batata doce, banana, mandioca, abóbora
- mazizima (papa de mapira) 
- quitoré (arroz refogado)  
- matapa de folhas.

Para além dos temperos orientais que adquire, utiliza muitos produtos da terra: sal, priripiri, manga verde, de que faz vinagre, tamarindo (verde e maduro), limão, cebola, alho, tomate, fruto do embondeiro, ... .

Também se prepara e consome vários tipos de achar (conservas): limão, cebola, tamarindo, manga, que são conservados em sal, piripiri e vinagre. 

Bolos: nkate, de f.trigo (uabolo), f. milho (uariba), f. mandioca (pinaga), f.arroz (pneu), f.trigo (uumacajojo), f.arroz (vitumbula), f. mapira (viliosso), biscoito, igual ao anterior mas com forma biscoito de Portugal, f.arroz (uakumimina), uapão de ló, uasonho, 

Doces: abóbora, batata doce, meixoeira cozidio, coco (uanazi), amendoim pilado (uaintessa), castanha caju pilada (uacorosso), gergelim pilado (uaifuta), massanica (iaunazi), pera, papaia, banana, caju, manga, ngodó (bolo de farinha de arroz, coco e açucar que é servido na festa das raparigas culávia mwari) , uaunde, dinuto, virassassa, 

Os pratos de carne de cabrito, galinha, pato ovino ou bovino são apenas consumidos em datas festivas.

Como bebidas utlilizam água simples, chá, café, leite, limonada, laranjada. Para algumas cerimónias utilizam a água das chuvas e a água de coco.
Do seu trem de cozinha constam: frigideiras, panelas de barro- com boca larga para o  caril (kikalando), com boca pequena para arroz (kiungo), e para água (mivulo), panelas de cobre, alumínio e ferro, caçarolas de barro, tachos de alumínio, frigideiras, pedras de moer, peneiras (kissero), coadores (msudjo), almofarizes e pilões de madeira, raladores (mbusi), concha de casca de coco (lupaua),trempes de ferro, ... .

Com exceção do mês do Ramadão, o mwane faz três refeições por dia, diferentes das do quotidiano, nas cerimônias especiais- ritos de passagem, festas religiososas e nalgumas cerimónias de despossessão de espíritos.

No dia a dia
São servidas três refeições diárias: pequeno almoço/matabicho, almoço e jantar.

Ao pequeno almoço
Das 6 às 8 horas a alimentação é diversificada. Habitualmente toma-se:

- Chá com ribas, pneus, sonhos ou vitumbulas
- Chá com pão, ou bolos,bolos, nkate de trigo, milho, mandioca ou arroz, riba, leite e pão, 
- Pão e peixe frito.
- Leite ou leite com pão
- Café
- Ovos, cozidos ou fritos
- Arroz ou feijão com caril de peixe
- Mandioca cozida com peixe frito

Ao meio da manhã podia comer-se batata doce ou qualquer doce.

Ao almoço
Das 12 às 14 horas, a refeição é pouco variável. Habitualmente come-se:

- Arroz ou mapira e mais raramente, feijão, com caril de peixe­- frito, cozido ou assado ou de âmbar, temperados com  achares/azedos de manga ou limão.
- Tocossado de peixe acompanhado de arroz de coco 
- Arroz com peixe frito.
- Cebolada de peixe

Por vezes, pelas 17 horas, podia tomar-se uma chávena de leite ou comer sobejos do almoço.

Ao jantar

Das 19 às 20 horas, a refeição é variável, constando de 

- Chá com nkate, bolo ou pão 
- Chá com nkate de magaga
- Leite e café 
- Chá com aletria
- Arroz com caril de peixe
- Arroz de mapira com caril de peixe
- Arroz cozido com peixe
- Ovos fritos ou cozidos

Ao almoço e jantar, sempre que possível, come-se não só tchima/matapa de verduras (de folhas de abóbora, mandioca e hortaliça), batata doce ou mandioca, cozidas ou assadas, como também fruta, seja papaia, banana, laranja, ananás, pera goiaba, pera abacate, anona, ata, manga, de produção própria ou comprada. Também os doces caseiros diversos, são, algumas vezes, também consumidos.

Cerimónias religiosas e outras

Nas cerimónias religiosas - nascimento do profeta Maomé, festa a S. Francisco Xavier, maulide e fateha-oração pelos mortos confecciona-se uma alimentação especial constituída por carne de bovino e caprino.

No cumprimento de promessas, a alimentação preparada, galinha ou pato com arroz de caril é oferecida a orfãos ou alunos da madrassa), 
- No início da construção de casas, embarcações, gamboas e  a falta de chuva, preparam refeições à base de carnes de bovino, cabrito, galinha, pato e de arroz, em que a mapira, como elemento purificador(mapézi), o coco e os bolos têm presença obrigatória.

Cerimônias familiares

- Akika, apresentação da criança ao 7º dia do nascimento. No dia aprazado, de manhã cedo, as mulheres (familiares, amigas e vizinhas) preparam, com esmero, no quintal da família anfitriã, os bolos rote e o caril de cabrito, que, mais tarde, serão servidos aos convidados que molham os bolos no mel e o caril no azedo (achar feito localmente com manga verde, limão, pepino, tamarindo...). De realçar que, também, aos dignatários políticos e religiosos, aos vizinhos e órfãos, por uma questão de testemunho e de prestígio social, são oferecidas pequenas porções de carne, crua ou cozida, de mel e bolos. Como bebidas são servidos chá, café ou qualquer refresco e nunca bebidas alcoólicas proibidas pelo Alcorão. 

- Kutolola, furar orelhas das raparigas para brincos (kutolola brinco) e base nariz para kipine (kutolola kipine) serve-se doce de gergelim e bolo de arroz (n´godó).

- Corte de cabelo de rapazes e raparigas a comida própria: caril de carne de vaca, de galinha ou pato, com arroz ou apenas bolos e biscoitos com chá ou leite.

- Kulavia - Saída das raparigas do enclausuramento porque vai casar ou demora em fazê-lo. Nesta ocasião fazem-se doces de n'godó e nkate de mapira ou mandioca.

- Limbaje. Confecionam-se doces da melhor qualidade feitos pela família da noiva com a importância enviada pelo pai do noivo, na carta do pedido de casamento, que depois são enviados com a resposta ao pedido feito.

- Arusse - Casamento. Para a almoço do dia do casamento, o pai da noiva compra: 2,5 de arroz, 1 bovino, 1 cabrito, 1,5 saco de farinha de trigo, 25 quilos de açúcar, cocos, batatas, temperos. As pessoas mais abastadas, por vezes, confeccionam pratos de chacuti, chamuças, bebinca, … .

Nos ritos de passagem

- Kumbi, circuncisão dos rapazes, no acampamento, alimentam-se de mel, arroz de cabrito, peixe assado, tudo sem caril nem sal; já em casa, tomam leite, chá e bolos.

- Riga, iniciação das raparigas, faz-se caril de galinha sem temperos, chá forte com café com leite, bolos e biscoitos.

Nas cerimônias ligadas aos cultos de possessão, nas chamadas danças do diabo, há comidas que variam consoante a origem do espírito incorporado na mulher, que não farão parte desta comunicação.

E para terminar a indicação dos pratos da cozinha mwane mais recomendados por amigos nossos Muadjas:

- tocossado de peixe com xima de mandioca ou milho branco, ou arroz de coco ou mapira com coco;
- lumino (de mandioca ou de batata-doce, banana macaco verde) de peixe fresco; 
- caril de coco de caranguejo/camarão/peixe acompanhado com arroz ou leite  de coco;
 - quitoré com safi frito, acompanhado de arroz de coco, de mapira, de meixoeira ou soloco;
- peixe frito com milho e feijão (macutchucu);
- arroz de coco ou de mapira com  caril de peixe e molho de coco;
- caril de cabrito com arroz amarelo
- caril de peixe com arroz de coco e matapa
- bolo de meixoeira cozido, rotis (apas), filhoses, nkate wa kumimina (bolo de arroz) e nkate wa magaga (bolo de mandioca seca;
- doces de abobora e batata-doce.

Uma análise mais aprofundada da cozinha mwane, dos seus ingredientes e objectos/utensílios utlizados na sua preparação alimentar mostrar-nos-á que:

- grande parte das plantas alimentares - cereais, legumes e árvores de fruto - e especiarias são originárias  da Asia, Oceania e da América;

- Muitos dos utensílios utilizados  chegaram a África através da difusão cultural, provenientes da Oceania e Asia- pilão, mós, raspador, … ;

- muitos dessas plantas e utensílios são signos comuns da língua suaíli  ou dela derivados  e cobrem uma vasta área de África do litoral e interior;

- muitas iguarias e seus temperos, bolaria, doces são vocábulos das línguas suaíli, macua e português.

A cultura alimentar, aqui descrita, longe de estar completa, mostra bem a diversidade e a riqueza da cozinha mwane- do dia-a-dia e festiva, bem diferente da preparada nas terras firmes do interior, muito mais simples, tanto nos produtos como na confecção. A diferenciação existente deve-se aos seculares contactos da comunidade mwane com gentes de outras culturas e civilizações: árabe, asiática, e europeia, portadoras de outros saberes e estilos de vida, muitos deles integrados, por úteis, na cultura local.

Terminada a minha Comunicação, resta-me agradecer a vossa estimada presença.

A todos um BEM HAJA.
- Carlos Lopes Bento
ANEXOS
ALGUMAS RECEITAS TÍPICAS DA GASTROMONIA MWANE

TOCOSSADO DE GALINHA

Ingredientes:

2 Frangos
1 ½ Tomate grande
2 Caldos Knorr de frango
1 ½ Cebola grande
1 Colherinha de massa de tomate
6 Azedos de manga previamente demolhados para tirar a acidez
½ Colherinha de sal
3 Piri-piri
1 ½ Colherinha de óleo

Execução:

Cortar o tomate e a cebola em pedaços pequenos, para que não fiquem nem grandes nem picados.
Num tacho, colocar 1 chávena de água e deitar um caldo Knorr, metade do tomate e da cebola já cortados, meia colherinha da massa de tomate e deixar ferver um pouco, cerca de 1 minuto.
Adicionar o frango, mais 1 chávena de água e a restante ½ colherinha de massa de tomate. Juntar 1 ½ colherinha de óleo.
Deixar ferver, pôr ½ colherinha de sal (para dar outro sabor, para além do caldo Knorr) e deixar ferver mais um pouco. Por fim, colocar o resto da cebola e tomate cortados e o azedo, sem mexer.
Deixar cozer estes últimos ingredientes sem mexer, deixando apenas acamar.
Ao deixar cozer muito bem, golpear 3 piri-piris e juntar para apurar.

Autoras:
- Compilada por Fernanda Carrilho e executada por Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

TOCOSSADO DE PEIXE

Ingredientes:

0.5 Kg de peixe grande / médio fresco (de preferência) às rodelas.
3 tomates grandes bem maduros sem pele e cortados aos pedaços.
1 cebola grande às rodelas.
1 dente de alho grande picadinho.
1 piripiri às rodelas (opcional).
Sal à gosto.
Sumo de 1 limão.
Água suficiente pra cobrir tudo.

Modo de fazer:

Coloca num tacho o peixe já limpo. Por cima, deita os restantes ingredientes exceptuando os 2 últimos.
Leve ao lume brando. Quando o líquido do peixe diminuir um pouco, deita a água e deixa reduzir um pouco sua quantidade. Por fim, adiciona o sumo do limão, mexendo o tacho e pouco depois desliga.
Acompanha-se com arroz de coco.
N.B. - Pode-se substituir por frango, é também saudável e delicioso.

Cedida por Margy

ACHAR DE SOLÃO

Ingredientes:

1 n’sudjo ou kitunga cheio de manga seca (azedo ou ambuche).
2 copos de vinagre.
6 pés de cravinho.
2 colherinhas de cominhos em pó.
2 colherinhas de coentros em pó.
½ colherinha de açafrão.
3 colherinhas de piripiri moído.
2 colherinhas de massa de tomate (para quem queira).
2 cebolas cortadas.
1 alho que chegue para uma colher cheia quando pisado
2 colherinhas de sal.
Óleo que chegue para a quantidade do azedo de manga (mais ou menos 6 conchas).
1 colherinha de açúcar.

Preparação:

De véspera, coloca-se a manga seca numa tigela e deitam-se os 2 copos de vinagre, deixando a demolhar até ao dia seguinte.
No dia seguinte, cortam-se as 2 cebolas e pisam-se muito bem os alhos com o sal. Colocam-se então a cebola dum lado, o alho doutro e todos os temperos juntos.

Execução:

Verte-se o óleo que chegue para todo o azedo numa panela, deixando até ferver. Após ter fervido, retira-se a panela do fogo. Aí, colocam-se todos os temperos e só depois o azedo. No final, deita-se 1 colherinha de açúcar e volta-se a colocar no fogo para misturar tudo e ficar pronto.

*Notas:

- N’sudjo ou kitunga, são kisseros pequenos, ou seja, peneiras feitas tradicionais Mwanes (do Ibo).
- Azedo ou ambuche, é manga seca em Kimwane, língua falada no Ibo.

Autoras:
- Receita compilada por Fernanda Carrilho e feita por sua Mãe, Maria Judith Viegas Rodrigues Carrilho.

ACHAR DE LIMÃO

Achar de limão é feito assim: 

Limãozinho maduro. piri-piri em pó ou fresco vermelho e sal.
Abre-se o limão em quatro com a casca e mete-se o sal e o piri-piri dentro do limão.
Vai-se arrumando num frasco de vidro ou barro... no final deita-se sumo de limão até cobrir o limão todo no frasco... Tapa-se o frasco e põe-se a ao sol durante um ou dois dias para curtir.
O suco de limão fica espesso e esta pronto para servir.
Atenção.... o achar não é caril, portanto serve-se só um  pouco...

- Cedida pela Nady.

LUMINO DE MANDIOCA

Ingredientes:

2 kg de mandioca. 
1/2 litro de leite de coco.
1 cebola.
Peixe, camarão ou frango.
Açafrão.
Manga seca, manga fresca(acida)ou tamarino ou suco de limão.
Sal e piri-piri verde. 
Modo de fazer:

Descascar a mandioca e cozer com um pouco de sal. Não deve ficar mole mas bem cozida.
Cortam-se as tiras não finas e arrumam-se numa panela.
Põe-se o leite de coco e o resto dos ingredientes todos (excepto o peixe ou frango) na panela, leva-se ao lume e vai-se mexendo lentamente ate começar a ferver. (fogo brando).
10 minutos depois da fervura, põem-se as postas de peixe já fritas e tostadas, ou os bocados de frango já cozidos ou o camarão fresco descascado.
Mais 10 minutos de cozedura e o lumino está pronto.
Pode-se acompanhar com um achar de limão.

- Cedida pela Nady.

MATAPA DE ABÓBORA

Cortas as folhas como se fosse pra fazer caldo verde, e pões numa panela com um pouco de água a cozer ( 10 minutos).
Enquanto isso levas leite de amendoim, cebola cortadinha, tomate fresco, sal e malagueta (se houver) e pões a cozer, mexendo sempre com uma colher de pau (se não tiveres colher de pau, tens que mexer com a mão senão, não anima...) rsrsrs brincadeira.
Quando o amendoim começar a engrossar despejas as folhas que já estão quase cozidas.
Deixas apurar mais uns 10 minutos e já esta  pronto.
Podes variar pondo camarão fresco, fica bom. também.

- Cedida por Nady.

FEIJOADA À MODA DO IBO

A base, é galinha e camarão e as quantidades ao gosto, possibilidades de cada um e nº de convivas.
De preferência o feijão e a galinha, devem ser do tipo cafreal, ou seja, pequenos e saborosos. 
No sul de Moçambique, este feijão chama-se "Timbauene".
O feijão coze-se primeiro, de preferência com um chouriço para dar o gosto, mas de carne de vaca ou carneiro!!!
Entretanto, prepara-se o refogado com os temperos: A cebola não deve ser muito picada, o alho só pisado e tudo isto se frita em muito pouco óleo, com tempero de pó de caril (mistura de açafrão indiano, colorau/coentro e cominho). 
Podem pôr-se outros temperos, ao gosto.
Depois do refogado bem cheiroso, deitar a galinha aos pedaços, mexe-se bem para fritar por fora sem deixar cozinhar e depois tapa-se o tacho e deixa-se cozinhar.
Se precisar de liquido, nunca água: ou cerveja ou vinho branco.
Quando a galinha estiver quase cozida, deitar o camarão descascado (eu deixo ficar as cabeças) e o feijão e deixa-se ferver por 5 minutos. Então, mistura-se isto tudo numa lata de leite de coco, deixa-se levantar fervura, mexendo sempre, mas não mais que 5 minutos e está pronto. 
É melhor quando feita de véspera.
Serve-se com arroz branco simples ou de coco, banana frita e ananás grelhado, querendo.

- Receita cedida, gentilmente por São Alves.


Quem é Carlos Lopes Bento 
DADOS PESSOAIS
- Carlos Lopes Bento, nasceu no ano de l933, em  Mouriscas, concelho de Abrantes e reside no Monte de Caparica, concelho de Almada..

FORMAÇÃO ACADÉMICA
- Doutorado em Ciências Sociais –Especialidade: História dos Factos Sociais, em 1994, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo mesmo Instituto e Diplomado com o Curso Superior de Administração Ultramarina pelo antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA
- Em Moçambique, por motivos profissionais, de 1961 até 1974, onde desempenhou funções de chefia e realizou trabalho de campo entre os povos makhwa de Murrupula e Mogincual, makonde de Mueda e mwani das Ilhas de Querimba e Porto Amélia (Pemba).
- Em 1994, defendeu, publicamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas, da Universidade Técnica de Lisboa, a tese de doutoramento “ As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. Situação Colonial, Resistências e Mudança- 1742-1822.
- Docente universitário, desde 1980, nas Universidades Livre e Internacional e no Instituto Superior Politécnico Internacional. Para além da orientação de vários trabalhos finais de licenciatura, leccionou Introdução às Ciências Sociais, Metodologia da Investigação, Antropologia Cultural e Comportamento Organizacional nas licenciaturas de Gestão Turística e Hoteleira e de Gestão Bancária e Seguradora, do Instituto Superior Politécnico Internacional (ISPI).
- Foi director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Hoteleira e Turística, tendo coordenado o Projecto de I&D sobre “Culinária tradicional num processo de mudança, na zona do Pinhal”.
- Presidiu aos Conselhos Pedagógico e Científico do ISPI.
- Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde exerceu cargos de direcção, nas secções de Etnografia, Antropologia e História. Actualmente faz parte da Direcção da mesma, e de vários centros de investigação ligados a África, onde tem apresentado dezenas de Comunicações.
- Investigador em vários projectos de natureza sócio-politica e de desenvolvimento em todo o Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente, "A Reconversão da Pesca Artesanal, entre os rios Tejo e Sado- Aspectos Humanos", comparticipado pela JNICT.
- Participação em muitas dezenas de eventos científicos ligados à temática africana e do turismo.

ÁREAS CIENTÍFICAS DE INTERESSE
Continua a interessar-se pela Antropologia Africana- governação colonial, ritos de passagem, alimentação e contactos de cultura- pela cultura alimentar tradicional, pela cultura organizacional e pelos problemas humanos relacionados com a mudança em comunidades rurais e piscatórias e em organizações empresariais, particularmente, turísticas e hoteleiras

COMUNICAÇÕES E PUBLICAÇÕES 
- 1980 - "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal";
- 1982 - "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento";
- 1984 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado";
- 1986 -  "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica";
- 1986 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais";
- 1987 - "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?";
- 1988 - "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida";
- 1989 - "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala";
- 1990 - “La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo”;
- 1991 -  O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado";
- 1992 - "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972";
- 1997 - "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português";
- 1998 - "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba. Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar";
- 1999 - "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921";
- 2000 - "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos" (Resumo da tese de doutoramento);
- 2000 - “Contactos de Cultura Pós-Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto”;
- 2001 - “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas-Ritos de passagem”;
- 2001 - “Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba- Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar”.
- 2003 - “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança”;
- 2003 -“A possessão em Moçambique- O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)”.
- 2004 - "A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto;
- 2005 - "A Sociedade de Geografia de Lisboa e o Turismo”
- 2007 -  “Um Projecto de Investigação sobre Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e Vale do Tejo. (Breve Notícia.(Meados Do Século XX)”;
- 2008 - “O Novo Código de Posturas da Câmara Municipal de Cabo Delgado, de 1887. Uma Leitura Etnográfica;
- 2009 - “Tecnologias Tradicionais do Mundo Rural, no Ribatejo: O Ciclo do Azeite em Mouriscas (Abrantes), nos meados do Século XX”;
- 2010 - “Os Sakalava de Madagascar em Moçambique. Ataques às Ilhas de Querimba e Terras Firmes Adjacentes e Suas Implicações, entre 1800-1817”;
- 2011 - “As Condições de Trabalho em Moçambique, depois da Abolição da Escravatura. Direitos e Deveres dos Serviçais e Colonos e dos Patrões, em 1880 na Província de Moçambique”;
- 2011 -“A Mestiçagem Biocultural nas Ilhas de Querimba/Moçambique e suas Implicações na Administração Colonial Portuguesa. Achegas para o seu Estudo”;
- 2011 - “Notas sobre algumas das seculares manufaturas  das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado;
- 2013 - “Palestra na Escola Secundária do Cartaxo sobre” Memórias do mundo rural no alto Ribatejo, nos meados do século xx. O ciclo dos cereais: o milho e o trigo, a sua transformação em farinha e o fabrico do pão caseiro, em fornos a lenha”
- 2014 - “Sabores gastronómicos entre os wamwani da ilha do Ibo/Cabo Delgado. Achegas para seu estudo”;
- 2015 -“ Moinhos e Azenhas de Mouriscas. Vivências e Memórias de um jovem moleiro -1944-1949”. A.I.D.I.A., Cadernos Culturais, nº 9, Agosto 2015. 2ª edição. 2017. pp. 57”;
- “Mouriscas. Preservar o seu Património Cultural para Defesa da sua Identidade”. A.I.D.I.A , Cadernos Culturais, nº 10, Novembro 2015, p. 133”;
- 2016 - “Mouriscas, do Passado ao Presente. Artes e Ofícios e seus Titulares(1860-1911) . A.I.D.I.A,  Cadernos Culturais, nº 12, Março 2016, pp 257”;
- 2017 - “Obreiros do Mundo Agrícola de Mouriscas, I e II. Proprietários, Agricultores e Jornaleiros e seus Titulares (1860 e 1911). A.I.D.I.A, Cadernos Culturais, nºs 20, Dezembro 2016, pp. 296 e 21, Março 2017, pp 120”;
- Tem publicados dezenas de artigos sobre as Ilhas de Querimba  em https://foreverpemba.blogspot.com.br/
FESTAS FELIZES 
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4/27/15

GLÓRIA DE SANT´ANA, VISITA A ILHA DO IBO, EM BUSCA DO SABER

Prof. Carlos Lopes Bento


11/14/14

A CONSTRUÇÃO DO FAROLIM DA MUJACA, NA ILHA DO IBO

Prof. Carlos Lopes Bento

A INSTRUÇÃO PÚBLICA NO DISTRITO DE CABO DELGADO, EM 1885, SEGUNDO O SEU GOVERNADOR, MAJOR PEDRO FRANCISCO DE ORNELAS PERRY DA CÂMARA

Carlos Lopes Bento[1]

Pela sua importância para a História de Moçambique e de Portugal, nos tempos que passam, tanta vez esquecida ou negada, pelas novas gerações de ambos os Países, venho lembrar o que o governador Perry da Câmara escreveu, em 1885, sobre o ensino na Vila do IBO:

Uma das necessidades do distrito mais impreterível e inadiável é a instrução, porque sem ela pouco se pode caminhar na senda do progresso.

Desenvolver os melhoramentos materiais, alargar a esfera das atribuições administrativas, dar ao município a autonomia que lhe é inerente, remodelar a organização judiciária, finalmente, acompanhar os progressivos anelos da civilização é realmente muito, se a par de todos estes benefícios nós conseguíssemos, por meio da instrução, educar os espíritos para bem compreenderem todos esses melhoramentos.

Deixar o povo na ignorância é criar um obstáculo permanente á realização de todas essas nobres aspirações, é conservar um desequilíbrio, cuja resultante é a desmoralização nos costumes públicos e particulares, sem que possa pedir-se aos delinquentes a responsabilidade das suas culpas, porque, previamente, se lhes não dera a noção exacta dos seus deveres.

Em 26 de Maio último, propus, em ofício n.° 41, a cedência de uma casa pertencente ao Estado para servir e ser apropriada ao edifício da escola da vila.

As razões que me obrigaram a lançar mão deste alvitre devem ser aqui enumeradas para que todos possam fazer um juízo seguro do precário estado a que tinha chegado a escola régia da sede do governo.

A casa da escola, além de acanhada, não tem nenhuma das condições exigidas para estabelecimentos desta ordem.

Sem ventilação, mal mobilada, pouco asseio, escassa luz, não admira que fosse também mal frequentada.

Na visita que ali fiz verifiquei a pouca concorrência de alunos e, em vista do espectáculo que se me deparava, expliquei imediatamente esse facto pelas condições insalubres do edifício.

Entendi, e não me pesa de o ter entendido, que sem uma casa própria era impossível aumentar a frequência dos alunos, e como era possível com uma despesa relativamente módica obter edifício acomodado ao fim, lembrei e indiquei a aplicação da casa, que tinha em tempo servido de delegação da fazenda, para estabelecimento das aulas.

Esta proposta foi aprovada, obrigando-se a fazenda a fornecer 350$000 réis para as obras necessárias e para compra de mobília adequada.

Fazemos votos para que o ilustre funcionário que nos substituiu compreendendo bem a importância do assunto, tenha concluído esse melhoramento que por proposta nossa foi iniciado.

Já que estamos tratando desta matéria, queremos deixar consignada a nossa opinião sobre este assunto.

Uma das causas ou talvez a única da decadência da instrução nas nossas colónias, é a exiguidade dos ordenados arbitrados aos professores.

Com 25$000 réis mensais é impossível a vida em qualquer das nossas possessões e não se compreende nem se pode esperar que um homem com uma certa ilustração se desloque do seu país e se sujeite aos sacrifícios e amarguras que impem o professorado para receber como recompensa dos seus trabalhos um tão minguado salário.

É preciso aumentar o vencimento dos professores do ultramar e é possível que com o estímulo de uma boa retribuição se ofereçam homens novos, robustos e instruídos para irem levar a luz da ciência àquelas paragens onde as trevas da ignorância são densas e opacas.

40$000 réis mensais não seria vencimento exagerado, e se houvesse uma escolha escrupulosa do pessoal docente enviado da metrópole para as nossas possessões temos a certeza de que se daria um grande passo para a prosperidade delas.

Estas considerações sugeriram-nos outras não menos importantes: a necessidade de enviar missionários para os pontos indicados pelos governadores dos distrito.

Este assunto devia merecer uma atenção especial a todos aqueles que estão encarregados de velar pelo engrandecimento dos nossos domínios coloniais.

O missionário é um dos mais poderosos elementos de civilização de que podemos dispor, se os homens designados por aquele qualificativo correspondessem cabalmente à amplitude das múltiplas funções que lhes incumbem.

A nosso ver a teologia é a ciência mais dispensável naqueles homens.

Entre os gentios as demonstrações à priori da existência de Deus são extemporâneas e inoportunas e achamos que melhor serviço prestariam os missionários, se em vez de noções de alta filosofia eles levassem ideias gerais sobre as ciências que se podem aplicar ás artes e aos ofícios, e que são de uma aplicação prática e proveitosa.

A redenção das almas, para nós, consiste na aquisição das noções exactas dos deveres, quer eles digam respeito ás relações entre o homem e o homem, ou entre o homem e Deus.

No momento em que nos sertões de África aparecessem missionários suficientemente instruídos e decididamente dedicados, que se propusessem a ensinar aos selvagens a significação verdadeira dos objectos que lhes impressionam os sentidos, e lhes inspirassem o amor pelo trabalho, obrigando-os a fazer uso profícuo das matérias primas que numa variedade prodigiosa a natureza por lá derramou a flux; a compreender as relações que ligam entre si os homens para poderem viver em sociedade; a perceber que o direito de propriedade é universalmente reconhecido, e que a fé dos contratos é sagrada; a respeitar a lei e o princípio da autoridade, e as variadíssimas noções gerais que ilustram o espírito dos homens civilizados, nós teríamos facilitado a administração das nossas províncias ultramarinas, teríamos garantida a fidelidade da vassalagem daqueles potentados e teríamos acendido o facho da civilização naqueles vastíssimos domínios, onde impera a ignorância, porque nós não sabemos ou descuramos regenerá-los pelos meios únicos que conhecemos as escolas e as missões.

A extinção dos conventos nas nossas possessões ultramarinas foi, a nosso ver, um gravíssimo erro de administração colonial e bem avisadamente teria procedido o governo, se em vez de destruir completamente àquelas colectividades as tivesse obrigado a aceitar a fiscalização do poder civil que podia aproveitá-las em beneficio comum.

Os conventos eram uma escola prática e teórica de todos os progressos das ciências e das artes, e a disciplina monástica um meio poderoso para o desenvolvimento intelectual dos que procuravam na comunidade a instrução e o bem-estar.

Não é para aqui a discussão da tese de serem as comunidades religiosas um perigo social; mas tem aqui cabimento a sinceridade da nossa opinião que reconhece que com outra organização, os mosteiros seriam, nas nossas possessões ultramarinas, um auxiliar poderoso para o derramamento da instrução e para a boa administração dos distritos.

O frade, pela índole da posição em que se via colocado, já pelo voto, já pela regra da disciplina, tinha condições especiais para exercer o magistério nos vastos sertões africanos, e levar a luz da civilização ao seio de todas as povoações selvagens que estão disseminadas pelo interior dos extensíssimos domínios.

As ruínas, que, ainda hoje, se admiram e os pretos veneram, dos grandiosos mosteiros que eles lá edificaram atestam de sobejo a importância e o excedente que eles souberam adquirir naquelas paragens.

O que levamos dito não, significa que seja desejo nosso a criação de estabelecimentos daquela natureza, o que queremos é consignar desassombradamente a nossa opinião de que em vez de se destruírem, se deveria ter remodelado o modo de ser daquelas colectividades para termos nelas as escolas profissionais em que se educassem os mestres, que por determinação do governo fossem distribuidor pelas povoações do interior, onde ensinassem o que tinham aprendido no internato da clausura.

Vê-se, pois, qual é o nosso pensamento a esse respeito.

O colégio das missões ultramarinas não satisfaz ao fim para que foi criado.

Além dos poucos missionários que produz não lhes dá a educação apropriada e especial de que careciam.

Os pretos não necessitam, somente, da moral evangélica, precisam, ao mesmo tempo, da educação profissional e da instrução, embora fosse superficial, necessária para a harmonia das relações sociais.

Os missionários franceses distinguem-se, por isso, pela variedade da instrução que possuem e pela aptidão que desenvolvem entregando-se ao ensino complexo das ciências, das artes e das profissões.

[1] - Antropólogo e administrador dos concelhos dos Macondes, Ibo e Pemba entre 1967 e 1974. Director Tesoureiro da S.G. Lisboa.

10/17/14

18 de Outubro de 2014 - DIA DA CIDADE DE PEMBA

 56º ANIVERSÁRIO DE PEMBA


4/23/14

MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - OBSERVAÇÕES NA BAÍA DE TUNGUE, NO CABO DELGADO E NO RIO ROVUMA, NO ANO DE 1888. UM BREVE RELATO.


- Lisboa, Carlos Lopes Bento, 16 de Abril de 2014.


  • Outros trabalhos do historiador Carlos Lopes Bento neste blogue.
  • O Dr. Carlos Lopes Bento no Google.

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    1/14/14

    MEMÓRIAS DE CABO DELGADO COLONIAL - NOTAS SOBRE ALGUMAS DAS SECULARES MANUFACTURAS DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO

    - Lisboa, Carlos Lopes Bento, 13 de Janeiro de 2014. Em memória e com saudade, a minha querida Esposa Maria Augusta, que Deus chamou deste Mundo faz hoje 13 meses.
    • Outros trabalhos do historiador Carlos Lopes Bento neste blogue
    • O Dr. Carlos Lopes Bento no Google.
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    10/18/13

    18 de Outubro - DIA DA CIDADE DE PEMBA

    ''Extr. da publicação PEMBA, SUA GENTE, MITOS E A HISTÓRIA-1850 a 1960, de Luis Alvarinho, que também se baseou em documentação do Arquivo Hist. de Moçambique, B.O. e Boletim da C. do Niassa, entre outros:

    - O embrião que veio dar origem à actual cidade de Pemba, data de 1857, como parcela da Colónia 8 de Dezembro, fundada por Jerónimo Romero e dissolvida 5 anos depois por diversos problemas de organização e adaptação dos colonos
    • - Porto Amélia ascende a vila por portaria de 19 de Dezembro de 1934.
    • - É elevada à categoria de cidade em 1958 pelo decreto-lei de 18 de Outubro-G.G. da Província.''
    PEMBA DE ONTEM E DE HOJE
    Por Carlos Lopes Bento para o ForEver PEMBA
     
    Ao comemorar-se mais um aniversário da elevação de Pemba a cidade, aproveito a ocasião para saudar todos os seus habitantes e respectivas autoridades e visualizar algumas imagens do meu Album, que lembram um pouco da História recente desta bela urbe, do norte de Moçambique.
     



    Para a cidade de Pemba e suas Gentes votos de um futuro próspero e pacífico.
    - Portugal, Lisboa, 18 de Outubro de 2009, Carlos Lopes Bento.
    Dia da Cidade de PEMBA
    LEMBRANDO A CIDADE DE PORTO AMÉLIA/PEMBA E A POETISA GLÓRIA DE SANT’ANA
    Pemba - Wikipédia
    =======================================

    E O HOJE DE PEMBA, em 18 de Outubro de 2013:
    Aniversário de uma cidade surpreendida! - Noticias OnLine - (Na ótica de Pedro Nacuo)

    """A situação com que a cidade de Pemba é obrigada a coabitar não estava nas previsões de quase todos urbanistas, gestores públicos, incluindo os actores das diferentes áreas político-sociais, cultural e económico, razão porque hoje não é exagero dizer que esta cidade, aos 55 anos de idade, sente-se positivamente surpreendida com cada vez maior demanda, visando satisfazer os apetites que o desenvolvimento económico, por via das descobertas dos recursos naturais, mais a Norte, impõe.

    Mesmo localizando-se há cerca de 500 quilómetros de Palma, o epicentro das descobertas de hidrocarbonetos, principalmente o gás, a cidade de Pemba, vive no seu dia-a-dia, o frenesim que uma indústria desse quilate exige, por conta do facto de, até aqui, ser a principal base logística de todas as operações das multinacionais em actividade, tanto em terra como no alto-mar.

    Tagir Ássimo Carimo, presidente do Conselho Municipal de Pemba, eleito intervalarmente e que pretende concorrer para as eleições autárquicas do próximo mês, diz que a comemoração dos 55 anos, sobretudo por esta razão, deve servir de momento de reflexão do que será a capital de Cabo Delgado nos próximos 10 a 15 anos.

    “As soluções não devem ser encontradas hoje, é o que costumo dizer aos meus colegas, mas deviam tê-lo sido Ontem. Estamos perante evidências às quais devemos simplesmente corresponder, para não defraudarmos as expectativas” diz.

    Ainda que se fale da criação de condições logísticas em Palma, incluindo um porto, nada indica que a cidade de Pemba possa vir a ser dispensada a favor do eventual recurso àquele ou outros locais desta província.

    Pemba tem um porto marítimo com capacidade de manuseamento de carga de 200.000 toneladas/ano, um aeródromo com ligações directas para Nairobi, Dar-es-Salaam e Joanesburgo e aqui operam cinco bancos e duas agências de crédito.

    A baía de Pemba, poderá continuar por muito tempo ainda, a atrair turistas, pois para além de acolher um dos melhores portos da África Austral, oferecendo um amplo ancoradouro que pode ser demandado a qualquer hora, as suas águas são cristalinas sem par, tornando-se num chamariz para os diferentes apetites turísticos de quem vem das outras latitudes.

    Ela mede cerca de 10 quilómetros no sentido Norte-Sul e cerca de 11.5 quilómetros Este-Oeste e tem na parte terrestre espaço que hoje é ocupado por 10 bairros e duas unidades residenciais, habitados por 141.316 habitantes, se tivermos fé nos dados do último censo populacional.

    Tranquila, como lhe é tradicional, a cidade de Pemba tem encontrado dificuldades de os seus habitantes abraçarem as oportunidades que se oferecem, decorrentes das anteriormente propaladas descobertas dos recursos naturais, mais a Norte da província, justamente porque os seus habitantes ficaram literalmente surpreendidos, mesmo na formação dos seus residentes.

    As contas que se fazem actualmente, falam numa força de trabalho de 77.668 pessoas, das quais 42.9% são mulheres, e 57,1% de homens e desse total, 72.5% são empregados e 25% sem emprego, uma carga a não menosprezar, tendo em conta que depois vão engrossar o sector informal, que representa 31,9%, para depois a agricultura e pesca ficar com 19.8 porcento.

    É dentro deste quadro que passam os 55 anos de elevação de categoria de cidade, da antiga Porto Amélia, o que ocorreu a 18 de Outubro de 1958 e a edilidade em jeito de balanco, acha que tudo o que foi planificado, à luz do manifesto eleitoral, está a ser realizado, sendo que maior parte foi concluído.

    UMA PEQUENA PONTE QUE MARCOU…
    O bairro Josina Machel, mas que os populares chamam-no Noviane, nasceu da teimosia dos pembenses face aos rigores de ordenação territorial que eram impostos, que obrigavam que algumas zonas consideradas inóspitas ou reserva de Estado não fossem ocupadas.

    A teimosia levou a que, à forca, os citadinos residentes noutros bairros invadissem tais zonas, onde avulta o Chibuabuari e Noviane (Josina Machel), permanentemente alagadiços, íngremes e apertadíssimos. A edilidade, depois que Assubugy Meagy, que foi o primeiro presidente eleito para o município de Pemba, deu lugar a Agostinho Ntauale, cedeu completamente, tendo, inclusive, a autorização da sua ocupação sido um cavalo-de-batalha para as eleições que conduziram este último ao cargo.

    Os ocupantes, porém, vinham das suas casas, noutros bairros, onde deixavam novos inquilinos, no advento da “febre” de aluguer de casas para diferentes fins, incluindo, aqueles resultantes do nascimento de muitos serviços na cidade e universidades que chamaram a Pemba, estudantes e docentes que antes não viviam nesta autarquia.

    Consumada a ocupação, nada mais restava ao município, do que assistir a um rápido e crescente avolumar de necessidades a satisfazer para os munícipes ali residentes, desde o abastecimento de água, energia eléctrica e outras facilidades, já em pé de igualdade com aqueles que, tendo entendido a medida proibitiva, não quiseram desafiar a autoridade municipal.

    Na verdade, tanto Noviane (Josina Machel) quanto Chibuabuari, pertencem ao bairro de Cariacó, razão porque passou a ostentar o estatuto de mais populoso, mais de 47.000 habitantes, suplantando Natite, que até fins da década 90, era o que mais pessoas acomodava.

    Nessa sua nova qualidade, Noviane enfrentava, entretanto, um dilema, de travessia de um riacho no seu interior que se havia transformado no maior entrave para que os seus residentes não fizessem a sua vida normalmente. Passou a ser a lamentação de primeiro plano, sempre que alguém das estruturas provinciais ou municipais reunisse com a população daquela área residencial, até que Tagir Ássimo Carimo, toma as rédeas da municipalidade.

    No conjunto de infraestruturas e estradas urbanas concluídas, consta, pois a ponte que liga os bairros de Cariacó e a Unidade Josina Machel, inaugurada com pompa que a ansiedade justificava, no dia 20 de Setembro deste ano.

    Foram igualmente construídos, no resto da cidade, os mercados dos bairros de Muxara, Mahate e Ingonane, já entregues às estruturas locais para a sua operacionalização, o mesmo que aconteceu em relação às sedes administrativas de Mahate e Maringanha.

    Mas ainda há infra-estruturas em construção, nomeadamente, a sede administrativa do bairro de Paquitequete, do posto de saúde do bairro de Alto-Gingone e da Escola Secundária de Amizade Sino-moçambicana, nesta mesma zona habitacional.

    Está, por outro lado, em construção uma estrada de terra batida, considerada via rápida, de 5 quilómetros, partindo dos escritórios da ANE (Administração Nacional de Estradas) ao bairro de Chiuba, bem assim foi iniciada a pavimentação em pedra argamassada a rua CI 034.

    A LINGUAGEM DAS RECEITAS E A SUA APLICAÇÃO
    O nosso jornal teve acesso aos balancetes que se referem às receitas do município, onde deparou com o facto de que houve uma auto responsabilização de colectar 55.525.720,00 MT, pelo menos até Junho do corrente ano, do que resultou um sobre cumprimento em 14%, pois a colecta foi de 62.898,341,95 Meticais.

    O fundo de Investimento de Iniciativa Autárquica foi executado em 73 porcento, o de compensação em 71, de estradas em 46 porcento, de combate à pobreza em 99 porcento e do Programa de Desenvolvimento Autárquico,em 64 porcento.

    Está-se, com as baixas no fundo de estradas e PDA, perante um grau de cumprimento fixado nos 83 porcento. Especificamente, no que toca ao fundo de redução da pobreza urbana, o município de Pemba, nestes últimos dois anos, recebeu um financiamento no valor de 18.799.948, 21 Meticais, designadamente, para 269 projectos, em 2012 e 201, no presente ano, abrangendo ao todo 469 munícipes, dos quais, 326 homens e 144 mulheres. Os reembolsos dos valores inscritos no fundo de redução da pobreza urbana, situa-se em 52 porcento.

    Desde 2011, os 253 projectos financiados, na agricultura, comércio, pecuária, pequena indústria, prestação de serviços, turismo, pesca, entre outras actividades económicas, beneficiando a  182 homens, 71 mulheres(adultos), 61 jovens e 4 associações,  criaram 396 postos de trabalho.

    A CAPULANA VEIO COLORIR MAIS A FESTA DA CIDADE
    Havia  pouca crença numa festa visível, por ocasião da passagem dos 55 anos da cidade de Pemba, provavelmente, devido ao facto de tudo estar a ser feito em preparação do pleito que a 20 de Novembro próximo, vai chamar os cidadãos para se pronunciarem à boca das urnas sobre o seu destino, escolhendo quem lhes pode dirigir nos próximos cinco anos.

    Por outro lado, a preparação da festa esteve fechada no edifício do município e nas sedes administrativas dos bairros, criando um vão a meio, que deixou cidadãos não informados sobre o que iria acontecer desta vez, no dia de Pemba.

    Afinal, havia um programa, o que vai ser cumprido por esta ocasião, que não foge muito ao habitual, no que toca à parte oficial da comemoração, mas cheio de muito entretenimento e desporto, como seja, torneios de vólei de praia, canoagem, feira de artesanato, de Gastronomia, espectáculos musicais com artistas locais, entre outras actividades.

    Cada um dos 10 bairros de Pemba, terá uma oportunidade de subir ao palco e apresentar o que terá preparado em termos culturais e recreativos por ocasião dos 55- aniversário da cidade.

    Porém, o facto de se ter escolhido a cidade de Pemba, como o palco do festival internacional da Capulana, veio dar outro alento à festa de Pemba, que se preparou para participar e ganhar, conforme afiança Tagir Carimo.

    “ Nós vamos participar com um desfile fabuloso. Tivemos nos bairros 12 equipas de inscrição de participantes. É verdade que somos apenas hospedeiros do festival, pois não somos os organizadores, mas não queremos deixar os nossos créditos em mãos alheias” assegura o presidente do município de Pemba.

    Para a fonte, não há nada a inventar, se bem que a capulana é a forma comumente usada pelas mulheres da baia de Pemba, razão porque não vê a dificuldade de se atingir o número de 15.000 mulheres trajadas de capulana, que se prevê no desfile que fará o festival.

    “ Se só o bairro de Cariacó sair com as suas mulheres de capulana, sem falar dos outros, atingiremos o recorde”."""

    Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA". Atualização em Outubro de 2013. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

    8/24/13

    Uma figura da História da Ilha e Vila do Ibo: JACOB MAMUDO (Bob)

    Jacob Mamudo (Bob), há relativamente pouco tempo falecido (24 de Agosto de 2009), é ilustre filho e parte da história da Ilha do Ibo.
    Até 1974, foi membro da Comissão Municipal local à qual prestou colaboração efectiva.
    Amigo da terra que o viu nascer, respondeu sempre com prontidão e desinteressadamente, a todos os pedidos de ajuda feitos à época colonial pelas autoridades constituidas no concelho.
    Para o recordar-mos, ficam aqui algumas imagens que consideramos documentos para a história da também histórica Ilha do Ibo e de Moçambique:
    1970 - Visita de dois estudiosos, drs. Pierre Verin (francês) e Amaro Monteiro, antropólogos, linguístas, professores, pesquisadores da civilização malgaxe e de outras ilhas do Índico à Ilha Quisiva. Esta viagem de estudo acompanhada pelo Dr. Carlos Lopes Bento, administrador do Concelho do Ibo, só foi possível graças ao apoio logístico de Jacob Mamudo (Bob) também na foto.
     
    Entrevista de Jacob Mamudo (imagem acima), vogal da Comissão Municipal do Ibo, concedida a 13 de Setembro de 1963 ao correspondente do jornal "Diário de Lourenço Marques" em Cabo Delgado, Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, em consequência da ida de uma representação de Cabo Delgado a Lisboa, recebida pelo Dr. Oliveira Salazar.
    A leitura do conteúdo da entrevista mostra calramente a dimensão e sentido da Pátria Portuguesa de então em relação às suas colónias.
    (Clique nas imagens acima para ampliar)

    Representação da Vila do Ibo, a Lisboa, em 1963 - Na foto está o Jacob Mamudo (Bob) com o estandarte da Vila do Ibo, entre outros participantes da representação de Cabo Delgado.

    Histórico  de JACOB MAMUDO mais conhecido por BOB:
    - Filiacao: Mamudo Agy Jacob e Luisa Zamith.
    - Nasceu em 11/05/1927 na histórica vila do Ibo.

    Desde 1959 que esteve a testa da firma comercial fundada no Ibo pelo seu pai em 1919, “Flor do Ibo” de Mamudo Agy Jacob.

    Bob jogou a bola pelo Clube Desportivo do Ibo e  a sua actividade comercial incluia a venda de produtos alimentares, representações e agenciamentos de transportes maritimos (Companhia Nacional de Navegação), aéreos (Comag e TTA), banca (BNU - actual CGD), açucareira (Sena Sugar Estates) e também se dedicava à venda de peixe seco, percorria semanalmente, por terra e mar, centenas de quilometros desde o Ibo até Nampula.

    Em 1975 mudou-se e transferiu a firma para Pemba, desta vez com maior destaque para venda, representação e distribuição de material de pesca (Equipesca), oleo alimentar e sabão (Companhia Industrial do Monapo) e açucar (Distribuidora Nacional do Açucar).

    Devido a sua saude, encerra as actividades comerciais em 2006 e muda-se para Maputo, onde vivem sua filha, irmãs, cunhado e sobrinhos e pode ter melhor assistencia médica. Nesta altura a firma “Flor do Ibo de Mamudo Agy Jacob, Sucessor” devia ser a mais antiga firma comercial Moçambicana no norte ainda em actividade (87 anos).

    Entre finais dos anos 80 e principio de 90, Bob e outros conterraneos seus nomeadamente Ernesto Silva (Simba), Candido Manuel Inacio (Kesso), Mussa Alimomade (Magaga), Leopoldino Costa e Jordãp Soares (Joda) todos já falecidos, e Issa Tarmamade  fundam a Associação dos Amigos da Ilha do Ibo (AAIIBO), cujo maior objectivo era de promover e tentar encontrar ou criar oportunidades que possibilitassem o renascer da esperança de desenvolvimento da Ilha do Ibo e neste caso concreto tiveram sempre o apoio dos srs. Antonio Simbine, Governador da Provincia de Cabo Delgado nessa altura e de Magido Ali, então Director da Industria Comercio e Turismo.

    Também já se voltava a celebrar o “São Joao Baptista” no Ibo, 24 de Junho, anualmente, e realizavam-se excursões a partir de Pemba.

    Anos mais tarde com a nomeação de Jose Pacheco (actual Ministro do Interior de Mocambique) para Governador de Cabo Delgado, a questão do Ibo voltou a ganhar interesse, tendo havido vários encontros entre o Governador Jose Pacheco e Jacob Mamudo para troca de ideias e impressões.

    Hoje com os meios de comunicacão e de transportes existentes, ja estão criadas as bases para tornar o Ibo num destino turistico. O Ibo ja não dorme mais.

    Em Julho e agosto de 2007, vai pela ultima vez à Europa, Inglaterra visitar o filho, nora e netos e Portugal visitar a filha e netos e tratamentos médicos.

    Nessa viagem a Portugal teve o desejo de rever  amigos seus, elaborou uma lista da qual constavam os nomes de Carlos Bento, Carlos Soares, Rosario Dias, Barreira de Sousa e outros que não me lembro.

    Infelizmente devido ao seu estado de saude nao concretizou esse desejo.