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9/12/09

HIV/SIDA: MAU ATENDIMENTO NO HOSPITAL PROVINCIAL DE PEMBA!

Com apoio das organizações Movimento de Acesso ao Tratamento em Moçambique (MATRAM) e Comunidade Sant’Egidio, várias associações de pessoas vivendo com HIV e Sida entregaram nesta sexta-feira, 11 de Setembro, à Direcção Provincial de Saúde de Cabo Delgado, um documento com relatos de mau atendimento de pacientes no Hospital Provincial de Pemba.

Conforme o documento, Cassamo - paciente que não quis identificar seu apelido - denuncia que o pessoal de saúde está a divulgar o seu estado serológico para outros doentes daquela unidade.

Mariamo contou que já não recebe serviços de aconselhamento, o que o motivava na aderência ao tratamento; e Júlia criticou o facto de chegar numa consulta e não ser atendida porque os trabalhadores da saúde não encontraram seu processo clínico.

A activista Ana Muhai, do programa DREAM, da Comunidade Sant’Egídio, acredita que todos esses problemas são decorrências directas do encerramento dos Hospitais de Dia.

“Está a ser dolorosa esta atitude do Governo. Conheço muitos seropositivos que chegaram a ficar um mês sem tomar antiretrovirais depois que isso ocorreu”, lamentou.

Criados em 2003, com o intuito de proporcionar um atendimento especializado aos seropositivos, os Hospitais de Dia não faziam internações, apenas atendimentos de rotina, quase sempre relacionados ao início ou à manutenção do tratamento contra a Sida.

Entretanto, por um decreto do Ministro da Saúde, Paulo Ivo Garrido, os Hospitais de Dia foram encerrados recentente, com o propósito de descentralizar o tratamento antiretroviral.

A ideia, segundo o chefe da pasta da Saúde, é que o tratamento seja feito nos hospitais gerais, de modo a garantir um atendimento uniforme e mais abrangente.

Mas por enquanto, de acordo com várias pessoas vivendo com HIV e Sida, como as das associações Esperança de Vida, Ajuda ao Próximo, Mawazo, Karibo, Kaeria, Wiwana, entre outras de Cabo Delgado e de todo país, não está a acontecer.

Cabo Delgado, segundo as estimativas da Ronda de Vigilância Epidemiológica do HIV referente a 2007, tem uma prevalência do HIV de 10 por cento entre as mulheres grávidas.

A prevalência nacional, entre as mulheres grávidas, é de 16 por cento, enquanto nos adultos de ambos os sexos é de aproximadamente 14 por cento.

Redacção da Agência de Notícias de Resposta ao SIDA. DICAS DE ENTREVISTA - Ana Muhai http://www.santegidio.org/; MATRAM - Tel.: 21 400147 e.mail - matram@tvcabo.co.mz

Fontes:

Acrescento: E agora Sr. Ivo Garrido? E agora Sr. Guebuza? E agora, ilustres governantes de Moçambique? Teorizar é fácil... Mas da teoria à prática a distância é abissal. E as consequências em sofrimento e vidas humanas perdidas, castigadas injustificada e inútilmente, também!

5/19/09

Eu sou de Pemba, tenho 30 anos e sou divorciada. Tenho uma filha de sete anos...

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui e daqui)

Eu sou de Pemba, tenho 30 anos e sou divorciada. Tenho uma filha de sete anos. Demorou muito para eu descobrir que tinha o HIV. Comecei a ficar doente em 2004 e fiquei um ano e meio com febres, tudo doía. As pernas não me ajudavam, eu já não andava. Estava sempre com manchas no corpo, comichão nos braços e nas pernas.

Na época eu era casada com um tanzaniano. Tive duas filhas e as duas morreram com menos de dois anos. Eu fazia pré-natal, mas não acusava nada. Fiquei um ano hospitalizada, mas ninguém nunca dizia o que havia de errado comigo. Eu pedia, exigia, implorava e nada.

Voltei da Tanzânia para Moçambique. Meus tios me receberam e cuidaram de mim. Comecei a receber tratamento no hospital e quem me atendeu foi um médico tanzaniano. Perguntei para ele se poderia ser HIV e ele disse que não, que ele ia me tratar e eu ia sarar. Acho que o teste voltou positivo, mas ele não queria me dizer.

No meio tempo eu também fazia tratamentos tradicionais. Minha família já tinha perdido as esperanças. Um dia uma prima sugeriu: “Mana, tem uma doença que faz o teste, era bom que fôssemos lá no hospital de dia. Pode ser que não seja, mas vamos tentar.”

Quando me disseram que eu era positiva, não acreditei. Eu já tinha ouvido falar o que era HIV, mas pensava “Isso não pode acontecer”. Naquele dia, um paciente no hospital me disse: “Não te sintas triste, eu também estou a fazer tratamento. Vais ficar bem.”

Não faço idéia de como fui infectada, mas meu marido era negociante, ele tinha outras mulheres durante as viagens. Quando descobri que era seropositiva nós já estávamos separados. Eu mesma pedi: “Não quero te privar. Estou doente e não sei até quando fico assim. Enquanto eu não sei o que eu tenho, eu te liberto.”

Comecei a fazer o tratamento. Em três meses eu me sentia a recuperar. Passei a ter uma apetite forte de comida. Me sentia bem. No hospital, um enfermeiro me falou de uma associação de pessoas vivendo com HIV chamada Kaheria (“Você não dizia?...” na língua macúa), para eu não ficar isolada. Fui, inscrevi-me, dediquei-me e passei a ajudar outras pessoas. Virei activista.

Preciso me sentir mais firme antes. As pessoas têm muita confiança em mim e me pedem para ajudar em várias situações. Sei, por exemplo, de um casal em que os dois são seropositivos, mas um não sabe da condição do outro. Os dois vieram me contar, mas não têm coragem de dizer para o parceiro.

Numa outra ocasião, a esposa escondeu os remédios do marido, porque desconfiava que os comprimidos não eram para dor de estômago, como ele dizia. Ela queria que ele ficasse aflito e contasse a verdade para ela. Ela não sabia que ele tinha o vírus, mas eu aconselhei que ela devolvesse os remédios, porque se ele morresse, ela seria cúmplice.

Em outro caso, havia um pastor que ia se juntar com uma moça, mas ele não sabia que ela era seropositiva. Ela escondia os remédios no plástico de calcinhas. Um dia ele apanhou os remédios, que reconheceu porque um amigo havia morrido de SIDA. A moça mentiu: “Não são meus, são da Patrícia”. Ela foi correndo até minha casa, me contou a história e pediu que eu fingisse ir até a casa dela buscar os remédios. Quando cheguei lá, o pastor tinha jogado os remédios na latrina, porque achou que fossem meus. Ele me pediu desculpas.

Como activista, eu tenho preparo para conversar com as pessoas. Quando alguém me traz uma situação assim, eu sempre posso mostrar qual o caminho. Apesar disso, eu mesma ainda não tive coragem de abrir minha condição para todos. Já apareci na televisão falando sobre o trabalho como activista na Kaheria. Sou uma figura pública, leio mensagens para motivar as pessoas para fazer o teste voluntário, mas as pessoas não sabem que eu sou seropositiva. Apenas algumas poucas pessoas sabem, e elas não me discriminam. Outras não acreditam, dizem “Ela é gorda e bonita, não é verdade”. Mas mesmo assim ainda não acho que está na hora de me revelar: preciso me sentir mais firme antes. Mas acredito que eu seja alguém que está a contribuir com a sociedade.
- Pemba, Maio 2009, Patrícia - PlusNews.

  • Alguns post's deste blogue que falam sobre o grave problema da HIV/Sida em Moçambique e Cabo Delgado - Aqui!
  • MOÇAMBIQUE: Quase um em cada cinco funcionários públicos tem o HIV - Aqui!
  • PlusNewsNotícias e análises sobre HIV e Sida - Aqui!
  • Portal HIV/SIDA Moçambique (sem atualização desde Abril de 2007, o que se lamenta) - Aqui!
  • UNICEF Moçambique - Aqui!
  • Campanha Francesa contra AIDS - Aqui!
  • Síndrome da imunodeficiência adquirida - Wikipédia - Aqui!

9/04/07

PEMBA: Fátima, o sheik e a mesquita...

PEMBA, 3 Setembro 2007 (PlusNews) - A voz melodiosa do sheik Muhamade Aboulai Cheba ressoa nas casas de colmo e coral, escondidas atrás de cercas de bambu de quatro metros de altura. O Oceano Índico brilha entre os troncos altos e finos das palmeiras, nas curvas dos becos estreitos e arenosos.
Esta é Paquitequete, o mais antigo bairro de Pemba, capital de Cabo Delgado, a mais setentrional província de Moçambique.
No sermão de hoje na mesquita local, Cheba encoraja a tolerância para com o crescente número de refugiados somalis e congoleses que abrem lojas ao longo da principal avenida de Pemba.
Mas em muitas sextas-feiras, Cheba prega sobre a Sida.
“Nós ensinamos as pessoas como se proteger e como lidar com a doença se a contraírem”, disse Cheba ao PlusNews.
A seroprevalência em Cabo Delgado, que faz fronteira com a Tanzânia, é de 8.6 por cento, a mais baixa do país.
A média nacional é de 16.2 por cento.
Comerciantes árabes trouxeram a fé islâmica para a costa oriental de África por volta do século VIII.
Em Cabo Delgado, cerca de 80 por cento dos 2.5 milhões de habitantes são muçulmanos.
Cerca de um quarto dos quase 20 milhões de moçambicanos são muçulmanos.
O velho Paquitequete tem uma história de que se orgulha e sua mesquita verde e branca, entre a colina e a praia, é a mais prestigiada da cidade.
O movimentado bairro se aquieta às sextas-feiras depois das 11 da manhã, quando a mesquita enche.
O poder da palavra
Cheba conhece o poder da palavra:
“Num lugar de culto as pessoas prestam maior atenção”.
Num lugar de aprendizagem também.
Cheba é director provincial de 139 madrassas (escolas islâmicas) registadas na província, onde os alunos começam a aprender sobre a Sida aos seis anos, “de maneira apropriada, usando metáforas, sem mostrar preservativos”.
Seguindo os ensinamentos islâmicos, Cheba insiste na fidelidade entre os casais e em adiar o sexo até ao casamento.
Preservativos não são recomendados.
Muitas mesquitas organizaram equipes que visitam doentes e órfãos em suas casas.
A organização não-governamental portuguesa Médicos do Mundo treinou uma dúzia de muçulmanas, incluindo a esposa de Cheba, em cuidados domiciliários.
Os órfãos estão isentos das mensalidades escolares – cinco contos por mês, que equivalem a 5 centavos de dólar – nas madrassas e recebem comida e roupas.
Muçulmanos seropositivos são encorajados a procurar grupos de apoio, diz Nassurulahe Dula, presidente do Congresso Islâmico de Cabo Delgado, a maior congregação islâmica na província.
Tudo isto ajuda.
Mas alguns activistas de Sida em Pemba irritam-se com as pregações de Cheba:
“Esta doença é um castigo divino; o Profeta disse que uma doença sem cura e de morte súbita é castigo por adultério.”
Ele se apressa a explicar que “tal como o tsunami na Indonésia, a Sida é um castigo que afecta os que fazem bem e os que fazem mal.
As pessoas devem se arrepender e voltar para Deus.”
Uma boa muçulmana
Maria de Fátima Bacar, de 44 anos, é uma mulher grande e amigável, que mora a 20 quilómetros de Pemba.
Ela tem um filho vivo, três mortos e dois netos, que ela adora.
Em Junho de 2003, seu marido, um policial, ficou doente.
A primeira mulher dele tinha morrido há algum tempo.
Tanto os testes de Bacar quanto de seu marido voltaram positivos para HIV.
Eles foram uns dos primeiros em Cabo Delgado a começar o tratamento antiretroviral.
O interesse de Bacar em questões de saúde, resultado de 20 anos trabalhando como servente no posto de saúde local, ajudou-os a lidar com o vírus.
O casal organizou um grupo de apoio na aldeia onde vivem, a Associação Para Ajudar o Próximo, que agora tem 22 membros e cuida de 12 crianças seropositivas.
Eles visitam os doentes, ajudam com os funerais, garantem que os órfãos frequentem escola, e encorajam as pessoas a fazer testes de HIV no posto de saúde local.
“Cinquenta e sete no mês passado”, diz Bacar, com orgulho.
Bacar não está satisfeita com o que ouve nas mesquitas.
“A Sida não é um castigo divino. Qualquer um que disser que a Sida é um castigo diz por ignorância”, afirma ela.
“Sou uma boa muçulmana. Nunca fiz nada fora da minha fé. Sempre fui uma esposa fiel e honesta, mas peguei o HIV através do meu marido”, explica.
“Ao invés de acolher as pessoas, eles nos rejeitam.”
A ligação entre a Sida e sexo é há muito um assunto delicado para organizações religiosas que promovem regras e comportamentos sexuais estritos.
“Nós encorajamos a Sida pela nossa maneira de vestir, mostrando barrigas e tentando os homens”, diz Awash Ingles, uma proeminente líder muçulmana que frequenta a mesquita de Paquitequete.
Como a malária
O Islã tem “imensos problemas” para lidar com a Sida em Cabo Delgado, diz Diquessone Rodrigues, coordenador provincial da Monaso, a rede nacional de organizações para os serviços da Sida.
“Devemos tentar mudar a crença de que a Sida é um castigo divino porque as meninas vestem tchuna-babies (jeans apertados) e fazem sexo antes do casamento”, diz Diquessone.
A Monaso está se reunindo com grupos de mulheres associadas às mesquitas para tentar mudar suas percepções e encorajá-las a trazer mudanças.
“Elas podem falar (sobre a Sida) nas mesquitas e nas madrassas”, diz Diquessone.
Outro potencial aliado é o Núcleo Provincial Contra a Sida, que planeja se reunir com as autoridades islâmicas na segunda metade deste ano.
“Queremos trabalhar com os líderes islâmicos para mudar este discurso porque fere os seropositivos ouvir que a Sida é um castigo de Deus”, disse o director do Núcleo, Teles Manuel Jemuce.
A idéia é cutucar gentilmente a mentalidade muçulmana em Cabo Delgado em direcção a um ponto comum com Bacar, que diz que “A Sida não tem preferência por muçulmanos, cristãos ou pagãos.
Ela é como a malária: somos todos iguais em sua presença.”