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7/29/09

Ecos da imprensa moçambicana: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do sul revolucionários?

Um texto que retrata e expôe claramente um dos "cancros" que levam, pós independência de 1975, ao Moçambique dependente de hoje, socialmente dividido em elites minoritárias e maiorias pobres sob a administração de um partido de raizes antidemocráticas, violentas, segregacionista até, onde prevalecem o apadrinhamento, perseguição política disfarçada, o medo e a censura camuflada, etç. Poucos, dentro de Moçambique, têm a coragem de "falar" como o lúcido Adelino Timóteo:

Beira (Canalmoz) - Em miúdo, na rádio, em casa dos meus pais, em Macurungo, eu ouvia uma canção que dizia: “Joana é reaccionária, Guambe é reaccionário, Simango é reaccionário, Murrupa é reaccionário, Unhai é reaccionário, Gwengere é reaccionário…” Era uma canção entoada por pessoas cujas vozes me pareciam estridentes, sombrias, ao mesmo tempo uníssonas.

No rol das palavras que compunham o vocabulário, então, reaccionário era uma palavra recorrente. Outros termos recorrentes eram Nação, Povo e Tribalismo e Luta. Como miúdo que era a princípio custou-me entender o que seria aquilo de reaccionário. Mas pelo timbre da voz dos cantantes daquela canção da autoria do partido Frelimo dava para entender que aquele epíteto estampado àquelas figuras não era coisa boa.

Os mais velhos me contaram que a canção amiúde entoada nos feriados como 3 de Fevereiro, 1.º de Maio, 7 de Abril, 25 de Junho, 25 de Setembro, visava censurar aquelas pessoas. E ninguém mais falava do assunto.

Um dos temas mais difíceis de abordar, por me parecer delicado, é aquestão do tribalismo. Em Moçambique, já desde há muito, tenho ouvido uns políticos tratarem por tribalistas uns aos outros. Igualmente, tenho percebido que o termo tribalismo alinha com o símbolo reaccionário, escamoteando-se a verdade. Logo, pela história recente, percebi que todos aqueles nomes que nomeei acima eram indivíduos do centro e norte.

Nunca falei nenhuma língua nacional, por razões que não interessa aqui evocar, mas que é conhecida de toda agente que comigo lida. Por isso, nunca tomei posição neste assunto delicado, mas que é amiúde evocado.

Um dia, quando lia um dos livros do Doutor Hélder Martins notei que numa das passagens ele se referia a um assunto que extravasava nesta melindrosa questão, porque por suposta ligação com Simango a Frelimo matou o meu pai. E Barnabé Lucas N’como, no seu livro Uria Simango Um Homem Uma Causa dissecara-a voltando ao assunto, entornando o caldo, pois defendendo que a Frelimo matou o meu pai por ele ser da etnia de Simango e mataram Simango, esposa e outros seus companheiros do cativeiro por uma questão de efeito e causa: serem de uma etnia diferente.

Seja como for, os reaccionários foram mortos por linchamento e enterrados numa vala comum de M’telela. A Frelimo mantêm-nos presos, prolongando a pena de morte a que os votaram.

Ninguém os quer restituir à sorte de merecerem de um funeral condigno, apesar da injustiça da história que os tratou mal por serem do norte e centro.

Só os revolucionários, que por colação são heróis do meu país, logo do Sul, têm direito a uma parcela do Estado, um lugar na cripta.

É isto que me ocorre dizer da história corrente deste país. E pelo que tenho percebido, dizer a verdade aqui é correr o risco de receber etiquetas, os apelidos reaccionário e tribalista.

Também eles, por tabela, em miúdo, me chamaram de reaccionário.

Sou filho de um assassinado a quém chamavam reaccionário.

Barnabé Lucas N’como teorizou que aquelas personalidades que então denominavam reaccionários e continuam sendo vaiadas apesar de mortos, foram vítimas de uma situação social que ninguém pode escolher: o ser do norte, sul ou centro.

Nenhum teórico do sistema conseguiu até hoje responder a uma pergunta que talvez vai-nos acompanhar até à morte: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Nem o tristemente célebre Sérgio Vieira, nas suas rotineiras aparições, nunca sustentou a sua famosa teoria das traições que resvalaram no genocídio que se cometeu contra muitos filhos deste País (leia-se que disse País e não região/partido porque o País, a Nação, é um elemento Superior).

Quando há pouco menos de um mês me encontrava na Áustria acompanhei pela comunicação social que o partido Frelimo recorreu ao Tribunal Administrativo pretendendo chumbar o nome Praça André Matsaingaíssa atribuído à rotunda da Chipangara. E da modorra do meu silêncio voltou a acordar a pergunta: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Há poucos dias, assistindo a TVM, chamou-me atenção o deputado frelimista Manuel Tomé a chamar tribalista a Viana Magalhões, da Renamo, em virtude deste ter questionado a exclusão a que são votados os cidadãos de outras etnias neste processo de consolidação da Unidade Nacional.

Há um grande nome do protonacionalismo, da Beira, Kamba Simango, que serviu de inspiração a Eduardo Mondlane, que a história de Moçambique tem renegado. E de novo apetece-me perguntar: Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

É pena que os nossos políticos continuem a perder tempo chamando-se tribalistas uns aos outros, no lugar de reflectirem sobre o aprofundamento da unidade nacional.

Enquanto o termo tribalismo for usado para a exclusão e discriminação do outro continuaremos a falar de uma nação que não será una, e jazerá sem alicerces, pois as zangas do passado ainda são latentes.

Os detractores de Uria Simango continuam zangados com o “tribalismo”(falso) de Simango e outras vítimas que o acompanharam ao infortúnio por serem do centro e norte. Porquê os cidadãos do centro e norte são reaccionários e os do Sul heróis e revolucionários?

Não vamos continuar a tapar o Sol com a peneira. É urgente uma efectiva Unidade Nacional e Reconciliação.
- Adelino Timóteo, CanalMoz, Ano 1, N.º 5, Maputo, Quarta-feira, 29 de Julho de 2009.

9/01/08

Moçambique: Nas bancas o primeiro jornal grátis - @ Verdade!

Lançado primeiro jornal grátis em Moçambique.
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A idéia é chegarmos às pessoas. Temos nesta cidade um milhão de habitantes que sabe ler e escrever e é inadmissível que a gente não consiga ter mais do que 10.000 exemplares em circulação. (Erik Charas, director do '@ Verdade')
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Em Moçambique está já na rua o primeiro jornal grátis, o semanário ‘@ Verdade’ com uma tiragem de 50 mil exemplares, numa primeira fase disponíveis apenas na capital, Maputo.
Os mentores da publicação afirmam que a intenção é contribuir para um maior acesso à informação, um direito que nos dias que correm não está ao alcance de muitos, num país em que mais de metade da população vive com menos de um dólar por dia.
A cores e recheado de informação, com secções que vão desde a política ao desporto, da saúde e bem estar ao ambiente.
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Acesso.
O ‘@ Verdade’ tem uma tiragem que ultrapassa – asseguram-nos - o conjunto de todas as restantes publicações do género actualmente existentes no país e promete uma experiência sem igual para os leitores e também ao nível da publicidade.
É sobretudo um desvio à norma, ao convencional, pelo menos para Moçambique, e é aqui em que reside a aposta dos seus proprietários, disse ementrevista á BBC para África, o seu director, o jovem Erik Charas.
“A ideia é chegarmos às pessoas. Temos nesta cidade um milhão de habitantes que sabe ler e escrever e é inadmissível que a genta não consiga ter mais do que 10.000 exemplares em circulação."
"É triste que para eu poder estar minimamente informado tenha de abidcar de oito pães, que é o custo de um jornal”.
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Publicidade.
Sobre a sustentabilidade de um jornal grátis, Eric Charas, respondeu que “a estratégia é inovadora, dado que assenta na publicidada mas não da forma tradicional”.
Se bem que as pessoas ainda estivessem a travar conhecimento com as primeiras das 32 páginas que compõem o semanário ‘@ Verdade’, uma breve ronda pela capital moçambicana permitir à BBC medir o seu grau de receptividade .
Numa cidade pouco habituada à palavra ‘grátis’ ou como se diz por estes lados ‘mahala’,um jornal ‘de borla’ vem facilitar a vida dos que pouco têm.
"O jornal tem muitas imagens e isso fala por mil”, apontou um leitor. Um outro disse: “Gosto de desporto e para ter acesso a esse tipo de informação é difícil, custa dinheiro”. Uma jovem saudou, por sua vez o ‘@ Verdade’, por "falar sobre coisas que acontecem".
Erik Charas, o proprietário e director do semanário ‘@ Verdade’ declina revelar, em cifras, o investimento feito para que tão ambicioso projecto tivesse pernas para andar.
Charas, que no passado recente recebeu uma nomeação do Fórum Económico Mundial em reconhecimento do seu contributo como jovem nas àreas da liderança e empreendedorismo, sublinha que nesta fase o que interessa é manter o sonho vivo.
“Os outros semanários sabem que nós nos completamos’, rematou Erik Charas.
- Eleutério Fenita, correspondente da BBCParaÁfrica.com em Maputo, 01/09/2008 - 11h16 GMT.
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Sucesso para o novo jornal de Maputo. Que seja imparcial, independente, frontal e espelho democrático da sociedade moçambicana. E abrangente a todo o Moçambique.