Maputo, Terça-Feira, 29 de Maio de 2007:: Notícias
SR. DIRECTOR!
Escrevo pela primeira vez para o maior jornal do país que V. Excia dirige, para abordar alguns problemas que, quanto a mim, constituam perigo, assim como os que lhes afectam directamente. Peço a V. Excia a gentileza de publicar esta pobre carta. Há um problema que afecta maioritariamente os profissionais da Saúde, em serviço no Hospital Provincial de Pemba, na província de Cabo Delgado.
Escrevo pela primeira vez para o maior jornal do país que V. Excia dirige, para abordar alguns problemas que, quanto a mim, constituam perigo, assim como os que lhes afectam directamente. Peço a V. Excia a gentileza de publicar esta pobre carta. Há um problema que afecta maioritariamente os profissionais da Saúde, em serviço no Hospital Provincial de Pemba, na província de Cabo Delgado.
Antes de entrar concretamente no assunto, queria pedir aos caros leitores para que me perdoem com o meu pobre português, aceitando desta feita o conteúdo da carta. O motivo que me leva a escrever para esta página é para pedir a opinião pública acerca desse assunto. Eu gostaria de saber se é possível evitar a morte de um doente, mesmo que esteja em estado de agonia? Se for possível desejaria uma resposta explicativa a qualquer leitor que tiver oportunidade de o fazer.
A propósito dessa pergunta surge o seguinte: No Hospital Provincial de Pemba quando morre um doente constitui um problema grave. Depois de os familiares tomarem conhecimento da morte do parente, estes apresentam uma queixa. É muito frequente haver queixas dos familiares que perdem seus parentes nesta unidade sanitária, mesmo que o doente tenha recebido todos os cuidados hospitalares, quando morre torna-se um problema para os enfermeiros em serviço. Muitas vezes as queixas não são apenas apresentadas à direcção do hospital, mas também são encaminhadas ao mesmo tempo à PIC, onde os funcionários são obrigados a responder um processo-crime como se tratasse de assassinos. Até porque antes de o caso ser averiguado pela direcção de tutela, os profissionais da Saúde começam a responder o caso na PIC.
As queixas apresentadas são feitas muitas vezes por pessoas bem posicionadas, usando as facilidades que o seu estatuto social lhes confere. Quando isso acontece o hospital nem tem tempo de averiguar o caso com cautela porque já foi encaminhado para outras instâncias. Isso para dizer que os familiares da elite não podem morrer neste hospital, pois foram vítimas de mau tratamento. No entanto, os familiares do pé-descalço, os desfavorecidos, não fazem esse tipo de reclamações, eles ficam sensibilizados que a morte é uma coisa inevitável e todos nós esperamos seguir o mesmo caminho.
Eu não quero falar de factos sem base, para dizer que tudo que vem nesta carta é caso verídico. Para vos deixar tão claros vou citar alguns episódios que aconteceram neste hospital. No ano de 2006 duas enfermeiras foram responder a um processo na PIC, por causa da morte do neto de um chefe. Esse caso deve estar a andar nos gabinetes das autoridades judiciais. Em 2007 foram demitidos e despromovidos alguns enfermeiros do Hospital de Pemba acusados de serem culpados na morte do filho de um agente da lei e ordem (autoridade). Apesar de se ter instaurado o processo disciplinar, aguardam para responder em juízo porque o caso já está nas mãos das autoridades judiciais para julgamento. Recentemente está a correr um processo de investigação a propósito da morte de um doente, que vinha transferido de um posto de Saúde que dista 230 quilómetros da cidade de Pemba, numa estrada péssima. Este doente veio a perder a vida na sala de operações durante a intervenção cirúrgica.
FAMILIARES DE PESSOAS DA ELITE
Conforme acabei de referenciar, as queixas sempre acontecem com os familiares de pessoas da elite. Caso concreto desse doente o pai pertence a essa classe, ele em vez de procurar saber junto das autoridades do hospital, entendeu meter queixa directamente às instâncias superiores alegando que o seu doente tinha sido mal atendido, o que resultou na morte do mesmo. As instâncias superiores usando as suas competências ordenaram à Direcção Provincial da Saúde um inquérito de averiguação do caso, para se encontrar o responsável da morte do doente. Até ao momento o processo do doente anda nas gavetas dos chefes para se encontrar o infractor. Meus senhores, quando é que vamos depositar confiança nos nossos profissionais da Saúde?
Em 1999, eu perdi o meu filho recém-nascido em pleno Hospital Central de Maputo, onde existem todos os meios e recursos humanos altamente qualificados. O bebé havia nascido com oito meses e pesava 1,5 quilograma e estava de boa saúde e nem tinha nenhuma patologia. Como norma, o bebé tinha que ficar na incubadora até aos dias estipulados pela equipa médica. Mas acontece que no nono dia ele morre. Quando cheguei ao hospital, deparei-me com essa triste notícia e não fiz outra coisa. Digam-me lá a quem podia imputar a responsabilidade da morte desse filho?
Um outro acontecimento deu-se em 2006, em que o meu sobrinho esteve internado neste hospital de Pemba, na enfermaria de medicina durante duas semanas. No último dia da sua morte ele tinha complicações de respiração e saíam alimentos pelas narinas e essa enfermaria não dispunha de aparelho para chupar sujidade. Quando perguntámos disseram-nos que o aparelho só se encontrava no Banco de Socorros e na maternidade e naquela altura estava em uso. Depois de duas horas de tempo é que se conseguiu o aparelho, já era tarde, o moço acabou morrendo. Nestes termos a quem culpar? Eu, ciente das dificuldades que vivi de perto, escusei-me de acusar as pessoas de morte do meu parente. Para os outros deviam primeiro se inteirar bem dos factos e depois fazer a queixa.
Meus senhores, não se limitem a recorrer a queixas sem se aperceberem das condições que a nossa unidade sanitária de referência possui. Há certos casos que acontecem por falta de meios apropriados para salvar este ou aquele doente. Para tal, merece uma análise profunda para apurar os factos. Eu agora pergunto: será que morrer no hospital é um problema?
Muitas vezes temos acompanhado pelos meios de comunicação social a reportar a morte de alguns dirigentes ou grandes magnatas em grandes hospitais onde existem todos os meios altamente sofisticados, mas nunca ouvimos que os médicos que assistiram esses pacientes foram julgados.
APELO É EXTENSIVO AO NOVO DIRECTOR DO HOSPITAL
Senhor ministro da Saúde é melhor tomar nota desse assunto que parece mesquinho mas é polémico, pois afecta sobremaneira os profissionais da Saúde do Hospital Provincial de Pemba. Um apelo vai para o novo director provincial da Saúde de Cabo Delgado que foi empossado recentemente para que tenha muita atenção a este fenómeno e tenha diálogo com os seus funcionários que andam frustrados. Este apelo é extensivo ao novo director do Hospital Provincial de Pemba para ter cautela na resolução dos problemas ou se inteirar junto dos profissionais que dirige para melhor percepção dos factos. Os funcionários não se querem pronunciar por temerem represálias ou medo de serem expulsos como prometia a antiga directora.
Nos últimos dias, os profissionais da Saúde desta unidade sanitária trabalham com muito medo dos utentes. Para o vosso conhecimento certas pessoas querem assistir de perto seus doentes a serem tratados e querem ainda saber que tipo de medicamento está a ser administrado e para que efeito. Os enfermeiros com o medo de ser mal vistos, eles limitam-se a deixar tudo. É esse cenário que se vive no Hospital Provincial de Pemba. Senhor ministro essa norma de trabalho é praticada em todos os hospitais do país?
Eu apenas sou cidadão comum e nem faço parte da Saúde mas do pouco que presenciei não me quis conter se não escrever esta carta. Não estou a favor dos enfermeiros que atendem mal aos doentes, mas sim quero que algumas pessoas saibam que morrer neste hospital não significa mau atendimento. Quando assim pensamos estamos a desvalorizar os esforços dos médicos, técnicos e enfermeiros. Eu tenho visto o esforço que estes profissionais empreendem mesmo sem meios suficientes fazem algo. Eu penso que o médico, técnico, enfermeiro e até servente têm a missão de salvar vidas. Se formos a fazer análise dos doentes que entram no hospital e melhoram e os que perdem a vida qual seria a maior percentagem?
A propósito dessa pergunta surge o seguinte: No Hospital Provincial de Pemba quando morre um doente constitui um problema grave. Depois de os familiares tomarem conhecimento da morte do parente, estes apresentam uma queixa. É muito frequente haver queixas dos familiares que perdem seus parentes nesta unidade sanitária, mesmo que o doente tenha recebido todos os cuidados hospitalares, quando morre torna-se um problema para os enfermeiros em serviço. Muitas vezes as queixas não são apenas apresentadas à direcção do hospital, mas também são encaminhadas ao mesmo tempo à PIC, onde os funcionários são obrigados a responder um processo-crime como se tratasse de assassinos. Até porque antes de o caso ser averiguado pela direcção de tutela, os profissionais da Saúde começam a responder o caso na PIC.
As queixas apresentadas são feitas muitas vezes por pessoas bem posicionadas, usando as facilidades que o seu estatuto social lhes confere. Quando isso acontece o hospital nem tem tempo de averiguar o caso com cautela porque já foi encaminhado para outras instâncias. Isso para dizer que os familiares da elite não podem morrer neste hospital, pois foram vítimas de mau tratamento. No entanto, os familiares do pé-descalço, os desfavorecidos, não fazem esse tipo de reclamações, eles ficam sensibilizados que a morte é uma coisa inevitável e todos nós esperamos seguir o mesmo caminho.
Eu não quero falar de factos sem base, para dizer que tudo que vem nesta carta é caso verídico. Para vos deixar tão claros vou citar alguns episódios que aconteceram neste hospital. No ano de 2006 duas enfermeiras foram responder a um processo na PIC, por causa da morte do neto de um chefe. Esse caso deve estar a andar nos gabinetes das autoridades judiciais. Em 2007 foram demitidos e despromovidos alguns enfermeiros do Hospital de Pemba acusados de serem culpados na morte do filho de um agente da lei e ordem (autoridade). Apesar de se ter instaurado o processo disciplinar, aguardam para responder em juízo porque o caso já está nas mãos das autoridades judiciais para julgamento. Recentemente está a correr um processo de investigação a propósito da morte de um doente, que vinha transferido de um posto de Saúde que dista 230 quilómetros da cidade de Pemba, numa estrada péssima. Este doente veio a perder a vida na sala de operações durante a intervenção cirúrgica.
FAMILIARES DE PESSOAS DA ELITE
Conforme acabei de referenciar, as queixas sempre acontecem com os familiares de pessoas da elite. Caso concreto desse doente o pai pertence a essa classe, ele em vez de procurar saber junto das autoridades do hospital, entendeu meter queixa directamente às instâncias superiores alegando que o seu doente tinha sido mal atendido, o que resultou na morte do mesmo. As instâncias superiores usando as suas competências ordenaram à Direcção Provincial da Saúde um inquérito de averiguação do caso, para se encontrar o responsável da morte do doente. Até ao momento o processo do doente anda nas gavetas dos chefes para se encontrar o infractor. Meus senhores, quando é que vamos depositar confiança nos nossos profissionais da Saúde?
Em 1999, eu perdi o meu filho recém-nascido em pleno Hospital Central de Maputo, onde existem todos os meios e recursos humanos altamente qualificados. O bebé havia nascido com oito meses e pesava 1,5 quilograma e estava de boa saúde e nem tinha nenhuma patologia. Como norma, o bebé tinha que ficar na incubadora até aos dias estipulados pela equipa médica. Mas acontece que no nono dia ele morre. Quando cheguei ao hospital, deparei-me com essa triste notícia e não fiz outra coisa. Digam-me lá a quem podia imputar a responsabilidade da morte desse filho?
Um outro acontecimento deu-se em 2006, em que o meu sobrinho esteve internado neste hospital de Pemba, na enfermaria de medicina durante duas semanas. No último dia da sua morte ele tinha complicações de respiração e saíam alimentos pelas narinas e essa enfermaria não dispunha de aparelho para chupar sujidade. Quando perguntámos disseram-nos que o aparelho só se encontrava no Banco de Socorros e na maternidade e naquela altura estava em uso. Depois de duas horas de tempo é que se conseguiu o aparelho, já era tarde, o moço acabou morrendo. Nestes termos a quem culpar? Eu, ciente das dificuldades que vivi de perto, escusei-me de acusar as pessoas de morte do meu parente. Para os outros deviam primeiro se inteirar bem dos factos e depois fazer a queixa.
Meus senhores, não se limitem a recorrer a queixas sem se aperceberem das condições que a nossa unidade sanitária de referência possui. Há certos casos que acontecem por falta de meios apropriados para salvar este ou aquele doente. Para tal, merece uma análise profunda para apurar os factos. Eu agora pergunto: será que morrer no hospital é um problema?
Muitas vezes temos acompanhado pelos meios de comunicação social a reportar a morte de alguns dirigentes ou grandes magnatas em grandes hospitais onde existem todos os meios altamente sofisticados, mas nunca ouvimos que os médicos que assistiram esses pacientes foram julgados.
APELO É EXTENSIVO AO NOVO DIRECTOR DO HOSPITAL
Senhor ministro da Saúde é melhor tomar nota desse assunto que parece mesquinho mas é polémico, pois afecta sobremaneira os profissionais da Saúde do Hospital Provincial de Pemba. Um apelo vai para o novo director provincial da Saúde de Cabo Delgado que foi empossado recentemente para que tenha muita atenção a este fenómeno e tenha diálogo com os seus funcionários que andam frustrados. Este apelo é extensivo ao novo director do Hospital Provincial de Pemba para ter cautela na resolução dos problemas ou se inteirar junto dos profissionais que dirige para melhor percepção dos factos. Os funcionários não se querem pronunciar por temerem represálias ou medo de serem expulsos como prometia a antiga directora.
Nos últimos dias, os profissionais da Saúde desta unidade sanitária trabalham com muito medo dos utentes. Para o vosso conhecimento certas pessoas querem assistir de perto seus doentes a serem tratados e querem ainda saber que tipo de medicamento está a ser administrado e para que efeito. Os enfermeiros com o medo de ser mal vistos, eles limitam-se a deixar tudo. É esse cenário que se vive no Hospital Provincial de Pemba. Senhor ministro essa norma de trabalho é praticada em todos os hospitais do país?
Eu apenas sou cidadão comum e nem faço parte da Saúde mas do pouco que presenciei não me quis conter se não escrever esta carta. Não estou a favor dos enfermeiros que atendem mal aos doentes, mas sim quero que algumas pessoas saibam que morrer neste hospital não significa mau atendimento. Quando assim pensamos estamos a desvalorizar os esforços dos médicos, técnicos e enfermeiros. Eu tenho visto o esforço que estes profissionais empreendem mesmo sem meios suficientes fazem algo. Eu penso que o médico, técnico, enfermeiro e até servente têm a missão de salvar vidas. Se formos a fazer análise dos doentes que entram no hospital e melhoram e os que perdem a vida qual seria a maior percentagem?
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