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12/21/12

Uma história para o Natal - Coríntia a menina dos tecidos

Coríntia é uma menina que vende tecidos muito coloridos no bazar, cada vez que os sacode deixa cair no chão, histórias com muitas cores.

A manhã é de Sol quente.
Aproximou-se da menina um homem alto - porque todos os homens são altos para a menina que ainda é pequena - aproximou-se e pisou num bocado de tecido encarnado. A menina puxou o tecido e pediu que o homem tirasse os pés de cima das Cerejas, mas ele só ali via um tecido encarnado. 

- Quero comprar este tecido - apontando para o tecido encarnado -.

- O das Cerejas? Pergunta a menina.

- Sim o vermelho.

- Não é vermelho, é mais forte, vermelho três vezes forma-se em encarnado e se ficarmos a conversar um pouco mais de certeza ficará pálido vermelho porque o sol alimenta-se das cores dos meus tecidos.

- É por isso que os abanas?

- É por isso e porque assim ao longe quem passa os vê. 

- Quero então um metro de Cerejas. 

- Porque não leva também um metro de Mangas?

- Não, para as mangas já me chega este metro.

- Não digo de vermelho, digo um pouco deste que é quase vermelho mas ainda é laranja de Manga.

- Menina! Vamos lá a perceber, afinal o que é que eu levo?

- Não sei, leva o que quiser, mas se quiser a minha opinião, fazia as mangas a Mangas e o corpo a Cerejas.

- Então dê-me lá um quilo de cada.

E assim a menina vende os seus tecidos e convence todos os compradores a sonhar.

- Inez Andrade Paes*
PUBLICADA POR IAP EM 12:33 - "Contos de fadas não de reis"
* Foi na terra do mar que Inez pôs em primeiro lugar as suas mãos. Daí sairam conchas, algas, pequenos grãos de areia que se introduziam entre os dedos e embora fizessem uma ligeira impressão traziam consigo o nácar dos peixes e o azul do Mar. Foi com estes olhos que Inez se arrelampou com o primeiro pôr do sol, com o primeiro arco iris, com a primeira onda agreste que lhe deitou o mar por cima e lhe deixou sal nos lábios. Foi com estes olhos que Inez viu a terra vermelha, aquela onde até se podiam plantar pedras. Mas foi com estes olhos que Inez recompôs a saudade e mergulhando as mãos na terra adversa, daí tirou tudo, fez compotas, adoçou a família e os amigos, e como se não bastasse, meteu a imaginação pelo meio para criar coisas que aos nossos olhos se tornaram surpreendentes. Foi com estes olhos que Inez abraçou o pasto com a mesma ternura que abraça os poetas, o mesmo amor que abraça a alma. E foi com estes olhos que Inez viu a liberdade dos pássaros e os reproduziu fielmente, para que eles os pássaros pudessem ir para além do vôo, naquilo que os pássaros ensinam as pessoas em trajectórias para além do circulo. E as mãos de Inez estão aqui. No tudo que nos leva ao caminho duma descoberta plena. Por favor Inez não deixes que as tuas mãos saiam do nosso coração. 
- Teresa Roza D’Oliveira - Julho de 2004

Clique nas imagens para ampliar. Edição de J. L. Gabão para os blogues "ForEver PEMBA" e "Escritos do Douro"em Dezembro de 2012. Transcrição com a devida vénia dos blogues da artista plástica, poetisa e escritora natural de Pemba em Moçambique, residente em Portugal, Inez Andrade Paes "Contos de fadas não de reis" e "Coralino" Permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

5/25/09

ESTAS SÃO SOBREVIVENTES !

[Clique na imagem para ampliar. Imagem daqui (Delichon urbica)]

No ano passado num jornal do metro de Estocolmo vinha a notícia do aparecimento de milhares de Andorinhas mortas no Vale do Limpopo. Não consegui saber a razão depois de tentativas várias.
Este ano só chegaram duas Andorinhas-dos-beirais.

- não fiques tanto tempo lá fora

- há tantas árvores... ... elas guardam-me

- não fiques tanto tempo que te cansas

- as andorinhas levam-me com elas
dançamos subimos tão alto que vejo as flores em manchas largas
parecem tapetes no verde claro
as lágrimas do vento escorrem-me dos cantos dos olhos
e caem nas suas asas negras azuladas

- leva-me contigo

Por Inez Andrade Paes- escrito em 26 March 2009, 18:24

Acrescento: Na imagem e nas palavras ternas de Inez Andrade Paes, procuro estar perto e abraçar a minha forte e estimada poetisa do mar azul de Pemba, Glória de Sant'Anna. - J. L. G.

  • 7 registos de Glória de Sant'Anna (Fundação Calouste Gulbenkian) - Aqui!
  • Batuque ao longe - Aqui!
  • Egoísmo - Aqui!
  • Glória de Sant'Anna - Aqui!
  • Glória de Sant'Anna - uma mulher sensível - Aqui!

De Inez Andrade Paes:

  • Gente e Olhares - Aqui!
  • O Que Os Meus Olhos Vêm - Aqui!
  • Quadros - Aqui!
  • Pássaros - Aqui!
  • Pintura, Palavras, Fotografia - Aqui!

3/03/08

Moçambique, turismo e a ocupação desordenada do litoral de Pemba...III

(Clique na imagem para ampliar. Imagem original daqui)
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Sobre a ocupação desordenada e irresponsável do litoral de Pemba, os "alertas" vêm sendo feitos já hà alguma tempo. Será que os escutam ?...
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Do livro “O MAR QUE TOCA EM TI” escrito e publicado por Inez Andrade Paes em 2006:

Dia de Natal.
Um dia como os outros, talvez mais sereno que o anterior. As ondas também calmas convidam a chegar à água.
A manhã passou como habitualmente com a companhia das crianças e de alguns jovens. Antes da hora de maior calor surgem com mais ventos e ondas no Mar, no passeio que vem dar à casa dois homens.
Um que trabalha na recepção e um jornalista da rádio local.
- Podemos fazer-lhe uma entrevista?
- Sim!?
- Estamos a entrevistar todos os estrangeiros que vieram para passar esta época connosco e saber o que estão a achar de Pemba.
- Eu não sou estrangeira. Nasci em Pemba e tenho muito gosto em falar da minha terra e de vos dizer o que acho depois de anos de ausência.
O jornalista ainda hesitou em fazer-me a entrevista, porque era só para estrangeiros, mas ligou na mesma o microfone. Esta poderia ser sempre incluída noutro programa.

- Falei da beleza do Mar da forma como cada um de nós olha para ele e transmite a sua voz. Do recorte da praia que foi alterado, para um recorte protuberante e enriquecido só para uma minoria, devastado para aqueles que só dali vivem. A barreira de coral que meticulosamente vai perdendo o seu bordado, impedindo-a de fazer o seu trabalho. O Mar entra agora com mais fúria, uma fúria preventiva a mostrar um alerta urgente.
Venho de longe mas aqui pertenço. Venho de longe o Mar me chamou para dar som a vozes adormecidas a olhares perdidos e desencantados. Moralmente me obrigo e pela voz do Mar o faço.-

A entrevista foi dada.
O jornalista curiosamente tinha o mesmo nome que o de minha Mãe, fora ela que tinha inaugurado aquele emissor. O Emissor Regional de Cabo Delgado.
Não consegui ouvir a entrevista que foi transmitida duas vezes em dias separados. Soube-o mais tarde já na capital, mas consegui ouvir o som do martelo com ponta de borracha que batia nas placas de metal cada vez que se fazia uma pausa de programa ou principiava ou acabava a emissão. Como fez rir e sorrir e voltar a rir o seu som a tocar na memória tão presente.

Vejo-os ir. O jornalista com o gravador à tiracolo com os fios do microfone a tombar de lado e o recepcionista com seu olhar cativante e simpático. Tinha feito parte da promessa ao Mar...
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Inez Andrade Paes, natural de Pemba - Moçambique e residente em Portugal é também, além de poetisa, artista plástica e escritora.
Alguns de seus trabalhos podem ser apreciados na net aqui: