3/10/07

PEMBA - Discotecas e praias são ópio...


Pemba, muito embora tenha muita coisa que a natureza lhe deu para “curtir”, parece que só vê em dois ambientes, nomeadamente a praia e a discoteca. Calha que em cada um destes lugares as pessoas se vestem voluntariamente de forma precária.
Se calhar há-de ser por isso. E devido ao hábito que se criou, as outras maneiras de “curtir” ficam-lhe muito longe, a rotina passou a ser: sexta-feira na discoteca Wimbe, sábado ou no mesmo dia no “Nelson Games” ou “Silva”, no domingo às praias de Murrébuè e a do Wimbe, para fechar o ciclo da semana.
Discoteca e praia são, por assim dizer, a maneira única, pois a outra que também existia reunia muitas sensibilidades, o futebol, está a perder a sua força, segundo os dados que nos vêm dos últimos anos, como atesta o quão tristemente célebre foi a prestação do “Pembinha” na última temporada em que representava a província na região.
Na verdade, o “Pembinha”, o mais popular clube de Pemba, acabaria por nos brindar com aquela vergonha que lhe valeu uma vergonha ainda mais pesada e que nos traz menos alegrias. É que de facto o clube foi punido, interdito de participar no campeonato nacional de futebol da Divisão de Honra durante as épocas 2007 e 2008.
Precisa-se de um puxão para que o futebol que foi cultura em Pemba não se apague em definitivo, para que haja pelo menos mais uma razão de evitar ir à praia no fim de semana, vendo algo que do ponto de vista educativo tem vantagem sobre as outras maneiras que já se cimentaram.
Sobre discoteca, é impressionante ver como o parlamento moçambicano trabalhou de graça ao desejar que os menores não frequentassem os locais aonde se pensa que aprendem muito cedo a vida dos adultos. Fê-lo produzindo uma lei.
O facto de ainda não termos tido nenhuma informação sobre alguma casa de pastos ou discoteca que tenha sido penalizada por admitir o ingresso de menores, nem sobre os menores envolvidos, nos engana como sendo o cumprimento integral daquele dispositivo legal. Mas só nos engana!
A partir daqui nos parece que o proibido é muito assediado pela sociedade. Há tanta gente a querer ver menores nas discotecas, vestidas a como se vestem, namorando a como namoram, participando nas orgias lideradas pelos mais velhos.
Atropelos.
Diz-se que não há como evitar porque é hipocrisia proibir que os menores vão às discotecas, seja com que pretexto, se o mesmo que lá acontece e se pretendia evitar, encontramos nas praias, portanto homens e mulheres, incluindo crianças com vestes prenhes de sugestões várias. As pessoas gostam do pudor e lá estão a “curtir”, ainda que isso signifique uma sucessão de atropelos.
Atropelo há-de ser também (de novo) a discoteca “Shiva”, pertença da Associação Desportiva de Pemba, a produzir um som insuportável, porque aberta, para infestar em todo o seu perímetro residencial, incluindo as enfermarias do Hospital Provincial de Cabo Delgado.
A poluição sonora e nos termos em que acontece nos dias reservados ao barulho, atinge as raias do imperdoável, mas isso só soube porque num fim-de-semana calhou que fomos ao hospital a acompanhar um acidentado. Sentimos o incómodo e evitamos cismar em relação aos doentes, ou à maternidade, relativamente mais próxima do epicentro do som, comparada com o local onde nos encontrávamos, o Banco de Socorros.
Foi necessário ir ao hospital para nos apercebermos do quanto contribuímos para a violação de uma série de regras, porque na verdade, às vezes estamos lá, com os companheiros de diferentes afazeres, viaturas protocolares, portanto com aqueles que deviam fazer cumprir as normas.
Estamos, enfim, todos (?) culpados, razão porque para tirar a culpa temos que ser todos a condenar o que está a acontecer no “Shiva”. Está dito, ele já antes foi discoteca, mas sem produzir o barulho violento que agora está a fabricar.
Para os vizinhos colados à discoteca, nada se pode dizer! Devem se ter acostumado de modo que no dia em que se exigir que ela tenha que estar, como antes, à porta fechada (não ao ar livre), com paredes impermeáveis ao som, talvez signifique o mesmo que violentá-los. As pessoas gostam do anormal, ilegal. Trata-se de mais uma afronta a quem se deu o direito e poder que não exerce.
Pedro Nacuo - Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias

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