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7/20/11

CONCERTO DE HOMENAGEM A GLÓRIA DE SANT'ANNA - 2

Transcrição:
Homenagem a Glória de Sant' Anna - Reflexos

Já o deveria ter feito, mas ontem foi-me de todo impossível. Ainda tentei escrever, mas estava demasiado cansado e extasiado pelo domingo excepcional que tive e tivemos.

Sempre participei com a minha CAMERAʇtA IBÉRICA, desculpem-me este "puxar a brasa à minha sardinha", na mais que merecida e justa homenagem à poetisa Glória de Sant'Anna. E foi bom, muito bom, mesmo. Deu para perceber que a música orquestral tocada por 5 instrumentistas de grande valor técnico e musical, é bem aceite, assim como as minhas canções(zecas). A nossa soprano convidada, Jacinta Almeida, é sem sombra de dúvida uma cantora de eleição. Que magnífica interpretação de todas as minhas 5 canções! Obrigado, Jacinta! Aos músicos acompanhantes e integrantes deste novel agrupamento musical, Alfonso Pineda, Amadeu d' Oliveira, Antonio Mateu, Cecília García e Ruben Venegas, só lhes posso agradecer do fundo do meu coração. Parabéns a todos!

E já que estou em maré de agradecimentos, quero deixar os meus parabéns à Câmara Municipal de Ovar pela excelente organização de um evento simples, mas cheio de emoção.

Também tenho de agradecer à família Andrade Paes, irmãs Inez e Andrea e demais amigos e amigas, pela sua participação e colaboração, que sem a sua preciosa ajuda esta homenagem não teria tido nem sido tão calorosa, emocionante e comovente.

Tanto eu como os músicos adorámos estrear-nos em Ovar!

Penso que todos gostaram da nossa actuação, apesar de não ter sido brilhante, ainda que com grandes momentos de virtuosismo e musicalidade raras, não esmoreceu nem escureceu tão importante acontecimento.

Vou e vamos, de certeza que sim, ficar ligados a Ovar de coração, pela gentileza e amabilidade e pelo bem-fazer. Eu já o estava antes, pois a beleza e grandeza da poesia de Glória de Sant'Anna leva o meu imaginário para terras longínquas (Moçambique) onde nunca estive e outras onde estive.

Como não é todos os dias, nem meses, que um compositor tem a oportunidade e o privilégio de apresentar em estreia mundial, unicamente um concerto só com trabalhos seus, só tenho que agradecer a todos que trabalharam para que acontecesse. E que obras, meu Deus! Difíceis, difíceis, difíceis! Grandes músicos!

Grato, sinceramente, pelos livros, Inez e Andrea!

Em meu nome, da minha família e da CAMERAʇtA IBÉRICA, um obrigado muito grande, ENORME, à família Andrade Paes!

Até breve.

Fontes de Imagem e texto: Vasco M. N. Pereira-blogue, Jacinta Almeida - Soprano. A homenagem aconteceu na noite de 3 de Julho de 2011 no Centro de Arte de Ovar-Portugal. Clique na imagem acima para ampliar.
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Homenagem à poetisa Glória Sant’ Anna: Uma noite de poesia e música

No passado domingo, à noite, o Centro de Arte de Ovar foi palco do espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant’Anna. A qualidade marcou a iniciativa, que pretendia reconhecer esta grande poetisa, que nasceu em Lisboa, viveu em Moçambique e passou os últimos anos da sua vida, na terra de seu marido, em Válega.

A ideia desta homenagem partiu do compositor e maestro Vasco Pereira, que após a leitura de um dos livros da homenageada, "Amaranto", criou duas canções, "É o vento" e "Pescador", bem como a obra para um coro a quatro vozes. Vasco Pereira, bem tentou obter por escrito a autorização da poetisa Glória Sant`Anna, mas todas as entidades contactadas acabaram por ignorar os seus pedidos. Posteriormente e depois do seu falecimento, este maestro apresentou o projeto à Câmara Municipal de Ovar e esta deu "luz verde" para que o mesmo avançasse.

O espetáculo de homenagem à poetisa Glória Sant‘Anna foi dividido em duas partes. Na primeira atuou o quinteto "Cameratta Ibérica", que executou quatro arranjos de obras orquestrais de compositores famosos, como, Sabastian Bach e Bela Bartók. - Fernando Souteiro
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'João Semana' - Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
Glória de Sant’Anna em Ovar – Uma escrita de água e fogo
'João Semana' - Espelho de imagem primeira página
(Clique nas imagens acima para ampliar)

5/14/10

De Porto Amélia a Pemba: Família Andrade Paes

Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão. Glória de Sant'Anna - poetisa do mar azul de Pemba, Amaranto.

GLÓRIA DE SANT'ANNA - O silêncio intimo das coisas. No Moçambique que precedeu a independência, a qual teve lugar em 25 de Junho de 1975, muita coisa aconteceu, como não é sabido de toda a gente. Na realidade, não é sabido de quase ninguém, exceto de uns poucos (e não todos) que lá viveram. Muito se tem escrito, sobretudo no pelouro em que impera o "discurso político", acerca do que foi ou não foi o chamado período colonial português. Seja dito de passagem que mais se tem falado do que acertado. É com lindos sentimentos que se faz má literatura, disse-o um dia Gide, irritando Claudel, e é também com angélicas intenções que se trai, frequentemente, os mandatos da história. Não deixa sobretudo de ser curiosa a fácil boa consciência de quem, no chamado Portugal continental, bem mais se aproveitou (e prosperou) com a exploração colonial do que tantos que pelo ultramar tristemente se alienaram, pobre e honradamente viveram e, para o fim, alucinadamente se desintegraram. De gente séria, pobre e perplexa ( e não só da outra), está a história de Moçambique também cheia, como não é do conhecimento confortável de algumas consciências bastante poluídas, que depois facilmente se reconciliaram consigo próprias, por vias mais ou menos expeditas...
Com a publicação, em 1961, em Moçambique, do livro de poemas "Livro de Água", laureado com o premio Camilo Pessanha, confirmava-se, para alguns, e revelava-se, para muitos outros, um dos nomes mais importantes da poesia portuguesa, em Moçambique, e um dos poetas mais notáveis, em língua portuguesa, dos últimos vinte e cinco anos: Glória de Sant'Anna.
Para o leitor da antiga "metrópole", um livro em língua portuguesa, publicado em Moçambique, Angola ou também em Cabo Verde, era, por assim dizer, um livro "perdido". Os nomes de Rui Knopfli, Sebastião Alba, Glória de Sant'Anna, Lourenço de Carvalho e, até certo ponto, mesmo o de João Pedro Grabato Dias, entre outros, nada ou quase nada significavam para o leitor confinado, como diria Jorge de Sena, entre o Chiado e a Rua Ferreira Borges... Não se sabia muito bem quem eram, o que faziam, o que pensavam... E o fato de estarem a viver "lá" era já, em principio, um motivo de apreensão. ...
Glória de Sant'Anna foi, para Moçambique, um produto de importação. Nascida em Lisboa, em 26 de maio de 1925, concluiu o curso complementar de Letras no Colégio de Odivelas, casou em 1949 e, dois anos depois, partiu para aquela colônia portuguesa onde fixou residência, em Nampula. Em 1953 mudou-se, com sua família, para Porto Amélia (hoje Pemba), onde permaneceu, frente à vasta baía, quase até ao regresso definitivo a Portugal, em Dezembro de 1974 (os dois últimos anos passou-os a poetisa em Vila Pery)... O "seu chão" fora Pemba, o mar, a água, o "vento de prata/manso, manso". O "mar calmo e estranho" tornara-se a presença fraterna, terapêutica, ameaçadora, tranquila, lisa, ominosa, às vezes trágica-densa, sempre vigilante. E os momentos passados à sua beira exprimiam a dignidade de momentos "translúcidos e antigos".
Arrancada deste chão onde se encontrava "inteira", o exílio em que, ironicamente, se traduziu o regresso à pátria teve consequências traumáticas. ... Isto é, durante cerca de quatro anos, nada produziu.
Em Portugal, de Norte para Sul e do Sul para Norte, entre Ovar e o Algarve, tentando reencontrar o rumo que não havia (o mar, que é bom "porque é concreto", ficara para trás), Glória de Sant'Anna foi sobrevivendo ao rés de um desespero nem sempre inteiramente dominado. ... Durante vários anos arredada do "seu" mar, que era em Pemba, e da "sua" escrita, que dele se alimentara, Glória de Sant'Anna fixou-se finalmente em Ovar: - "Atualmente, na minha condição de aposentada, reparto o tempo pela casa e pela família e ajudo o meu marido num gabinete de arquitectura e obras, que abriu perto daqui".
A obra de Glória de Sant'Anna, na sua concentração e densidade, na sua liquidez secreta e cheia de pudor, na sua misteriosa claridade, na sua "mortal" e dominada angústia, consta essencialmente de sete livros publicados, seis de poesia (Distância, 1951; Música Ausente, 1954; Livro de Água, 1961; Poemas do Tempo Agreste, 1964; Um Denso Azul Silêncio, 1965 e Desde que o Mundo e 32 poemas de Intervalo, 1972) e um de crônicas (...Do Tempo Inútil, 1975). Além destes o volume agora editado (1984) inclui 4 livros inéditos: A Escuna Angra (1966-68); Cancioneiro Incompleto (temas de guerra em Moçambique, 1961-71); Gritoacanto (1970-74 e Cantares de Interpretação (1968-73). O resto é trabalho disperso por revistas e jornais: Diário Popular, Guardian (Lourenço Marques), Itinerário (L. M.) Diário de Moçambique (Beira) Noticias (L.M.), Tribuna (L.M.), Sul (Brasil) e Caliban (L.M.).
Glória de Sant'Anna tornou-se quase desde o seu "aparecimento" discreto, uma das vozes mais geralmente reverenciadas, no panorama literário de Moçambique. Mas aquilo a que poderíamos, sem exagero, chamar a sua "glória", nada teve de ruidoso. A autora do Livro de Água foi sempre um personagem de um pudor e "retiro" exemplares, na feira intelectual que, em Moçambique, como em todo o lado, tinha os seus profissionais da promoção e da acrobacia. "Serei tão secreta/como o tecido da água" afirmará ela, num dos seus poemas. De fato, toda a sua obra, de um extremo ao outro, é um alongado programa de homenagem à nobreza do "silêncio" e do "falar pouco"...
... Dizia um grande escritor deste século que sofria por causa dos homens a quem se não dá o lugar que merecem. E acrescentava haver nas letras francesas de hoje alguns exemplos dessa injustiça, por omissão. Há nas letras portuguesas de hoje também alguns exemplos disso. Glória de Sant'Anna é um deles, mas não é caso único. Entre os escritores que a ressaca da descolonização trouxe até estas paragens, há uma boa meia dúzia a pedir que os publiquem, os estudem e os divulguem. Constitui para mim uma honra e um privilégio esta tentativa de procurar a autora dos Poemas do Tempo Agreste "completa dentro desta pura água", para a dar a conhecer a um público distraído, mas eventualmente capaz de lhe reconhecer a estatura. Honra idêntica me daria poder fazê-lo por outros. O silêncio que sobre eles pesa, um silêncio morto, não é por certo o fecundo e "denso azul silêncio" que irriga e impregna o claro e enigmático discurso poético de Glória de Sant'Anna.
- EUGÉNIO LISBOA - Londres, Dezembro 1983/Janeiro 1984 - transcrito do Livro Amaranto.

GLÓRIA DE SANT'ANNA - uma poética de mar e silêncio! O silêncio funda um outro discurso, que não o comum; entretanto, é linguagem de grande teor significativo (STEINER, 1988, p. 73). Mar, silêncio e solidão atravessam a obra poética de Glória de Sant'Anna, cuja linguagem flui numa liquidez profunda, articulada por uma semântica aquática e abissal, que busca apreender os mistérios da alma humana. Por ter nascido em Lisboa e por ser sua poesia de cunho predominantemente universal, versando sobre temas existenciais, a poesia de Glória de Sant'Anna, durante algum tempo, não foi considerada como pertencente ao patrimônio literário moçambicano, embora grande parte de seus poemas tenha sido produzida durante os vinte e três anos vividos por ela em Moçambique. Consideramos esse critério bastante discutível, pois apenas leva em consideração a pátria de nascimento da autora, ignorando os pactos afetivos de identificação tecidos durante sua longa vivência em terras africanas.
Em 1951, recém-casada, Glória mudou-se para Nampula, cidade moçambicana onde viveu até 1953, ocasião em que se transferiu para Porto Amélia, hoje Pemba, outra cidade do litoral moçambicano.
Seus primeiros livros foram publicados nessa época: Distância (1951) e Música Ausente (1954). Nessas obras, é clara a desterritorialização do sujeito poético, cuja face, sobre o azul vogando (SANT'ANNA, 1988, p.47) se revela perdida, refletindo a imagem da própria identidade fraturada que não se reconhecia ainda nas paisagens africanas. Com o coração inteiro/no fundo do oceano (op. cit., p.35 ), o eu-poético tem consciência de seu naufrágio interior. Mergulha, então, nas marítimas águas do exílio, e, através de uma linguagem poética reflexiva, procura alguns pontos de ancoragem com as fronteiras diluídas da pátria distante.
Nos dois primeiros livros de Glória, domina uma semântica de vaguidão. As reminiscências da voz lírica se encontram esmaecidas, sem nenhum referencial, a não ser o oceano de prata que se esvai em longínquos horizontes e se configura, ainda, como um território vazio de memórias, conforme denunciam os versos do poema Música Ausente: Na minha lembrança batem águas de vidro/de um mar sem sentido.(op. cit., p.53).
Nas composições poéticas dessa fase, amargura, degredo e solidão aprisionam o sujeito lírico, que, sem uma fisionomia definida, se fecha em sua interioridade, à procura de elos emotivos capazes de equilibrarem sua subjetividade cindida entre duas pátrias.
É, pela contemplação do mar de Pemba e pelo exercício da poesia, que consegue alento para ultrapassar o desenraizamento provocado pela saída da terra natal para viver em terras alheias.
À medida que se contempla existencialmente no espelho das marítimas águas, o sujeito poético vai se encontrando e, naturalmente, começa a incluir em seus versos novas paisagens e pessoas. Do âmago das palavras emanam, então, emoções fraternas em relação ao povo moçambicano: Que importa seres meu irmão noutro país? (op.cit., p.56) indaga-se o sujeito lírico, com o coração já se abrindo aos novos horizontes.
Cartografias geográficas, culturais e humanas de Moçambique vão, aos poucos, integrando o imaginário literário da poesia de Glória de Sant'Anna, que, lentamente, passa a captar os ritmos e batuques africanos (Poema Batuque, op. cit. 63), como também as danças das negras à beira-mar:

Negrinha faceira,
dentro da água cálida,
quem olhará
tua graça?

Ou quem verá teu riso
esparso
entre uma onda translúcida
e um sargaço?

(...)
Os teus pés estão sobre os búzios claros
e vazios,
e há música e sol
em teus ouvidos.

Mas quem passa, deixando pegadas na areia,
não olha para ti, negrinha faceira.
(SANT'ANNA, 1988, p.62 )

Afirmando-se por um ethos existencial e humano, a poética de Glória, com imensa sensibilidade e delicadeza de sentimentos, também critica os preconceitos raciais presentes em Moçambique; só que o faz de forma suave, velada e sutil.
Contemporâneos da chamada poesia da moçambicanidade, seus poemas de Música Ausente (1954) e do Livro de Água (publicado em 1961, mas com poemas escritos na década de 50), embora não se utilizem do estilo veemente com que, por exemplo, Noêmia de Souza e José Craveirinha celebraram, nos anos 50, os valores autenticamente moçambicanos, também cantam as belezas africanas :

(Do fundo do tempo a negra se curva
sobre a inquieta água
e sobre seu cesto redondo
de palha entrançada.

Por dentro da tarde a negra se curva
no horizonte fechado,
o seu gesto é ancestral
e cansado).
(SANT'ANNA, 1988, p. 63)

Laureada com o prêmio Camilo Pessanha, em 1961, por seu Livro de Água, Glória de Sant'Anna tornou-se reconhecida literariamente.
Continuou a escrever nos anos 60 e 70, e sua obra se manteve fiel à linha existencial por que optou desde o início de sua trajetória poética. Embora acompanhasse as mudanças sociais por que passava a sociedade moçambicana, a poesia de Glória, nos anos de guerra a que ela chamou de 'tempos agrestes', não enveredou pelo ethos militante e revolucionário que dominou o panorama literário de Moçambique nesse período. Apesar de muitos de seus poemas terem denunciado os malefícios dessa época de lutas e violências, sua poética fez a opção pelo silêncio e pela metáfora, alinhando-se, por isso, ao lado dos poetas do Grupo Caliban, como Rui Knopfli, Sebastião Alba, entre outros, que, para driblarem a censura e repressão, enveredaram por caminhos poéticos universalistas e existenciais, sem, contudo, deixarem de problematizar as questões sociais.
O trabalho poético é às vezes acusado de ignorar ou suspender a praxis. Na verdade, é uma suspensão momentânea e, bem pesadas as coisas, uma suspensão aparente. Projetando na consciência do leitor imagens do mundo e do homem muito mais vivas e reais do que as forjadas pelas ideologias, o poema acende o desejo de uma outra existência, mais livre e mais bela(...), pela qual vale a pena lutar . (BOSI, 1983, p.192).
Em tempos desumanos, de brutalidade e jugo totalitário, há poetas que ultrapassam os ângulos limitados de políticas panfletárias, não tomando partido direto e radical, embora criticando as arbitrariedades do poder. É o caso de Glória de Sant'Anna e dos poetas de Caliban, que captaram a angústia das possíveis e cruéis injustiças, denunciando o sem sentido da força e ressaltando a importância do existir humano. O silêncio, nos versos desses poetas, fala, expressa a recusa do apenas circunstancial e político. Penetra os espaços abissais da própria poesia, buscando a expressão do puro, do indelével, dos sentimentos mais recônditos da alma humana universalmente concebida. Essa poesia foi, nos tempos de combate, considerada por alguns mais sectários como reacionária. Hoje, entretanto, não mais é vista assim, pois muitos críticos literários contemporâneos sabem que a saudade de tempos que parecem mais humanos nunca é reacionária.
(...) Reacionária é a justificação do mal em qualquer tempo.
Reacionário é o olhar cúmplice da opressão. Mas o que move os sentimentos e aquece o gesto ritual é, sempre, um valor: a comunhão com a natureza, com os homens,(...) com a totalidade. (BOSI, 1983, p.153)
Os poetas de Caliban denunciaram as desumanidades da guerra e mostraram a necessidade de recuperar valores existenciais mais profundos. Glória de Sant'Anna, em muitos de seus poemas escritos de 1964-1974, criticou o sem sentido da guerra que, para ela, igualou os soldados revolucionários e os cipaios (SANT'ANNA, Amaranto, p.164, p. 176). Comoveu-se com as mortes, chorou com a chuva sobre o rosto do cadáver do negrinho estirado no chão (op. cit. p. 99 e p.100), acumpliciando-se com as mães negras que perderam seus filhos nas lutas. E, como mulher, se identificou às negras, celebrando o sentimento universal da maternidade:

Olho-te : és negra.
Olhas-me: sou branca.

Mas sorrimos as duas
na tarde que se adeanta.

Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana.

Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,
seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes,
E tão perto da morte...
(SANT'ANNA, 1988, p. 119)

Nos poemas onde Glória denuncia a urgência de sangue exigida pela guerra, o mar se faz ausente. A voz lírica se tece da angústia de um silêncio diferente, porque forjado por medos e atrocidades. Um silêncio de ciprestes, esquifes e espadas cegas. Um silêncio de anulação da arte e da vida.
No poema Sexto do livro Cancioneiro Incompleto (temas da guerra em Moçambique, 1961-1971), de Glória de Sant'Anna, o sujeito poético condena a violência que destruiu os macondes, cujas esculturas celebra :

(...)
(cada figura crescia de suas mãos negras
como se brotasse da sua própria fina pele
solta para a claridade e portadora
de igual agreste impulso
e em seu rosto
e em suas pupilas alagadas
era o mesmo secreto tempo de amar)

Hoje o pesado e oculto pau preto
jaz dentro da ausência
pleno de irreconhecíveis figuras
que perpassam iguais às da nossa memória(...)
(SANT'ANNA, 1988, p. 167-168)

Por entre sons de canhões e agrestes perplexidades diante da morte de pessoas inocentes, a poesia de Glória capta também a suavidade do mar , o canto dos negros e os tã-tãs dos tambores moçambicanos (Op. cit., p.201). Por entre os silêncios de lucidez crítica, seus versos assumem a consciência do fazer estético e, em meio às lacunas da denúncia explícita da opressão, teoriza sobre sua própria arte poética:

Um poema é sempre
uma qualquer angústia que transborda.

(E eu posso cantá-lo de amor
posso cantá-lo de ódio
posso cantá-lo de roda...)

Um poema é sempre
como um rebento novo que se desdobra.

(E eu posso cantá-lo ao sol
posso cantá-lo de água
posso cantá-lo de sombra...)

Um poema é sempre
como uma lágrima que se solta.

(E eu posso cantá-lo como quiser:
há sempre uma palavra que me esconda...)
(SANT'ANNA, 1988, p. 97 )

Metalinguagem, sensibilidade e silêncio levam a voz lírica a profundas reflexões sobre a sua textualidade poética que, de grito a canto, se reconhece mar, vento, som, melodia. O oceano traz as correntes submersas da memória. Mudanças atmosféricas marcam o ritmo introspectivo das lembranças e das catarses históricas.
Alterações cromáticas, luminosas e sonoras trazem o vento para dentro dos poemas como símbolo da transformação do eu-lírico, o qual busca, agora, apreender a expressão de belezas e angústias indizíveis: de sangue salgado se vestem estas minhas palavras e é sangue e sal o que escrevo e mágoa (SANT'ANNA, 1988, p.229).
Mar, tecido de mortos e vivos, magma da memória ultrajada, cuja liquidez salgada purifica as lembranças e as palavras. Mar, reservatório de mágoas e sangues acumulados que só se fazem expurgados pelas águas da própria poesia. Mar, mergulho abissal na interioridade mítica universal e reencontro com as raízes profundas de identidades submersas: 'Porque sempre o mar: / é isso / os mortos, as algas, as marés, os vivos' (SANT'ANNA, 1988, p.202)
A poética de Glória de Sant'Anna , como a poesia de Rimbaud, de Hölderlin, de Cecília Meireles, mergulha no silêncio e na musicalidade da linguagem, no 'mar absoluto' da própria poesia.
Captando a melodia cósmica das palavras, apreende a emoção do inexprimível, os sentidos profundos do existir humano universal:

Eu naveguei pelo interior de um longo rio humano de tempos diversos onde também há sangue vegetal, buscando o que acabei por encontrar a imensa angústia que se reparte.
Sobre isso escrevo.
Mas cuidado : a música da palavra é um casulo de seda. Só dobando-os com olhos atentos se chega à verdade, à solidão ansiosa e disponível.
No entanto, que cada um faça a sua leitura.
(SANT'ANNA, 1988, poema da contracapa)

É uma poesia que faz opção pelo silêncio. Um silêncio, cujo significado 'fala' mais que o de poemas explicitamente engajados com o real histórico, pois é tramado pela densidade de emoções e sentimentos despertados por situações várias: de beleza, de ternura, de ódio, de dor, de medo , de angústia, de saudade.
Quando a autora, em 1974, teve de regressar a Portugal, o retorno à pátria se converteu para ela num segundo exílio.
Arrancada do mar de Pemba de que se alimentara por longo tempo, a poetisa ficou vários anos sem conseguir escrever, agora, num silêncio concreto, sem palavras. Ao recuperar a linguagem, mergulhou de novo no mar, em cujas águas, transformadas em canto, passaram a ressoar memórias, por intermédio das quais a voz lírica se reconheceu livre e inteira : eis-me solta de todas as amarras da canga a que forcei o pensamento de novo imersa nessa pura água em que me identifico e apresento (SANT'ANNA, 1988, p. 289).
Mar e silêncio, na obra de Glória, passam a conotar depuração. Depuração de sentimentos e emoções que não se traduzem em linguagem comum, mas que se revelam na expressão indizível das metamorfoses da própria poesia:

A essência das coisas é senti-las
tão densas e tão claras,
que não possam conter-se por completo
nas palavras.

A essência das coisas é nutri-las
tão de alegria e mágoa,
que o silêncio se ajuste à sua forma
sem mais nada.
(SANT'ANNA, 1988, p. 126)

Mar, música e silêncio fluem na sacralidade poética instaurada pelo discurso de Glória de Sant'Anna, para quem a literatura, acima de ideologias, de partidos, de nacionalidades, de etnias ou de gêneros, assume um compromisso maior com os valores humanos e com a essência universal da arte e da própria criação poética.
- CARMEN LUCIA TINDÓ RIBEIRO SECCO, Doutora em Letras Vernáculas e Profª. de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOSI, Alfredo. O Ser e o tempo da poesia. SP: Cultrix, 1983.
SANT'ANNA, Glória de. Amaranto: poesias 1951-1983. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda,1988.
STEINER, George. Linguagem e silêncio : ensaios sobre a crise da palavra. SP: Cia das Letras, 1988.
Brasil, 2 de Junho de 2009 - O tempo, dilapida implacável, inclemente nossas referências... Fica a saudade para alimentar o horizonte do hoje. Do "ForEver PEMBA" e do "São Paulo o Colégio" transcrevo:

Partiu esta madrugada nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. A notícia veio até mim por este pequeno e simples texto:

"... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..."

Não é fácil falar ou comentar quando o coração está apertado, amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância.
Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria...
Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe...
Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba...
E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade que não tem fim, que, aqui de longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei sempre em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir com a beleza de seus versos e com a generosidade que emanava de seu coração de poetisa, professora e Mãe.
Que a beleza e força espiritual de D. Glória (como sempre e carinhosamente por nós era chamada), que são eternas, nos inspire a todos, seus Amigos, assim como a seus Filhos e Familiares, a superar a saudade que fica!
- J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.

Dedico este "post" e tudo que divulgo e tentarei continuar a divulgar sobre esta querida e notável personalidade, a minha paciente professora de inglês (Glória de Sant'Anna) quando seu aluno do Colégio de São Paulo e da Escola Comercial Jerônimo Romero em Porto Amélia, hoje Pemba, na década de 60.
    (Transferência de arquivos do sitio "Pemba/Régua" que foi desativado.)
    Continua...

    6/02/15

    POESIA E SAUDADE - GLÓRIA DE SANT'ANNA PARTIU HÁ SEIS ANOS

    No aniversário de falecimento de GLÓRIA DE SANT'ANNA - Escrito há 6 anos no Bar da Tininha - ""Partiu esta madrugada (02/06/2009) nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. 

    A notícia veio até mim por simples texto: 

    "... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. 
    Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..." 

    Não é fácil falar ou comentar quando o coração fica amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida amparados pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos, sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância. 

    Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria... 

    Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe... 

    Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba... 

    E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade sem fim, que, aqui longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir na beleza de seus versos e na generosidade emanada de seu coração de poetisa, professora e Mãe. 
    - J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.
    Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
    Jornal JOÃO SEMANA (1/6/2010)
    TEXTO: Pinto Soares
    """"... ... ... 
    Jaime Ferraz Gabão, em homenagem justíssima, escreveu, para a sua rubrica “Postal da Régua”, um artigo sobre a figura e a obra da consagrada poetisa Glória de Sant’Anna – trabalho que veio a lume, nestas páginas, na edição de 23/2/1990.

    Nele afirma o estimado colega (trabalhámos, durante anos, no mesmo Jornal) e prezado Amigo (de longa data), que o signatário conheceu, muito bem, em terras de África, mais concretamente em Moçambique, essa extraordinária mulher que era, no Índico, uma das figuras representativas do florescente meio literário: com nome feito e prestígio invejável, conquistado mercê de uma obra que continua a ressumar a qualidade de outrora.

    Nunca ninguém pôs em dúvida as qualidades excepcionais, nem a cultura de tão destacada princesa, que se distinguia, sobretudo na poesia – uma poesia fresca, luminosa, com substância e mensagem, recriadora –, também, frequentemente, repertório das suas vivências e daquilo que, atenta, circunvagando o olhar, presenciava e retinha, emprestando-lhe a elegância do seu verbo, não descurando o pormenor nem, tão-pouco, o cromatismo.

    Segui, de perto, a trajectória de Glória de Sant’Anna, não pude trazer os seus livros – com pesar – ,li as críticas, sempre favoráveis, que lhe eram tecidas, a colaboração que oferecia a publicações diversas, e, mantive, em Nampula, um afável relacionamento com o seu marido, Andrade Paes, arquitecto, piloto de aviões, sabedor e corajoso, amigo de Carvalho Durão, do Catoja & Saldanha, firma sita na rua fronteira à Delegação do “Diário de Moçambique”, que eu chefiava, em instalações alugadas por Manuel Justino Sargento, “O Napoleão de Macuana”, segundo o juiz Paiva.

    Glória de Sant’Anna deslocava-se com frequência de Porto Amélia a Nampula, sendo natural que, volvidos anos de tanto sofrimento para quem amava África e em particular aos habitantes de Pemba tanto se dedicou sem restrições de alma e coração, haja esquecido o cabouqueiro que um dia, afrontando o poder, se apresentou a sufrágio sem outros apoios do que aqueles que nunca lhe faltaram da parte do povo simples, mais tarde envenenado na sua candura e vítima de credulidade congénita, a macerá-lo numa guerra desumana e cruel, cujo termo ainda não se vislumbra.

    Agradece, Glória de Sant’Anna, a divulgação, nestas páginas, da sua personalidade e da sua obra, graças ao dedicado empenho de Jaime Ferraz Gabão. Sentindo-nos honrados, auguramos que ela persista, enriquecendo as letras nacionais com o seu talento e forma especialíssima de versejar.

    – “Não me recordo do seu nome. Muitos anos passaram…”

    De Matosinhos para Válega, com ternura, “aquele abraço, a disponibilidade do JM e do seu Director – para Glória de Sant’Anna, um nome grande, respeitado, com lugar na literatura de Moçambique, nas antologias, no coração das suas gentes, na memória dos seus intelectuais.” """"

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    6/02/12

    GLÓRIA DE SANT'ANNA - A eterna poetisa do mar azul de Pemba

    No aniversário de falecimento de GLÓRIA DE SANT'ANNA - Escrito há 3 anos no Bar da Tininha""Partiu esta madrugada (02/06/2009) nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna. 

    A notícia veio até mim por simples texto: 

    "... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe. 
    Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..." 

    Não é fácil falar ou comentar quando o coração fica amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida amparados pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos, sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância. 

    Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria... 

    Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe... 

    Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba... 

    E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade sem fim, que, aqui longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir na beleza de seus versos e na generosidade emanada de seu coração de poetisa, professora e Mãe. 
    - J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.
    Homenagem à poetisa Glória de Sant’Anna
    Jornal JOÃO SEMANA (1/6/2010)
    TEXTO: Pinto Soares
    """"... ... ... 
    Jaime Ferraz Gabão, em homenagem justíssima, escreveu, para a sua rubrica “Postal da Régua”, um artigo sobre a figura e a obra da consagrada poetisa Glória de Sant’Anna – trabalho que veio a lume, nestas páginas, na edição de 23/2/1990.

    Nele afirma o estimado colega (trabalhámos, durante anos, no mesmo Jornal) e prezado Amigo (de longa data), que o signatário conheceu, muito bem, em terras de África, mais concretamente em Moçambique, essa extraordinária mulher que era, no Índico, uma das figuras representativas do florescente meio literário: com nome feito e prestígio invejável, conquistado mercê de uma obra que continua a ressumar a qualidade de outrora.

    Nunca ninguém pôs em dúvida as qualidades excepcionais, nem a cultura de tão destacada princesa, que se distinguia, sobretudo na poesia – uma poesia fresca, luminosa, com substância e mensagem, recriadora –, também, frequentemente, repertório das suas vivências e daquilo que, atenta, circunvagando o olhar, presenciava e retinha, emprestando-lhe a elegância do seu verbo, não descurando o pormenor nem, tão-pouco, o cromatismo.

    Segui, de perto, a trajectória de Glória de Sant’Anna, não pude trazer os seus livros – com pesar – ,li as críticas, sempre favoráveis, que lhe eram tecidas, a colaboração que oferecia a publicações diversas, e, mantive, em Nampula, um afável relacionamento com o seu marido, Andrade Paes, arquitecto, piloto de aviões, sabedor e corajoso, amigo de Carvalho Durão, do Catoja & Saldanha, firma sita na rua fronteira à Delegação do “Diário de Moçambique”, que eu chefiava, em instalações alugadas por Manuel Justino Sargento, “O Napoleão de Macuana”, segundo o juiz Paiva.

    Glória de Sant’Anna deslocava-se com frequência de Porto Amélia a Nampula, sendo natural que, volvidos anos de tanto sofrimento para quem amava África e em particular aos habitantes de Pemba tanto se dedicou sem restrições de alma e coração, haja esquecido o cabouqueiro que um dia, afrontando o poder, se apresentou a sufrágio sem outros apoios do que aqueles que nunca lhe faltaram da parte do povo simples, mais tarde envenenado na sua candura e vítima de credulidade congénita, a macerá-lo numa guerra desumana e cruel, cujo termo ainda não se vislumbra.

    Agradece, Glória de Sant’Anna, a divulgação, nestas páginas, da sua personalidade e da sua obra, graças ao dedicado empenho de Jaime Ferraz Gabão. Sentindo-nos honrados, auguramos que ela persista, enriquecendo as letras nacionais com o seu talento e forma especialíssima de versejar.

    – “Não me recordo do seu nome. Muitos anos passaram…”

    De Matosinhos para Válega, com ternura, “aquele abraço, a disponibilidade do JM e do seu Director – para Glória de Sant’Anna, um nome grande, respeitado, com lugar na literatura de Moçambique, nas antologias, no coração das suas gentes, na memória dos seus intelectuais.” """"

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    Clique na imagem acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue ForEver PEMBA em Junho de 2012. Todos os direitos reservados. Só é permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.

    12/01/13

    PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2014

    REGULAMENTO 

    O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

    Prémio - 
    Prémio no valor de 3.000.00 euros a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editado desde Janeiro de 2013 até 7 de Março de 2014.

    Elegibilidade - 
    a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
    b) Não serão aceites antologias ou colectâneas.
    c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
    d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
    e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
    f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
    g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
    h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
    i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo a qualquer membro do júri.
    j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

    Condições - 
    Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
    a) Contribuir com €300 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
    b) Garantir que um mínimo de 200 exemplares do livro estejam disponíveis em stock em Portugal, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
    c) Fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
    d) Fazer todos os possíveis para que o Autor do livro premiado esteja disponível para a cerimónia da entrega do Prémio.
    e) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

    Inscrições – 
    a) A data limite das inscrições é 7 de Março de 2014.
    b) Os trabalhos devem ser enviados pelos editores no formato pdf juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer para premio.literario.poesia@gmail.com ou em forma de livro acabado. No entanto seis exemplares do livro impresso/acabado deverão estar na morada indicada, o mais tardar uma semana a partir do limite das inscrições.

    Enviar a Obra, para: 
    PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 
    GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA 
    Rua Professor Domingos Matos, 187
    3880-515 VÁLEGA 
    PORTUGAL

    c) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.
    d) Todas as inscrições serão confidenciais.

    Lista final - 
    a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 7 de Abril de 2014.
    b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
    c) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

    Reprodução de Poemas - 
    Poemas dos livros seleccionados poderão ser publicados no JORNAL DE VÁLEGA, no site Glória de Sant’Anna, outros órgãos da Imprensa e press-releases com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura e o Prémio.

    Júri - 
    a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
    b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
    c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
    d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
    e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
    f) A decisão final do Júri é irrevogável.
    g) A atribuição e entrega do prémio será a 25 de Maio 2014 em local a anunciar.
    Mais informações por favor contacte através do e-mail: premio.literario.poesia@gmail.com

    6/07/12

    PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA 2013

    REGULAMENTO

    O GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA (GAC), Associação de Utilidade Pública de âmbito cultural, nos termos do Decreto-lei n.º 460/77, por despacho publicado em DR II Série n.º 174, de 31 de Julho de 1998, em colaboração com várias entidades patrocinadoras, e a Família de Glória de Sant'Anna, organizam o Prémio de Poesia denominado “PRÉMIO LITERÁRIO GLÓRIA DE SANT’ANNA”, destinado a galardoar o melhor trabalho apresentado no âmbito deste Regulamento.

    Prémio -
    Prémio no valor de  3.000.00 a ser atribuído ao Autor do melhor livro de Poesia em língua Portuguesa editada no ano corrente.

    Elegibilidade -
    a) Primeira edição em Portugal e países Lusófonos.
    b) Não serão aceites antologias, colectâneas ou trabalhos seleccionados noutras publicações.
    c) O livro não pode ser constituído na totalidade por trabalhos seleccionados noutras publicações.
    d) O livro terá de incluir poemas inéditos, num mínimo de 80% do total.
    e) Um livro editado postumamente será considerado se for publicado no período de um ano após a morte do Poeta.
    f) O livro terá de ter pelo menos 32 páginas.
    g) Edições de autor e trabalho apresentado directamente pelos poetas não serão considerados.
    h) Livros de poesia para crianças também serão considerados.
    i) Não serão permitidas petições de qualquer indivíduo ou editor a qualquer membro do júri.
    j) A premiação de um Autor não impede que esse seja considerado de novo nos anos seguintes.

    Condições -
    Qualquer livro seleccionado para o Prémio só será considerado se a editora se comprometer com o seguinte:
    a) Contribuir com € 300.00 para publicidade se o livro for seleccionado na lista final.
    b) Garantir que um mínimo de 200 cópias desse livro estejam disponíveis em stock, dentro de 20 dias a partir do anúncio da lista final.
    c) Sem qualquer obrigatoriedade, fazer todos os possíveis para que os autores dos livros concorrentes estejam disponíveis para a imprensa a partir da data de anúncio da lista final.
    d) O valor do prémio estará sujeito aos respectivos impostos, nos termos contemplados na lei.

    Inscrições -
    a) Os trabalhos podem ser enviados pelos editores no formato pdf, fotocópias ou provas, dactilografadas, ou em forma de livro acabado, já publicado no ano corrente. Seis exemplares, juntamente com um boletim de inscrição por cada título a concorrer.

    Enviar a Obra para:
    GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL DE VÁLEGA
    Rua Professor Domingos Matos, 187
    3880-515 VÁLEGA

    b) Todas as inscrições serão confidenciais.
    c) A data limite das inscrições é 15 de Março de 2013.
    d) Nenhum dos exemplares enviados para concurso será devolvido aos editores.

    Lista final -
    a) A lista final dos livros seleccionados será anunciada a 15 de Abril de 2013.
    b) Da lista constarão um máximo de 10 livros no total.
    c) Poemas dos livros seleccionados serão publicados no JORNAL DE VÁLEGA e outros órgãos da Imprensa Nacional.
    d) Livros submetidos em processo de acabamento deverão ser fornecidos prontos, se forem seleccionados na lista final.

    Reprodução de Poemas -
    Um máximo de 5 poemas de cada autor constante da lista final poderá ser reproduzido nas press-releases; no site de Glória de Sant'Anna e mensagens distribuídas por email com o propósito de divulgar os livros, a sua leitura ou o Prémio.

    Júri -
    a) O painel de Júri inclui o Presidente mais quatro elementos.
    b) Cada membro do Júri terá o direito de exercer um voto.
    c) O Prémio não poderá ser dividido. Os fundos doados não podem ser usados para outros fins do que custos directamente associados ao prémio.
    d) O Júri reserva-se o direito de não atribuir o Prémio por razões justificáveis.
    e) Os casos omissos serão resolvidos pelo Júri, que é soberano e de cujas decisões não haverá recurso.
    f) A decisão final do Júri é irrevogável.
    g) A atribuição e entrega do prémio será a 26 de Maio de 2013 em local a anunciar.

    (Clique nas imagens para ampliar)
    (Dúvidas ou questões adicionais poderão ser esclarecidas por Inez Andrade Paes - inezapaes@gmail.com)

    6/02/11

    Homenagem à Poetisa Glória de Sant'Anna

    Partiu na madrugada de 02/06/2009 (hà dois anos) a Poetisa Glória de Sant'Anna !

    Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão. - Glória de Sant'Anna
    ----- -----
    Homenagem à Poetisa Glória de Sant'Anna
    Convite - 03 Julho 2011| 21:00 - Auditório do Centro de Arte de Ovar - Portugal

    - Entrada livre
    Este espectáculo constitui uma estreia ibérica e mundial.

    A Cameratta Ibérica é uma formação camerística instrumental e vocal, que tem com o base a divulgação da música sinfónica e/ou orquestral, mas tocada por cinco instrumentos: clarinete, dois saxofones, trompa e piano.

    Como o seu próprio nome indica, é um grupo de música de câmara, constituído por músicos portugueses e espanhóis.

    Nasceu de uma ideia do seu fundador e director artístico e, também compositor e arranjador/orquestrador da camerata, o compositor e director de orquestra Vasco M. N. Pereira, que agregou à volta desta “louca” ideia o pianista Amadeu Oliveira Pinho. Posteriormente, juntaram-se os músicos espanhóis Alfonso Pineda, Antonio Mateu, Cecília Garcia e Ruben Venegas. A soprano Jacinta Almeida abraçou desde o início este projecto, por ser um projecto inovador dentro do panorama camerístico ibérico.

    A primeira parte do espectáculo será dedicada à Música Instrumental e será da responsabilidade exclusiva da Cameratta. Serão interpretadas quatro arranjos de obras orquestrais para o quinteto.

    A segunda parte, será dedicada exclusivamente à poesia de Glória de Sant’Anna e aos seus poemas musicados por Vasco M. N. Pereira. Também serão lidos alguns poemas da poetisa e serão interpretadas as canções pela soprano Jacinta Almeida, sendo duas acompanhada só pelo piano e as restantes, acompanhada pelo quinteto.

    Ficha técnica e Artística:
    Alfonso Pineda - clarinete
    Amadeu Oliveira Pinho - piano
    Antonio Mateu - saxofones
    Cecília García - saxofones
    Rubén Venegas - trompa
    Jacinta Almeida - voz (soprano)
    Vasco M. N. Pereira - compositor / director musical e artístico

    Fonte - Inês Andrade Pais
    :: :: ::
    Mãe

    Teu perfil quieto
    de voz azul.

    Tuas mãos antigas
    de expressão concreta
    e leve
    dão corpo às palavras
    exactas
    do teu olhar,
    agora no longe
    e denso azul silêncio
    da depuração da alma
    acolhida 
    pelo sossego do mar...

    - Andrea Paes

    8/27/09

    Glória de Sant'Anna na conjunção da poesia moçambicana

    (Clique na imagem para ampliar)

    Eduardo Pitta, em crónica recente, escreveu sobre a relevância da poetisa Glória de Sant'Anna na expressão da verdadeira poesia Moçambicana. Por mencionar a saudosa poetisa do mar azul de Pemba, transcrevo o texto publicado no blogue "Da Literatura":

    ""Agora que o n.º 83 [Setembro] da LER já está na rua, aqui fica a crónica Ser ou Não Ser, que publiquei na minha coluna Heterodoxias, no n.º 82.

    A morte recente de Glória de Sant’Anna pôs de novo em pauta a questão de saber o que significa ser um poeta moçambicano. A discussão vem do tempo em que tais formalismos eram motivo de querela. Tenho memória das polémicas entre Eugénio Lisboa e Rodrigues Júnior. Não me vou alongar, mas para que o leitor não perca o pé, fica dito que as teses e antologias de Alfredo Margarido e Luiz Forjaz Trigueiros eram fonte de atrabílis. Contra ambos, Lisboa foi curto e grosso: «Dizer aos nossos divulgadores metropolitanos que a poesia em Moçambique é outra coisa, que a poesia, mais simplesmente, é outra coisa; que se deixem disso, se o fenómeno literário os não interessa seriamente como literatura...» O inventário era sulfuroso.

    Agora, na morte de Glória de Sant’Anna, jornais e agências telefonam a inquirir da sua importância “no contexto” da poesia moçambicana. Não sei, não estava lá, mas não estou a ver o Monde a perguntar pela importância da Duras “no contexto” da literatura indochinesa, ou o de Derrida “no contexto” da filosofia argelina. Aliás, ninguém indaga da importância de Fernando Gil e José Gil para a filosofia moçambicana!

    Quer isto dizer que não há poetas moçambicanos? Claro que há. O que não faz sentido é meter tudo no mesmo saco. São indiscutíveis poetas moçambicanos Rui de Noronha (1909-1943), José Craveirinha (1922-2003), Poeta Nacional por aclamação e Prémio Camões em 1991, Noémia de Sousa (1926-2003), Rui Nogar (1932-1993), Virgílio de Lemos (n. 1929), Heliodoro Baptista (1944-2009), Jorge Viegas (n. 1947), Gulamo Khan (1952-1986), Luís Carlos Patraquim (n. 1953), Eduardo White (n. 1963) e outros. Verdade que Noémia de Sousa viveu em Lisboa a partir de 1951, que Virgílio de Lemos continua em Paris desde 1963 (os poemas anteriores ao exílio assinou-os com o pseudónimo de Duarte Galvão), e que Luís Carlos Patraquim deixou Moçambique em 1986.

    Nada em comum com os primeiros expatriados: Salette Tavares (1922-1994), que veio para Lisboa em 1932; Alberto de Lacerda (1928-2007), que saiu de Moçambique em 1946 e viveu em Londres a partir de 1951; e Helder Macedo (n. 1935), que saiu de Moçambique em 1948 e vive em Londres desde 1960. Aliás, Londres tem sido um sorvedouro de moçambicanos: Rui Knopfli também lá viveu entre 1975 e 1997.

    O busílis marca quem lá ficou até ao ano da independência. Isso acrescenta à lista uma série de nomes. Os mais conhecidos são Rui Knopfli (1932-1997), Glória de Sant’Anna (1925-2009), João Pedro Grabato Dias (1933-1994), que se desdobrou pelos heterónimos Frey Yoannes Garabatus e Mutimati Barnabé João — ficou célebre a ira de Samora Machel quando descobriu que o “guerrilheiro” que dava voz ao povo era, afinal, o seu amigo pintor António Quadros —; Sebastião Alba (1940-2000) e Lourenço de Carvalho (n. 1941). O embaraço da crítica é evidente. Como situar os pied noir do Império? Curiosamente, nunca vi a questão colocada relativamente a Angola. Mas Moçambique fica do outro lado do mundo.

    Em Reflexões sobre o exílio (2001), Edward Said afirma que «Ver um poeta no exílio — ao contrário de ler a poesia do exílio — é ver as antinomias do exílio encarnadas e suportadas com uma intensidade sem par.» Se a isto juntarmos o que o mesmo Said disse antes de morrer, «ainda não fui capaz de compreender o que significa amar um país», temos o quadro em toda a sua crueza.Tendo como pátria declarada a língua portuguesa, à revelia da identidade nacional, Knopfli (natural de Inhambane) pagou caro a escolha de entender, como T. S. Eliot, que as literaturas pátrias compõem «uma ordem simultânea» (cf. The Sacred Wood, 1976). Sucede que a insistência nos rótulos — moçambicano, albicastrense, etc. — oblitera a totalidade da literatura. Não admira portanto a desorientação com Glória de Sant’Anna, voz ática que dos matos de Pemba fez a síntese de Sophia com Cecília Meireles.""

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    6/02/09

    GLÓRIA DE SANT'ANNA - A eterna poetisa do mar azul de Pemba.

    (Clique na imagem para ampliar)

    Partiu esta madrugada nossa Querida Professora, Amiga e Poetisa, Glória de Sant'Anna.
    A notícia veio até mim por este pequeno e simples texto:

    "... É com profunda dor, que te venho anunciar o falecimento da nossa Mãe.
    Morreu às 4 horas da madrugada do dia de hoje..."

    Não é fácil falar ou comentar quando o coração está apertado, amargurado com mais esta passagem da vida que envolve e atinge um ser humano de valor sentimental imensurável para muitos de nós que aprendemos a caminhar na vida pela força e ensinamentos recebidos de suas delicadas mãos sempre dadas às nossas, desde os tempos da infância.

    Só consigo dizer que jamais esquecerei seu olhar terno, suave, sua voz tranquila, meiga mas firme e de palavras inteligentes, doces, sempre doces, repletas de poesia e sabedoria...

    Jamais deixarei de a considerar minha Querida Professora, quase uma segunda Mãe...

    Jamais deixarei de a considerar a minha Querida e Eterna Poetisa do Mar Azul de Pemba...

    E é com lágrimas nos olhos, com imensa tristeza, com uma tremenda saudade que não tem fim, que, aqui de longe, a revejo no meu imaginário no meu último abraço, no meu último adeus terreno, ciente que a reencontrarei sempre em meus sonhos e na poesia de todos os entardeceres que aprendi a descobrir com a beleza de seus versos e com a generosidade que emanava de seu coração de poetisa, professora e Mãe.
    - J. L. Gabão, 02 de Junho de 2009.

    Em tempo: Que a beleza e força espiritual de D. Glória (como sempre e carinhosamente por nós era chamada), que são eternas, nos inspire a todos, seus Amigos, assim como a seus Filhos e Familiares, a superar a saudade que fica!

    Quando o n'pure chega
    É madrugada e o n'pure voltou e canta
    para o vermelho-laranja do horizonte
    e o silêncio em volta dos telhados
    é longo e doce
    Uma linha de fumo branco sobe
    da fogueira do guarda envolto na capulana escura
    e a folhagem parada freme de súbito
    ao grito do n'pure
    Em redor dos troncos tombaram
    as primeiras-tímidas flores da acácia rubra
    durante a noite (penso)
    ou soltas pelas asas leves do n'pure
    - Glória de Sant'Anna - "Amaranto".

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