4/05/06

Moçambique - SIDA = Epidemia nacional...

SIDA: parceiros criticam governo na alocação de fundos.

Parceiros internacionais do governo moçambicano na luta contra o HIV/SIDA dizem que as metas apresentadas no PARPA pelo Executivo são muito modestas. [02-04-2006].

Numa altura em que o SIDA foi declarado epidemia nacional, os parceiros internacionais questionam a decisão do governo de retirar do PARPA as metas para o tratamento pediátrico e o plano de acção relativo a crianças órfãs e vulneráveis.

Este descontentamento foi manifestado, na última Sexta-feira, pelos parceiros durante a sessão anula de avaliação, que juntou o governo, ONG’s e doadores para analisar o desempenho do Conselho Nacional de Combate à Sida (CNDS) em 2005 e desempenhar estratégias para 2006.

“Constatamos com preocupação que as alocações do Orçamento Geral do Estado ao CNS nos últimos três anos têm estado a diminuir ano após ano”, disse Márcia Colquhoun, representante dos parceiros.

No entanto, o encontro foi dirigido pela primeira-ministra e presidente do CNCS, a qual pediu para que os participantes tivessem um debate aberto que possa ajudar a instituição a melhorar o se4u desempenho.

Num outro desenvolvimento, Diogo Milagre, director executivo adjunto do CNCS, não concorda com algumas criticas lançadas contra a instituição.

Disse ser uma meta ambiciosa quando o PARPA prevê a redução dos índices de infecção por HIV de 500 infecções diárias para 350.

No "Zambeze" em 05/04/06.

4/04/06

Miriam Makeba - O adeus maroto...


O adeus maroto da rainha Mama África.
Debochada, com alergia a clichês e frases feitas, a artista que revolucionou o canto africano, Miriam Makeba , reuniu 10 mil pessoas em festival de jazz na Cidade do Cabo e aproveitou para anunciar aposentadoria: "Quero ir mais devagar".
Diziam que a rainha estava engavetando a coroa.
Cerca de 10 mil pessoas foram na noite de sábado (01/04/06) ao Cape Town International Jazz Festival, o maior evento do gênero no continente, para conferir.
Jornalistas da Nigéria, Zâmbia, Quênia, Moçambique, África do Sul: toda a imprensa africana está na Cidade do Cabo para falar com a cantora sul-africana Miriam Makeba, que muitos chamam de Mama África.
E, de fato, a maior estrela da música africana confirma: está saindo de cena.
Com classe, sem muito alarde.
Seu show intitula-se Grand Finale Tour.
Mama África não quer mais sair pelo mundo excursionando.
Vai restringir-se ao seu próprio continente.
-"Estou com 74 anos. Decidi que não faço mais, que não irei mais a todos os países. Quero parar de ir e vir, gostaria de ir mais devagar", disse ela.
-"Sinto-me feliz. Vivi bastante. O suficiente para cantar, voltar para casa e ainda poder viver cantando. Agradeço ao senhor e aos meus ancestrais. Quero viver o suficiente para ver meus bisnetos", afirmou a cantora, fazendo um balanço forçado da carreira frente ao batalhão de jornalistas ávidos.
-"Muitas coisas eu gostaria de ter feito, mas não fiz. Não sou um anjo, também tenho meus esqueletos no armário, como todo mundo. Algumas coisas a gente tem de esquecer. Bebi bebidas alcoólicas, ainda bebo. Também já fui muito moderna, mas não é divertido."
Bombardeado pelo pop, rock e R&B de língua inglesa, algum desavisado pode perguntar: mas quem é essa Miriam Makeba?
Bom, poucos terão direito de desconhecê-la.
Basta lembrar que ela tornou hit internacional uma canção composta em 1956, Pata Pata (no Brasil, a música ganhou uma versão popular infame que tinha enxertados os versos "Tô com pulga na cueca/Já vi, vou tirar").
Mas é muito mais que isso.
Inspirou centenas de cantoras no continente, divas como Angelique Kidjo.
Cantando em inglês, francês, árabe, português, kiswahili, shona e bambara, ela conquistou o mundo.
Miriam mantém em Johanesburgo o Makeba Center for Girls, que recolhe meninas das ruas da cidade, vítimas de violência sexual, abusos, drogas e prostituição.
-"Mulheres são os pilares da Nação", diz ela.
-"É preciso cuidar delas. Nós temos uma tendência a dizer: é o governo, é responsabilidade do governo. Quem é o governo? Nos somos o governo. Ao Inferno com o governo. Como indivíduos, nós devemos fazer algo, como sociedade civil. Os líderes mundiais? Eles estão nos liderando. Há muitos problemas", afirmou. "Não sou política. Se a minha verdade se torna política, aleluia."
EXÍLIO E BARBÁRIE
Ela conta que, chegando à Cidade do Cabo, os motoristas das vans em que andou se espantavam com sua presença.
-"Mama Makeba! Mesmo os turistas que vêm aqui querem saber aonde você esta cantando!", disse ela, reproduzindo fala do seu chofer.
Essa turnê tem a intenção de levar Makeba aos lugares onde cantou durante a carreira, para agradecer aos seus fãs.
Ela cantou ao lado de Dizzy Gillespie, Paul Simon, Harry Belafonte (com quem ganhou um Grammy, em 1960).
Filha de um curandeiro sangoma da tribo Xhosa, ela já nasceu diferente: antes mesmo de nascer, quando sua mãe estava grávida, ficou seis meses na cadeia.
O curandeirismo era proibido.
Estreou em 1953, com The Manhattan Brothers.
Ficou três décadas exilada por suas posições políticas contra o regime do apartheid.
Contra o horror da segregação, discursou na ONU em 1964 e 1975.
Só pôde voltar à África do Sul em 1990.
No sábado, na Cidade do Cabo, com um anel de pedra amarela do tamanho de um ovo de galinha no dedo, Miriam mostrou por que a tratam como uma rainha eterna.
Nada de fel no discurso.
Enalteceu as vozes que se ergueram contra a barbárie racial, mas, ao final, disse que era preciso esquecer.
-"É por isso que vocês são tão bonitos. Porque vocês sabem perdoar" disse à platéia.
-"Não tenho palavras para descrever a importância dessa artista", anunciou o apresentador, com a voz embargada.
Dizem que a saúde da cantora não está boa, e seria esse o verdadeiro motivo pelo qual está se retirando.
De fato, nota-se que está poupando a voz, passando a vez para os vocalistas de apoio (entre eles, sua neta, Zenzile Lee) e convidados.
Mas continua marota, insolente, gozadora, espirituosa.
-"Alguns dizem que o que eu faço é world music. Bom, todo mundo canta e todos estamos no mundo. Então, tudo é world music. Uma vez me apresentaram como cantora de world music e eu disse: estou feliz de fazer parte do mundo."
No show, quando Makeba cantou Malaika, de Fadhili Williams, uma canção do folklore queniano, o fundão virou um baile funk (mas sem baixaria), com a platéia fazendo coreografias irresistíveis. Depois, o mundo veio abaixo com Pata Pata.
Mama África ainda esta com a tábua das regras debaixo dos braços.
E isso era tudo que o povo queria ver.
Marota, debochada, com alergia a clichês e frases feitas, Miriam Makeba brincou com seus próprios prognósticos para o futuro.
-"Só farei (shows) em ocasiões especiais.
E por um montante de dinheiro muito especial", diverte-se.
-"Muitas vezes tento lembrar um nome e o nome não vem. É por isso que digo que é hora de parar."
Jotabê Medeiros-Enviado especial à Cidade do Cabo do Jornal Estado de São Paulo - 03/04/06