A apresentar mensagens correspondentes à consulta Quirimbas ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Quirimbas ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens

4/03/14

Histórias sem tempo...


Posted by Hello...Ou Histórias de África !
Por Maria de Lourdes Sant’Anna
A.A. Nº 278/36
Uma vez que vou contar algumas das histórias que vivi nos anos 57/58 em Cabo Delgado, parece-me que devo começar por caracterizar a região em causa.

A província de Cabo Delgado situa-se no extremo nordeste da República de Moçambique, com uma densidade populacional de vários milhares de habitantes cujas etnias representativas são as macondes, macuas e mwani.

Com uma superfície de 82.625 km², que inclui 4.758 km² de águas interiores, é limitada a norte pelo rio Rovuma, a sul pelo rio Lúrio e a oeste pelo rio Lugenda. O Oceano Índico banha o litoral leste, uma extensão de aprox. 425 km.

A vegetação característica é de florestas de mangais, junto dos rios e do mar, de planícies e savanas com árvores de pequeno e médio porte mas com predominância de embondeiros, além das matas e das florestas.

Existe ainda a norte do Cabo Delgado um arquipélago de 31 ilhas e ilhéus, o arquipélago das Quirimbas, que inclui, entre outras, a ilha do Ibo. (Por curiosidade direi que as mulheres do Ibo são conhecidas pelas sua beleza, com um tom de pele castanho dourado e grandes e alongados olhos verdes).

Aos que entram por mar em Porto Amélia, depara-se um espectáculo inesquecível: a baía de Pemba.

Considerada como a terceira do mundo em grandeza, com cerca de 15 quilómetros de amplitude, dizia-se que “podia dar abrigo a uma esquadra naval inteira”. E que, sendo também uma das mais profundas, num dos seus recessos, o “poço”, viviam tubarões de mais de 6 metros, jamantos com uma envergadura de cerca de 4 metros e garoupas de centenas de quilos.

Foi em 1897 que a companhia colonial determinou ao Capitão José Augusto Soares da Costa Coleral que procedesse à implantação de um povoada na baía de Pemba, que era assim que as povoações nomeavam a região.

O comércio que se fazia nas margens da baía desenvolveu-se imenso, tanto com as populações locais como com as caravanas que vinham do interior. E os pedidos de arrendamento e de aforamento de talhões começaram logo a seguir ao traçado da região, enquanto que a região de “Pampira”, junto do posto militar construído em 1897, passou a denominar-se Porto Amélia, em homenagem à última rainha de Portugal.

Com a nossa chegada em janeiro de 57, os habitantes não crioulos, africanos ou mestiços atingiram o número de 502. E foi nessa região que vivemos cerca de dois anos.

Além do lado fortemente positivo em relação a paisagens deslumbrantes, ao grande relacionamento humano, devo dizer também que havias aspectos fortemente negativos. Infelizmente o polo negativo levou-nos a deixar Porto Amélia e a ir para o Dondo (Beira).

Como já disse a baía de Pemba surpreendia pela sua enorme beleza. Em linhas gerais, na margem esquerda erguia-se a cidade baixa, com a ponte-cais, a capitania do Porto, o posto meteorológico, o comércio, as empresas, o consulado (alemão), o único banco e também a única pensão, além de três creches e de um cinema.

Na parte alta da cidade, erguia-se o bairro residencial, o hospital, a igreja paroquial e mais adiante o quartel e depois dele o campo de aviação.

Havia apenas uma única estrada alcatroada, a ligar a baixa com a alta, e cá em cima as ruas eram todas de terra batida, dum vermelho que o vento levantava e manchava tudo de um pó grosseiro.

Mas a par da terra, vermelha que o vento levantava, havia o outro vermelho/róseo, que surgia por vezes quando o sol ia a caminho do poente, tingindo a atmosfera de tons rosados a envolver suavemente árvores, a nós próprios, numa imagem de irrealidade, como se de um sortilégio se tratasse.

Disseram-se ser um fenómeno pouco frequente mas normal em paisagens equatoriais.

E era um livro surpreendente, aquele cujas páginas eu ía lendo num dia a dia cheio de expectativas.

Também a ponte-cais era local de reunião, não só para os pescadores à linha, mas também para nós, os outros que ali apareciam não só para confraternizar mas também para apreciar a beleza das trovoadas que, do outro lado da baía iam riscando os céus com as faíscas que aos zigue-zages, entrecruzando-se, se lançavam vertiginosamente no mar entre os tons exaltados de todas as cores do arco-iris, numa beleza sem limites.

O fundo do grande círculo da baía de Pemba descia da escarpa alta, que a dominava, até ao mar, numa cerrada floresta de verdes. E no dizer dos nativos que não se aventuravam lá, aquela era a região das jibóias e dos leões.

Pois havia uma história que se prendia com aquela teimosa região. Uma criança de três anos, residente numa machamba, situada na “zona possível” antes da floresta das jibóias e dos leões, iludindo o “pequenito” cuja missão era brincar com ele, desapareceu uma tarde.

Da cidade vieram todos os transportes disponíveis e, ao entardecer, as lanternas foram-se acendendo à medida que todos se internavam mais na floresta. E foi já tarde de noite que se encontrou a criança, a uns três quilómetros dentro da floresta, a dormir serenamente encostada a uma árvore.

Quase impossível de acreditar, mas assim aconteceu.

A primeira vez que por convite dum residente entrámos numa “zona de caça grossa”, num minúsculo Volkswagen que era o carro utilitário usado, tivemos a sorte de encontrar um majestoso leão.

O nosso carro havia parado, pois o dono, que era caçador experimentado, pelo abanar do capim alto percebeu que seria um dos tais animais que ele gostaria que nós, recém-chegados, apreciássemos em pleno mato, além das dezenas de macacos que, pendurados nas árvores, nos espreitavam guinchando.

O desejo do nosso amável anfitrião cumpriu-se, pois, pouco depois, a monstruosa cabeça dum leão surgiu ali, a cerca de dois metros de nós. É de facto uma sensação de tanto medo, que não se pode descrever, apenas sentir.

O animal olhou para um lado e para o outro (onde nós estávamos, eu completamente muda e paralisada) e internou-se de novo no capim alto para surgir mais adiante, atravessar a estrada num passo lento, embrenhando-se de novo no capim.

À medida que prosseguíamos, começaram a aparecer africanos que caminhavam sempre no meio da estrada. Todos eles levavam levantado, ao ombro, um alto e grosso pau em cuja ponta balançava um pequeno saco branco, enquanto que, com a outra mão, seguravam na cabeça uma lanterna de querosene, acesa, que, na tarde que caía, espalhava uma luz leitosa.

(Foi-nos dito que, em regra, o leão só ataca quando tem fome e as suas zonas de caça não são nas proximidades das estradas. No entanto, o leão, já velho, pode esperar as mulheres que vão buscar água, longe da aldeia, ou viajantes que, por necessidade, se afoitem noite dentro longe das suas cubatas).

Pois a lanterna que aqueles que íamos encontrando levavam à cabeça seria então para afugentar as hienas que, traiçoeiras, não atacam as pessoas de frente e que, seguindo-as, não se atrevem a investir contra aqueles que lhes parecem mais altos. Portanto, a lanterna, além da luz que projectava, era também uma defesa contra esses animais.

Lembro-me que, quando fomos visitar as quedas de água do rio Lúrio, descemos por uma vereda até lá abaixo, onde o rio era mais estreito e havia uma pequena língua de areia. Sentados num dos rochedos existentes já no rio, reparámos num africano que o atravessava a nado, levando numa da mãos erguida acima da cabeça um tronco a arder.

Quando chegou perto de nós, perguntámos-lhe se ali havia crocodilos. Que sim, que de manhã tinham visto um muito grande a apanhar sol. Já na areia, a nossa pergunta se não tinha tido medo quando atravessara o rio, a resposta simples surpreendeu-nos a todos: “Patrão, quando Deus quer...”

Numa das caçadas onde participei fomos até uma lângoa (área pantanosa, com bancos de nevoeiro) de cerca de 40 quilómetros de diâmetro. Levávamos dois pisteiros africanos, bem conhecedores da zona, que, porém, daquela vez se perderam devido ao denso nevoeiro que nos envolvia. Andámos por ali às voltas mais de duas horas e caça, nem uma peça se via. No entanto, pelos excrementos que, por vezes, o nevoeiro deixava ver, compreendi que, pelo menos, búfalos e outros animais de grande porte poderiam ser encontrados.

Dentre as várias caçadas em que participámos apenas como “mais dois”, uma ficou na minha lembrança.

Saíramos da cidade já de noite a caminho duma pequena lagoa onde, de madrugada, os animais iam beber. E durante a viagem, os caçadores lá atrás “repartiam” entre si a caça que poderiam adivinhar por entre a vegetação: olhos verdes pertenceriam a gazelas, a antílopes, a palaves, a leopardos, etc. Mas olhos vermelhos, esses seriam sempre de leão.

Quando surgiu um par de olhos fosforescentes, bem vermelhos, desceu da carrinha o caçador ao qual cabia aquela peça. O silêncio era impressionante, mesmo aterrador. Guiado apenas pelo próprio foco preso à cabeça, o caçador breve se afastou para reaparecer pouco tempo depois em corrida desordenada, gritando “talaco”, “talaco” (nome dado pelos nativos às formigas carnívoras que se deslocam em grossas e espessas colunas de milhões destes insectos e que destrói tudo por onde passa). Mas embora tenha dito que havia pisado a coluna, não se lhe encontrou uma única formiga. Ainda hoje mantenho as minhas dúvidas sobre a realidade deste encontro...

Mais para a madrugada surgiu então o local procurado. E não tenho adjectivos suficientemente convincentes que possam demonstrar o que vi.

Os animais erguiam-se numa frente única, num magnífico conjunto a sobressair do branco leitoso que o sol ia tingindo de tons rosados. Eram cerca de 14 palaves, que bebiam tranquilamente, enquanto o mais alto e mais forte que atento vigiava em breve deu pela nossa presença. E logo aquele nobre animal levou a manada em carreiras desordenadas e voltou atrás para enfrentar os caçadores de armas apontadas.

E fecho mais uma série de “Histórias de África” com a partida de que, para não fugir à regra, fomos alvos pouco depois de chegarmos.

Em terras pequenas, alguns caçadores gostavam de pregar partidas aos crédulos recém-chegados. E foi assim que, durante várias horas, entre cafés e whiskies pudemos ouvir histórias de caçadas cada vez mais empolgantes, cada vez a deixar-nos – porque não dizer? – mais encantados.

Claro, o herói era sempre um, ele , o nosso contador. Mas como se tratava dum caçador profissional bem conhecido pela sua grande coragem e valentia, depressa se esqueciam as partidas que adorava pregar aos novatos que chegavam de longe, prontos a acreditar em tudo sobre a vida do mato, que aliás ouviam com agrado.

Voltarei a contar mais “Histórias de África”. Em 13 anos de vivências por terras africanas, muitas foram as histórias acontecidas e que ficaram registadas no grande livro das nossas memórias, umas boas, outras más...
In: http://www.aaaio.pt/public/ioand096.htm

12/18/12

OS ELEFANTES DE MAREJA - QUIRIMBAS desejam FELIZ NATAL ao mundo...

Se VOCÊ se importa, ajude a acabar com o massacre dos elefantes em MAREJA-QUIRIMBAS - Assine a petição (http://is.gd/2bl0B1) e divulgue.
Uma reportagem publicada no Jornal @Verdade no final de Outubro de 2012, põe a descoberto a caça ilegal de elefantes na Reserva de Mareja, situada em Cabo Delgado, na região Norte de Moçambique. Segundo o artigo, o “massacre” é perpetrado por grupos de caçadores furtivos “sofisticadamente armados” e “tem vindo a ganhar proporções gigantescas”...
ForEVER PEMBA - O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS - Partes 1 e 2
Clique nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Dezembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos

12/03/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS - Parte 2

Ajude a acabar com o massacre dos elefantes em MAREJA-QUIRIMBAS - Assine a petição (http://is.gd/2bl0B1)

In GlobalVoices - Português - Postado em 19 Novembro, 2012 16:06 GMT  (transcrição)
Caça Furtiva de Elefantes em Moçambique

Uma reportagem publicada no Jornal @Verdade no final de Outubro de 2012, põe a descoberto a caça ilegal de elefantes na Reserva de Mareja, situada em Cabo Delgado, na região Norte de Moçambique.

Segundo o artigo, o “massacre” é perpetrado por grupos de caçadores furtivos “sofisticadamente armados” e “tem vindo a ganhar proporções gigantescas”:

""Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.""

São frequentemente ouvidos ruídos de tiros e depois avistados helicópteros ou aeronaves a sobrevoar a reserva. Estes servirão para carregar as pontas de marfim roubadas aos animais em vias de extinção, e assim dar continuidade ao tráfico de um produto que “atinge preços exorbitantes no mercado negro”, e é exportado para países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.
(Imagem daqui)

Um comentário deixado ao artigo por Conor Christie através do Facebook acrescenta:

""Trabalhei um pouco na coutada 4 na provincia de Manica e quando lá, fomos avisados que os caçadores vêm das zonas da Beira e vêm BEM EQUIPADOS. Nós tinhamos o equivalente a dois guardas das Quirimbas, e fomos avisados para não confrontar os elementos. As pessoas que têm acesso a esse tipo de armamentos não são os camponeses. Quando lá, sabíamos que caçadores furtivos alugavam AK47 (AKM) do comando ai do Save. Comprávamos balas por mil Meticais [$33 USD] cada, indicando que o acesso às armas é fácil. Na minha opinião, as pessoas atrás dessas mortes nas Quirimbas são pessoas com patencia [sic].""

Outra leitora do jornal, Kita Chilaule, expressou a sua indignação:

""Não acredito que não hajam formas de travar estes caçadores furtivos. Penso que eles não são um numero superior aos guardas mas sim têm a protecção do governo local ate porque esta claro que existe aqui uma cumplicidade e corrupção. O lamentável é a destruição do património do ecoturismo desta zona.""

E continua:

""Esses caçadores a maioria são estrangeiros não podem ter poder de acção mais que os nacionais. Peço a quem é de direito para travar esta pratica degradante de fauna bravia.""

Inserida no Parque Nacional das Quirimbas, que ocupa uma área de aproximadamente 7.506 quilómetros quadrados, a Reserva da Mareja é vigiada por um grupo de 10 guardas florestais precariamente equipados para fazerem frente à caça furtiva. No website da Associação de Camponeses de Mareja está em curso uma campanha de consciencialização e angariação de fundos para fortalecerem o trabalho de protecção dos elefantes.
(O vídeo acima é de Dominik Beissel; mais filmagens dos elefantes no seu habitat natural aqui.)

No seguimento da notícia publicada pelo Jornal @Verdade, foi criada uma petição no site Avaaz:

""Solicita-se a atenção do mundo que preza a sustentabilidade ecológica e a vida nas florestas, assim como do GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, para que providências sejam tomadas de forma a acabar com o extermínio dos elefantes em Moçambique.""

“Conflito Homem-Elefante”

Já desde 2006 que o autor do blog Forever Pemba tem reportado sobre conflitos relacionados com a fauna bravia, e em especial os elefantes, naquela região:

""Nos últimos tempos, os animais, principalmente elefantes, matam pessoas, criando insegurança nas comunidades, assim como se lhes acusa de fomentarem, com macacos e porcos selvagens, a fome, ao destruírem parcial ou completamente as culturas.""

Criticando a implementação de algumas das “medidas de estancamento” da “destruição” causada pelos animais promovidas pelas autoridades locais, tais como a formação de caçadores comunitários, o blog analisa uma notícia publicada no jornal Notícias em 2007:
(Imagem daqui)

""Em resumo e lendo o texto, entende-se que, as autoridades responsáveis em Cabo Delgado, depois de apresentarem os elefantes e outros animais como inimigos perigosos para o ser humano, agirão, como afirmam com um tom beatificante, quase piedoso, para não dizer cínico.""

O website da WWF-Moçambique indica que em 1999 a Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DNFFB) do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural publicou a Estratégia Nacional de Gestão de Elefantes em Moçambique, com a definição de metas para a conservação da população de cerca de 18.000 elefantes africanos que existem no país.

No entanto, a aplicação da convenção, segundo um relatório de Setembro de 2012, tem-se mostrado deficitária.

- Escrito por Sara Moreira - GlobalVoices em 19NOV2012


Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do GlobalVOICES - Português, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Novembro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

11/09/12

O massacre dos elefantes em MAREJA - QUIRIMBAS

Transcrição de @Verdade - A FACE AMARGA DA RESERVA DE MAREJA

Escrito por Hélder Xavier   
Quinta, 25 Outubro 2012 15:28
Com apenas duas armas de fogo manuais e seis munições, um grupo de 10 guardas florestais vive uma cruzada solitária para proteger os elefantes de um massacre sem precedentes, protagonizado por caçadores furtivos forte e sofisticadamente armados na Reserva de Mareja, no Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado. Todas as semanas, pelo menos, dois animais são abatidos, dos quais são retiradas as pontas de marfim, que são posteriormente vendidas no mercado negro. A batalha acontece aos olhos das autoridades governamentais e policiais locais que, por conforto e cumplicidade, não agem.

A sensivelmente duas horas e meia da capital provincial de Cabo Delgado, cidade de Pemba, localiza-se Mareja, um projecto ecoturístico de conservação e gestão de recursos naturais dentro do Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) desenvolvido pelo alemão Dominik Beissel e abraçado pela comunidade local.

A região é isolada, sobretudo na época chuvosa, e a população leva uma vida recatada. O quotidiano é monótono, até porque a energia eléctrica e a água canalizada ainda não chegaram àquela localidade. Apesar disso, os habitantes, que sobrevivem exclusivamente da agricultura, continuam a viver normalmente, além de se mostrarem hospitaleiros em relação aos visitantes.

Quando se caminha pela mata adentro, por momentos, temos a sensação de estarmos a entrar numa outra dimensão, por assim dizer. Porém, esporadicamente, o silêncio é interrompido pelos macacos que pulam de galho em galho. A zona é uma reserva e nela é possível encontrar quatro dos “big five”, nomeadamente leões, leopardos, búfalos e elefantes.

O lugar é (aparentemente) tranquilo e bonito. Mas a tranquilidade e a exuberância do local não escondem uma actividade que tem vindo a ganhar proporções gigantescas nos últimos dias no interior daquela reserva, em particular, e do parque, em geral: o massacre de elefantes. Os ossos espalhados ao longo do caminho que leva até a Mareja denunciam a prática da caça ilegal.

Quase todas as semanas, pelo menos dois animais são abatidos pelos caçadores furtivos fortemente armados. No passado mês de Agosto, dois elefantes foram mortos e, em Setembro, quatro. “Nestes dois meses, foram abatidos oito elefantes nesta reserva e o número tem vindo a crescer. Em 2011, no mesmo período, registámos mais de 10 casos”, informou um dos guardas florestais do parque.

O pior massacre de elefantes aconteceu no mês de Outubro do ano passado (2011), em que apenas numa semana foram mortos pouco mais de 10 animais. Os furtivos atiram indiscriminadamente, até porque o que interessa são as pontas de marfim, não importando a idade do animal. Eles usam armas de fogo automáticas do tipo AKM, calibre 365, rádios de comunicação e materiais de caça sofisticados, além disso, possuem helicópteros.

Os guardas florestais, tanto os que são apoiados pelo projecto de Mareja assim como os do PNQ, não dispõem de meios à altura para parar a acção do grupo naquela região, onde, no melhor estilo dos cowboys norte-americanos, fala mais alto quem tem o argumento de uma arma de fogo.

Ao contrário dos caçadores furtivos, o grupo de 10 guardas florestais apoiado pelo projecto de protecção de elefantes do alemão Dominik tem apenas duas armas de fogo manuais, meia dúzia de munições e algumas facas e catanas. Mensalmente, ganham menos de dois mil meticais pelo trabalho de fiscalização. Durante os três dias (e noites) de patrulha, cada pessoa tem direito a menos de 200 gramas de arroz e uma lata de sardinha.

“Não conheço os caçadores furtivos, mas sei que eles andam armados”, afirmou Amade Cause, guarda florestal há três anos na Reserva de Mareja, e acrescentou: “nós só andamos com uma faca e não podemos fazer nada”. O Parque Nacional das Quirimbas conta com uma brigada de fiscalização constituída por apenas quatro guardas florestais armados e dois comunitários, apesar de o local ocupar uma área de 7.500 quilómetros quadrados, abrangendo ecossistemas marinhos e terrestres.

As autoridades fazem vista grossa
Semanalmente, o número de elefantes mortos cresce de forma alarmante. Ou seja, a cada semana que passa a acção dos caçadores furtivos tende a intensificar- se, colocando a nu a incapacidade de reacção das equipas de guardas florestais. As zonas mais críticas são Mareja e Meloco.

Nos dias 6 e 9 de Setembro último, na Reserva de Mareja, por volta das 6h30 da manhã, ouviu-se o ruído de um tiro e, de seguida, uma rajada de metralhadora. Os guardas florestais foram atrás para controlar a situação e, quando chegaram às proximidades do local do massacre, limitaram-se a assistir aos caçadores furtivos a retirarem as pontas de marfim.

“Não tivemos como agir porque eles estavam muito bem armados e qualquer reacção nossa seria fatal para todos nós”, disse Amade Cause, um dos fiscais que presenciou o acontecimento, tendo de imediato sido informadas as estruturas policiais e do PNQ. Tem sido assim todas as semanas.

As autoridades, tanto policiais como do parque, encarregadas de combater essa prática que coloca as espécies de elefantes em perigo de extinção, acham que a melhor coisa a fazer é fingir que o problema não lhes diz respeito. Na verdade, a Polícia recusa-se a intervir nesse assunto.

“Sinto-me em pânico vendo isso acontecer e, o pior de tudo, é que a reacção da Polícia não é imediata. Ou seja, ela age como se não tivesse nada a ver com o assunto”, disse uma fonte ligada ao Parque Nacional das Quirimbas que não quis ser identificada, tendo acrescentado que se poderia parar esta situação caso houvesse força de vontade por parte do Governo.

Sensivelmente uma hora depois, um helicóptero sobrevoava a zona tendo pousado nas proximidades de um riacho, e levado as pontas de marfim. Duas semanas mais tarde, os guardas florestais do projecto Mareja decidiram voltar para o local. Pelo caminho uma enorme árvore derrubada (supostamente por um elefante em fuga) impedia o trânsito da viatura “pick up” na qual nos fazíamos transportar.

Foram necessários pouco mais de 30 minutos para remover o obstáculo e deixar a estrada livre. No local, os fiscais encontraram quatro elefantes mortos (três fêmeas e um macho). Os furtivos não retiraram as pontas de marfim de um dos animais porque as dimensões não ultrapassavam 50cm, uma vez que ainda era um elefante bebé.

Há vários relatos de aeronaves sobrevoando o espaço logo após o abate de elefantes. A título de exemplo, no ano passado, concretamente no dia 23 de Novembro, pelas 15h45, foi identificada uma aeronave de cor azul escura com a referência EC-120. O facto foi comunicado às autoridades locais que se limitaram a sacudir a água do capote fazendo um comentário tranquilizador para si próprios:

“Este é um problema que nos ultrapassa, pois não temos meios para colocar freio a esta situação”. A Polícia da República de Moçambique (PRM) a nível da província de Cabo Delgado recebeu dos fiscais do Parque Nacional das Quirimbas uma fotografia do helicóptero que sobrevoou aquela região para averiguação, porém, nenhuma investigação foi levada a acabo.

Os guardas florestais acreditam que haja gente graúda interessada no massacre de elefantes no Parque Nacional das Quirimbas, protegendo os caçadores ilegais, uma vez que quando capturam os furtivos e os levam às autoridades policiais, eles são soltos no dia seguinte. E o pior de tudo é o facto de a lei não defender os fiscais quando estes os alvejam.

Amade Cause contou que, nos anos transactos, um dos seus colegas foi condenado à prisão, além de pagar uma indemnização por ter alvejado a tiro um caçador furtivo. “As autoridades governamentais e a Polícia não agem em grande parte por conforto e, arrisco- me a dizer, também por cumplicidade”, disse.

Em meados do ano passado, os guardas florestais encontraram no interior do acampamento construído na machamba do líder comunitário local mais de 100 munições e 100 mil meticais em dinheiro. Já havia suspeitas de que ele encobria os caçadores furtivos. Porém, apesar de ter sido encontrado em flagrante, não foi preso.

O que está em curso, na realidade, no PNQ, é o processo sem paralelo de consolidação do tráfico de pontas de marfim no território moçambicano. Crescendo aos saltos, diga-se de passagem, a questão que se coloca é como pôr cobro a isso.

As autoridades do PNQ reconhecem a sua incapacidade para travar a acção dos caçadores furtivos, razão pela qual têm vindo a solicitar o apoio da PRM quando ouvem o ruído dos disparos. Mas a resposta por parte da Polícia aparece, no mínimo, 10 dias depois. Falta de viaturas e homens são as desculpas mais evocadas. A situação é mais crítica quando o facto acontece nos fins-de-semana.

“Geralmente, os casos de massacre acontecem simultaneamente em lugares diferentes, facto que também dificulta a nossa reacção, uma vez que o parque não dispõe de meios materiais e humanos”, disse a fonte do PNQ que temos vindo a citar.

A comunidade “protege” os caçadores furtivos
Na Reserva de Mareja, assim como em todo Parque Nacional das Quirimbas, o que há de peculiar não é somente a acção rápida, ousada e o facto de os caçadores furtivos possuírem meios materiais para a actividade, mas também o silêncio cúmplice de algumas pessoas integrantes das comunidades locais.

Nas vizinhanças, existem moradores que encobrem esse grupo de pessoas que se dedica à caça clandestina de elefantes para retirar as pontas de marfim. Regularmente, tem havido campanhas de sensibilização da população no sentido de denunciar os envolvidos nessa actividade que em dois anos já dizimou mais de 50 animais. Como resultado disso, foram formados guardas florestais comunitários. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas.

Este ano, alguns dos fiscais comunitários tiveram de ser expulsos da equipa de guardas florestais por facilitarem a vida dos caçadores furtivos, informando-os dos locais de maior concentração de elefantes, além dos passos da equipa de fiscalização.

O destino das pontas de marfim
Este produto, que tem um valor comercial bastante alto (atinge preços exorbitantes no mercado negro), é traficado para os países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.

Casos de apreensão de pontas de marfim
No mês em curso (Outubro), um cidadão norte-coreano foi surpreendido pela Autoridade Tributária (AT) na posse 130 unidades de pontas de marfim – equivalente a três quilogramas – no Aeroporto Internacional de Mavalane, em Maputo.

Em Setembro, um grupo de seis caçadores furtivos foi neutralizado no Posto Administrativo de Chinthopo, no distrito de Mágoè, em Tete, na posse de quantidades consideráveis de marfim retirado de elefantes abatidos clandestinamente. A quadrilha era constituída por três moçambicanos e igual número de zimbabweanos.

Em Maputo, seis toneladas de marfim apreendido a caçadores furtivos e proveniente de elefantes abatidos foram roubadas de um armazém do Ministério da Agricultura. Em Agosto do mesmo ano, dois funcionários públicos afectos ao Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE), no Guro, na província de Manica, foram detidos sob a acusação de roubo de marfim das instalações do serviço para ser comercializado no mercado negro. As presas teriam como destino o continente asiático.

Em Fevereiro, a Polícia da República de Moçambique (PRM) no Niassa, em coordenação com os guardas florestais da Reserva do Niassa, deteve um indivíduo indiciado de ser caçador furtivo.

Em 2011, as autoridades encontraram 126 pontas de marfim num contentor apreendido no porto de Pemba, que equivaliam a 63 elefantes abatidos de forma ilegal, num contentor de uma empresa que opera na área da exploração de madeira.
= > Assine a petição aqui < =
Elefantes mortos para extração de marfim (imagens recolhidas na net)




















Clique nas imagens para ampliar. Transcrição do Jornal de distribuição gratuita moçambicano @Verdade, com a devida vénia. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Outubro de 2012. Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

10/11/12

Retalhos: De Porto Amélia a Pemba - Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique.

Parque Nacional das Quirimbas, no Norte de Moçambique
Por Carlos Lopes Bento

O Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) foi declarado no dia 6 de Junho de 2002, pelo Conselho de Ministros. Ele tem a singularidade de ter sido estabelecido em resposta a solicitações das comunidades locais e outros intervenientes. Portanto, o Parque deve ser entendido como uma iniciativa "de baixo para cima", uma tentativa das bases para resolver um sem número de problemas que afetam a Província de Cabo Delgado em geral e a área do PNQ em particular.

O Arquipélago das Quirimbas em Cabo Delgado é uma cadeia de 28 ilhas, que se estendem ao longo de quase 400 km, desde o norte da cidade de Pemba no sul, à cidade de Palma no norte. As 11 ilhas mais ao sul uma uma extensa zona de floresta no continente estão incluídas no Parque, resultando numa área total de 750,639 ha, dos quais 598,402 ha são hábitat's terrestres e 152,237 ha são habitat's marinhos e ilhéus. Esta área é de há muito reconhecida como uma zona de grande beleza paisagística, enorme biodiversidade de significado mundial, e importante patrimônio histórico; a recomendação de que esta área seja declarada um parque nacional vem já de 1971.
A Importância da Área:
Os distritos costeiros e centrais de Cabo Delgado (Macomia, Quissanga, Ibo, e Meluco) têm representados quatro das 200 eco-regiões de importância mundial de acordo com o WWF. Estas 200 eco-regiões são consideradas os melhores exemplares existentes de ecossistemas típicos e também raros. Se o simples fato de um País possuir uma das eco-regiões é já por si assinalável, imagine-se o que significa quatro eco-regiões estarem representadas em uma só Província. As quatro eco-regiões são:

- no. 23... Floresta Costeira do Mosaico de Inhambane-Zanzibar;
- no. 118... Mangais do Leste de África;
- no. 193... Eco-região Marinha do Leste de África;
- no. 55... Floresta de Miombo.

O Arquipélago das Quirimbas, em particular, é considerado pelo WWF como uma área marinha de importância Mundial. A área também foi considerada como tendo potencial para ser nomeada como Patrimônio Mundial da natureza pela UNESCO, e contém a histórica cidade do Ibo, antigo centro comercial de escravos de Árabes / Africanos / Portugueses.

Espécies de importância mundial, incluem quatro dos chamados “big five” (o rinoceronte foi eliminado), substanciais populações de mabecos (wild dogs), dugongos, quatro ou cinco espécies de tartarugas marinhas, uma variedade de espécies de conchas em vias de extinção como a Chariona tritonis e a Tridacna squamosa, a baleia corcunda (Megaptera novaeangliae, ou “Humpback whale”), várias espécies de golfinhos, as árvores de pau preto e sândalo...

Os Elefantes e leões são um problema particular. O número de Elefantes está em expansão e a incidência de ataques de elefantes às machambas também tende a crescer. Mais de setenta ataques de leões foram registrados no Distrito de Macomia em 2000. No mar, espécies como dugongos, tartarugas marinhas e tubarões estão em perigo de sobre-exploração. As extensas áreas de ervas marinhas e florestas de mangal estão também sob pressão severa.

Florestas:
A floresta costeira contém espécies raras e endêmicas que foram relativamente pouco estudadas, enquanto que pelo seu lado a floresta de miombo possui madeiras de valor comercial tais como a mbila (kiyaat), chanfuti, e jambire. O abate comercial destas madeiras tem sido feito exclusivamente por empresas baseadas em Pemba. Entre os ditritos de Ibo e Quissanga desenvolveu-se um mangal que ocupa uma área de 39km2, com 8 espécies de árvores de mangal representadas.

O Governo sempre deu a necessária importância a estas Florestas e em 1996 estabeleceu duas grandes áreas como “Reservas do Estado”, com a intenção de promovê-las a Reservas Florestais. Apesar de os constrangimentos financeiros terem dificultado o desenvolvimento destas reservas, o Governo tem recusado desde então o licenciamento de corte de madeira nestas áreas, até existirem condições para a sua declaração formal como zonas protegidas.

Fauna:
Os Distritos atrás referidos têm sido mencionados em vários estudos como áreas prioritárias de fauna. Três rotas migratórias de Elefantes atravessam a área, seguindo as margens dos Rios Montepuez e Messalo. As montanhas isoladas de granito (inselbergs) de Meluco não só são espetacularmente bonitas como também foram identificadas como centros de endemismo de plantas e animais e servem historicamente como refúgio de elefantes. Os elefantes da zona estão de certa maneira adaptados ao ambiente das montanhas a dar pelas marcas da sua passagem nos mais incríveis locais.
O Ambiente Marinho a Costeiro:
A área costeira possui 11 das ilhas mais a sul do Arquipélago das Quirimbas, numa distância de cerca de 100 Km. (ver mapa). Estas Ilhas formam uma linha quase contínua separadas por canais estreitos, extensões de terra e baías. Já Tinley, em 1971, havia sugerido a proteção desta área com base na riqueza do habitat que suporta uma flora e fauna diversa, incluindo 375 diferente espécies de peixes. O Arquipélago também incluí o Baixo de São Lazaro, um baixo isolado e ainda bem conservado para a pesca desportiva e mergulho a cerca de 42 milhas náuticas da costa.

Os recursos marinhos costeiros estão presentemente sob ameaça de sobre-utilização, enquanto que os recursos de mar aberto estão quase por explorar. Também levam as estas conclusões estudos científicos, consultas com instituições e consultas às comunidades (mais recentemente durante um Seminário na Ilha do Ibo). As principais ameaças resultam de:

- A chegada, a Cabo Delgado, de pescadores vindos da Província de Nampula e Tanzania;
- Uso de artes de pesca destrutivas (rede fina, rede mosquiteira, veneno, extração de corais);
- Perda de valores tradicionais com o resultado de que as práticas tradicionais não são mais respeitadas (antigamente a pesca era feita em ciclos de 12 dias, dos quais 6 dias a pescar e seis dias a descansar; hoje pesca-se todos os dias);
- Falta de controlo por parte das autoridades de fiscalização devido a várias razões entre elas a falta de transporte (barcos).

Os pescadores locais também se referem à falta de condições de comercialização do seu pescado e a falta de equipamento para a pesca de mar alto, razão pela qual existe a sobre-pesca perto da costa. Em termos da atual captura, esta tem vindo a descer desde há muitos anos a níveis extremamente baixos. Isto resulta em que todos os locais de fácil acesso estão sobre-utilizados. Locais menos acessíveis (como o canal de Montepuez com correntes perigosas a a parte de fora da barreira de corais, com correntes e ondas) estão em muito bom estado. Os recifes de corais de baixa profundidade estão também muito danificados pelo fenômeno do El Nino Southern Oscillation ocorrido em 1997/8.

População:
Estes distritos são majoritariamente habitados por povos das etnias Macua e Muani, apesar de Macomia ter populações de Maconde também. Estas populações vivem da agricultura de subsistência, pesca e caça e não existe qualquer indústria. O Distrito do Ibo, por exemplo, não tem uma simples loja. O Distrito de Quissanga, largamente conhecido por ser potencialmente o mais produtivo da Província em termos de agricultura (com 25% de solos de aluvião), não possui um simples trator a funcionar. A esperança de vida na Província é de 37.8 anos, enquanto a mortalidade infantil antes dos cinco anos é de 295 por cada mil nascimentos. O PIB (produto Interno Bruto) per capita era de 141 USD/ano em 2000, mas estima-se que nas zonas rurais seja menos de metade desse valor. A taxa de analfabetismo em adultos é de 75% (estatísticas do Plano Estratégico de Cabo Delgado, 2000-2005).

O desespero econômico e o crescimento populacional criam uma pressão ainda maior sobre as florestas e recursos terrestres. Pelo seu lado, hábitos tradicionais como a queima da mata na época seca e a caça com armadilhas retiram aos recursos naturais a sua capacidade de regeneração. Assim, os recursos de fauna e flora estão e estado contínuo de declínio, o que é inclusivamente reconhecido pelo próprio Governo e comunidades rurais. Outro aspecto crítico é o permanente conflito animais-seres humanos tal como já atrás foi referido.

O Governo de Cabo Delgado e a GECORENA solicitaram ao WWF apoio na criação da área protegida e estão ainda a procurar mais apoio junto de outras organizações. Regulamentos e zoneamento para investimento é uma parte parte do plano que está a ser elaborado. Isto criará um quadro legal e institucional para um desenvolvimento apropriado de turismo no Parque o que contribuirá mais tarde para a sustentabilidade financeira dos esforços de conservação.

A área do Parque inclui assim:
- Uma floresta costeira entre Macomia e Quissanga, como uma fantástica fauna selvagem, incluindo o elefante, o búfalo, o leão e o leopardo;
- A costa Sul do Arquipélago das Quirimbas, incluindo 11 Ilhas, praias de desova de tartarugas marinhas, recifes de coral, ervas marinhas, e imensas florestas de mangal, e, a cerca de 40 milhas da costa, o Baixo de São Lazaro, local de pesca desportiva de classe mundial;
- O corredor de elefantes entre os Rios Messalo e Montepuez e a Reserva de Elefantes de Mputho .

CONTACTOS DE CULTURA PÓS-GÂMICOS NA COSTA ORIENTAL DE ÁFRICA.- O CASO CONCRETO DAS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO.
Por Carlos Lopes Bento

A Costa Oriental de África, considerada o berço de Humanidade, serviu de base a intensos movimentos externos de pessoas e culturas, conhecidos pelo menos desde o século II DC, altura em que a costa africana foi integrada nos fluxos do comércio marítimo do Índico, que conjugados com os movimentos internos de povos africanos, originaram a cultura suaíli ou swahili. Trata-se de uma cultura com padrões típicos, marcadamente marítima, de raíz bantu, mas de ideal islâmico que se enquadra, segundo Allen, na denominada “unidade do Oceano Índico”(1) .

Para este extenso espaço africano, constituído por um vasto conjunto insular e respectivas terras firmes, convergiram, por razões de natureza comercial, política e religiosa e em épocas históricas diferentes, fluxos migratórios provenientes do Oriente, designadamente, da Arábia, Pérsia, Índia, China, e Indonésia, do Ocidente (Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra), da América (Brasil, Cuba,....) e da própria África. Dos permanentes cruzamentos inter-genéticos e da constante interpenetração de culturas nasceria a supracitada cultura suaíli(2) e as suas variantes, aliás, sabiamente, observadas e descritas, a partir dos finais do século XV, pelos destemidos nautas portugueses, data a partir da qual passaram a sulcar, regularmente, as agitadas águas do Índico. Os dados então recolhidos , mostram a existência de :
FIG. 1- Parte sul da costa swahili.
Fonte: NEWITT, Malyn, The Southern Swahili ..., p 112

- Sociedades pluri-raciais/pluri-étnicasconstituídas por indivíduos possuidores de várias tonalidades de pele: pretos, baços, ruivos e brancos;
- Uma religião comum assente nos princípios do Alcorão;
- Cidades-Estado com estruturas sociais complexas, estratificadas e relativa autonomia política, governadas por reis mouros, com excepção da Ilha Brava em que o poder político estava nas mãos dos mais antigos da terra;
- Uma produção agrícola variada, com grande riqueza de caça grossa e de produtos aquáticos. De realçar a existência de excedentes destinados, essencialmente: à afirmação do status social; à oferta de presentes; e ao reabastecimento e apoio da navegação e moeda de troca;
- De cidades e vilas com casas assobradadas, com portas e janelas de madeira muito bem lavrada, construídas a pedra e cal;
- De um rico vestuário, de seda e algodão, por vezes bordado a oiro, usado pelas camadas mais abastadas, por homens e mulheres e de jóias, em ouro e prata que embelezavam as encantadores damas suaílis.

Com a presença e domínio português imposto às principais cidades da Costa Oriental de África, através de tratados de vassalagem, desde os princípios do sec. XVI, extinto definitivamente, a partir de 1729- perda definitiva de Mombaça- a cultura suaíli foi enriquecida com muitos traços da cultura portuguesa que, pela sua utilidade e compatibilidade e até prestígio, acabariam por ser integrados nos léxicos do kiswahili(3) e do kimwani, perdurando até aos nossos dias. Recordam-se alguns vocábulos do kiswahili relacionados com: cargos/profissões, meios e instrumentos náuticos, armas , instrumentos de guerra e símbolos de soberania, utensílios de uso doméstico, animais domésticos, edifícios, fortificações e lugares, árvores de fruto, frutos, ferramentas e objectos mecânicos, artigos de vestuário, meios de pagamento, produtos e tecidos(4): almari, amari, bandera, bao, baraza, barakinya, bastola, bata, batela, beramu, bereu, biblia, bibo, bomba, boriti, boya, bulu, busha, chá, chapa, chapeo, dadu, dama, faranga, foronya, fogau, gereza, hospitali, idadi, kanderinya, kapa, kasha, kimau, kitalu, kopa, kopo, korosho, lakir , lesso, limao, machila, meza, m’pera, mvinyo, nahota, padre, pao, parafujo, pera, pesa, pilau, pipa, rateli, riale, roda, rupia, saa, safari, seti, shumburere/sombrero, shupaza, shuka, sukari, tabakelo, tarumbeta, turufu, uru, e yaya(5).
Após a perda sucessiva do domínio português sobre as várias cidades do Indico ocidental, as autoridades portuguesas limitaram o exercício do seu poder colonial , depois de 1729, às terras litorálicas situadas a sul do rio Rovuma, em cujo extremo norte encontramos as Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado. O arquipélago, habitado especialmente por wamwani (gentes da praia), é constituído por cinco dezenas de ilhas e ilhéus, pequenas em território- muitas delas com menos de um quilómetro quadrado - e pobres em solos, quase todos de origem corálica. Apesar destes condicionalismos mas atendendo à sua posição geo-estratégica este conjunto insular, com as terras firmes adjacentes, foi aproveitado, primeiro por árabes e persas e depois por portugueses para aí instalarem alguns dos seus portos de escala e desenvolverem uma importante rede comercial, complementada por algumas práticas agrícolas, armentistas, de construção naval e de pesca.

Antes da era gâmica dependeram as mesmas Ilhas, de acordo com as circunstâncias políticas, de Mombaça e de Quiloa. Passariam, definitivamente, para o domínio português, em 1523, após a sua reconquista pelo capitão Pedro de Castro, perdurando a situação colonial, então, instituída durante 452 anos. Conhecendo-se os fracos recursos humanos e materiais, a debilidade e pouca operacionalidade das estruturas político-administrativas, económicas e religiosas de apoio implantadas, a concorrência sempre crescente de um comércio internacional pouco favorável à coroa portuguesa, os ataques de franceses, sakalava, makhwa e mouros da costa e a resistência oferecida por uma elite local influente e portadora de uma dupla herança cultural, é pertinente interrogarmo-nos como foi possível uma permanência tão prolongada dos Portugueses e do seu domínio nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado?

Este verdadeiro “milagre”, que não foi o resultado da força das armas que, aliás, primava pela insuficiência e pela ineficácia, deveu-se principalmente, a uma política, concreta e espontânea, de tolerância, solidariedade, miscigenação, adaptação e convívio pluri-étnico, política essa, aqui e ali com alguns desvios e conflitos, respeitadora das diferenças étnicas e culturais, das crenças e dos valores humanos dos grupos dominados e dos seus modos de vida. Estávamos perante uma prática política, um diálogo intercultural, uma busca permanente de soluções para os problemas comuns, que, só séculos mais tarde, mais precisamente em 1948, viria a ser consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual não faz distinção entre etnias, culturas ou crenças. Desde há séculos, é legítimo recordá-lo, que os Portugueses consideravam e defendiam o princípio da igualdade como uma relação entre coisas diferentes. Há muito tempo e em muitas partes do Mundo e em contextos históricos e sócio-culturais diversificados que praticavam, na sua vivência do dia-a-dia, o princípio da tolerância: todos diferentes, todos iguais, actualmente, pouco assumido e muito afastado dos corações dos homens.

O homem português, colono modesto, sem grandes letras, por vezes desterrado, com o seu génio criativo e plástico, a sua grande capacidade de improvisar e inovar e o seu caracter individualista e sentido oportunista, soube, habilmente, em novos espaços ecológicos, geográficos e sociais, viver em situações de solidariedade, de contraste, de ambiguidade e de conflito. Teve a capacidade de moldar e de se deixar moldar e de criar novas realidades bio-culturais e de se adaptar a contextos específicos deveras variados.

Com a implantação da situação colonial nas Ilhas iria estabelecer-se no território um novo domínio e diferentes tipos de contactos entre populações biológica e culturalmente heterogéneas, há muito adaptadas a um meio geográfico específico e comprometidas com uma história. Nesta parte norte de Moçambique o colono português conviveu com gentes de outras culturas e religiões (makhwa, mwani, yao, mouros da costa( swahili),...) e aí constituíu famílias mestiças não consagradas nas leis e costumes do Reino- mestiças pela biologia e pela cultura - e originou novas formas sincréticas de família, geradoras de consensos e de solidariedades, que se desviavam, nítidamente, dos modelos da família real cristãmente organizada e aceite. Era frequente reunirem-se num só grupo familiar pessoas de mais de uma religião, etnia e posição social. A prova factual de tal realidade encontramo-la na Relação Geral de População de 1798 relativa às Ilhas: famílias compostas por cristãos, maometanos e gentios, por pessoas livres e por escravos, sendo grande parte delas formadas através da mancebia que as autoridades político-administrativas e religiosas, embora o tentassem, nunca conseguiram eliminar. A título de exemplo dá-se conta dos seguintes registos: uma cristã, de nome Luzia, solteira, com uma filha Ana, gentia e uma mãe maometana, Muana Mungi, com uma filha Ana e duas netas, Tomásia e Catarina, todas cristãs(6). Verificámos ainda uma escrava amancebada com um homem livre( um m´zungo), a qual, por sua vez possuía uma escrava.

Dos processos de fusão biológica e de interpenetração das culturas em contacto, que foram realidades constantes ao longo da colonização portuguesa, resultaram trocas recíprocas entre os grupos em presença, variáveis em intensidade conforme a compatibilidade e utilidade dos traços e complexos de cultura. Relativamente à influência da cultura portuguesa, a maior aceitação verificou-se nos domínios da antroponímia e da cultura material, limitação que estava relacionada com o modo de vida dos habitantes das Ilhas pautado por valores e normas culturais de raiz africana ou afro-asiática, bem diferentes daqueles que o poder colonial procurava impor. Os cristãos, livres e escravos e os seus descendentes mesmo não aderentes à doutrina cristã, e alguns não cristãos adoptaram nomes e apelidos portugueses e indo-portugueses. Os cristãos livres por cultura e tradição ligadas ao sistema de povoamento processado no território. Os cristãos escravos por obrigação imposta no acto do baptismo, também ele de natureza coerciva. Apesar do optimismo de Frei João dos Santos, autor da Etiópia Oriental, que realça a conversão nas Ilhas e terras firmes de l6 000 gentios , desde o inicio da evangelização até l594, data em que deixou de paroquear a freguesia da ilha de Querimba, a realidade, segundo nos conta o Pedro Barreto Resende parece algo diferente:

“O cafres são gente bárbara, natural e muito cruel e pouco dada ao culto divino e só os que são nossos cativos se fazem cristãos por esse respeito, durando-lhe a cristandade enquanto lhe dura o cativeiro, sendo que não repugnam muito a nossa cristandade”.

Embora aderentes a valores sagrados diferentes, em 1798, - os habitantes das Ilhas estavam distribuídos pelos seguintes credos: 48,85% cristãos, 29,43% maometanos e 21,70 % de religião tradicional- verificava-se a existência de contactos permanentes e efectivos entre os membros das várias religiões praticadas. Afirmava-se naquela data que os cristãos que não eram “parentes dos maometanos e deles descendentes, o são dos cafres macuas e macondes”(7). Esta evidência vem mostrar que a política inter-étnica condenada, em l592, pelo dominicano Frei João dos Santos, não teve sucesso. O frade, como chefe religioso e chefe político, não admitia e via com bons olhos alguns usos e costumes e as relações de convivência e de amizade existentes entre cristãos e maometanos:” ... em nossos Domingos e dias santos de guarda virem as mouras visitar as cristãs suas amigas e todas juntas, cantavam, bailavam, comiam e bebiam, tão amigavelmente, como se fossem todas mouras”(8).

No lº quartel do séc. XIX, Frei Bartolomeu dos Mártires confirmava a política de convivência encetada após a imposição do domínio colonial no território verificada a partir de 1523: “Os mouros têm tal ascendente sobre os desgraçados habitantes que até lhes tem pregado e introduzido a sua infame lei, seus costumes depravados e as suas torpezas mais nefandas de maneira que já não é fácil reconhecer as diferenças entre eles”(9).

Como resultado da aculturação e miscigenação espontâneas vamos encontrar na sociedade colonial casos específicos de uma dualidade cultural: uma herança cultural por parte de uma elite local mestiça que se moldou às regras e valores da sociedade dominante, que punha em prática sempre que era preciso relacionar-se com os seus representantes e substituía pelos próprios da sociedade dominada ao regressar ao meio de origem; chefes que participavam nas duas culturas e asseguravam, deste modo, o funcionamento das estruturas coloniais, pondo ao serviço das autoridades coloniais, o seu poder tradicional e as instituições indígenas pré-existentes. Recorda-se o terço dos auxiliares, os prazos da coroa, a cobrança de impostos, o fornecimento de mão-de-obra e de forças militares sempre que estava em jogo a segurança do território e a sobrevivência do domínio colonial; uma mestiçagem, com significado mais cultural do que biológico, bem evidente e clara na antroponímia constante da Relação de l798 supra citada, da qual se respigaram alguns nomes próprios, sobrenomes e apelidos, herança das várias culturas em presença. Encontramos, por um lado, nomes próprios da língua portuguesa com apelidos provenientes de línguas locais(kimwani, kiswahíli, makonde ,makhwa,...): Agostinho Quemissa, Alberto Lupulo, Alexandre Mutema,Ambrósio Macogo, Ana Mulusso, António de Faria Mussupia, Bruno Antunes Oengue, Catarina Muadia, Cristina Muanseni, Domingos Muzuzi , Francisca Muanessa ,João Madudo, Lázaro Mazome, Macaelo Faque, Manuel Morindua, Paulo Botelho Quidava, Roque Cassicazi, Sebastião Malemoca e Sebastião Raimundo Aidoz .Por outro lado, embora mais raros, surgem nomes em que o nome próprio provem das línguas locais e os apelidos do português: Mualenda Gonçalves, Muanassa de Faria, Mucoto Ribeiro, Muenhe Mussa Ribeiro, Tima Simão e Zina Faria(10).
Ao contrário do que acontecia em 1798, durante a nossa estadia nas Ilhas, entre 1969 e l972,constatámos que os nomes de origem afro-suaíli atingiam cerca de 94,50% contra 5,5% provenientes da língua portuguesa. A mudança drástica verificada no período de quase de dois séculos ficou a dever-se à consolidação do Islamismo na Costa Oriental de África, designadamente em Moçambique, e à incapacidade dos Portugueses, através do poder político-administrativo e poder religioso, imporem o seu modelo de sociedade. Contudo, ainda pude verificar, numa análise superficial ao léxico da língua falada pelo povo mwani , o kimwani, a existência de um grande de palavras portuguesas e aportuguesadas que continuavam a fazer parte da linguagem dos Wamwani : alfanete, ambari, armari,ayo, bacia, balança, barbero, bata, biberau, blusa, bolo, brinco, buli, cabido, cadiado, calça, camisa, camisola, capote, caxa, cesto, chicra, colher, copo ya café, copo ya vidro , côr ya café, curuneta, epangaio, fato, ferro yakongomar, fogão ya makala, fogão ya patroli, fronha, fundi ya candieiro, galação, galico, galo garrafão, garufu, gelera, giz, gramafone, kifio ya cozinha, koroso, janelazi, lata, lampeão, leço, loja, mala, malaya zinco, , mala ya m´bawa, manchila, mantega, maquina ya kossoma, marrau, masoldado, m,batata, mpapaia, marmita ya alumínio, meias, mesa, moscaleta, m,pera, nakoda, nanazi, , n caju, orive, paquete, patrol, piresse, prateleira, quadro, rádio, reloyo, reloyo ya kajubera, reloyo ya campaínha, sabau, safrau, , safrau, sucrire, tamangu, tamboro, tampa ya kufinika, tcha kutaya mantega, telhado, termo , tejolo, vestido, ...

Entre a famosa doçaria que faz parte da culinária mwani também encontramos a influência da presença portuguesa, sendo bem conhecido o bolo denominado “biscoito”feito com farinha de mapira, que na forma nada difere do biscoito confeccionado em Portugal.

No princípio do presente século o governador Ernesto de Vilhena dá-nos conta de uma dança cantada de origem portuguesa a “ Margarida” que servia de divertimento aos rapazes em que a letra do refreão incluía um vocabulário misto de português e de kimwani: Ai ué niquareta/ Ai Mussa ladrão/Roubou macarrão(11). A dança da corda , conhecida por Insóbué, tão do agrado da mulher mwani, possivelmente, de origem portuguesa, ainda era divertimento em 1974.


Nas Ilhas de Querimba, após a sua conquista pelos Portugueses, nasceu e desenvolveu-se uma nova realidade sócio-cultural constituída biologicamente pela miscigenação, economicamente pela técnica escravocrata da produção e sociologicamente pela interpenetração de culturas. As famílias mestiças- pela cultura e pela biologia, desempenharam um papel relevante no povoamento, na imposição de um modo de vida próprio, no processo de mobilidade social, na solução de conflitos, na convivência social e na continuidade e revitalização da situação colonial.

Da situação colonial nesta parte norte de Moçambique resultaram processos de aculturação- que foi mais espontânea do que imposta- como a integração, a assimilação e diversos sincretismo: famílias, prazos da coroa, religião, antroponímia ..., que devem merecer a curiosidade e análise sistemática por parte das novas gerações para que se conheçam a riqueza, a diversidade e o significado da vida humana em diferentes contextos e as formas específicas de vida em comum e as inter-relações que se estabeleceram entre a Europa e os outros Continentes na era gâmica(12).

REFERÊNCIAS:
1 - Segundo este autor essa unidade cultural é constituída por três componentes: uma unidade racial resultante de múltiplas e seculares migrações humanas de natureza inter-continental(África, Ásia, Europa e América); uma unidade cultural que se estende da China até à África; e uma unidade religiosa assente no Alcorão cujos princípios doutrinais se adaptaram às diferentes condições ecológicas, políticas, culturais e étnicas e teve a capacidade de ultrapassar as divergências geradas pelos contactos de povos e culturas em diferenciados contextos. Para mais pormenores ver ALLEN,J-”Propuestas de Studios Sobre el Oceano Indico”,in Relaciones Historicas Através de Oceano Indico.Barcelona, 1980, p.p. 164 e segtes e BENTO, Carlos Lopes- As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Situação Colonial, Resistências e Mudança-1742-1822, 2 vols.
2 - NEWITT, Malyn - "The Southern Swahili Cost in the First Century of European Expansion". In Azania, Vol. XIII, 1978, p.p. 111-126.
3 - Os principais dialectos do Kiswahili são: o Kiamu, falado em Kiamo, Kenia e Pate; o Kimvita falado em Mombaça; o Kiunguja falado em em Zanzibar e Pemba(ilhas); o Kimrima falado nas terras firmes de Zamzibar; o Kingarija falado na Grande Cômoro; e o Kimwani falado nas Ilhas de Querimba, Quissanga, Mossimboa, Thungui e cidade de Pemba. Nas línguas do litoral , desde do sul da baía de Pemba até Sofala o prefixo ki foi substituído por e : Émakha,Ésakati, Ékoti, Éshwabo e Iboani ou Éboani.
4 - Vidé PRATA, Pe António Pires- “Influência do Português sobre o Suaíli”, in Bol. do Museu de Nampula, Vol. 2, 1961,p.149-150.
5 - Para mais pormenores consultar : MADAN, A.C.- Suahili dictionary.Oxford, 1903, p.p.442 e SACLEUX, Charles- Dictionnaire Swahili-Français.Paris , 2 Tom. e PRATA, op.cit. p.p.133-175.
6 - Para mais esclarecimentos ver BENTO, op. cit., Vol. I, p., 532.
7 - BENTO, op.cit. Vol.I, p.519.
8 - Idem,Ibid.p. 518-519.
9 - Idem ,Ibid. p.524.
10 - Idem, Ibid. p. 532.
11 - Ver OLIVEIRA, Mário Baptista de-Monografia sobre a Ilha do Ibo. Ibo, dac.,1962, p.223.
12 - Este pequeno trabalho, aqui com pequenas alterações, foi publicado na Revista de Estudos Políticos e Sociais, ISCSP, Lisboa, 2000, p. 119-126. O seu autor, que foi administrador do concelho do Ibo, é antropólogo, doutorado, em Ciências Sociais e Políticas, especialidade História dos Factos Sociais e licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas pelo I.S.C.S.P., da Universidade Técnica de Lisboa, é professor coordenador do Instituto Superior Politécnico Internacional e professor catedrático convidado, da Universidade Internacional, onde exerce actividade docente e de coordenação de estágios, nas licenciaturas bietápicas em Gestão Turística e Hoteleira e Gestão Bancária e Seguradora. É director do Centro de Investigação Aplicada em Gestão Turística e Hoteleira e do Centro de Estudos de Gestão Turística e Hoteleira. Interessa-se pela Antropologia Africana- Moçambique e pela Antropologia Portuguesa, domínios do turismo e do comportamento organizacional. Faz investigação no domínio da cultura alimentar- Culinária tradicional.
TRABALHOS DO AUTOR:
Entre a múltipla colaboração dispersa por livros e publicações periódicas, realçam-se os seguintes artigos publicados ou em prelo:

- "Problemas Eco-Sociais e a Reconversão da Pesca Artesanal" ( 1980);
- "O Trabalho de Campo na Antropologia e o Desenvolvimento" (1982);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado" (1984);
- "A Historiografia e a Antropologia em África" (1984);
- "O Contributo do Estudo das Práticas Culinárias para um Melhor Conhecimento das Migrações Humanas e dos Fenómenos da Difusão, Mudança e Evolução Culturais - A caso específico da cozinha entre os Wamwani das Ilhas de Querimba / Moçambique (1984);
- "Moínhos e Azenhas em Mouriscas" (1985);
- "As Potencialidades das Fontes Históricas na Pesquisa Antropológica" (1986)
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado. Breves Considerações Finais" (1986);
- "A Pesca do rio Tejo. Os Avieiros: Que Padrões de Cultura? Que Factores de Mudança Sócio-Cultural? Que Futuro?" (1987);
- "O Desenvolvimento das Pescas nas Costas do Algarve-Achegas para o Estudo do seu Passado.- Ambiente, Tecnologia e Qualidade de Vida" (1988);
- "A Posição Geo-Política e Estratégica das Ilhas de Querimba. As Fortificações de Alguns dos seus Portos de Escala" (1989);
- «La Femme Mwani e la Famille. Étude Quantitatif des Quelques Comportements des Femmas de l’île d’Ibo» (1990);
- "As Companhas de Ceifeiros Ribatejanos no Alto Alentejo- Uma Forma de Organização Social Extinta" (1991);
- "O 1º Pré-censo de Moçambique- A Relação Geral de População de 1798 das Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado" (1991);
- "Uma Experiência de Desenvolvimento Comunitário na Ilha do Ibo/Moçambique entre 1969 e 1972" (1992);
- "Os Prazos da Coroa nas Ilhas de Querimba e a sua Importância na Consolidação do Domínio Colonial Português” (1997);
- "Ambiente, Cultura e Navegação nas Ilhas de Querimba: Embarcações, Marinheiros e Artes de Navegar" (1998);
- "A Administração Colonial Portuguesa em Moçambique- Um Comando Militar em Mogincual, entre 1886 e 1921" (1999);
- "Situação Colonial nas Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado- Senhorios, Mercadores e Escravos"(Resumo da Tese de doutoramento) (2000);
- “Contactos de Cultura Pós- Gâmica na Costa Oriental de África. O Estudo de um Caso Concreto” (2000);
- "Quem Defende os Interesses dos Pequenos Agricultores do Alto Ribatejo? (2001);
- “A Ilha do Ibo: Gentes e Culturas - Ritos de passagem” (2001);
- “Mouriscas: Terra Pobre, Gente Nobre”. (2002);
- “A Antropologia da Alimentação em Portugal.- Um estudo concreto” (2003);
- “A Cozinha Tradicional na Área do Pinhal e o Desenvolvimento Regional - O Maranho como Prato Emblemático num Processo de Mudança” (2003);
- “A possessão em Moçambique - O Curandeiro N´kanga entre os Wamwuani do Ibo (1969-74)” (2003).
  • Carlos Lopes Bento neste blogue.
  • Carlos Lopes Bento no Google.

Clique nas imagens para ampliar. Transferência de arquivos do sitio "Pemba" que será desativado. Colaboração do Dr. Carlos Lopes Bento. Edição de J. L. Gabão para o blogue "ForEver PEMBA" em Julho de 2012. Atualizado em Outubro de 2012. Só é permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores.