4/30/05

Macua...Maculêle = Capoeira ???


Posted by Hello

Provável Origem da dança-luta 'Capoeira' praticada no Brasil :

"...(Existem muitas teorias que tentam explicar a origem da dança-luta que passou para a história com o nome de maculelê.
Num ponto todas convergem, a manifestação nasceu na África da rivalidade das várias etnias que formam o continente negro.
Algumas correntes de estudiosos defendem que ele tem origem banto e foi criado como uma forma de ataque aos malês.
Já outros estudiosos, como a própria Zilda Paim, defendem que foram os malês que criaram a luta ancestral como forma de agredir os macuas, seus rivais.
"Popó me contou que os malês costumavam dizer: ''Vamos esperar os macuas a lelê''. Lelê no caso é o nome dos pedaços de madeira utilizados pelos guerreiros enquanto dançam'', explica.
Visto como ameaça pelos senhores de engenho, o grito de guerra "sou eu, sou eu, maculelê sou eu", somente sobreviveu porque em duas fazendas de Santo Amaro ele era permitido, em São Lourenço e no Engenho Partido.
Depois da queda do império do açúcar, o maculelê ficou adormecido até Popó despertá-lo na década de 20.)..."

In http://www.ginganago.com/capoeira/divers/maculele.asp

4/29/05

Rui Paes...outro nome de Pemba em destaque nas artes...


Posted by Hello (Ilustração de Rui Andrade Paes)

O Rui Andrade Paes (Filho da poetisa do mar azul de Pemba, Glória de Sant'Anna e irmão da também artista plástica Inez Andrade Paes ) ilustrou o próximo livro infantil da Madonna, que irá sair no próximo dia 1 de Junho.
Eis aqui a referência à notícia no DN:
...“Desde há uns cinco anos, muitos editores a apostam na ilustração”, refere, salientado, aí, o papel da Bedeteca e do Salão de Lisboa na divulgação de talentos portugueses “O ilustrador tem vindo a ganhar um estatuto que já lhe permite partilhar a autoria de um livro com quem o escreve.” Um reconhecimento que passa fronteiras: Madonna escolheu o português Rui Paes para ilustrar o seu próximo livro Pipa de Massa, com edição marcada para 1 de Junho.
© JTM/Diário de Notícias
Imagem de autoria de Rui Paes, ilustrativa do livro:

Imagem da capa do Livro:
ou
O livro vai-se chamar em Português "Pipa de Massa".

Esperamos para a semana um artigo na revista Visão...
Para nossa alegria ninguém "segura" esta Família Andrade Paes !!!!!!!!!!!!!!!!!!!

4/25/05

Descolonização !

Descolonização

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Descolonização é o processo pelo qual uma ou várias colónias adquirem ou recuperam a sua independência, geralmente por acordo entre a potência colonial e um partido político (ou coligação) ou movimento de libertação. Este processo é geralmente antecedido por um conflito entre as “forças vivas” da colónia e a administração colonial, que pode tomar a forma duma guerra de libertação (como foi o caso de algumas colónias portuguesas) ou por um golpe de estado, em que as organizações na colónia substituem a administração colonial, como aconteceu na formação dos Estados Unidos da América.

No entanto, houve casos em que a potência colonial, quer por pressões internas ou internacionais, quer por verificar que a manutenção de colónias lhe traz mais prejuízos que benefícios, como aconteceu com várias das ex-colónias francesas.

O crescimento populacional e económico em vários países da Europa e da Ásia (os mongóis e os japoneses) levou a um tipo de colonização, com o carácter de dominação (e, por vezes, extermínio) de povos que ocupavam territórios longínquos e dos seus recursos naturais, criando grandes impérios coloniais. Um dos aspectos mais importantes desta colonização foi a escravatura, com a “exportação” de uma grande parte da população africana para as Américas, com consequências nefastas, tanto para o Continente Negro, como para os descendentes dos escravos, que perduram até hoje.

Esta foi a primeira forma de imperialismo, em que vários países europeus, principalmente Portugal, Espanha, França, a Holanda e a Inglaterra (mais tarde o Reino da Grã-Bretanha), constituiram grandes impérios coloniais abrangendo praticamente todo o mundo. A exploração desenfreada dos recursos dos territórios ocupados, levou a movimentos de resistência dos povos locais e, finalmente à sua independência, num processo denominado descolonização, terminando estes impérios coloniais em meados do século XX.

Resumo da descolonização de África

Quando os estados da Europa no final da Idade Média começaram a "descobrir" a África, encontraram aí reinos ou estados, quer de feição árabe ou islamizados, principalmente no norte e ocidente daquele continente, quer de tradição bantu. Os primeiros contatos entre estes povos não foram imediatamente de dominação, mas de carácter comercial. No entanto, os conflitos originados pela competição entre as várias potências europeias levaram à dominação política desses reinos, que culminou com a partilha do Continente Negro pelos estados europeus na Conferência de Berlim, em 1885.

No entanto, as duas grandes guerras que fustigaram a Europa durante a primeira metade do século XX deixaram aqueles países sem condições para manterem um domínio económico e militar nas suas colónias. Estes problemas, associados a um movimento independentista que tomou uma forma mais organizada na Conferência de Bandung, levou as antigas potências coloniais a negociarem a independência das colónias.

Resumo da descolonização das Américas

Nas Américas, em que a colonização tinha tido o carácter de quase extermínio da população autóctone, foram os próprios colonos que, a certa altura, decidiram que deviam separar-se da potência colonial e declarar unilateralmente a independência dos vários países. Os Estados Unidos da América foram as primeiras colónias a declarar a sua independência em 1776, mas só a viram reconhecida sete anos depois, como resultado da Guerra pela Independência dos Estados Uidos da América, que terminou com o Tratado de Paris de 1783. No início do século XVIII, com o conhecimento desta independência e ainda como efeitos da Revolução Francesa, apareceram movimentos independentistas em praticamente todas as colónias espanholas da América, que resultaram nas independências dos actuais países de língua espanhola.

Já o Canadá iniciou o seu processo de autonomização com a declaração da Confederação Candense, em 1867, como forma de se defenderem dos Estados Unidos que os tinham invadido. a dependência do Canadá com os ingleses foi diminuida em 1931, pelo Estatuto de Westminster.

As únicas excepções foram as ex-colónias holandesas, entre as quais o Suriname se tornou um território dependente, mas com autonomia interna, em 1954, tendo acedido à independência em 1975, por negociação entre um dos partidos políticos e o governo da Holanda. As restantes colónias holandesas e algumas francesas do Caribe decidiram, geralmente por referendo, manter-se ligadas à potência colonial, mas com autonomia interna, tendo os seus habitantes cidadania total, estando representados nos parlamentos dos países-“pais”. Entre estas, contam-se Guadalupe e Martinica, que são dependências de França, as Antilhas Holandesas e a Bermuda, dependente do Reino Unido.

Resumo da descolonização da Ásia e Oceânia

Polémica sobre a descolonização das ex-colónias portuguesas em África
Ver também:
Os artigos sobre a história dos países e ainda:
Cronologia da colonização de África
Cronologia da colonização das Américas
Cronologia da colonização da Ásia e Oceânia
Cronologia da descolonização de África
História da colonização de África
História da colonização das Américas
História da colonização da Ásia e Oceânia
História da descolonização de África
História da descolonização das Américas
História da descolonização da Ásia e Oceânia
Império Britânico
Império Colonial Espanhol
Império Colonial Francês
Império Colonial Holandês
Império Colonial Português
=================================
TRINTA E UM ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 1974, CONTINUAMOS ESPERANDO E EXIGINDO QUE SE CONCRETIZE A "REVOLUÇÃO" SOCIAL APREGOADA E PROMETIDA AOS POVOS DE MOÇAMBIQUE, ANGOLA, GUINÉ, CABO-VERDE, TIMOR, PORTUGAL...
E, AO FALAR DE "POVOS" REFERIMO-NOS ÀS MAIORIAS OPRIMIDAS PELA POBREZA, DESESPERANÇA E FALTA DE OPORTUNIDADE DE VIVER COM DIGNIDADE NUM MUNDO CADA DIA MAIS DESIQUILIBRADO, CRUEL, INJUSTO GOVERNADO POR ELITES DESAVERGONHADAS.
Jaime Luis Gabão

4/24/05

"The Interpreter" tem a ver com África...


Posted by Hello "The Interpreter" ( "A intérprete" aqui no Brasil) está desde ontem nas salas de cinema.
Filme de suspense cuja maior curiosidade está no fato de ser o primeiro filme recente com cenas rodadas no prédio das Nações Unidas, em Nova Yorque, além de Moçambique (antiga praça de touros "Monumental" de Maputo-ex Lourenço Marques), África do Sul, Londres e Ontário...
Fala sobre um genocídio fictício na África e envolve políticos, ditadores, rebeldes e uma intérprete da ONU que escuta acidentalmente uma conversa em dialeto africano.
A combinação suspense, romance e denúncia política não chega a funcionar.
Vale como passatempo de final de semana e o destaque aqui advém do tema e de cenas fugazes rodadas em Moçambique.
Fui ver e gostei !
Ficha Técnica - The Interpreter, EUA, 2005.
Direção de Sidney Pollack.
Estúdios Universal.
Com Nicole Kidman, Sean Penn, Catherine Keener, Sidney Pollack, Yvan Attai, etç...

4/22/05

Exposição - Quadros de Inez Andrade Paes


Posted by Hello

Envolta nas magníficas cores criadas pela artista plástica Inez Andrade Paes (natural de Pemba), acontece exposição de quadros inéditos, dia 25 de Abril às 13h, em simultâneo com a inauguração do Polo da Biblioteca de Válega - Ovar - Portugal.
Aguarda-se a presença dos Amigos, também !

4/21/05

Em Março de 2005...


Foto de "Lúrio" efetuada em 13 de Março de 2005 em Pemba e retirada de álbum fotográfico do Bar da Tininha-MSN Posted by Hello

"Em Pemba, existe uma praia onde gostaria de ter namorado. Com a maré vazia forma-se uma membrana com a areia por baixo. Pode-se entrar pelo mar ou por um buraco existente em cima dessa cobertura que faz lembrar a arquitectura do Siza Vieira. Quem não sabe nadar só precisa de estar atento com a subida do mar. Mas é um lugar lindo para ler, dormir ou... fazer amor."

4/19/05

Passado & Presente


Posted by Hello
Placas afixadas na aerogare de PEMBA.

Foto efetuada em 14/03/2005 por "Lúrio" e retirada do "Bar da Tininha MSN"

Ainda a PENEIRA MACUA...


Posted by Hello
As palavras-poema :

"...uma das prendas que trouxe de Pemba foi uma peneira que na altura gostei muito, passei várias vezes os meus dedos por ela e até a cheirei..."

e um poema:

PENEIRA

no movimento
certo
ritmado
quase ausente
levantas mapira

o vento lento
sopra
a poeira
que pousa a teu lado

em tuas mãos
em teu regaço

na peneira
volta a pousar
por breves momentos

noutro
levantar
a casca tomba

pesada

rolando
na esteira

a teu lado


Autora das palavras-poema e do poema:
Inez Andrade Paes

4/18/05

Notas no tempo... 2


Posted by Hello
...ou espelho de uma época em que já se buscava aproveitar o potencial turístico da então Porto Amélia !

Recorte do jornal diário "Notícias da Beira" de 19/09/1966

4/17/05

Notas no tempo... 1


Posted by Hello (imagem de emblema usado pelos pilotos da "OCAPA" cedido pela Família Andrade Paes)

ou simples homenagem...

Jornal "Diário de Lourenço Marques" de 23/09/1966

Nota da Semana


A NOSSA RAZÃO CONCRETIZA-SE !
-TURISTAS EM PORTO AMÉLIA!


Estiveram em Porto Amélia alguns turistas, vindos das Ilhas Comores.

O facto poderia passar despercebido, já que quem tinha obrigação para amparar estas iniciativas queda-se no mais absoluto comodismo e, deste modo, eram mais uns estrangeiros que nos visitavam... e tudo ficaria por aí.

Mas não. Já há muitos anos que, nestas colunas, temos pugnado pelo desenvolvimento turístico de Porto Amélia, porquanto ninguém poderá contestar que a capital de Cabo Delgado é uma das cidades da Província de Moçambique que mais condições oferece — em muitos aspectos — para dar aos estrangeiros condições ideais para as suas férias.

Estar a enumerar esses aspectos, escusado será. Todos os conhecem de sobejo.

É certo que falta um hotel em condições para receber os visitantes, mas com boa vontade — como agora sucedeu — tudo se resolve a contento e todos regressaram ao ponto de partida radiantes e maravilhados com o que viram e da forma como foram tratados.

Os turistas invadiram a cidade e não deixaram de adquirir as mais variadas lembranças no comércio.

Partiram com saudade e prometeram voltar. Outros virão dentro em breve.

Para tudo isto, temos que felicitar o Sr. Afonso Henrique Andrade Pais*, Director da «OCAPA» que, sem qualquer colaboração especial, deu início a uma tarefa em que muitos pessimistas não acreditavam e com ela soube granjear a melhor propaganda para Porto Amélia.

Os visitantes viajaram num avião especial da «Air-Comores», que trabalha em colaboração com a «OCAPA»."

In “DIÁRIO” de Lourenço Marques – 23/09/1966 – Jaime Ferraz Gabão**

*Afonso Henrique Andrade Paes - O Arquitecto Afonso Henriques Andrade Paes, natural de Válega (da família Soares Paes, comerciantes em Ovar), formado na Escola de Belas Artes do Porto, casado com a poetisa e escritora Glória de Sant’Anna, partiu aos 25 anos para Moçambique. Ali fez trabalhos da sua especialidade em Nampula, cidade onde viveu dois anos e fez o seu 1° projecto de construção civil, e em Porto Amélia, para onde partiu, a pedido do Governador, que lhe encomendou um projecto de casas sociais.Em Porto Amélia constituiu a sua empresa (A.H.A.P) de Arquitectura, Engenharia e Construção. Foi, portanto, dedicado “construtor” da cidade que é hoje PEMBA.

**Jaime Ferraz Rodrigues Gabão - Natural da cidade de Peso da Régua-Portugal, tesoureiro até 1975 de empresa algodoeira SAGAL sediada na então Porto Amélia, era também correspondente em Cabo Delgado do jornal Diário de Lourenço Marques, onde mantinha uma página semanal com notícias daquela região de Moçambique. Colaborou e foi correspondente de diversos jornais moçambicanos e portugueses. Faleceu em Portugal dia 18 de Junho de 1992 na sua cidade natal – Peso da Régua .
-CONTINUA... ... ...

Retrato de Maputo


Posted by Hello
...ou de alguns !

(Foto extraída do "Tributo à Cidade de Maputo" )

REGRESSO A MAPUTO e ÁFRICA DO SUL ou uma carta que chegou na Páscoa...

Pois é meus querido amiguinhos, regressei das terras de África, porque além de Durban, Benoni Sandton, Bruma, também dei um pulinho a Lourenço Marques (na realidade já é história, porque aquilo é mesmo Maputo).
Este último não estava previsto, mas houve um convite irrecusável duma amiga de infância, e passei lá 6 dias, que recordei com muito entusiasmo,fotografei e filmei.

O que lá deixamos no momento da "partida" encontra-se totalmente abandonado, ou seja, quase irreconhecível pelo seu mau estado. Mas, paradoxalmente, as construções mais recentes, são UM LUXO.

A maior parte das estradas da cidade são transitáveis só para jeep.

Lixeiras abertas em plenas ruas, porque, segundo me responderam, se colocarem contentores, são logo roubados...
Todas as casas têm segurança privada sentada no passeio em cadeiras de plástico (daquelas que usamos para o quintal).

Os esgotos vão dar diretamente às praias, e portanto vêm-se dentro de água residuos de restos alimentares que já passaram pelo tracto intestinal...

Não podia faltar ter passado pela Costa do Sol (cheia de gente, com predominância indiana, onde se saboreiam ainda deliciosos camarões e encontrei o Rui Quadros), Desportivo (não entramos, hoje chama-se Clube de Desporto), Zambi (em frente as muralhas destruídas talvez pelas ondas do mar), PiriPiri (fomos aconselhados a não ir lá comer porque por vezes servem frangos requentados), Parque José Cabral abandonado. O Caracol tem imensas vivendas de luxo. Lembram-se do Dragão d'Ouro? Pois é, no “longer exists”, no seu lugar foi construído um espetacular hotel Holiday Inn, (onde fiquei alojada).O Polana agora foi comprado pela Fundação Agha Khan.... Não hajam dúvidas que eles dominam o comércio todo. Também os Indianos estão a construir um Shopping Center para os lados da antiga Fazenda, que deverá ficar aproximadamente do tamanho do Centro Comercial Colombo.

A Terra em si continua fabulosa, apenas mal cuidada.

Neste momento, não me via a viver lá, muito embora haja muito, mas mesmo muito dinheiro a circular, com contraste de gente muito faminta.

A África do Sul é igualmente local onde não me estou a ver viver.

Vivendas espantosas de luxo, carros “top-de-gama” e autenticas bombas de estrada ( BM, Mercedes, Jaguar, Jeep etc.), centenas de cassinos, ótimas redes rodoviárias, mas...vivem todos com grades e cadeados, condomínios fechados com segurança máxima,...mesmo assim continua a haver assaltos e crimes gratuitos, ou seja, matam até depois de roubar. Pessoal que gosta de fazer jogging, só corre a três e, quando eventualmente aparece um singular vem sempre acompanhado do seu pastor alemão. Resumindo, na minha óptica, são prisioneiros das suas luxuosas vivendas, ou então vivem enfiados em Centros Comerciais (também com alta segurança) ou em Cassinos (nunca vi tanta gente viciada em jogo) que funcionam todos, 24 horas por dia. Jamais fecham.

Passear descontraídamente como nós fazemos, na baixa, no paredão da praia, ir ao café com toda a despreocupação, etc., etc., só mesmo cá em Portugal.

O pessoal que vive, tanto na África do Sul, como em Moçambique, não estranha porque já se habituou, mas para nós que lá vamos só de férias, é um pouco limitativo, apesar de por lá igualmente circular muito dinheiro.

A África do Sul agora tem o chamado “Black Empowerment”, ou seja, enquanto houver um candidato negro a qualquer lugar, mesmo sem habilitações, dão-lhe preferência e o branco fica de fora. Afinal passou-se de um regime de apartheid contra os negros virando-se agora contra os brancos. Portanto o racismo continua... Está bem, está bem, vão dizer que agora estão a pagar pelos anos anteriores, mas não é bem assim, porque o sistema governamental Sul Africano está completamente afundado, precisamente porque "dispensaram os brancos todos da função pública" e agora, para não darem o braço a torcer e voltar a chamar os brancos que tinham conhecimento para as funções, foram ao Irão contratar mão de obra daquele país para tentar levantar o desastre governamental em que se encontram...
O indice de criminalidade é 8 vezes superior ao de qualquer país do mundo! Isto li nos jornais locais, além dos meus amigos Sul Africanos que nunca de lá saíram, terem confirmado.Concluindo: Gostei muito de ter feito esta viajem depois de 30 anos, mas como o Ser Humano é Um Animal de Hábitos, já me habituei até certo ponto a viver em Portugal, muito embora, eu e o frio sejamos inimigos figadais.... Chamo a isto, Reviver o Passado em África....mas com um saudosismo saudável.
Foi muito bom.

Beijinhos, BOA PASCOA e cuidado com as amêndoas... engordam!
C.L.

4/15/05

Cultura Macua


Posted by Hello
(Adaptação de textos de Pedro Saleiro, UCM, e Vítor Terra, UP)

A Simbologia da Peneira na cultura Macua
Na cultura macua, alguns objectos, para além do seu carácter utilitário, assumem valores simbólicos que devem ser dominados por homens e mulheres, sendo os ritos de iniciação o momento privilegiado para essa aprendizagem. A peneira constitui um bom exemplo da riqueza simbólica que esta cultura encerra e que importa observar.
A cultura macua é ainda pouco conhecida e, no entanto, apresenta-se como bastante rica em termos da simbologia atribuída a muitos objectos diários. Neste trabalho quero dar o meu contributo para o conhecimentos de alguns dos símbolos da peneira, a partir do que escutei e da realidade dos factos conhecidos e observados nos ritos de iniciação. Não será, por isso, um trabalho exaustivo, mas um levantamento dos principais aspectos.
A peneira, denominada em macua ethekwa, é um utensílio feito de tiras de bambu colhido nos baixios. As canas são expostas ao sol, para secar, e dela são tiradas tiras, raspadas e alisadas nos nós, cortadas em função do tamanho que o artesão quiser. Começa-se por entrelaçar o fundo da peneira, terminando por fechá-lo com um arco de um pau especial, denominado muyepe, bem raspado. Em seguida, cose-se com um tipo de arbusto chamado mutho ou hururi.
A peneira é utilizada para vários fins, particularmente pela dona de casa. Ela serve para transportar, armazenar e conservar produtos agrícolas, frutos silvestres e outros alimentos. O nome vem, porém, da sua função de separar os grãos (que ficam nos bordos) da farinha já moída (que converge para o centro) de cereais como arroz, milho, mapira e mandioca. São, no entanto, sobretudo os usos e valores simbólicos que atribuem à peneira o lugar de relevo que ela ocupa na nossa cultura.
Na cultura macua, a peneira simboliza, antes de mais, estabilidade no lar. Toda a casa tem peneira. Sem ela, um lar torna-se dependente de outro, acreditando-se que a mulher passa, por isso, a estar dependente da vizinha. Lar e mulher estão pois muito ligados à peneira, que simboliza início da vida, ritos de iniciação, o centro da terra. Alguns dizem ainda que a peneira simbolizava aves de rapina, como abutres, milhafres e outras.

Nos ritos de iniciação masculinos, todos os rapazes aprendem a fazer uma peneira, o que revela o seu papel central na estabilidade futura do seu lar. Este aconselhamento, olaquiwa, ensina os rapazes a colocar as primeiras tiras do meio do fundo da peneira, chamado "o centro da terra". no final dos ritos, a peneira também está presente - no final da instrução, o mestre (nakano - conselheiro, em macua), coloca na peneira uma variedade de cereais, coloca-a na cabeça e começa a cantar, andando, seguido pelos rapazes, até a farinha desaparecer, o que marca o fim da cerimónia.

Nos ritos femininos, é ensinada a utilização da peneira como sinalização. Em vez de comunicarem verbalmente ao marido o seu período menstrual e a sua indisponibilidade, a mulher deve pegar a peneira e tapar um dos cântaros e atravessar por cima o remo (pau que amassa a caracata (farinha de mandioca).
Se iniciados, os maridos logo entendem. Uma determinada colocação da peneira em casa pode, ao contrário, simbolizar a disponibilidade sexual. Como iniciação à vida, o papel da peneira é também complexo.
No interior, quando uma criança tem cerca de 30 dias de vida, é realizada a wakulelia muana. Trata-se de dar banho á criança com medicamentos tradicionais, para ela poder sair de casa protegida. Depois desta cerimónia, o recém-nascido é colocado na peneira e lançado aos quatro pontos cardeais, autorizando-o, assim, a casar em qualquer dessas direcções.
No litoral, a criança é posta na peneira ao sétimo dia e passada três vezes das mãos de uma pessoa dentro de casa para outra fora de casa e vice-versa. Depois de um banho de água misturada com medicamentos tradicionais, preparados no pilão, a criança está imunizada contra todos os espíritos.

Se uma criança se atrasa nos primeiros passos, os pais solicitam ajuda ao cunhado, napwera (que significa aquele com quem o pai brinca). Este coloca a criança numa peneira e arrasta-a, dando voltas pela casa. Quando pára, dirige-lhe alguns nomes. Passados alguns dias, a criança começará infalivelmente a andar, com a pressão do movimento simbolizado pela peneira.
Se aparece ligada à vida, também está presente na morte, pois é da tradição que seja usada a peneira quer para abrir a cova da sepultura, quer para lançar a terra que a tapará.

Os rituais de magia são outro dos campos em que está presente a peneira. Quando a mulher abandona o lar, os curandeiros oferecem medicamentos tradicionais ao marido, sivela (que significa gostar), que este deve colocar na peneira, processo que será repetido por três dias. No fim destes, o coração dela começa a palpitar duma forma anormal e surge o desejo de voltar a casa. É por tudo isto que o padrinho nunca se esquece de avisar o seu afilhado quando este prepara a sua vida de casado: "afilhado, não fez nada ainda, pois falta peneira".

A simbologia é, pois, para nós bem diferente da da mentalidade ocidental, que concebe a peneira como a separação da fina flor, através de malhas cada vez mais apertadas, ideia aplicável às relações sociais ou às actividades pessoais.

Do site:

Texto enviado por Armando Silva - Lisboa

4/14/05

O que os meus olhos vêm


Uma forma diferente de perceber a natureza...e uma nova página da Home Pemba.
Autora das fotos - Inez Andrade Paes

"O que os meus olhos vêm" está em :
http://geocities.yahoo.com.br/andradepaes/inezfotos.htm
Posted by Hello

4/12/05

O Mundo chega a Pemba...!


Posted by Hello (Foto captada faz algum tempo na net e de autor que desconheço)

Quem foi João Ferreira dos Santos ?

Nampula - O Cine-Teatro Almeida Garrett, em primeiro plano, e os edifícios João Ferreira dos Santos e Hotel Portugal, em segundo. (fonte - http://petromax-x.blogspot.com/)

Um nome ligado a Porto Amélia/Pemba:

Crónicas - Jornal Notícias do Bombarral (Transcrição)


Morreu há 46 anos João Ferreira dos Santos.


Sabem os caríssimos leitores, quem foi João Ferreira dos Santos e onde se encontram os seus restos mortais?

Eis a resposta: é Bombarralense e jaz no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, num imponente jazigo, mandado erigir, em sua homenagem, pela esposa.

Foi um dos maiores empresários com extraordinário sucesso em Moçambique.

Ainda muito jovem, saiu da povoação dos Baraçais, pertencente à histórica freguesia da Roliça, na qual veio ao mundo, no ano de 1878, rumo à capital, empregando-se numa farmácia, ao mesmo tempo que “estudava as primeiras letras, sob a protecção de um boticário”. Deslumbrado pelo que ouvia falar relativamente às potencialidades de África, aos dezanove anos de idade, mais precisamente, no dia 24 de Janeiro de 1897, embarcou para a Ilha de Moçambique, no cargueiro «Zaire» e logo granjeou simpatias, ao ponto de um seu compatriota, José António dos Santos, não só lhe dar trabalho imediato, mas, também, passados que foram oito meses, sensivelmente, o convidou a explorar um pequeno comércio e daí resultou o fortalecimento de um colossal «Império Empresarial», que ainda hoje, os seus descendentes continuam a manter e a prosperar cada vez mais, principalmente na área geográfica de Nampula, dando trabalho constante, num sem número de Companhias Agrícolas, Comerciais e Industriais na Ilha de Moçambique, nomeadamente em Cabo Delgado, Beira, Sofala, Manica, Gaza, Niassa, Zambézia, Tete, Quelimane, Nacala, Angoche, Geba, Pemba, Chimóio, Maputo, entre outras zonas.

Destacam-se fábricas de descaroçamento de algodão, companhias de chá, investimento no sector do tabaco, sociedades algodoeiras, produções de sisal, moagens, com a transformação de trigo em farinhas, exportação de castanha e amêndoas de caju, exploração de citrinos, fábricas de bicicletas, produção de estruturas metálicas para coberturas de edifícios, atrelados e tubagens, para sistemas de frio e ar condicionado.

Isto é apenas um pequeno testemunho da grandeza de empreendimentos advindos do tempo do timoneiro João Ferreira dos Santos. Morreu em 1957, com 79 anos de idade, já fez 46 anos, cujo Governo Português, reconhecendo o seu alto valor como empresário em terras de Moçambique, lhe atribuiu dez anos antes do seu falecimento, o honroso Grau de Comendador. Era então Presidente da República, o General António Oscar Fragoso Carmona, o qual procedeu à entrega da significativa Comenda. No Bombarral, João Ferreira dos Santos, que contribuiu para a obra de abertura da Avenida do Hospital, mais precisamente, Avenida Inocência Cairel Simão, tem no começo desta extensa artéria, junto ao Hotel Comendador, um Largo com o seu nome, a perpetuar a sua memória. E foi tal o volume de empreendimentos levados a efeito em Moçambique, que ainda hoje é recordado, sobretudo em Nampula e o Bombarral não fugiu à regra, a cuja cidade deu a Câmara Municipal local, o nome a uma rua e que se prende, fundamentalmente, com João Ferreira dos Santos.

É de notar, que os principais dados contidos nesta abordagem biográfica, foram extraídos, com a devida vénia, de uma bem elaborada brochura ilustrada, a qual nos foi facultada muito simpaticamente, pelo amante da história, Pedro António Bento, gerente da Agência Funerária São Sebastião, com filial nesta vila do Bombarral.

E, assim, em poucas linhas, se enaltece uma figura natural do Bombarral, que teve como íntimo amigo, o então Governador Geral e Comissário Régio de Moçambique, Mouzinho de Albuquerque, nascido no Oeste da Estremadura, aos 11 de Novembro de 1855, mais precisamente na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, chegando a ser Ajudante de Campo do Rei D. Carlos e ficou na história de Portugal, por ter aprisionado no dia 27 de Dezembro de 1895, o célebre Régulo Vate Gungunhana, que morreu no cárcere em Angra do Heroísmo, Açores, aos 23 de Dezembro de 1906. Regressado a Lisboa, quase por imposição, Mouzinho de Albuquerque, desgostoso por não ter continuado a carreira em Moçambique, após uma suposta discussão com o Rei, suicidou-se no dia 8 de Janeiro de 1902 e seis anos depois, 1 de Fevereiro de 1908, era assassinado o Rei D. Carlos.

Que é feito deste garoto nascido em Porto Amélia ?


Nome : Jorge Paulo Cadete Santos Reis
Data de Nascimento : 27 de Agosto 1968
Local de Nascimento : Porto Amélia (Pemba), Moçambique
Nacionalidade : Portuguesa
Altura : 1,80cm
Peso : 75 kgs
Numero de Botas : 40
Site oficial - http://www.jorgecadete.com/index.htm
Posted by Hello

4/09/05

Paquitequete...ou a Pemba de todos os dias !


Na net em "Wunderground.com" ...
Posted by Hello

ILHA DO IBO - Perdida no Mar e na História...

Transferindo "post" do ForEver Pemba 3

Em Porto Amélia raramente se dizia a ilha do IBO; dizia-se, muito simplesmente, o IBO. Foi ao IBO, veio do IBO, vive no IBO...
Naquele falar e falajar do entardecer nas deliciosas varandas coloniais, fui ouvindo história daquela ilha da costa de Moçambique, entre o Lúrio e o Rovuma. O mistério ia, pouco a pouco, aguçando a minha curiosidade. O próprio café do Ibo, que o senhor Ferreira nos servia no «Botão de Rosa», ajudava ao mistério. Era um café delgadinho, acastanhado, de cheiro e sabor muito estranhos. Mas acabamos por gostar dele e precisar dele. Era revigorante e tirava a ideia de deitar em horas de andar a pé. E quem quisesse ler ou escrever pela noite fora, era só tomar um cafézinho do Ibo, depois de jantar. Insónia assegurada.
Quando a curiosidade começou a inquietar-me, não tive outro remédio se não reparti-la com o meu inesquecível companheiro Simões Coelho. O Dr. Manuel Simões Coelho, grande cirurgião e grande pianista, veio a falecer em Portugal, meses depois de ser desmobilizado.
Não foi difícil entusiasmá-lo. Ele também já andava mortinho por conhecer o Ibo. Difícil foi arranjar transporte que nos levasse pela costa acima, até ao ponto da travessia. O jeep do Hospital Militar 338, a que pertencíamos, estava mesmo a calhar, mas a viagem era paisana demais para o podermos usar sem dar nas vistas...
Acabámos por aceitar a oferta de um indiano—um velho Opel sempre a torrar ao sol implacável da Av. Jerónimo Romero. Só depois de aceitarmos, com muitas mesuras de parte a parte, é que soubemos do estado lastimoso do carro. A cor era o menos, mas sempre lhes direi que ia do vermelho alaranjado, nas pregas mais protegidas, ao diospiro podre nas superfícies mais expostas.
Depois de uma revisão que, afinal, só serviu para nos afirmar que era uma temeridade partir, assim, com duas senhoras e duas crianças, lá fomos aos primeiros raios daquele sol que se erguia do lado do mar e se punha do lado da terra.
Logo aos primeiros quilômetros, o Opel triplicou os barulhos da partida e começou a cambar para o lado esquerdo. Por sua vez, as senhoras iam fechando a cara, daquela maneira que só as esposas contrariadas sabem fazer... O que nos valia, a mim e ao Simões Coelho, era a grande satisfação dos nossos filhos, o João e o Jorge. Riam e batiam palmas de cada vez que um macaco-cão atravessava a estrada, solene e atrevido.
— Ó papá, tu não apitas nas curvas?! — estranhou a certa altura o Jorge.
— Ó filho, tomáramos nós encontrar alguém, mesmo contra a mão! — respondeu, galhofeiro, o Simões Coelho.
Naquela fita de terra vermelha, marcada pelas tempestades e pêlos aventureiros, naquela solidão que parecia vir do princípio do mundo, buzinar seria uma ingenuidade e um sacrilégio.
A certa altura o «diospiro» cambou perigosamente para o lado de que vinha a queixar-se desde Porto Amélia — o esquerdo.
— O feixe de molas está a dar o berro! — informou o Simões Coelho, de rabo para o ar, meio metido debaixo do carro.
— E agora? — perguntei com a nítida sensação de ser ridículo naquele ermo.
— Vamos andando devagarinho... Mahate deve estar perto!— sossegou o Simões Coelho a bater as mãos, vermelhas de terra.
Depois de meia dúzia de curvas, dadas de credo na boca, Mahate apareceu como um bocejo da floresta.
Mahate era uma terra pequena e poeirenta surgida, ao que me pareceu com a exploração, naquela área, da companhia algodoeira Sagal.
Para nós foi a Divina Providência que ali instalou umas oficinas capazes de reparar o nosso carrinho cambado e gemebundo. Não seria preciso, mas sempre fomos dizendo que éramos amigos do senhor Eng° Guedes de Paiva, ao tempo, administrador da Sagal em Porto Ameia... Além do préstimo, os mecânicos foram de uma amabilidade inesquecível. Só tivemos de esperar um tempinho bem bom. Fomos passá-lo a uma daquelas lojas que só se encontram na África em pleno mato. Ali se vende de tudo, mas tudo cheira a tabaco e peixe seco.
Resolvemos esperar na varanda, quase ao nível da rua, a uma mesa de tampo coberto de moscas. Daquelas moscas que voltam sempre mal acaba o gesto de as afastar. Ao fundo da varanda bebia cerveja um negro gordalhufo, esgoleirado, mas bem vestido. Limpava, a espaços, um suor azulado e parecia, de olhar fixo, contar as garrafas que já bebera e tencionava beber.
É o doutor do Ibo!... — informou o pretito que nos trazia os pedidos; adivinhando em nós a estranheza de ver ali tal figura.
Ainda pensamos em abordá-lo para lhe dizermos quem éramos e onde íamos, mas o nosso colega parecia estar ao fundo de uma varanda sobre o infinito...
Do outro lado da rua havia um inacreditável campo de futebol. Apenas umas canas espetadas no chão poeirento limitavam o necessário rectângulo em cujas extremidades havia uns paus tortos a servir de balizas. O piso era de terra moída e remoída por mil pés a ir e a vir na mira do golo. Mas o campo tinha uma vaidade que ainda hoje me dói... Por cima da entrada uma tábua ressequida dizia assim numa caligrafia acabada de aprender:
LEÕES DE MAHATE
Quando pensávamos em ir ver se o carro já estava pronto, o «diospiro» apareceu, trazido por um funcionário da Sagal. Vinha todo teso e reluzente de limpeza, íamos batendo as palmas de contentamento. As nossas mulheres sorriram, finalmente. Pareciam já duas noivas em viagem de núpcias...
Dali até ao ponto de embarque para a ilha do Ibo correu tudo bem, mas tudo feito com muito cuidado por causa do piso. Quando menos se esperava surgia um pontão de troncos, ali posto para dar passagem no leito seco de um riacho efémero. Se bem me lembro, só atravessamos um curso de água permanente — o rio Montepuez.
Era em Tandanhangue que se embarcava para o Ibo. Não havia povoado, nem havia cais. Apenas uma enseada minúscula acolhia o barco a motor do vai-e-vem.
Ao embarcarmos, as senhoras voltaram a fechar a cara e os rapazinhos a ficar mais contentes. Aquele barco pareceu-lhes, certamente, acabado de saltar de um quadradinho de banda desenhada...
A mim pareceu-me pequeno para aguentar qualquer espécie de mar. Eu não sabia que no paraíso os barcos não têm tamanho... E foi uma viagem paradisíaca aquela que fizemos, ora quebrando espelhos de mar imaculado, ora atravessando florestas de mangai, de onde se erguiam bandos de pássaros, brancos e silenciosos como a neve.
Talvez influenciado pelas histórias de Somerset, esperava encontrar na Ilha do Ibo um pequeno porto com alguma agitação de gente curiosa e mercadorias pasmadas ao sol. O cais do Ibo não passa de um pequeno patamar com escadinhas a desaparecer na água quieta. À espera, apenas um rapaz de tronco nu, muito lesto nas manobras de atracagem.
Foi esse rapaz que nos levou a casa de Wong Jan, um chinês de hospitalidade lendária por toda a costas de Cabo Delgado e que, em Porto Amélia nos haviam indicado como único sitio do Ibo onde poderíamos ficar.
Wong Jan recebeu-nos com as vénias de todos os chineses a que, ao que me pareceu, juntou mais algumas de homenagem ao Simões Coelho, já famoso por aquelas bandas.
Depois de um banho, tomado a golpes de púcaro pela cabeça abaixo, fomos cervejar para a varanda. Íamos na segunda rodada, quando apareceu o «Madragoa» a esbracejar e a rir de lês a lês no carão moreno. O « Madragoa» era o Administrador da llha do Ibo. Não consigo lembrar-me do seu verdadeiro nome. Aliás, julgo que nunca o soube muito bem... Apesar de muito estimado e respeitado, ninguém a ele se referia de outra maneira.
— Está cá o «Madragoa»! — anunciava-se, volta e meia, em Porto Amélia.
A simpática alcunha deve ter pegado por excesso de bairrismo do Administrador. Acho que dizia por tudo e por nada:
— Sou de Lisboa e da Madragoa!
E por ser de Lisboa recordou pela noite fora com o Simões Coelho casos e recantos da saudosa terra de ambos.
Quando as senhoras e as crianças se foram deitar, como autómatos perdidos de sono, ficámos só os três. Melhor, os quatro. Wong Jan andava por ali, discretamente, atento à nossa sede e à nossa fome. A certa altura o Administrador insinuou que «estava mesmo a calhar» um certo pastelão de um certo marisco.
Apesar do marisco me parecer um tanto coreáceo, o pastelão, no seu conjunto, ficou delicioso. Mas esta delícia viria a estragar-me a noite... Não fiz a digestão daquele marisco tão aplaudido. De cada vez que me virava, sentia os pedacinhos inteiros a carambolar no estômago, como bolas de bilhar. E quando pela manhã, ouvi o Simões Coelho a falar no pátio com os criados, berrei-lhe, ainda da cama:
Arranja-me um pouco de aguardente!
— 'stá bem... 'stá bem! — respondeu com certa estranheza na voz.
Mas a aguardente nunca mais vinha. Passado cerca de um quarto de hora, voltei a berrar:
— Então essa aguardente, Simões Coelho!?
—Andam a tratar disso!... Tu julgas que estás na Régua?
Passados mais dez minutos, um criado bateu à porta.
— Pronto, patrão! já 'tá — disse, contente, no seu riso de piano aberto.
Intrigado por não lhe ver nada nas mãos, perguntei:
— Já está o quê?
— O banho, patrão. Tem muita água!
Está visto que me andou a arranjar água quente em vez de aguardente!... Tomei um delicioso banho de bidom. O único banho quente em dois anos e meio de África.
O pequeno almoço tornou-se de fugida. Não queríamos perder o içar da bandeira naquele domingo passado tão longe.
A cerimónia foi breve mas de uma solenidade garantida pelo rigor militar dos sipaios. Nunca a nossa bandeira me pareceu tão nossa, a tremular assim naquele azul tão forte que parecia pintado.
Começamos a visita à ilha pelo Hospital. Ficava ali mesmo, naquele terreiro de árvores frondosas em redor do mastro da bandeira.
Não voltei a ver hospital tão limpo, tão arrumado e tão deserto. Apenas dois serventes negros nos fizeram as honras da casa, abrindo portas naquela solidão e respondendo baixinho às nossas perguntas. O Hospital pareceu-me apetrechado para o que desse e viesse. Viesse o quê? Apenas dois negros, muito velhos e muito magros estavam internados, mais por caridade que por doença. Nenhum respondeu às minhas perguntas. Nem os olhos mexeram, quando as repeti mais alto. Três mundos: o meu, o deles e o outro.
Ao recordar, agora, aquele deambular pelas ruas do Ibo, recordo paralelamente o percorrer das ruínas de Pompeia, visitadas muitos anos depois. Em Pompeia tudo aconteceu há tanto tempo que nada nos comove. Dir-se-ia que, ali, o Vesúvio e os séculos silenciaram tudo de tal maneira que as nossas almas e os nossos corações já nada podem sentir.
No Ibo o pano parece-nos caído sobre a opereta da grandeza e logo erguido para mostrar o drama da decadência. Entre a descida e a subida do pano, um curto intervalo para a História poder mudar de roupa.
Não pudemos visitar toda a Fortaleza por medida de segurança. Estavam lá prisioneiros muitos negros implicados na guerra, prestes a abrir ao sangue e à intolerância. O que vimos chegou para saber que a Pátria se defendia tão bem e tão longe.
Foi confrangedor passar diante de casas senhoriais, de paredes esventradas, sem telha que as proteja e porta que as guarde. Numa delas, em plena sala de jantar, de paredes apaineladas, crescia uma árvore com indescritível descaramento. Nas fachadas de armazéns arruinados, iam-se apagando os nomes de grandes firmas comerciais e um grande silêncio parecia amarrar-se àquela fiada de argolas de prender os animais de carga.
As casas habitadas eram poucas e dispersas. As pessoas vinham às portas ver-nos passar como fantasmas de um futuro que há-de vir. E ainda não veio.
Ao virar de uma esquina apareceu o nosso simpático Administrador. Vinha num jeep cheio de mossas, roncos de motor e grandes estoiros de tudo de escape. Queria oferecer-se para uma volta mais larga pela sua ilha.
Começou por nos mostrar, muito orgulhoso, um pequeno bairro social de sua iniciativa. As casas eram pequenas, de blocos feitos ali mesmo, sem qualquer estilo, a contar com um clima sem inverno. Foi uma nota de esperança naquela terra em agonia, desde o fim da escravatura. Sim. O Ibo foi próspero, enquanto entreposto de escravos. Ali se fixaram grandes famílias da Europa, vivendo na abastança, da compra e venda de negros.
Lá estão as casas senhoriais de estilo europeu a afirmá-lo e os apelidos nobres a resistir ainda aos humildes nomes indígenas: Ávila... Menezes... Carrilho... Ornelas... Alba... Coutinho... E o sangue? ohl... o sangue...A garantir a sanidade dos cruzamentos de sangue latino e negro, temos o milagre das «brancas do Ibo». Milagre de brancura, de elegância, de beleza, de jeito de falar e jeito de ser. Iris Maria é uma branca do Ibo. Foi miss Portugal. Não tem havido mais porque o Ibo é longe e mau caminho...
Ao som daquele jeep rebentado percorremos boa parte da ilha com o nosso «Madragoa» a gesticular indicações com o braço livre do volante. Nada me pareceu cultivado com regra ou entusiasmo. Toda aquela agricultura de subsistência tinha o mesmo ar espontâneo do capim, mas toda aquela desolação definitiva não impedia o nosso Administrador de gesticular grandes projectos de abastança. Quando se punha de pé, de braço estendido a traçar lonjuras de cultivo, chegava a ouvi-lo como um eco de D. Quixote...
Por ventura a marca mais profunda que me ficou daquele passeio a esmo pela ilha, foi a visão das sepulturas individuais e familiares que íamos encontrando perdidas no capim. Mal se desligava o motor para irmos ver mais perto, caía sobre elas um silêncio quase doloroso. Que grande senhor negreiro estaria ali comido dos bichos e dos remorsos? Que formosura virginal teria acabado ali os sonhos de donzela?
Um ventinho de murmúrio respondia do infinito. Um grande silêncio respondia a toda a gente.
Outra vez o cais... outra vez o barco... outra vez o mangal no mar quieto... outra vez os pássaros brancos e silenciosos como a neve...
E a Ilha do Ibo lá ficou, perdida no mar e na História.

*Relato que se presume tenha acontecido na década de 1960, quando o médico duriense cumpriu serviço militar em Porto Amélia como diretor do Hospital Militar e publicado em 1991 em Portugal-Peso da Régua, no "livro de Andanças".
13 de Agosto de 2004

Imaginando a Ilha do IBO...XII


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Imaginando a Ilha do IBO XI


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Imaginando a Ilha do IBO III


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