""Foi fácil perceber que havia graves problemas de liderança e de pensamento na Casa de Cultura de Cabo Delgado, no bairro de Cariacó, na cidade de Pemba. Se bem que até Outubro do ano passado aquelas instalações não passavam de um conjunto de infra-estruturas, sem acção que se assemelhasse a um propósito formativo ou informativo concebido, para além das esporádicas exibições de grupos culturais, mas ao sabor de datas oficialmente apontadas como se tratasse de efemérides a celebrar. Era mais casa de dança do que verdadeiramente de cultura, um conceito que vai para além daquela manifestação cultural.
Chegou-se a pensar que havia falta de vontade política por parte da estrutura que superintende a instituição, nomeadamente, a Direcção Provincial de Educação e Cultura, bem como as infra-estruturas que já haviam começado a apresentar um panorama que deixava dó em quem precisa daquele local para a sua real atribuição.
Saído duma recente formação e trazendo uma experiência em gestão de anos à frente do Departamento da Administração e Finanças da sua Direcção Provincial da Educação e Cultura, o jovem Cesário Valentim pegou nas rédeas com uma diminuta equipa e fez o diagnóstico do sector. E descobriu que muito há por fazer para que aquele espaço se chame realmente Casa de Cultura, muito mais quando se quer dar o rótulo de provincial.
Do trabalho resultou uma matriz de actividades que potencia cinco pilares, conforme o director da Casa de Cultura aponta: “o primeiro grande problema reside nos recursos humanos, para o que nos propomos a formar os poucos existentes para que sejam capazes de fazer acontecer as coisas”.
Na verdade, a Casa de Cultura de Cabo Delgado dispõe de apenas três funcionários e a estratégia foi pegar neste diminuto número e dar-lhe competências que já estão a dar os primeiros frutos, ao exemplo do funcionamento pleno da iniciação artística (dança, música, pintura e outras artes).
Estão actualmente inscritas 300 crianças inscritas para frequentar a Casa de Cultura de Cabo Delgado, onde aprendem e aperfeiçoam diversas modalidades culturais.
SEDE DE EVENTOS - O segundo pilar referenciado por Cesário Valentim está no calendário de eventos, que acabam sendo responsáveis por também recrear sobretudo aos jovens sedentos de actividades que ao mesmo tempo eduquem e trazem momentos de lazer.
“Queremos essencialmente ocupar os jovens com debates à volta de temas da actualidade para influenciá-los a terem a cultura de falar de coisas úteis. Como sabe, o número de jovens em universidades está a crescer e é cada vez mais necessário que eles se ocupem nesse tipo de convivência, também para a sua formação e autoformação. O último foi relacionado com o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de Maio), que foi muito bem acolhido”.
Por outro lado, e já no que o director da Casa de Cultura chama de terceiro pilar, estão projectos de desenvolvimento infraestrutural de curto, médio e longo prazos. Presentemente e no curto período de tempo à frente daquela instituição, já foi concluído o bloco administrativo, que vai acolher gabinetes para os diferentes departamentos, estando a atrasar a sua utilização porque se espera pelo fornecimento do mobiliário, cujo concurso já foi lançado.
O bloco foi financiado pelo governo provincial e agora a equipa de Cesário Valentim pensa no passo seguinte, nomeadamente, a construção de um palco coberto, um bloco de três salas de aulas e um módulo de casas de banho adjacentes, para o que, igualmente, se acha disponível o financiamento, no valor de quatro milhões de meticais, proveniente da mesma fonte.
“E já estamos a pensar em 2010, ano em que pretendemos vedar a parte frontal da Casa de Cultura e a reabilitação da tribuna, cujas negociações nos dão indicações de que estejamos no bom caminho”.
Em paralelo terá que ser pavimentado o recinto frontal onde, de há uns meses para cá, tem funcionado uma feira dominical de artesanato, que acolhe muitos trabalhos de arte, incluindo de fazedores vindos dos distritos, que domingo a domingo se deslocam ao bairro de Cariacó, onde funciona a Casa de Cultura.
Informação e divulgação da cultura de Cabo Delgado, por via da promoção das feiras de artesanato, que devem ser permanentes, é outra actividade que vai ser complementada pela exposição da gastronomia local, mas para que a instituição seja uma fonte de quase toda a informação cultural da província, segundo o director da Casa de Cultura, urge sistematizar a riqueza cultural existente, a partir duma pesquisa que está já a dar os seus primeiros passos.
“Nós queremos transformar a Casa de Cultura em armazém de toda a informação sobre a cultura em Cabo Delgado, a partir donde se encontra toda a informação da província, sobre cada distrito. Neste momento há três quadros a fazer pesquisas em três distritos e até ao fim deste ano queremos arrumar a informação de pelo menos seis distritos, nomeadamente Quissanga, Metuge, Chiúre, Namuno, Montepuez e Mueda”.
CULTURA PARA PROMOVER TURISMO - Cesário Valentim sonha também em tornar a Casa de Cultura numa referência também por causa do turismo cultural. Vai-se, portanto, ter a informação completa e assim se poderá promover melhor o turismo cultural, porque estará disponível um lugar onde quem quiser vai buscar a informação sobre cultura na província, mesmo a partir da capital provincial.
Vai ser um trabalho aturado, mas ao mesmo interessante do ponto de vista intelectual, partindo do princípio de que quase a totalidade dos distritos possuem um manancial de informação necessário e que necessita de preservação.
Para exemplo, o primeiro distrito que a equipa de pesquisa da Casa de Cultura Provincial de Cabo Delgado, escolheu é Quissanga, situado na zona central da província, com 2.060 quilómetros quadrados, onde as principais actividades económicas são a pesca, agricultura, pecuária e produção de sal e dança-se dikiri, kirimo, limbondo, baleto, shimbambanda, makusanya, mapiko, nampapara, makorokoto, bampi, nchaíla, rumba, herekeze, ekola e nihere e a população é, como em Palma, eximia na arte de fabricar esteiras de palha.
Há em Quissanga locais históricos, como seja as báswara (residências dos primeiros habitantes locais), o fortim de Quisssanga, mesquita central, considerada o templo muçulmano mais antigo no norte de Moçambique, construída em 1650, aldeia Nraha e a Lagoa Bilibiza, alguns destes lugares são sagrados.
- Maputo, Quarta-Feira, 3 de Junho de 2009, Notícias, Pedro Nacuo.
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