Ferraz da Costa traça um cenário aterrador da economia portuguesa e não poupa ninguém - não lamenta a saída do ex-ministro Manuel Pinho, em relação ao qual diz que "toda a gente sabe que ele é maluco". O ex-presidente da CIP-Confederação da Indústria Portuguesa, onde esteve até 2001, diz que é urgente mudar a justiça e a fiscalidade.
Como está Portugal em termos de competitividade?
- Temos um problema de desequilíbrio externo que tem vindo a agravar-se. A entrada do Leste na União Europeia tornou-nos muito menos atractivos para o investimento directo. Nos últimos anos perdemos quota de mercado em diversos países e sectores.
Quando começaram os nossos erros?
- Estamos a errar desde que integrámos a União Europeia. Nos primeiros anos, apesar de algum esforço do sector exportador, apostou-se na política das infra-estruturas, no crescimento da procura interna e na deslocação de imensa iniciativa empresarial do sector produtivo para os serviços e para o sector financeiro. Errámos ao investir primeiro nas infra-estruturas e só depois no capital humano.
Mudou alguma coisa nos últimos quatro anos?
- Em termos de política económica foi uma legislatura catastrófica. O Governo só governou por ausência de oposição. Arrancou com uns slogans pró-tecnologia cujo apogeu foi a Qimonda, o que demonstra que tudo isso tinha pouca ou nenhuma substância.
Os nossos governantes são maus?
- Temos uma classe política e nalguns casos até governantes, onde se inclui o ex-ministro da Economia (Manuel Pinho), que não têm conhecimento da realidade. Qualquer pessoa com experiência em negócios internacionais percebe que fazer uma oficina com um único fornecedor e um único cliente não podia dar resultado. Ao ministro da Agricultura (Jaime Silva) tenho-o ouvido dizer coisas espantosas como, por exemplo, que a crise ainda não tinha chegado ao sector. Ele não servia nem para director-geral...
Não lamenta o episódio que levou à demissão de Manuel Pinho.
- Ninguém teve pena. Toda a gente sabe que ele é maluco. O papel do ministro da Economia é "safar postos de trabalho", como ele disse?
Porque é que Manuel Pinho se manteve tanto tempo no Governo?
- Porque o primeiro-ministro deve ter metido na cabeça que não fazer remodelações iria ser uma das marcas do seu consulado. Achou que isso teria mais impacto mediático do que a adopção de políticas concretas. Não tenho dúvidas de que o ministro das Obras Públicas beneficia desse escudo protector.
Mário Lino já não devia governar?
- Há aqui uma dúvida mais grave que é saber se parte dos disparates e das contradições são mesmo dos próprios ou se são do primeiro-ministro e eles foram obrigados a engolir.
Será dramático se não sair uma maioria absoluta das eleições de Setembro?
- O que acho dramático é que nos contactos com os partidos percebi que ninguém está preparado para ter um Governo que vá tomar grandes decisões.
Admitiria integrar um Governo?
- Não fecho a porta, mas é muito difícil porque temos uma democracia que reserva a quase totalidade da acção aos partidos políticos. Não tenho uma vontade de protagonismo assim tão grande que me obrigasse a dizer coisas com as quais não concordo.
Como encara a intervenção do Estado em empresas privadas?
- Nos casos de salvamento de empresas tem que haver compromissos. Lá fora opta-se pela redução do capital dos accionistas e das condições dos trabalhadores, assumindo comportamentos diferentes. Por cá, a noção de salvamento é "lá vem o Estado gastar dinheiro dos contribuintes para que todos continuem a fazer as mesmas coisas".
Sem a crise, acabaríamos estes quatro anos melhor do que estávamos?
- Estamos com um desequilíbrio externo cada vez mais preocupante. E temos um problema de finanças públicas gravíssimo. Não se interiorizou, quando entrámos na União Europeia, que era fundamental ter uma política orçamental responsável. Acho extraordinário que o Bloco de Esquerda seja o único partido que fala na urgência da contenção da despesa pública.
É preciso passarmos por um susto como o da Islândia, que foi à falência?
- Acontecer-nos uma hecatombe seria o cenário mais rosado. O pior é o empobrecimento lento e que nunca mais pára. Estamos em queda continuada e pelo caminho vão aparecer alguns governos assistencialistas que vão dando uns apoios aos velhinhos.
O Presidente da República, Cavaco Silva, devia estar mais activo?
- Assumiu uma posição asséptica em relação às eleições, de distanciamento como é seu costume. Mas alguém devia chamar a atenção dos partidos de que há decisões muito complicadas a tomar e que deviam ser discutidas em campanha eleitoral se se quer ter legitimidade para governar.
O que pensa do TGV (comboio de alta velocidade) e do novo aeroporto?
- Ninguém pode ser a favor do TGV, cujo único objectivo deve ser ir a Madrid ver o Ronaldo... Há anos que se tenta destruir a viabilidade do aeroporto da Portela. Não se avaliam os investimentos que são feitos, quanto se gasta. Rouba-se muito. O país não tem dimensão para se roubar tanto.
Quem é que rouba?
- Todos os que podem. O problema é o estado da justiça que cria um sentimento de impunidade.
É o principal entrave à entrada de investimento directo estrangeiro?
- É um deles. A primeira medida do próximo Governo deveria ser actuar nesta área e introduzir previsibilidade. Por exemplo, ninguém consegue cobrar nada de quem não quer pagar e isso é dramático, sobretudo, para as pequenas e médias empresas. Depois temos um sistema fiscal menos atraente do que o espanhol e o Governo reconhece isso implicitamente quando cria os Projectos de Interesse Nacional (PIN), que são um regime de excepção.
Como está Portugal em termos de competitividade?
- Temos um problema de desequilíbrio externo que tem vindo a agravar-se. A entrada do Leste na União Europeia tornou-nos muito menos atractivos para o investimento directo. Nos últimos anos perdemos quota de mercado em diversos países e sectores.
Quando começaram os nossos erros?
- Estamos a errar desde que integrámos a União Europeia. Nos primeiros anos, apesar de algum esforço do sector exportador, apostou-se na política das infra-estruturas, no crescimento da procura interna e na deslocação de imensa iniciativa empresarial do sector produtivo para os serviços e para o sector financeiro. Errámos ao investir primeiro nas infra-estruturas e só depois no capital humano.
Mudou alguma coisa nos últimos quatro anos?
- Em termos de política económica foi uma legislatura catastrófica. O Governo só governou por ausência de oposição. Arrancou com uns slogans pró-tecnologia cujo apogeu foi a Qimonda, o que demonstra que tudo isso tinha pouca ou nenhuma substância.
Os nossos governantes são maus?
- Temos uma classe política e nalguns casos até governantes, onde se inclui o ex-ministro da Economia (Manuel Pinho), que não têm conhecimento da realidade. Qualquer pessoa com experiência em negócios internacionais percebe que fazer uma oficina com um único fornecedor e um único cliente não podia dar resultado. Ao ministro da Agricultura (Jaime Silva) tenho-o ouvido dizer coisas espantosas como, por exemplo, que a crise ainda não tinha chegado ao sector. Ele não servia nem para director-geral...
Não lamenta o episódio que levou à demissão de Manuel Pinho.
- Ninguém teve pena. Toda a gente sabe que ele é maluco. O papel do ministro da Economia é "safar postos de trabalho", como ele disse?
Porque é que Manuel Pinho se manteve tanto tempo no Governo?
- Porque o primeiro-ministro deve ter metido na cabeça que não fazer remodelações iria ser uma das marcas do seu consulado. Achou que isso teria mais impacto mediático do que a adopção de políticas concretas. Não tenho dúvidas de que o ministro das Obras Públicas beneficia desse escudo protector.
Mário Lino já não devia governar?
- Há aqui uma dúvida mais grave que é saber se parte dos disparates e das contradições são mesmo dos próprios ou se são do primeiro-ministro e eles foram obrigados a engolir.
Será dramático se não sair uma maioria absoluta das eleições de Setembro?
- O que acho dramático é que nos contactos com os partidos percebi que ninguém está preparado para ter um Governo que vá tomar grandes decisões.
Admitiria integrar um Governo?
- Não fecho a porta, mas é muito difícil porque temos uma democracia que reserva a quase totalidade da acção aos partidos políticos. Não tenho uma vontade de protagonismo assim tão grande que me obrigasse a dizer coisas com as quais não concordo.
Como encara a intervenção do Estado em empresas privadas?
- Nos casos de salvamento de empresas tem que haver compromissos. Lá fora opta-se pela redução do capital dos accionistas e das condições dos trabalhadores, assumindo comportamentos diferentes. Por cá, a noção de salvamento é "lá vem o Estado gastar dinheiro dos contribuintes para que todos continuem a fazer as mesmas coisas".
Sem a crise, acabaríamos estes quatro anos melhor do que estávamos?
- Estamos com um desequilíbrio externo cada vez mais preocupante. E temos um problema de finanças públicas gravíssimo. Não se interiorizou, quando entrámos na União Europeia, que era fundamental ter uma política orçamental responsável. Acho extraordinário que o Bloco de Esquerda seja o único partido que fala na urgência da contenção da despesa pública.
É preciso passarmos por um susto como o da Islândia, que foi à falência?
- Acontecer-nos uma hecatombe seria o cenário mais rosado. O pior é o empobrecimento lento e que nunca mais pára. Estamos em queda continuada e pelo caminho vão aparecer alguns governos assistencialistas que vão dando uns apoios aos velhinhos.
O Presidente da República, Cavaco Silva, devia estar mais activo?
- Assumiu uma posição asséptica em relação às eleições, de distanciamento como é seu costume. Mas alguém devia chamar a atenção dos partidos de que há decisões muito complicadas a tomar e que deviam ser discutidas em campanha eleitoral se se quer ter legitimidade para governar.
O que pensa do TGV (comboio de alta velocidade) e do novo aeroporto?
- Ninguém pode ser a favor do TGV, cujo único objectivo deve ser ir a Madrid ver o Ronaldo... Há anos que se tenta destruir a viabilidade do aeroporto da Portela. Não se avaliam os investimentos que são feitos, quanto se gasta. Rouba-se muito. O país não tem dimensão para se roubar tanto.
Quem é que rouba?
- Todos os que podem. O problema é o estado da justiça que cria um sentimento de impunidade.
É o principal entrave à entrada de investimento directo estrangeiro?
- É um deles. A primeira medida do próximo Governo deveria ser actuar nesta área e introduzir previsibilidade. Por exemplo, ninguém consegue cobrar nada de quem não quer pagar e isso é dramático, sobretudo, para as pequenas e médias empresas. Depois temos um sistema fiscal menos atraente do que o espanhol e o Governo reconhece isso implicitamente quando cria os Projectos de Interesse Nacional (PIN), que são um regime de excepção.
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